POR ESSE AMOR - EP. 19: DIA DESASTROSO

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 2602 palavras
Data: 19/03/2021 21:40:27

ESCRITO POR KLEBER VIANA:

— Obrigado, gente. — falei deixando às lágrimas escorrerem no meu rosto.

— Ei, estamos aqui para te apoiar. — Santino garantiu limpando às lágrimas e beijando meu rosto.

— Eu fico com o Thanos. — soltou Sérgio, com certeza, querendo se livrar de me ajudar. Deveria ter feito mais gols contra o time dele.

A chuva ainda não havia chegado no condomínio do Santino, mas lembrando de como imprevisível é o tempo em Manaus, sabia que não ia demorar. Entrei no carro com o Santino e os outros nos seguiram. No caminho, enviei mensagens para tranquilizar a mamãe.

Eu não sei como essas coisas acontecem com pessoas boas. Enquanto, muitos brigam por política e religião, os poderosos só crescem e as pessoas vivem à margem dessa situação. Tipo, não sou um cara ruim. Gosto de ajudar, me esforço ao máximo para fazer tudo dentro dos conformes, mas o destino gosta de cagar na minha cabeça.

O Santino presta atenção na pista, pois, como previ, a chuva chegou com força e logo as ruas ficaram alagadas. Ele pegou na minha coxa esquerda e disse que ia ficar tudo bem. Eu tentava me agarrar naquelas palavras com todas as forças.

Indiquei o local para o Santino estacionar e já vi uma movimentação diferenciada. Alguns moradores colocaram seus pertences na rua, sem se importar com o temporal que caia. Desci do carro e não conseguia acreditar na cena. Dessa vez, a água subiu muito e estava quase chegando na pista.

— Mãe!!! — gritei e corri na direção da minha casa.

Para chegar na minha casa era necessário descer uma escada de alvenaria. O rip-rap dividia em duas "ruas" ou becos, porém, não conseguia ter uma boa visibilidade do chão. A água subia com uma força impressionante, muitos moradores ficaram preocupados e fugiram carregando apenas o que podiam.

A água estava marrom. Nem imagino a sujeira que continha dentro dela. O cheiro me deixou com o estomago embrulhado e, apesar do medo, desci os degraus e enfrentei a enchente.

Eu não sou tão baixo assim, mas a água pegou na minha cintura. Olhei para trás e vi os meus amigos entrando também. Tentei impedi-los, porém, eles insistiram para ajudar. Formamos uma fila indiana, primeiro eu, em seguida, o Santino, Zedu, Yuri, Giovanna, André e Enzo.

O cenário era desolador. Vi os meus vizinhos tristes e desesperados tentando salvar aquilo que dava. Uma senhora passou sendo carregada por outras pessoas. Já morava naquela área há cinco anos e nunca experienciei algo tão chocante.

— Desculpa a pergunta, mas aqui não tem jacaré, né? — Zedu perguntou olhando para todos os lados e segurando firme no ombro de Yuri.

— Eu espero que não. — soltei, agora preocupado com possíveis ataques de animais.

A minha casa não ficava tão longe da entrada, porém, tivemos que ser cautelosos. Um passo em falso podia representar um perigo real. O que me dava forças era a mão do Santino no meu ombro que, apesar de tremula, passava coragem.

Os meus olhos encheram de água (mais ainda) quando enxerguei minha mãe na frente de casa. Ela estava desolada. A abracei forte e choramos juntos.

— A água invadiu do nada. Estão falando que o rip-rap estourou e alagou tudo. — ela explicou chorando.

— Não se preocupa. A gente vai dar um jeito. — falei a abraçando.

— O que podemos fazer? — Santino questionou chamando a atenção da mamãe.

Sei que parece estranho, mas fiquei com vergonha quando a mamãe encontrou o Santino. Ela perguntou quem eram aquelas pessoas e contei toda a história, uma versão resumida dela. A mamãe ficou tocada com a ajuda dos meus amigos, principalmente, do Santino.

A minha casa não é grande, muito pelo contrário. São três cômodos apenas: sala/cozinha, quarto e banheiro. Também não temos tantos móveis, os mais valiosos eram a televisão, ar-condicionado e meu notebook. Ainda bem que ela conseguiu salvar uma parte colocando em cima da guarda-roupa.

— Acho que podemos levar o que a senhora conseguiu salvar. — sugeriu André, que falou ainda sobre o nível da água que não parava de subir.

Peguei a bolsa de documentos e me certifiquei que todos estavam lá. O Zedu e Yuri pegaram a televisão e contavam com a ajuda da Giovanna para guiar o caminho. Depois foi a vez do Richard, André e Enzo com o ar-condicionado, que é aqueles de caixa.

— Ei, André. Você dirige moto, né? — perguntei, antes dele sair com os meninos.

— Sim.

— Você pode pegar a minha moto e levar para sua casa? Ela está no supermercado "BigAmigão". — pedi entregando as chaves para o André.

— Claro, pode deixar. A gente se encontra lá em cima.

O Santino colocou o meu notebook dentro de uma sacola e garantiu que a água não ia entrar. A mamãe também separou duas malas com roupas, principalmente, as nossas fardas do trabalho.

— Temos que ver para onde vamos, mãe. — comentei, enquanto a ajudava com as mochilas.

— E o Thor?

— Está na casa do Santino em segurança. — contei respirando fundo.

— Gente. Eu tenho um apartamento no Centro e...

— Santino, não precisa. A gente se vira. — cortei o Santino porque não queria passar a impressão errada.

— Dona Bruna. — ele falou, novamente, mas olhando para a mamãe. — Vocês podem ficar no meu apartamento. Eu uso ele para alugar, porém, não tem inquilino neste momento. O seu filho é muito cabeça dura para receber ajuda, mas eu quero ajudar. Eu amo o seu filho e não posso permitir que vocês fiquem desamparados agora. Só aceitem, por favor.

Merda. O Santino decidido é tão sexy. Ok, eu sei que não posso ter pensamentos libidinosos nesse momento. Sem ter muita opção, a gente acabou aceitando a oferta dele. Trancamos a casa e auxiliamos outros vizinhos. O líder da região avisou que todos os moradores se reuniriam na prefeitura da cidade para protestar.

O temporal ficou mais forte e as telhas das casas começaram a voar de um lado para o outro. A energia de toda a região foi cortada, afinal, alguém poderia se machucar. Olhei no relógio e já ia dar sete da noite, então, achei melhor ir embora. Não tinha muito a ser feito, apenas aceitar a derrota.

Seguimos para o condomínio do Santino. A mamãe ficou toda chorosa. A deixei quieta, nesses casos, a melhor opção é curtir a tristeza. Chegamos de baixo de mais chuva.

— Se vocês quiserem descer ou comer algo. Ainda tem bastante churrasco. — Santino nos convidou, mas a mamãe achou melhor ir para o apartamento.

— Vou pegar o Thor. — anunciei para a mamãe que achou melhor esperar no carro.

Diferente da minha rua, a do Santino tem um sistema de escoamento eficiente. Pensei nisso, antes de descer do carro e entrar na casa dele. O pessoal já estava lá. Contei todo o rolê da manifestação na prefeitura e que ficaríamos no apartamento do Santino.

Aparentemente, o Sérgio e Thor, viraram melhores amigos. Eles estavam no sofá assistindo uma série de ação. Esse traidor de quatro patas.

— Gente. Só quero agradecer a todos vocês. Eu não sei o que faria. De verdade. — busquei uma maneira de não chorar, mas foi impossível.

— Ei, não fica assim. Somos amigos. — o Enzo garantiu. — Meninos e menina, agora eu preciso ir. Kleber, qualquer coisa me manda uma mensagem.

Um a um, eles foram embora. Nunca vou esquecer esse ato de amizade, até mesmo da Giovanna que entrou na água suja para me ajudar. O Sérgio ainda estava sob analise, porém, a aprovação do Thor ele conseguiu. E a minha intuição nunca falha.

Eu fiquei sozinho com o Sérgio na sala. Estava esperando o Santino que caçava a chave do apartamento no quarto dele.

— Vai ficar no apartamento do Santino? — perguntou Sérgio de forma ríspida e sem olhar para mim.

— Sim. Ele ofereceu e...

— Escuta aqui baixa renda, o Santino é um cara muito legal, mas se eu descobrir que você está tentando levar vantagem sobre ele...

— Achei! — Santino gritou aparecendo na sala com as chaves na mão e uma sacola. — Eu trouxe umas marmitas para vocês levarem também. Está tudo bem?

— Sim. — respondeu Sérgio. — Inclusive, estava falando com o Kleber sobre essa situação chata. — pegando no meu ombro e apertando. — Já sabe.

Puta merda. Que vontade de socar esse mauricinho dos infernos. Eu nunca pedi nada do Santino e, também, sei que ele faz isso com o coração aberto sem esperar nada em troca. Esse Sérgio nunca me enganou, se faz de bom amigo, mas só para quem tem a classe social dele. Até o ano passado, ele tratava o Santino com desdém.

Eu me controlei para não quebrar a cara dele. O Santino não merecia ver uma cena. A gente voltou para o carro e o Thor ficou todo alegre quando viu a mamãe no banco traseiro. Ela acaricia os pelos dele e chorou copiosamente. Seguimos o caminho todo em silêncio. Não demorou muito para chegamos ao apartamento.

O Santino parou na portaria, estacionou o carro em uma área reservada. O condomínio não era enorme, porém, um apartamento naquela região é muito caro. A mamãe desceu do carro e olhou em volta, acho que assustada com o local que ficaríamos.

O complexo contava com playground, piscina, áreas para prática esportiva e muito verde. Os prédios eram padronizados e a maioria estava habitada, apesar da construção ser relativamente nova. Estávamos em uma realidade completamente diferente.

— Então, o apartamento fica no 6º andar. O número é 602. — Santino explicou, enquanto andávamos em direção ao elevador. — Não se preocupem com nada. Vou avisar ao sindico e à portaria. Vocês só precisam levar a identidade e está tudo resolvido. — apertando o botão.

O elevador demorou a responder, então, o Santino aperta mais vezes. Será que ele está incomodado com alguma coisa? Não tenho muito tempo para processar esse sentimento, pois, a porta do elevador abre.

De dentro, saem duas mulheres todas emperiquitadas, com certeza são os tipos de pessoas que frequentam as mais badaladas festas da sociedade manauara. Elas reclamam da chuva que cai, em uma menor quantidade, graças a Deus.

Entramos e o Thor ficou cheirando cada canto do elevador. A curiosidade é tamanha que ele passou entre nossas pernas. O Santino soltou um riso abafado e eu não sei o que isso significa.

São minutos assombradores do térreo até o sexto andar porque o elevador ainda faz duas paradas, ambas alarme faço, ou seja, ninguém entrou. Finalmente, chegamos e quando saímos a luz automática se acende.

Eu percebo que aquilo não é um corredor. É um hall de entrada. O revestimento na parede era diferente, quase com textura. Haviam alguns aparadores, um para cada apartamento e vasos de flores também.

Em frente a porta do apartamento do Santino havia um tapete escrito "Seja-Bem Vindo". Ele estava praticamente novo ou deveria ser novo.

— Bem. O antigo morador se mudou recentemente. Então, algum funcionário vem fazer faxinas esporádicas. Todos os cobertores e toalhas estão limpos. — Santino explicou ao abrir à porta.

Que lugar era aquele? Nunca vi uma sala tão convidativa na minha vida. Ok, aquilo não era um apartamento, mas uma mansão compacta. Eu ainda perguntei o valor do aluguel para o Santino.

A ideia era dar algum valor simbólico em cima dos dias que ficaríamos ali. Ele titubeou um pouco, mas fui mais incisivo (ou um grande babaca), isso depende do seu ponto de vista.

— R$ 2500. — Santino disse, visivelmente, envergonhado.

Ótimo, Kleber. Nem o Thor seria tão idiota assim. Falando nele, o Thor correu por todo o apartamento, cheirando tudo o que via pela frente. Aproveitando para analisar melhor o território provisório.

— Onde será que o Thor pode ficar? — perguntou mamãe, falando pela primeira vez em quase uma hora. — Não quero que ele faça xixi em nada.

— Bem. — soltou Santino olhando em volta e apontando para frente. — Pode ser na varanda. É bem espaçosa e ventilada. Não se preocupe, pois, tem tela de segurança. — acendendo às luzes do apartamento e nos dando mais uma ideia sobre a grandiosidade do lugar.

A mamãe teve dificuldades para abrir a porta da varanda, que mais parecia outro apartamento. Tirei da mochila o prato de ração e água do Thor e Santino arranjou um edredom para ele dormir.

Com o Thor instalado, o Santino nos mostrou os quartos. Para não causar problemas, achei melhor dormir junto com a mamãe no quarto com o banheiro. A gente já estava acostumado, seja em casa ou nas viagens que fazemos.

Assim como tudo naquele apartamento, o quarto era enorme. As paredes brancas se destacavam com as mobílias em tons escuros. Além do banheiro, o quarto contava com uma sacada de tamanho mediano.

Deixei as mochilas em cima de uma cômoda, enquanto o Santino dava um tour pelo closet mostrando para a mamãe onde estavam os objetos de cama e banho. Olhei no espelho e estava acabado, só queria dormir e esquecer todos aqueles problemas.

— Santino, obrigado por tudo o que você está fazendo. — agradeceu mamãe o abraçando e chorando.

— Dona Bruna. — Santino disse em um tom tristonho. — Eu sinto muito, de verdade. Vocês podem ficar o tempo necessário aqui. O seu filho já me ajudou em tantas maneiras, eu faço isso com o maior prazer do mundo.

A mamãe recebeu um verdadeiro abraço de urso. Ela parecia uma boneca nos braços do Santino.

— Filho, eu vou tomar banho. Estou muito cansada. — anunciou a mamãe ainda grudada no Santino.

— Enquanto a senhora toma banho, eu vou esquentar a comida que eu trouxe está uma delicia. E não aceito não como resposta. — ele pediu se afastando e andando em direção a porta. — Com licença. — saindo do quarto.

— Ele é um cavalheiro, né? — perguntei para mamãe que estava mexendo na mochila.

— Sim. Ele é um amor de pessoa. — respirando fundo. — Eu não sei o que fazer. — a mamãe começou a chorar e minha única reação foi abraça-la.

— Não se preocupe. A gente sempre pode recomeçar. O importante é ter saúde e estarmos juntos. — garanti enxugando às lágrimas que escorriam no rosto dela. — Por hora, vamos descansar e pensar melhor amanhã.

— E a tua moto?

— O André, meu amigo da faculdade, levou para a casa dele. Amanhã ele vai trazer aqui. — expliquei.

— Eu vou tomar um banho. Espero não me perder até o banheiro. — brincou mamãe escolhendo uma muda de roupa para usar.

— É bem provável. — respondi rindo, antes de sair do quarto.

Eu fechei a porta, mas não conseguia sair do lugar. Conseguia ouvir o Santino mexendo nos utensílios da cozinha. Ele cantarolava uma canção, só que não reconheci. Será que eu merecia esse carinho todo?

E se os outros tivessem um pensamento parecido com o do Sérgio? Eu jamais exploraria o Santino. Eu gosto dele pelas coisas que não envolvem bens materiais.

Serrei os punhos e andei em direção à cozinha. Ele estava esquentando as marmitas no micro-ondas. Me aproximei por trás dele e o abracei. No início, o Santino se assustou, porém, ele virou de frente para mim e me perdi naquele abraço.

— Desculpa. Eu não queria te dar todo esse trabalho. Hoje era para ser um dia divertido, eu estraguei tudo. — falei encostando minha cabeça no peito do Santino.

— Kleber. Os melhores dias são aqueles que estou ao seu lado. Acima de tudo, você é um amigo. Você me faz rir, entende minhas mudanças de humor e sempre está disposta a ajudar também. — garantiu Santino levantando o meu rosto com a mão direita e me beijando.

Eu não queria ser precipitado, mas também não queria perder o Santino. Os sentimentos entraram em conflito no meu peito. Coração e cérebro não chegavam a um acordo. Os lábios dele me entorpeciam e, apesar do medo, reuni forças e fiz uma pergunta que poderia mudar minha vida.

— Santino, você quer namorar comigo?

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As vezes esquecermos que existem realidades distintas onde o orgulho reina

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As vezes esquecermos que o país existem realidades distintas onde o fedor,a ganância e a prepotência reinam.

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