Capítulo 17
_ Eu nem acredito que, finalmente, vou embora deste hospital. Estou morrendo de saudades da nossa casa, da comida da vovó e vovô, de dormir na minha caminha. _ Victor dizia fechando os olhos para sorrir.
Andréia olhava para o filho com admiração de que, apesar da violência sofrida, Victor não se afundou no rancor e ódio. Pelo contrário, ele preservava o jeito amoroso, a vontade de viver e a meiguice, que sempre foi a sua principal característica.
Virgínia os ajudava a fazer a mala do amigo. Estava feliz por seu grande amigo ter sobrevivido e voltará a vida normal.
Roseli e Paulo permaneceram em casa preparando um delicioso almoço para receber o neto. O cardápio do dia era fricassê de frango, um dos pratos favoritos de Victor, e de sobremesa torta holandesa de limão.
_ Eu senti falta do tio Adrian.
Andréia abaixou o olhar séria.
_ Eu não gosto de saber que vocês dois estejam brigados.
_ A gente já conversou sobre esse assunto, Victor. O seu tio foi um irresponsável. Ele feriu a minha confiança e pôs a sua vida em risco.
_ A culpa foi toda minha, mãe. Eu pedi pro tio Adrian mentir.
_ Você é só um menino e o seu tio é o adulto neste história toda. Ele deveria ter agido com responsabilidade.
_ Mãe, eu quase morri. Fico apavarodo só de pensar que a esta hora eu poderia estar morto, que nunca mais viria você, a Virgínia, o vovô, a vovó e o tio Adrian. Eu não quero disperdisar essa minha nova chance com rancores e brigas. Por favor, mamãe, perdoe o tio Adrian? Faça isso por mim? Eu te imploro.
Era certo que Andréia sentia raiva do irmão, mas ao ver a expressão doce e amorosa do filho e se comover com as suas palavras, ela resolveu que faria o esforço de perdoar Adrian.
_ Eu vou pensar no assunto.
_ Por favor, mamãe? A minha felicidade estaria completa se o tio Adrian também estivesse no almoço.
Victor deu um beijo no rosto da mãe. E ela acariciou os cabelos do menino.
_ Você é tão maravilhoso. Eu te amo tanto, meu filho.
_ Eu também te amo.
Ambos se abraçaram e Virgínia olhava a cena cruzando as mãos, numa expressão de agrado.
O celular de Andréia tocou e ela percebeu era o seu chefe.
_ É o chato do meu chefe. Eu vou atender ali no corredor. E vocês vão terminando logo isso.
Andréia saiu e uma enfermeira entrou. Entre ela e Victor havia nascido uma simpatia. O jeito doce do menino a encantava e ela também se compadeceu da situação sofrida por Victor.
_ O meu paciente favorito vai embora. Eu fico feliz por você ter melhorado e ao mesmo tempo triste por ter que me separar de você.
_ Ah, não precisa ser assim. Podemos continuar mantendo contato, conversando via Whatsapp.
_ Ah, isso com certeza. Ai de tu se se afastar de mim. Venha, me dê um abraço.
Ambos se abraçaram e a enfermeira o entregou um pacote com uma caixa de bombons.
_ Meu deus! Não precisava se incomodar. Muito obrigado.
_ Imagina. Não é incômodo algum. Você é uma pessoa muito amada sabia? O seu namorado mesmo te ama muito. Tanto que vinha aqui todas as noites, quando você estave em coma.
Victor e Virgínia estranharam.
_ Meu namorado? Mas, o Gael esteve aqui uma vez.
_ É óbvio que ela não está falando do traste do Gael, Vitinho.
_ E de quem seria?
_ Isso é o que vamos saber agora.
Virgínia retirou o celular da bolsa e mostrou a foto que tiraram no dia da parada LGBT.
_ De qual desses dois você está falando?
_ Ora, deste bonitinho aqui.
A enfermeira apontou o dedo para Ivan. Virgínia sorriu.
_ Ele não é o seu namorado, querido?
_ Ainda não. _ disse Virginia arqueando a sobrancelha.
_ Pois bem. Eu preciso ir. Tchau, meu amor. Que você seja muito feliz.
_ Você também.
Depois do segundo abraço, a enfermeira saiu do quarto.
_ Puta que pariu! Caralho! Boceta! Vitinho, você pescou o coração de um milionário! E você tem uma sorte do caralho! Nem foi um velho caindo aos pedaços querendo um jovenzinho. Foi um cara lindo, jovem, e rico, rico, rico pra caralhoooo!
"Amigo, já vejo o seu futuro num hotel bem chique, tomando champanhe, comendo caviá em frente à torre Eiffel. Imagina, você entrando num closet e ficando em dúvida se usa prada ou Gucci. Aaaaaaa!"
_ Como você viaja.
_ Que viagem nada! Meu bem, você vai morar numa mansão na barra da Tijuca, ou talvez ele te leve para morar na Suíça.
_ Louca, pare de sonhar e me ajude com essas roupas.
_ Que sonho? O cara tá caidinho por você. Você não ouviu a enfermeira dizer que ele vinha te ver todas as noites? E sem contar que está sempre aqui, bancou todo o seu tratamento e vive te mandando mensagens querendo saber como você está. Eu quero ser a madrinha do casamento de vocês._ Virgínia disse batendo palmas e dando pulinhos.
_ Não pira, garota. Você acha que um cara como o Ivan, que é rico, bonito, jovem e pode ter qualquer pessoa que ele quiser vai se apaixonar por mim?
Virgínia olhava para o vidro da porta sorrindo.
_ Isso você vai saber agora, olha quem vem vindo aí.
O coração de Victor bateu acelerado quando Ivan entrou no quarto trazendo um buquê de girassóis na mão. O menino se sentiu envergonhado diante de Ivan.
No fundo, Victor ficou feliz com a possibilidade de Ivan estar apaixonado por ele, mas dizia a si mesmo que eram besteiras de Virgínia e temia passar vergonha por confundir as coisas.
_ Bom dia. Eu pensei em trazer rosas, mas pensei que eram muito clichês.
_ Imagine, ele adora rosas.
Victor chutou a perna da amiga.
_ Jura? Então, eu deveria ter ouvido a minha intuição. Mas acho que girassóis combinam mais contigo. Já que elas estão sempre buscando a luz do sol, assim como você está sempre tentando ver as coisas de um lado positivo.
Ivan dizia um sorriso sereno. Sentia-se leve e feliz por ver Victor de pé e pronto para voltar para casa. Ele entregou as flores a Víctor, que deixou Ivan encantado com o seu sorriso.
_ Que romântico!
Victor corou de vergonha por causa das palavras de Virgínia.
_ Virgínia, você não ia chamar a minha mãe?
_ Eu não.
Victor a olhou sério.
_ Ah, sim. Eu vou chamar a Andréia. Fiquem à vontade.
A moça saiu sorrindo.
_ Não ligue para a Virgínia. Ela diz muitas bobagens. Como diz a minha avó: "essa menina não tem freio na língua. "
_ É tão bom te ver bem. Você não sabe a felicidade que eu sinto em saber que você está se recuperando.
_ Obrigado pela preocupação.
Devido a timidez de ambos, um silêncio se instalou no quarto por alguns segundos. Victor manteve os olhos nas roupas que colocava na mala, enquanto Ivan o olhava sem disfarçar.
_ Você quer ajuda?
_ Sim. Só para fechar o zíper. Com uma mão só fica difícil.
Ivan se aproximou da cama, ficando por trás de Victor. Segurou na cintura do menino e pôs o corpo para frente para fechar a mala.
Victor se afastou, temendo que Ivan pensasse que ele queria se aproveitar da situação.
_ Obrigado, Ivan.
_ Eu já te disse que não precisa me agradecer por nada. De verdade... Eu não quero que você faça isso.
_ Tudo bem. Me desculpe.
_ E muito menos que se desculpe.
_ Ok... bom... na semana que vem eu vou fazer dezoito anos. O meu aniversário será no próximo sábado.
_ É mesmo? Meus parabéns.
_ Este ano será especial, porque vou comemorar por dois motivos: o meu nascimento e renascimento. Nós não faremos nada extravagantes. Será apenas um churrasco para poucas pessoas. Pessoas essas que são de grande importância pra mim. Eu gostaria muito que você fosse... que ideia minha. Como alguém como você iria a um churrasco no subúrbio e...
_ Eu irei. Será um prazer.
Victor o olhou surpreendido. E ficou feliz por Ivan ter aceitado o seu convite.
_ Bom, eu vou indo. Tenho uma reunião lá na empresa. Só passei aqui para te ver. Até logo.
_ Até logo.
Ivan foi caminhando em direção à porta. Victor sentiu um aperto no peito, o coração batendo mais forte e um desejo incontrolável que não conseguiu conter.
_ Ivan!
O empresário olhou para trás e foi surpreendido com Victor se atirando em seus braços. O loiro pôs as mãos nas faces de Ivan e o beijou.
Victor ficou envergonhado por causa da sua atitude. Por alguns segundos, se deu conta que fez uma bobagem e que isso poderia afetar a sua nova amizade com Ivan.
O empresário o olhava sério.
_ Me desculpe.
Victor se afastou.
Ivan o puxou pela mão e segurou na sua cintura , trazendo o corpo de Victor para próximo do seu.
Os olhos de Ivan eram como órbitas negras. Absorviviam tudo e não devolviam nada. Deixando Victor confuso e assustado.
A mão fria do empresário percorria sobre a face de Victor. Sentindo a maciez da sua pele, enquanto o loiro fechava os olhos para sentir o toque de Ivan.
_ Você é tão lindo. _ disse Ivan aproximando os lábios da boca de Victor.
Ambos sentiram os corações serem preenchidos com ternura e um delicioso nervosismo.
Ivan pousou os seus lábios sobre os de Victor e o beijou.