Verdades secretas Capítulo 22

Um conto erótico de Mistério
Categoria: Gay
Contém 2881 palavras
Data: 09/03/2021 20:20:46

Capítulo 22

A cicatriz começava perto do dedo indicador e terminava perto do pulso, ela era como uma linha transversal e tinha um alto relevo.

Olhar para ela irritava Gael. Maldita hora que permitiu que Ivan fizesse o odioso pacto de sangue, marcando-os para sempre.

Gael desejou arrancar a mão e atirá-la longe dele. O ódio por Ivan o corroía por dentro.

A obsseção do empresário prejudicou a sua família, o fez perder o emprego e o tirou Victor.

Não que Gael sentisse algum tipo de afeto pelo loiro, mas o seu orgulho estava ferido por perdê-lo para Ivan. Se fosse para qualquer outro Gael não se importaria. Seria até bom, por que não precisaria sentir remorsos por abandoná-lo depois da tragédia.

Todavia, perdê-lo para Ivan foi como ser vencido num jogo que estava acostumado a ganhar. Isso o deixava humilhado.

Aos poucos, Gael ia se erguendo profissionalmente. A sua agência de publicidade estava nascendo. Ele e Felipe contrataram um advogado para cuidar dos assuntos legais, o local que seria a sede já estava em reforma, mas para a empresa funcionar, Gael precisava racionar gastos pessoais e familiares e isso atingia a quem ele mais amava, a sua irmã Luíza.

A jovem se preocupava com o irmão e percebeu que precisava de um emprego. Pediu a uma amiga da faculdade que a arranjasse uma vaga na cafeteria do pai dela, que ficava no shopping de alto nível, na Barra da Tijuca.

Como as despesas da sua faculdade eram altas, Luíza decidiu trancar a matrícula, o que não agradou em nada Gael e Fernanda.

_ Você está louca?! Eu te proibo de fazer isso!_ gritava Fernanda apontando o dedo para Luíza.

_ Você não pode me proibir. Eu sou maior de idade.

_ Mas, isso é loucura, Luíza!

Naquele momento, Gael entrou na sala vestindo somente uma cueca boxer preta.

_ O que é loucura?

_ Gael, você precisa pôr um pouco de juízo na cabeça da sua irmã. Você acredita que ela trancou a faculdade e vai começar a trabalhar de vendedora numa cafeteria?!

Gael olhou para irmã com espanto e desaprovação.

_ Eu vou mesmo. Você fala como se trabalhar fosse algo vergonhoso.

_ Você não é mulher para trabalhar em cafeterias. Você estudou nas melhores escolas, fala inglês e espanhol com fluência, estava estudando numa universidade conceituda para ser uma administradora e agora vai trabalhar na vai servir cafezinho? Tenha dó de mim, Luíza! O que eu fiz para merecer ver uma filha ter esse declínio?

_ Sem exagero ,mãe. Acorda para a realidade. O papai nos deixou na merda. Perdemos tudo: o nosso apartamento, os nossos carros, a grana, enfim deixou tudo para o filhinho favorito dele. Viver de aparências não paga as contas.

_ Eu não aprovo você tomar essa atitude.

Fernanda se sentiu aliviada ao ouvir Gael.

_ Luíza, você não deveria ter trancado a matrícula da faculdade. Você é idiota? É o seu futuro profissional! Você vai lá agora consertar essa merda.

_ Não vou.

_ Vai sim.

_ Não. Eu já disse que não! Gael, você está desempregado e tem que se preocupar com as despesas da casa, comigo e com a mamãe não é justo que tenha que pagar a minha faculdade.

_ Isso sou eu quem decido. Eu não estou merda...pelo menos não tanto. A minha agência começará a funcionar em breve e...

_ A sua agência é uma pequena e nova empresa no mercado. Vocês estão no início e os lucros não virão de imediato.

_ O que você quer fazer da sua vida? Ser uma vendedorazinha para sempre?

_ Eu não serei uma vendedorazinha para sempre. Eu vou estudar para o vestibular pela internet. Há muitos matérias disponíveis gratuitamente. Vou prestar vestibular para uma faculdade pública.

_ Isso é demais pra mim. Eu não aceito isso. Maldito Raúl! Desgraçado! Como pode fazer isso conosco?!

Fernanda atirou o cinzeiro de vidro contra a parede assustando a todos.

_ A culpa de tudo isso é sua, Gael!

_ Não diga besteiras, mãe. O meu irmão não tem culpa de nada. O dinheiro do meu trabalho pode ajudar nas despesas.

_ A culpa é dele sim. Você foi burro, Gael! Uma anta! Tinha o Ivan nas suas mãos. Poderia ter ficado com ele e agora todos nós estaríamos bem, morando numa mansão ou apartamento de luxo, a sua agência não seria chinfrim e sim uma grande empresa. Começaria de cima.

"Mas não, você preferiu um rostinho bonitinho de um adolescente pé rapado, que o mesmo te deu um pé na bunda e pegou o milionário que você tanto rejeitou. Você é um otário! Eu tenho dois filhos burros!"

Gael não conseguia reagir.

_ Já chega, mãe! Pare de nos ofender e faça algo útil, como trabalhar por exemplo. Aceite que o seu golpe do baú deu errado.

_ Cale a boca, sua atrevida!

Fernanda ergueu a mão para bater em Luíza, mas a jovem segura a mão da mãe.

_ Nem se atreva a me bater! Eu não estou errada em nada. O Gael está fazendo tudo por nós, está passando por um momento difícil e você está sendo injusta!

Gael saiu da sala e se trancou no quarto. Queria ficar só. Sentou na ponta da cama e ficou olhando para o espelho, mas não prestava atenção na sua imagem. Só pensava na raiva que sentia.

Furioso, abriu o guarda roupa e pegou uma caixa de madeira. Ao abri -la, retirou as cartas de amor que recebia de Ivan na adolescência, olhando-as com ódio. Sentou na escrivaninha, ligando a impressora e enviou para ela algumas imagens que estavam na memória do seu celular. Eram prints das inúmeras mensagens que Ivan mandava se declarando para ele.

Gael pôs os papéis impressos e as cartas num envelope de papel pardo e guardou na gaveta da escrivaninha.

Na manhã seguinte, Gael acordou cedo. Na mesa do café da manhã um silêncio incômodo pairou sobre a família.

_ Bom, gente, eu vou indo hoje é o meu primeiro dia de trabalho e não quero chegar atrasada. Um bom dia para todos vocês.

Fernanda e Gael permaneceram em silêncio, ignorando a Luíza, o que a deixou entristecida.

_ Gael, eu sei que você está chateado comigo por conta das coisas que eu te disse ontem. Mas, você já tem trinta e um anos. Já passou da hora de tomar juízo. Meu filho, este mundo é dos espertos. Veja aquele tal de Victor. Com aquela carinha e jeitinho de anjo inocente te passou a perna e está desfrutando do dinheiro que deveria ser seu.

Gael bateu na mesa, fazendo os objetos tremerem e assustou Fernanda.

_ Caralho, já chega de falar dessa merda! Pare de jogar na minha cara a vitória do Ivan! Eu não quero mais ouvir falar naqueles dois desgraçados!

_ Tudo bem. Estamos todos nervosos com que estamos passando. Afinal, dificuldades financeiras deixa qualquer um a flor da pele. Nós somos uma família e temos que nos manter unidos.

"Eu tive uma ideia. Podemos vender o sítio. Já é um dinheiro a mais na nossa conta."

_ Não vai rolar. O sítio está no nome de todos. Para vender é preciso da autorização da tia Sônia e do demônio do Ivan. A vovó deixou todos nós como beneficiários.

_ Que merda! Eu havia me esquecido disso. Mas eu posso falar com Ivan. Ele pode autorizar a venda. Ele é tão rico. O dinheiro da venda daquele sítio é uma miséria para ele. Não paga nem um terno que ele usa.

_ Deixe de ser ingênua, mãe. O Ivan não vai aceitar facilitar nada para a minha vida. Ele é um louco que quer me destruir.

_ Pra você vê como este mundo é injusto. Tanta gente boa morrendo por aí e a praga do Ivan segue vivo e pior de tudo, saudável.

_ Mãe, pare com esse assunto mórbido.

_ Mas é verdade. A morte do Ivan seria um presente dos céus. Ninguém vai sentir falta mesmo. Aquele menino é solitário, ninguém gosta dele. E além do mais, a Luíza seria uma das beneficiárias da fortuna, já que é irmã dele. E digo logo que isso deveria acontecer o mais rápido possível, antes que aquele loirinho mosca morta se case com o Ivan e vire herdeiro.

Gael respirou fundo para aliviar o ódio. Pôs as mãos na testa.

_ Eu estou morrendo de dor de cabeça.

_ Isso é estresse. Precisamos relaxar. E hoje, vamos fazer isso. Troque de roupas que vamos sair.

_ Nem pense em fazer compras porque eu não tô podendo fazer extravagâncias. Mês passado, você extrapolou no uso do cartão de crédito.

_ E quem falou em compras? Se arrume e vamos. E sem perguntas.

Fernanda estacionou o carro num lugar isolado do sítio, perto da cerca de madeira e arame farpado.

_ Mãe, você me tirou de casa para vim pra esse fim de mundo?

_ Você vai gostar.

_ Eu vou "adorar" ficar aqui sendo devorado por mosquitos.

_ Deixe de reclamar, meu filho. Você parece um velhinho rabugento.

Fernanda saiu do carro carregando uma bolsa grande. Gael saiu em seguida, louco para retornar para a casa.

O publicitário ficou espantado quando Fernanda retirou da bolsa um revólver calibre trinta oito.

_ Que porra é essa?

_ Linda, né? Era do seu avô. Ele me deu de presente antes de morrer.

Gael a olhava desconfiado.

_ Não existe nada mais relaxante do que praticar tiros. O meu pai sempre me trazia aqui para acertar passarinhos. E não é querendo me gabar não, mas eu sou muito boa na bala. Você acredita que eu conseguia apagar chama de vela no tiro sem danificar a vela?

_ Que crueldade matar passarinhos por diversão. Eu não vou fazer isso.

_ Calma," Luiza Mel", não vamos atirar em nenhum bichinho inocente. Eu bem que queria, confesso. Mas, te conheço e sabia que iria criar caso. Por isso, eu trouxe essas belezinhas.

Fernanda retirou cinco garrafas de vidro da bolsa, e as alinhou uma ao lado da outra em cima da cerca. Ela depositou a bolsa no chão e ficou parada enfrente a cerca, apontando o revólver para as garrafas.

_ Você está se achando muito. Quero ver se é tão fodona assim como diz.

A mulher sorriu para o filho. Em questão de segundos, Fernanda atirou em três garrafas, fazendo-as explodir e espalhar cacos de vidro pelo ar.

Gael ficou boquiaberto com a boa mira da mãe.

_ Meu amor, mamãe é muito boa nisso.

Gael balançou a cabeça positivamente e bateu palmas.

_ Agora é a sua vez.

Fernanda entregou a arma ao filho.

Gael apontou a arma para uma garrafa, fechou um olho e atirou. Para a sua frustração errou o alvo, acertando o tronco de uma árvore que estava atrás da cerca.

A segunda e terceira tentativa também falharam, deixando Gael frustrado.

_ Fique tranquilo, filho. Sabe qual é o segredo?

Imagine que o alvo é a pessoa a quem você deseja que a bala atinge.

Gael respirou fundo, arregalou os seus belos olhos verdes e mirou novamente para uma das garrafas, atirou e um estrondo ecoou pelo ar junto com os cacos de vidros estilhaçados.

Fernanda pulou para comemorar.

_ Esse é o meu garoto! Eu sabia que você ia conseguir. Filho de peixe peixinho é. Em quem você pensou, meu amor?

Gael a olhou sorrindo e piscou um olho.

Com os braços cruzados e batendo o pé, Virgínia aguardava Gael descer as escadas e abrir o portão da sua casa.

_ O que você quer aqui?

A menina o olhava séria. Desde que soube que Gael deixou Victor só na noite da agressão, ela passou a sentir ranço por ele. Com uma expressão de nojo, entregou um envelope a Gael.

_ O Vitinho mandou te entregar. Por mim, ele ligava o foda-se pra ti, mas o que o meu amigo tem de maravilhoso, tem de babaca.

_ O que é isso?

_ A boceta da minha avó. Você não tá vendo que é uma carta?

_ Se o Victor quiser falar alguma coisa comigo ele que venha pessoalmente.

_ Ele queria vir, mas eu não deixei. O na-mo-ra-do dele poderia não gostar. Vai ficar olhando pra minha cara? Pegue logo esta porra que eu não tenho a noite inteira para perder olhando para essa sua cara de pau.

Gael pegou a carta da mão de Virgínia.

_ Você anda muito nervosinha. Se você fizer ponto na esquina alivia o seu estresse e ainda ganha uma graninha. Não será muito devido a sua aparência, mas sempre há uma alma caridosa capaz de fazer um sacrifício.

_ Babaca!

Virgínia foi andando para sair, mas Gael a segurou pelo braço. Com raiva, a adolescente puxou o braço de volta.

_ Não ponha as suas patas em mim.

_ Entregue isso para o Victor.

_ O que é isso?

_ Não é da sua conta. Só entregue.

Virgínia pegou o envelope de papel pardo e guardou na mochila. Saiu sem olhar para trás.

Gael abriu a carta de Victor.

"Gael,

Sinto muito por tudo que aconteceu entre nós. Em nenhum momento eu tive a intenção de te magoar.

Saiba que não tenho nenhuma mágoa de ti. Devido as inúmeras coisas boas que estão acontecendo comigo, eu consigo te dar o perdão que você tanto me pediu e espero que possa me perdoar também.

Você foi uma pessoa muito especial na minha vida. Foi o primeiro a quem me entreguei e a quem tive uma relação, breve, mas foi o suficiente para fazer nascer em mim um carinho enorme por você.

Te desejo toda a felicidade do mundo. Que você possa encontrar o amor, assim como eu encontrei, e viver momentos tão lindos que esse sentimento pode proporcionar.

Espero que possamos um dia sermos amigos.

Com carinho, Victor."

Ao terminar de ler Gael amassou a carta e a jogou na calçada. Entrou em seguida.

_ O que você acha desta blusa aqui?

Victor segurava uma blusa social preta. Estava diante de Virgínia, que o observava deitada na cama.

_ Muito sem graça.

_ Mas é a única social que eu tenho.

Virgínia fez um sinal negativo com a cabeça. Victor revirou os olhos para cima e jogou as blusas do seu guarda-roupa em cima da cama.

_ Que merda! Daqui a pouco o Ivan chega e eu ainda nem me decidi o que vistir.

_ Nem banho você tomou ainda.

Andréia entra no quarto e se espanta com a bagunça.

_ Que tipo de furacão passou por aqui?

_ Mãe, eu não sei o que vestir.

_ Se vestir pra quê?

_ Pra sair com o Ivan. Você se esqueceu? Mãe , você havia deixado.

_ Me esqueci. Estou com a cabeça cheia. Mas, vocês já não saíram está semana? Que tanto vocês saem, meu deus?

_ Eu não tenho roupas.

_ Como não tem roupas, menino? O que mais você tem são roupas!

_ Roupas velhas e furrecas. Nenhuma digna de sair com o Ivan.

_ Ei! Vamos parar com isso. Suas roupas são ótimas, todas compradas com o maior carinho e muito sacrifício. Não venha desprezar as suas coisas.

_ Desculpa, mãe. Eu não quero te ofender. Só tenho vergonha porque eu vou sair com o Ivan, vamos a um coquetel, coisa da empresa dele, e não tenho nada apresentável para vestir. O meu namorado só usa grifes e com certeza os amigos dele também. Eu não quero que ele se senta envergonhado.

_ Como assim se sentir envergonhado?! Ele sabe muito bem que você não é nenhum milionário. E você não é pior do que ninguém. Eu não tô gostando nada, nada de você no meio daquela gente rica. Se for para se sentir humilhado é melhor nem ir.

_ Claro que ele deve ir, Andréia. Levar o Victor a um coquetel de negócios é oficializar o namoro na melhor forma possível. É uma forma de declaração de amor.

_ Você não faz parte do grupo social dele e o relacionamento de vocês é homoafetivo, tudo isso pode despertar o preconceito das pessoas. Eu não acho uma boa ideia você ir.

_ Ah, mãe você deixou! Por favor, não faça isso comigo. O Ivan está chegando aí para me buscar. Com que cara eu vou desmarcar?

_ Tá bom pode ir. Mas eu ainda vou ter uma conversa muito séria com o seu namorado.

Victor beijou no rosto.

_ Eu te adoro, mãe. Você é incrível.

A campanhia tocou.

_ Deve ser o Ivan e eu ainda nem me arrumei.

_ Vá se arrumar que eu o atendo.

Andréia saiu.

_ Ah, eu já ia me esquecendo!

Virgínia levantou da cama e pegou o envelope dentro da mochila, que estava pendurada nas costas da cadeira.

_ Aqui. O imbecil do Gael mandou te entregar.

_ O que é isso?

_ Eu não faço a mínima ideia. O embuste mandou te entregar. Abre logo. Eu estou curiosa.

Victor abriu com dificuldades, devido a paralisia da sua mão direita.

Seus olhos percorreram as cartas e prints.

Ao ver o menino sério, Virgínia pegou uma das cartas e leu, também ficando espantada.

_ O Ivan gosta do Gael?!

Victor não a respondeu. Sentiu -se surpreso. O ciúme o dominou junto com a tristeza.

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Comentários

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Tadinho do Victor, esse bichinho só sofre.

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Se acontecer do Victor ficar mal com o Ivan por causa do Gael, aí sim o Gael vai ver o Ivan puto.

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