Eu tinha meus 3 anos, segundo minha mãe, quando meu pai deixou nossa família. Minha mãe Aline, eu e mais duas irmãs Rebeca e Andressa. Eu era o caçula, a família já não vivia boas condições com meu pai sendo o homem da casa, e quando ele foi embora menos ainda. Nosso café da manhã era almoço e janta e em outros dias, só tinha café da manhã, almoço ou janta.
Eu e minhas duas irmãs dividiamos quarto e uma mesma enorme cama de casal, minha mãe dormia no quarto sozinha. Minhas irmãs um pouco mais velhas tinham um guarda roupa cheio de roupas, saias, vestidos, calcinhas, shortinhos e eu como caçula nunca tive uma roupa considerada masculina, só andava pela casa de fraldas e como a gente nunca saia roupas não eram prioridades no momento.
Anos passaram, as coisas continuavam indo mal, e eu começei a usar minhas primeiras peças de roupa feminina, uma saia, as vezes vestidos, nas outras um shortinho, apesar de amar mais saias e vestidos. Hoje já se passaram 20 anos, nossa qualidade de vida, praticamente na pobreza melhorou gradativamente e hoje posso dizer que vivemos uma classe média baixa, vivemos de aluguel, ainda moramos todos juntos, minha mãe e minhas duas irmãs, que me chamam de Vanessa, ou Nessa. Hoje eu tenho 23 anos, nunca beibei, nunca namorei, nunca tive relações na minha vida, ainda não me reconheço como heterossexual, bissexual ou homossexual, sei que sou um garoto, num corpo de garoto, porém que gosta de vestir roupas femininas e ser tratado como uma, graças a forma que fui criado pela minha mãe e minhas irmãs, e não me vejo vestindo calças, bermudas, cuecas e nem chamado pelo meu nome de batismo.
Após a apresentação, vamos ao relato.
Eu tinha 21 anos, era a última semana do curso, que era noturno, para essas ocasiões como escola, compromissos de trabalho etc, eu sempre tinha o básico de uma roupa masculina. Neste dia resolvi que iria ir com as roupas padrões, porém na volta pra casa iria ao banheiro da escola se trocar e ir pra casa mais feminina. Fui a aula, quando deu 22:15 o sinal bateu e fomos liberados, fui direto ao banheiro masculino me trocar, me tranquei num banheiro e quando não ouvi mais nenhum passo, sai pra fora, só que pra minha surpresa uma última pessoa entrou na hora que eu estava na porta de saída. Meu coração quase saiu pela boca, ele me olhou de cima a baixo e disse assutado:
- perdão moça, acho que errei de banheiro, mil desculpas
Eu só acenei com a cabeça e fui embora, sai pela porta da escola e fui a pé pra casa, ainda na porta da escola alguns garotos, estavam me encarando me olhando saindo. Até que um dos garotos disse:
- essa não é a bolsa do Vinicius ? Parece muito
Ah minha bolsa era totalmente diferente das demais da sala, com uma alça, uma bolsa de notebook, preta com detalhes em azul.
Após isso ouvi alguns cochichos como
- ele namora ? É a namorada dele. Mas ele nunca disse que namorava.
Eu apertei o passo e segui caminho, passei em frente a uma lanchonete, cheia de gente bebendo e cantando, onde pelo menos três homens mexeram comigo e um deles gritou "o lá em casa viu loirinha", os outros só olhavam parecendo querer me agarrar.
Quando cheguei em casa era um misto de alegria, com desejo e preocupação, afinal oque falariam de mim, ou pra mim ? Será que me reconheceram ?
Quem sou e como sou : vanessabonequinhaa@gmail.com
Parte II logo vem