Capítulo 12
O toque do celular trouxe Ivan de volta para a realidade. Percebeu que estava prestes a cometer uma loucura e saiu correndo do local.
Victor ouviu o som do toque do celular de Ivan e ficou assustado, com medo de alguém entrar no quarto e pegá-los naquela situação constrangedora.
_ Tem alguém aí, Gael?
_ Relaxe, amor. Deve ser o caseiro._ Gael disse beijando Victor.
Nervoso, Ivan guardou o taco de baisebol no porta malas do carro e dirigiu o mais rápido que pode. A imagem de Gael e Victor transando o torturava.
A tristeza e o ódio batalhavam entre si na tentativa de qual delas dominaria o seu estado de espírito. Não suportando tudo isso, Ivan estacionou o carro num canto da estrada de terra, encostando a cabeça no volante.
Gritou o mais alto que conseguia, liberando todos os sentimentos que o atormentavam. Já não tinha mais forças para prender as lágrimas e deixou que elas escorressem dos seus olhos.
Um suspiro de alívio foi dado por Victor ao notar que a sua família não percebera a sua ausência.
Entrou no quarto e se jogou na cama. Estava feliz por ter passado momentos tão calorosos com Gael.
No pátio do colégio, Victor contou a Virgínia em detalhes sobre a sua aventura da noite anterior, enquanto desenhava no caderno.
_ Isso que é viver perigosamente, Vitinho.
_ Foi incrível. Eu estou tão feliz porque pensei que o Gael não queria nada comigo. Mas, ele disse que independentemente da minha mãe, nós vamos ficar juntos. Você tem que ver como é lindo o sítio da família dele. O Gael me disse que vai me levar lá num final de semana para poder aproveitar a piscina.
Virgínia olhou para o desenho de Victor e ficou surpreendida com o que viu.
_ Você está desenhando o Ivan Matarazzo? Por quê?
_ Não sei. Ele me desperta sentimentos estranhos.
_ Como assim?
_ Medo e desconforto. Desenhá-lo é como externalizar estes sentimentos.
Gael recebeu de braços abertos o seu amigo Felipe, que era um ex colega de trabalho que havia sido demitido há uns meses atrás.
Ambos recordaram os bons momentos que viveram na agência de publicidade. E Gael relatou o motivo da sua demissão.
_ Gael, o Augusto foi um filho da puta contigo. Você sempre foi o melhor publicitário. Nunca houve um cliente que não ficou satisfeito com o seu trabalho. É muita sacanagem te demitir por causa do louco do seu primo.
_ A proposta do Ivan foi milionária. Seria impossível qualquer agência negar.
_ E como você vai fazer para se livrar desse mala do Ivan?
_ Não vou fazer nada. Uma hora ele vai cansar e me deixar em paz.
_ Não sei não. Esse cara parece não ter nenhum tipo de escrúpulos. Gente assim é perigosa.
_ Ivan é um menininho mimado e birrento no corpo de um homem de trinta anos. Quer parecer o fodão, mas não passa de um babaca. E além do mais eu tenho algo mais importante para me preocupar. Como a minha vida financeira. Preciso conseguir um novo emprego.
Felipe sorriu e disse:
_ E se ao invés de procurar um emprego nós dois abrissemos a nossa própria agência?
"Gael, você tem uma grana guardada e eu também. Podemos ser sócios. É claro que não temos muitos recursos, mas podemos abrir uma agência pequena e trabalhar com marketing digital nas redes sociais é o que está bombando no momento."
Gael gostou da ideia do amigo. Os publicitários passaram horas falando sobre o projeto.
Empolgado, Gael quis comemorar o novo passo que daria na vida e convidou o amigo e a irmã para irem com ele a um bar badalado da Lapa.
Ligou para Victor, convidando-o e o garoto aceitou.
Junto com Adrian, Victor mentiu para Andréia dizendo que dormiria na casa do tio e foi ao encontro do namorado.
Ivan aceitou a contra gosto o convite de Carla para sair naquela noite. Ainda não se conformava com a cena que presenciou no sítio. A cada dia que passava, a sua raiva aumentava cada vez mais.
Carla percebeu o meu humor do namorado, mas deduziu que era por canta da briga entre Ivan e Sônia. Ela queria animá-lo e insistiu muito para que ele a acompanhasse num bar.
Para a surpresa de todos, o casal foi ao mesmo bar que Gael estava com o namorado e amigos.
Carla acenou para Gael e foi retribuida.
_ Olha, amor, é o seu primo. Eu vou lá falar com ele.
_ Você não vai a lugar nenhum.
_ E por que não?
_ Porque ele está acompanhado. Não vamos incomodar.
_ Ah, bobagens. Aquele loirinho ali... acho que é o Victor. O Gael tava louco para me apresentar. Eu vou lá.
Carla saiu antes que Ivan tentasse impedi-la.
Felipe ficou encantado com Carla. Não fazia nenhuma questão de disfarçar o interesse pela moça, demonstrando no olhar e no sorriso. Ela percebeu, mas, mesmo gostando, fingiu não ver por respeito ao namorado.
_ Oi, Gael. Que coincidência te ver aqui!
_ É mais que coincidência, Carlinha. É um prazer.
Ambos se cumprimentaram com abraços e beijos no rosto. Gael apresentou Carla a todos na mesa. E ela sugeriu que todos ficassem juntos.
Animado com a possibilidade de ficar perto de Carla, Felipe fez questão de incentivar a presença da moça, mesmo tendo que suportar Ivan, o que não agradou em nada a Luíza, mas para não estragar o clima da noite ela decidiu omitir a sua insatisfação.
Ivan também não queria ficar perto do casal Gael e Victor, mas acabou aceitando a contra gosto.
Victor não se sentia confortável perto de Ivan e por isso, passou a maior parte do tempo em silêncio somente ouvindo Carla. A moça falava sem parar sobre assuntos triviais que agradavam todos à mesa.
Uma simpatia recíproca surgiu entre Carla, Victor e Luíza, o que os jovens acreditavam que se tornaria uma boa amizade.
Ao contrário, dos outros que estavam descontraídos e felizes, Ivan não conseguia relaxar. Vendo Gael abraçando e beijando Victor o deixava ainda mais furioso, o que era percebido por Gael que provocava ainda mais.
Numa mesa ao lado dois homens olhavam com ódio para Gael e Victor. Estavam furiosos pelo casal de homens demonstrarem afeto em público.
Luíza percebeu os olhares dos homens e se sentiu incomodada. A moça odiava homofobia e ao mesmo tempo temia que os homens fizessem algo contra o seu irmão.
Discretamente, ela avisou Gael e ele olhou para os homens sorrindo e dei um beijo na boca de Victor.
Um dos homens levantou da mesa furioso, jogando uma cadeira no chão.
_ Como que é, bichinhas? Vão ficar de putarias em público?
Luíza bateu na mesa e levantou.
_ Toma conta da sua vida, seu babaca.
O segundo homem levantou da mesa estufando o peito para frente.
_ Aqui não é lugar de veadagem, sua piranha.
_ Piranha é a sua mãe.
O homem foi em direção à Luíza para atacá-la, mas Ivan puxou a irmã para si, se pondo de frente do homem e disse:
_ Cara, volte para sua mesa. Ninguém aqui quer briga.
Victor ficou assustado, temia que rolasse agressão física.
_ Qual é o problema de vocês hein? Não gostam de ver duas bichas se beijando?_ Gael disse puxando Victor e o beijou novamente.
Furiosos os homens partiram para cima dele e Luíza correu para chamar os seguranças.
Os seguranças conseguiram apartar a briga antes que se tornasse física. E Ivan puxou Carla para irem embora.
_ Vamos embora.
_ Não podemos deixá -los aqui neste tumulto.
_ Já disse para irmos embora, Carla! Já deu por hoje._ Ivan puxando a namorada.
No carro, Carla reclamava com Ivan por ter deixado o grupo na briga.
_ Que se fodam todos eles! Se o Gael provocou beijando o veadinho do namorado ele tem que arcar com as consequências.
_ Você tem noção do absurdo que tá dizendo, Ivan? Os caras que são uns homofóbicos nojentos. O mundo não é deles. O Gael tem o direito de beijar o namorado em público. E foi muito baixo você se referir ao Victor com esse termo homofóbico.
_ Direito é o caralho! Gael fica se exibindo para provocar as pessoas. É um pervertido. Merecia mesmo levar umas porradas.
_ Eu não acredito que você é homofóbico. Parece o seu pai falando.
Ivan direcionou um olhar enfurecido para a namorada e parou o carro.
_ Nunca mais me compare a aquele velho desgraçado! Eu quero que você vá tomar no olho do seu cu, Carla.
_ Por que você está me tratando desse jeito, caralho? Já faz dias que estou tendo paciência contigo. Tentando entender o seu lado, mas você está insuportável. Sempre está de mau humorado. Puxa, eu vim lá da Suíça para ficar ao seu lado e você me trata desta forma?
_ Você veio porque quis. Eu não te convidei. Muito pelo contrário, disse para que você ficasse lá e tomasse conta da sua vida.
_ Você é um idiota, Ivan.
_ Então, se afaste de mim.
Carla saiu do carro e pegou um táxi.
Luíza estava enfurecida por ter tido a sua diversão interrompida .
_ Que ódio! Eles acabaram com a minha noite.
_ Ah, que isso, Lu. Pra mim foi do caralho ver aqueles homofóbicos putos.
Victor estranhou o fato do namorado ter se divertido com aquela situação.
_ Você é maluco, Gael. Eu não vi nada de divertido. Pra mim já deu por hoje. Vou embora.
Victor gostou da ideia de ir embora. O menino não via mais sentido continuar o passeio, ele não gostava de brigas.
_ É uma boa ideia ir embora. O meu tio deve está preocupado.
_ Mas nem pensar. A noite está só começando, gatinho. Ainda há um lugar que eu quero que você vá.
_ Não é melhor deixar para outro dia, amor?
_ Outro dia porra nenhuma. Lindinho desse jeito, você fará sucesso no Hot men.
_ O que é Hot men?
Gael o olhou com um sorriso malicioso e o beijou.
_ Vocês é quem sabem da vida de vocês. Eu vou embora._ disse Luíza.
Felipe gostou da ideia de ao Hot men e prefiriu ficar com Gael.
Hot Men era um lugar com uma iluminação de luz vermelha fraca. Pelo ar pairava fumaça de maconha, deixando Victor sufocado.
O menino estranhou vendo diversos homens nus copulando livremente. Gemidos masculinos ecoavam no local.
_ Eu quero ir embora, Gael. Não gostei daqui._ Victor disse assustado, olhando um homem cheirando uma carreira de cocaína no rego do outro.
_ Relaxa, gatinho. Curte a vibe.
Gael tirou do bolso um pacote com comprimidos de êxtases.
_ Opa, essa é da boa._ disse Felipe pegando um comprimido.
_ Chupe essa balinha, gatinho. Você vai ficar suave só curtindo.
_ Eu não vou usar drogas! Eu quero ir embora agora!
_ E, Gael, logo tu foi arrumar um namoradinho careta?_ disse Felipe rindo.
_ Pare de bobeira, Victor. Você tá parecendo a chata da sua mãe.
_ Não fale da minha mãe!
Um rapaz se aproximou deles e pôs a mão no ombro de Gael.
_ Tá a fim de se divertir, delícia.
_ Só se for agora.
_ Que porra é essa, Gael? Vai ficar dando molhe para esse aí na minha frente?
_ Oh, meu amor. Aqui ninguém é de ninguém. _ respondeu o rapaz.
_ Eu não vou ficar aqui.
_ Se não quer ficar, não fique. Eu vim para me divertir. Deixe de ser chato.
_ A minha mãe tinha razão. Você é um embuste mesmo, Gael. Nunca mais olhe na minha cara.
Victor saiu correndo. Sentia-se assustado por estar naquele lugar desagradável e, pela primeira vez, ver o verdadeiro caráter de Gael.
Caminhou pela rua escura e deserta enxugando as lágrimas.
Ligou para o tio, contando o que havia acontecido.
Ouvindo o sobrinho assustado ao telefone, Adrian se viu arrependido de ter aceitado colaborar para o encontro do casal as escondidas.
_ Carinho, eu sei onde fica esse endereço. Me espere perto do ponto de ônibus que eu já tô indo de buscar. Fique calmo.
Victor aguardava o tio no lugar marcado, cruzando os braços para se proteger do frio.
Ivan tinha a intenção de ir ao Hot men e ter uma noite de orgia com homens desconhecidos, mas desistiu, pois estava com muita raiva para suportar que alguém o tocasse. Abriu a janela do carro para fumar e para o aumento da sua raiva avistou Victor só no ponto de ônibus.
Direcionou ao menino um olhar maligno e uma ideia diabólica dominou a sua mente.
Saiu do carro e pegou o taco de beisebol que havia deixado no porta malas. Andou em direção às costas do menino, que estava com fones nos ouvidos, para relaxar ouvindo música enquanto aguardava a chegada de Adrian.
Ivan estava fora de si. O ódio o dominou completamente.
Próximo do menino, Ivan mirou o taco em direção a de Victor, e com toda a sua força acertou a cabeça do garoto, que caiu imediatamente.
Vendo Victor jogado ao chão com a cabeça sangrando o fez tremer.
Ivan olhou para o taco sujo de sangue e sentiu um forte arrependimento. Correu para o carro e saiu em disparada.
_ Caralho! Que merda eu fiz?