ALERTA DE GATILHO: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
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Capítulo 1
Acredito que todo homem tenha alguma mulher com quem não transou por alguma circunstância da vida e sempre vai carregar um certo peso no coração por isso. Não que ele não esteja feliz com outra, que não possa ter um ótimo relacionamento ou um casamento, mas sempre vai ter aquela sensação de que seria o melhor sexo da vida. Veja, eu mesmo sou um exemplo disso, tenho uma mulher que amo, mas sempre pensei em como teria sido transar com Cristiny, minha namorada do ensino médio.
Lá por volta de 2010, tocando Scracho e NxZero no violão conquistei a ruivinha mais linda da sala. Tudo começou em junho, quando começou a esfriar e eu emprestei meu casaco para ela, e quando me foi devolvido, me apaixonei imediatamente pelo perfume que ficou impregnado nele. Depois, comecei a me apaixonar pela dona dos cabelos ruivos que exalavam tanto perfume.
Lembro que fomos assistir ao primeiro jogo do Brasil na copa daquele ano na casa de um amigo e lá rolou nosso primeiro beijo. Brasil e Coréia do Norte, acho que nunca vou esquecer.
Até o jogo da eliminação, já havia feito o pedido e ela aceitou, assumindo para o mundo ser minha namorada. Lamento, Holanda, Júlio César e Felipe Melo, mas nem vocês conseguiram estragar meu mês.
Dizem que aquela foi a copa da Espanha, do tik-taka, mas, pra mim, foi a copa da Cristiny. Pela primeira vez, sentia meu coração se abrindo para o amor correspondido, sentia o frescor e a leveza da adolescência que antes, para mim, pareciam criação de Hollywood.
Conheci os pais dela, e eles gostaram de mim. A avó nem fala, a velhinha me amava. Cristiny também conquistou minha mãe.
A vida era boa, era linda.
Mas, assim como para Adão e Eva, havia uma regra que poderia fazer aquele paraíso ruir: sexo? Só depois do casamento. De família conservadora e tradicional, Cristiny não cedia às minhas tentativas e seguia irredutível.
- Não fica apertando meu peito assim, amor.
- Não é bom?
- Claro que é, mas o problema é esse: é tão bom que dá vontade de ir além.
Eu já havia feito sexo antes, sabia que era bom, mas como cantava meu eterno ídolo Chorão: "o sexo é bom, o amor melhor, os dois então perfeito".
Então eu poderia esperar. E eu esperei.
Aquilo era ótimo, mas era irremediavelmente adolescente, e aos poucos a relação foi se desgastando e em 2011, após terminarmos o ensino médio, acabamos indo para cidades diferentes fazer a faculdade. Aquela era pá de cal que faltava para por fim ao meu primeiro namoro.
Com o coração amargurado, dei sequência à minha vida. Terminei a faculdade, conheci garotas, namorei algumas, transei sem compromisso com outras e não pensava muito em Cristiny. Principalmente porque conheci Letícia, que viria a ser minha esposa.
Nos casamos em 2017, e temos levado uma vida boa desde então. Não era a mesma paixão de adolescente de outrora, era mais maduro, mais forte.
Bom, pelo menos era isso o que eu achava.
ATUALMENTE...
Em janeiro desse ano, quando voltava do almoço, encontro Cristiny me esperando.
Houve um susto mútuo quando nossos olhos se encontraram pela primeira vez depois de 10 anos.
- Devo te chamar de doutor? - Ela perguntou depois de um pouco de hesitação e com um sorriso nervoso, mas com a intenção de quebrar o gelo.
- Não, claro que não, pode me chamar só de Gabriel mesmo - respondi, tentando parecer relaxado.
- Eu precisava falar com você - deu uma olhada para meu sócio e sussurrou - em particular.
- Claro, claro. Venha comigo.
Levei-a para minha sala, encostei a porta e lhe disse que podia falar.
- Bom, é uma longa história. Mas para resumir, eu quero me divorciar e não confio em mais ninguém para cuidar, além de você - ela sorriu, e eu voltei a ser o mesmo cara da Copa de 2010.
Nossa conversa seguiu e ela contou um breve resumo do que tinha acontecido nos últimos 10 anos: basicamente, ela conheceu um rapaz no primeiro ano de faculdade, e se casaram logo. Ela terminou a faculdade em Farmácia, mas nunca chegou a atuar, porque logo engravidou. Depois disso, nunca mais conseguiu trabalhar na sua área, virando uma típica dona de casa. O marido, ao contrário, seguia avançando na carreira, abrindo lojas e mais lojas, ganhando muito dinheiro. Mas, por outro lado, cada vez mais distante ficava, ela começou a suspeitar que ele tinha uns casos por aí, e quando o confrontou tudo foi abaixo. Começaram as agressões, primeiro verbais, depois físicas. Depois, as humilhações em público: ele fazia questão de falar para qualquer pessoa com quem surgisse o assunto que a esposa era uma à toa, que não trabalhava e se não fosse por ele, ela estaria morrendo de fome.
Como não poderia deixar de ser, qualquer amor que tenha existido entre eles, acabou, pelo menos por parte dela.
- Eu, obviamente, estou aqui escondida - ela disse, com lágrimas nos olhos - preciso voltar para casa hoje, quero arrumar umas coisas para ir embora de vez...
- Por que você já não fica por aqui mesmo? Fica num hotel ou coisa do tipo?
- Porque... - ela hesitou - pelo meu filho, caso eu não volte, quem apanha é ele. Depois de algumas doses de whisky o pai não vê muita diferença mesmo, basta que esteja batendo em alguém.
Naquele momento, senti um nó apertando minha garganta, e o jovem e intrépido advogado se viu sem palavras. Desejei de todo coração que ela não passasse por isso, tentei convencê-la a pegar o filho e ir para um hotel, ou então ir para a polícia imediatamente, mas ela estava irredutível. Até me ofereci para ir junto, mas o máximo que consegui foi arrancar um sorrisinho doce dela.
Foi embora, naquela sexta a tarde, prometendo voltar na segunda, e eu fiquei lá, sentando, com olhos úmidos.
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Bom, pessoal, muito obrigada a quem leu até o final e peço desculpas por não ter nenhuma cena de sexo até agora. Mas esse primeiro capítulo serviu para contextualizar a história, e podem ficar tranquilos que nossos protagonistas vão ter muitas cenas ardentes até o décimo e derradeiro capítulo.
Se alguém quiser comentar o que achou e suas expectativas para o restante da história, fique à vontade. Vou amar ler as opiniões de vocês.