POR ESSE AMOR - EP. 9: COINCIDÊNCIAS

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 2364 palavras
Data: 08/03/2021 00:53:19

Escrito por Kleber Viana:

- Kleber, como é possível? - perguntou o Santino tão confuso quanto eu.

Lá estávamos nós. Santino e eu, no meio do matagal da Ufam, amarrados por uma algema de metal. Sei que a vida gosta de pregar peças, mas isso é digno dos Jogos Mortais. O Santino continua lindo. Seus cabelos estão sujos com tinta e fermento. Senti vários balões atingindo minhas costas e voltei para a realidade.

— Santino!!! — gritou uma garota usando uma touca lilás na cabeça. — Vamos para o prédio verde. — ela pediu apontando para frente.

Não temos outra opção e seguimos para o prédio. O Santino não é a pessoa mais rápida do mundo, por isso, acompanhei o ritmo dele. A pobre garota é atingida por um balão enorme e caí no chão. Enquanto a ajudamos, o Santino começou a rir. Estou em choque e não tenho reação alguma.

Achamos abrigo no prédio do curso de engenharia. Uma verdadeira caçada começou na Ufam, os veteranos que conseguissem mais calouros ganhariam um prêmio. O Santino e a garota começaram a se olhar de forma estranha. Ela virou na minha direção com uma cara de surpresa e colocou a mão na boca.

— Você é o Kleber! — a garota apontou na minha direção.

— Sou e você é? — questionei, confuso e olhando para os dois.

— Giovanna, prazer. — estendendo a mão e me cumprimentando.

— Você falou de nós para ela? — perguntei para Santino que continuava calado. — Vocês são namorados?

— Não, o Santino é lindo, mas não joga no meu time. Enfim, a gente precisa sair daqui. Estou um nojo. — a Giovanna andou em direção a janela e ficou vigiando.

— Não podemos nos esconder aqui. Acho que existem outros lugares vazios. — sugeri para os dois.

Começamos a nos esconder pelas salas, mas vários alunos estavam vigiando os calouros. Estava me irritando com o Santino, ele simplesmente ficou calado. Apenas respondia com o seu "hum" habitual. A Giovanna por outro lado, uma verdadeira metralhadora de informação. Será que tinha botão de desligar?

Achamos uma sala segura e sentamos para esperar o tempo passar. Tiro um lenço do meu bolso e limpo o rosto do Santino. Percebo que suas mãos começam a tremer e seguro a que está algemada comigo.

— Gente, que mundo pequeno, né? Vocês se conheceram no Ceará e veem se encontrar em Manaus. Olha, não quero que o clima fique estranho ou pesado, então, vou ficar ali no cantinho da sala com minha boquinha linda calada e vocês podem conversar melhor, que tal? — sugeriu Giovanna se afastando e olhando o celular.

— Então, Manaus, né? — perguntei ainda limpando o rosto do Santino.

— Hum.

— Santino. Eu nem sei o que te falar e...

— Kleber. Eu não fiquei com o Sérgio.

— Eu vi a foto de vocês dois juntos.

— A mãe dele que era uma grande amiga minha faleceu naquela noite. Enquanto, os amigos dele se divertiam, eu resolvi ajudar. A gente acabou adormecendo na cama. Agora, e o beijo na Emilly? — ele explicou e questionou sem olhar para mim.

Touché. Bem, pelo menos, descobri o nome da garota: Emilly. Que grande mal entendido. Ok. O meu foi mais pesado, mesmo tentando colocar a culpa no álcool, o Santino ainda era 100% inocente nessa história toda. Infelizmente, o nosso momento de esclarecimento acabou com a entrada de dois veteranos na sala.

Giovanna gritou como se estivesse em um filme de terror, os coitados dos veteranos se assustaram, então, aproveitei a distração e puxei os dois para fora da sala. A gente correu bastante, mas sempre respeitando o limite do Santino.

Voltamos para a trilha da Ufam. Estávamos ofegantes e suados. Tirei uma garrafa d'água da mochila e ofereci para o Santino. Apesar de tudo, ainda tinha um sentimento de proteção por ele. Pensamos em uma maneira de atravessar a floresta sem ser visto pelos veteranos. Ainda faltavam 20 minutos para o fim da caçada.

— Gente. Estou recebendo fotos horríveis. Todos os alunos que foram pegos estão pedindo dinheiro no sinal. Auge. — reclamou Giovanna nos mostrando a imagem no celular.

— A gente pode ir para o bloco de comunicação. Acho que lá deve estar seguro. — sugeri para eles.

Novamente, os dois ficaram se olhando de forma estranha. Sei lá, eles meio que piscavam e balançavam as cabeças. No fim, os dois acataram a ideia e seguimos para o bloco de comunicação social.

— Nossa, você conhece bem a faculdade. Nem parece calouro. — observou Giovanna.

— Conheço um pouco. Fiz alguns serviços trabalhando aqui. A minha mãe é gari e conseguiu um trampo para mim. — contei sem tirar os olhos da trilha.

— Que legal. Ainda bem que te encontramos. Morro de medo de floresta. O meu irmão e o noivo deles passaram dois dias perdidos. Eu não sobreviveria sem meus cremes. — ela soltou.

— Puxa, que tenso, Giovanna. Eu só conheço os setores que trabalhava.

O silêncio do Santino estava ensurdecedor. Tentava puxar assunto com ele, entretanto, de sua boca só saiam palavras monossilábicas. A Giovanna percebeu e tentou ajudar em vão. Depois de 10 minutos chegamos no prédio de comunicação. Todos ficaram olhando para nós. Estávamos sujos e fedidos. Nota mental: xixi e ovo podre não combinam.

— Santino! — gritou um rapaz correndo na nossa direção.

Eu o reconheci. Era o mesmo babaca que fez bullying com o Santino na praia. Ele se aproximou e, em uma reação involuntária, o empurrei. O Santino tentou impedir, mas o garoto veio para cima de mim. Um pequeno tumulto começou e chamamos a atenção dos seguranças que nos levaram para uma área mais tranquila.

Graças a Deus que não fomos levados para a direção. Após uma explicação rápida, os seguranças pediram para que ficássemos longe de problemas. Giovanna funcionou como uma juíza de paz e nos interrogou. Ela sabia muito sobre a vida do Santino.

— Quem é você, garota? — perguntou Sérgio, visivelmente emburrado.

— Sou Giovanna. Nova melhor amiga do Santino. Algum problema? — Giovanna fez uma pose engraçada e Santino riu.

— Quando você conheceu ela? — Sérgio direcionou a pergunta para Santino.

— Na hora que me inscrevi para o trote.

Ah, quer dizer que para o Sérgio ele responde. Eu, literalmente, tentei arrancar uma frase completa do Santino e não consegui. O idiota do Sérgio aparece e faz isso com apenas uma pergunta. Sério?

O tempo passou tão rápido e nem percebemos. Sobrevivemos ao primeiro dia na faculdade. Voltamos para o ponto de encontro e um veterano nos livrou da algema. Passei a mão no pulso e percebi que ficou uma marca vermelha no Santino.

— Deixa eu fazer uma massagem. Ajuda na circulação. — pedi, enquanto tocava em seu braço.

— Kleber. Acho melhor a gente...

— Santino, sinto muito pelo o que aconteceu. Eu gostei de você. Se passaram dois meses e eu nunca te esqueci.

— Romântico, né? — Giovanna perguntou olhando para Sérgio.

— Tanto faz. Só quero tirar esse cheiro de ovo podre do meu cabelo. — resmungou Sérgio cruzando os braços. — Santino, eu já vou. Vai ficar com o proletariado.

Uma outra pequena confusão começou. Giovanna ficou chateada ao ser chamada de proletariado. Eu já estava acostumado, ouvi insultos piores. O Santino pediu para Sérgio ir embora, ele ficaria um pouco mais. O meu coração acelerou. Ainda teria uma chance de esclarecer as coisas com o Santino.

— A gente se vê em casa. — Sérgio avisou, colocando os óculos escuros e andando em direção ao estacionamento.

— A gente se vê em casa? Droga. — pensei.

Mil vezes droga. Eles estão morando juntos? Como assim, Brasil. Demorou um pouco para a Giovanna se acalmar. Seguimos para o café da faculdade. Santino e eu seguimos para o banheiro masculino. Estávamos podres por causa da sujeira. Eu estava com vontade de tomar um banho completo, ainda mais se fosse acompanhado pelo Santino.

Tirei a camisa e lavei na pia. Estava usando as roupas mais velhas que encontrei no guarda-roupa. Uma camisa preta da série de jogos "Resident Evil", que tinha a logomarca da empresa Umbrella. A minha bermuda azul e uma sandália de Jesus.

O Santino também disse que escolheu roupas antigas, porém, temos um conceito muito diferente de peças velhas. Afinal, atrás de sua camisa cinza com o desenho de um super Nintendo achei a etiqueta. Tirei e não mostrei, coitadinho, não queria constrangê-lo.

— Vocês estão morando juntos, hein. Tem certeza que é a coisa mais saudável para se fazer. — tentei não parecer um gay ciumento, mas não sei se tive sucesso.

— Muitas coisas passaram nesses dois meses, Kleber. O Sérgio perdeu a mãe e a casa, já o pai lhe virou as costas. Sei que ele foi um babaca comigo, mas prometi a mãe dele que o ajudaria.

— Entendo. — falei soltando um riso abafado. — Quem diria, Santino. A gente lavando nossas camisas em um banheiro da Ufam. Cara, dentre todas as coisas que conversamos nunca falamos sobre nossas cidades. Bem, você é de Manaus?

— Sim. Nascido e criado. E você? — ele perguntou passando papel higiênico no rosto.

— Também. Posso te pedir um favor?

— Claro.

— Você pode me desbloquear no Telegram? Era o único contato que eu tinha com você. Não vou mentir, ainda gosto de você. Se a gente pudesse esquecer tudo o que aconteceu em Aquiraz. Te peço uma chance, por favor.

— Tudo bem. Acho que te bloquear no telegram foi uma coisa de diva. Desculpe.

Queria gritar, entretanto, mantive a pose na frente dele. Eu não acredito. Dentre todas as cidades do universo, o Santino morava justamente na minha, quer dizer, na nossa. Saímos do banheiro e encontramos Giovanna impecável na cafeteria. Ela fazia um stories no celular.

Pedimos uma tapioca com queijo e banana frita, algo típico em Manaus. Adoro os sabores da minha terra. A Giovanna comeu apenas um pedaço, Santino e eu, digamos que mandamos bem no quesito comer. Era incrível como o assunto fluía entre a gente. Não sou de ter amigos, mas gostei do que estava surgindo ali.

— Thelma e Louise. — Giovanna disparou na nossa direção. — Estou de carro. Querem carona? Só não garanto a sobrevivência de vocês.

— Não de boas. Vou ficar um pouco mais. A minha mãe está de serviço aqui. É ruim ela ir sozinha para casa. — falei pegando o celular e olhando o horário.

— Santino?

De novo, os dois começaram a se olhar de forma esquisita. Giovanna revirou os olhos e consentiu com a cabeça. Santino olhou para mim e disse que ia ficar mais um pouco. Obrigado, Senhor. Adorei a Giovanna, de verdade, porém, precisava de um tempo a sós com o Santino. Algumas coisinhas ainda precisavam ser esclarecidas. Não queria deixar nenhum pingo fora do i.

— Bem, Kleber. Foi um prazer. — ela disse me beijando no rosto. — Encontro vocês na quarta. O reitor vai dar uma palestrinha. Santino, te ligo mais tarde. Anotei teu número. — beijando Santino no rosto. — E gente, desculpa ser indiscreta, mas shippo vocês. Mas, você está sob analise. — apontando para mim e saíndo.

Após o furacão Giovanna sair da cafeteria, Santino e eu, seguimos para a área de convivência dos alunos. O serviço da minha mãe é no prédio de engenharia, então, fomos caminhando sem pressa. Vou falando sobre o que aconteceu comigo, após a festa de formatura, claro, que omiti algumas coisas, não queria deixar o Santino triste ou crisado.

— Kleber. Eu estou muito feliz por ter te encontrado. — Santino disse de uma forma tão fofa que o meu coração quase derreteu.

— Eu também. Quero muito ter a oportunidade de te provar que sou um cara legal. Gostei muito de você também.

Na Ufam, a área de convivência dos alunos era gigante. Escolhemos um lugar bem confortável para conversamos. A gente ficou um de frente para o outro. Nem senti o tempo passar, o Santino conseguia ser uma ótima companhia quando não estava envergonhado. Não queria que aquele dia acabasse.

Sim. Quase abandonei a ideia de me apaixonar. No fim das férias, tracei um plano perfeito:

1 - Estudar;

2 - Achar um bom estágio;

3 - Me formar;

4 - Passar em um concurso público;

5 - Construir uma casa para minha mãe

6 - Viajar pelo mundo;

Evitei escrever qualquer coisa sobre me apaixonar ou encontrar um namorado. Após as decepções que a vida jogou na minha frente, tinha decidido a não dar outra chance ao amor, mas somos sempre surpreendidos pelo destino, né?

Lá estava eu. Sentando no chão. Tendo uma conversa maravilhosa com o urso mais lindo de Manaus. Talvez, o amor mereça uma chance.

Tá, comemorei rápido demais. No meio do bate-papo tão gostoso, alguém chamou por mim. Olhei para cima e vi o Kiko, o ex que tentou me prostituir. Ele estava abatido e, definitivamente, mais magro do que era. Pedi licença do Santino e levantei, não queria causar nenhum mal estar entre nós.

— Você está bonito, Kleber. — elogiou Kiko colocando a mochila nas costas. — Eu lembrei que hoje era o dia dos trotes.

— Kiko...

— Senti falta de você me chamar assim. — ele me cortou na esperança de prolongar nossa conversa.

— Cara, apenas me esquece. Vai viver a tua vida. Já não basta as coisas que você me fez passar? — apelei para o bom senso dele.

— Foi um erro. Eu apaguei todas as fotos e vídeos. Será que a gente não pode conversar? - Kiko sugeriu me deixando aflito.

— Kiko. — respirei fundo pensando na melhor maneira de afasta-lo. — Contei para a minha mãe. Ela ficou super brava com você. Queria até procurar a polícia. Se ela descobrir que voltei a falar contigo... bem...

— Entendi. Aquele garoto é o teu namorado? — ele perguntou apontando discretamente para Santino.

— Ainda não. Só me deixa em paz, por favor. — pedi me afastando dele.

Que coisa mais difícil. Eu senti pena do Kiko. A gente tinha tudo para ser um bom casal, entretanto, sua obsessão em me ver com outros homens, aquilo simplesmente não funcionava para mim. Espero que ele compreenda e me deixe em paz.

Voltei minha atenção para o Santino. Ele ficava tão bonitinho sentado no chão. Tropecei no chão e caí por cima dele. Sorte que o Santino me segurou. Ficamos nos olhando por um tempo, então, o beijei. Pena que durou pouco tempo.

— Kleber. — disse Santino. — Aqui não, por favor.

— Desculpa. Não resisti. — falei ficando de joelhos e ajudando o Santino a sentar. — Desculpa, mesmo.

— Tudo bem. — Santino olhou em volta e sorriu. — E quem era aquele homem?

— Um conhecido. — respondi. — Apenas um conhecido.

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Comentários

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to vendo que vai rolar algo entre sérgio e o santinoo, ja quero.

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Kiko e Sérgio irão atrapalhar o romance do casal fofura???

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