Um conto perdido na história
O sol estava se pondo naquele final de tarde de verão do mês de boédromion, sem dar trégua ao calor que tinha escaldado as longas horas daquele dia de ociosidade. Com medo de tudo o que tinha ouvido e, de certa forma, presenciado à distância ou por trás de alguma porta, eu me embrenhei numa caminhada solitária até o outro lado da ilha, onde havia alguns pomares semiabandonados, assim que o dia raiou. Eu sabia que o meu dia havia chegado, e por isso aquele medo todo. Ele acontecia para todos nós ao completarmos a maioridade, e a minha tinha ocorrido há cerca de vinte luas, no mês de thargélion. Portanto, assim que eles desembarcassem na ilha para aquela temporada, eu seria mais um dos mancebos disponíveis para suas orgias sexuais, sem direito a reclamações ou recusas.
Achei que estava a salvo por estar distante do porto. Tinha até preparado um farnel para uns dois ou três dias antes da fuga naquela madrugada, com a intenção de ficar escondido entre os laranjais e limoeiros que, nessa época do ano, estavam carregados e ainda exalavam o perfume de suas flores miúdas que se espalhava por centenas de metros levado pela brisa do mar. Isso me pouparia da selvageria libertina com a qual eles aportavam, sedentos para satisfazer suas necessidades de machos que estavam há meses distantes de suas famílias e cidades, sem ter onde descarregar as tensões impostas pela testosterona que corria em suas veias e inquietava seus corpos musculosos. Achei que me escondendo evitaria os encontros dos primeiros dias, que eram sempre os mais animalescos por serem os primeiros da lascívia acumulada, e nos quais era comum ouvir os gritos e ganidos desesperados dos mancebos, especialmente os dos que estavam perdendo a virgindade, o que seria o meu caso.
Meu coração quase saltou pela boca quando o vi. Embora eu fosse alto, a compleição física dele com todos aqueles músculos enormes o fazia parecer bem mais alto e intimidador, o que a grossa túnica que chegava até acima de seus joelhos e, cobria apenas um de seus ombros vigorosos, realçava ainda mais. Contribuíam para essa aparência beligerante, as largas munhequeiras de couro em cada um daqueles braços peludos, o cinturão de couro de onde pendia a espada e o trançado das sandálias que subia por suas pernas peludas, que mais se assemelhavam a dois troncos de árvore; sem mencionar aquele rosto anguloso e viril, onde uma barba por fazer acrescentava uma sisudez assustadora, ao menos para um jovem tímido instruído e destinado a servir sexualmente homens como ele. Como todos os demais que desembarcavam na ilha todos os anos, ele era jovem, estava no esplendor de sua vida, mais disposto a usufrui-la do que se ater a assuntos sérios. Até porque, quase sempre estavam saindo ou dando um tempo dos inúmeros conflitos armados que estavam levando a Grécia a expandir seus domínios pelo Mediterrâneo, e a Sicília conquistada era um deles.
Ele só percebeu minha presença quando corri para me esconder entre os galhos baixos que pendiam até quase o chão devido ao peso dos frutos. Instintivamente puxou a espada do cinturão e assumiu uma posição de defesa. Eu tremia como se tomado de uma febre.
- Quem está aí? Saia imediatamente! – gritou, com a voz mais grave e potente que eu já havia ouvido. Estremeci até a raiz dos cabelos. Como sair se meus pés pareciam estar incrustados no solo argiloso?
- Quem está aí? Ordeno de apareça! – repetiu a voz, como se fosse um trovão.
Foi minha respiração acelerada e atormentada que me denunciou. Do nada surgiu aquela mão que se fechou ao redor do meu braço e me arrancou, à descoberto, do meio da folhagem densa do limoeiro, rasgando o tule da minha túnica e alguns lugares da minha pele com seus longos espinhos.
- Aaaaiiii! – gritei apavorado, quando me vi preso e arrastado por aquela garra que amassava meu braço.
- Quem é você? O que faz escondido aqui? Estava me emboscando? – as perguntas brotavam da boca dele enquanto me sacudia como se eu fosse um saco de aniagem.
- Priam! Meu nome é Priam. Não! Eu não estou emboscando ninguém. Eu...eu...fugi! – gaguejei, uma vez que minha voz parecia não querer se formar na minha garganta.
- Fugiu do que? Há mais alguém aqui com você? – se ele não apertasse tanto meu braço talvez ele não estivesse dormente como começava a ficar.
- Estou sozinho! Me solte, por favor! – balbuciei. Minha cara de pavor o convenceu de que eu falava a verdade, e só então ele percebeu que, onde os espinhos tinham arranhado minha pele extremamente clara, brotavam gotículas de sangue dos rasgos. Sua feição mudou completamente depois disso, um olhar de brandura surgiu naquele rosto austero.
- Do que está fugindo? – insistiu. Tive vergonha de revelar a verdade, pois ela o envolvia diretamente.
- Das minhas obrigações com os soldados que aportaram esta manhã. – confessei encabulado. Pela primeira vez um sorriso surgiu naquele rosto.
- Então você é um dos mancebos encarregados de nos proporcionar diversão enquanto estivermos em retiro! – exclamou, deduzindo o motivo pelo qual eu estava escondido ali.
- É! – devolvi, temeroso de que ele, agora sabendo quem eu era, fosse exigir meus favores ali mesmo. Mas, ao invés disso, ele deu uma gargalhada que chegou a sacudir todo seu tronco. Eu me retraí ainda mais, pois servirmos de chacota para aqueles soldados era a coisa mais comum enquanto estavam na ilha.
- É sua primeira vez, não é? Você é virgem! – proferiu, como se isso fosse um defeito. Nem precisei responder, ele já sabia a resposta.
Fiquei tão bravo e ofendido que parti insanamente para cima dele aos socos e pontapés, mesmo sabendo que não tinha a menor chance contra aquele macho imenso. Com uma risada solta, ele se defendia sem nenhum esforço dos meus golpes. Os poucos que o atingiram doeram mais nas minhas mãos do que no lugar onde eu os acertava nele.
- Pare com isso! Vai acabar se machucando. – exclamou soberbo.
Eu não obedeci, tinha que liberar aquela fúria por estar naquela situação, por tudo o que a vida tinha tirado de mim, por todos aqueles anos em que inescrupulosos me doutrinaram a aceitar que homens me subjugassem como se fosse a coisa mais natural do mundo, por ser um desvalido naquela sociedade que escravizava os menos afortunados pelo destino. Subitamente, ele segurou meus braços, apertou-os contra o meu peito e me lançou ao chão atirando seu corpo pesado sobre o meu. É agora, pensei. É agora que vou conhecer as agruras de sentir um falo me rasgando, como tinha ouvido tantas vezes os comentários daqueles que já tinham passado por essa experiência. E então ele sorriu. Embora estivesse me contendo, percebi que não ia fazer nada comigo, ao menos não o que eu temia.
- Achilleas! Esse é o meu nome. – revelou. – Vai parar de bater em mim? – acrescentou condescendente.
- Vou! – devolvi, fazendo-o me soltar cautelosamente. E, a entrar a partir daquele instante na minha vida.
Órfão do segundo período da guerra do Peloponeso, aos dez anos de idade, em Siracusa, eu e outros desvalidos fomos abrigados em asilos até alcançarmos a maioridade, recebendo instrução e educação primorosas a fim de servirmos como escravos a proeminentes cidadãos gregos como generais, ricos mercadores e políticos influentes. Era durante a adolescência que nossos destinos eram traçados, não por nós, não por vontade própria, mas por quem lucrava com a nossa condição. À medida que nossos corpos iam se definindo, ora mais musculosos, ora mais esguios e lascivos, íamos sendo selecionados para o que seria nosso futuro. Os mais parrudos seguiam para o exército para se tornarem combatentes ou servos de generais; os mais languidos, como eu, para kinaidos, ou seja, tidos como não-homens, passivos destinados aos erastês, machos ativos de cujos presentes e conexões poderosas poderíamos ter uma frutífera carreira no futuro, ou vivendo como serviçais nas casas abastadas de ricos comerciantes ou políticos, onde nossa educação e instrução era posta à prova constantemente e, onde também, costumávamos ser requisitados pelos filhos varões dessas pessoas para os favores sexuais.
Quatro anos depois de perder minha família, fui levado para um desses asilos no arquipélago das Pelágias, na ilha de Lampedusa, dedicado à formação de servos distintos habilitados a conviver, divertir e até se entrosar com a elite grega que dominava a região por aquela época. Nossos mestres e mentores, não se dedicavam a nos ensinar apenas matemática, astronomia, filosofia e disciplinas outras que nos permitissem ter uma instrução bem acima dos demais cidadãos, mas também nos incutiam e ensinavam sobre a intimidade dos deuses, os segredos da perfeita conjunção carnal fosse ela com mulheres ou homens, os prazeres da luxúria e suas nuances, para que pudéssemos satisfazer a ambos conforme fossemos requisitados. A homossexualidade era bem aceita na sociedade helênica daquela época. Praticamente todo homem bem posicionado na sociedade tinha um ou mais parceiros sexuais, normalmente rapazes bonitos recém entrados na puberdade oriundos dos povos conquistados, cujas opções se restringiam a se sujeitar a essa posição, ou o envio aos campos de batalha e a morte, o que dava praticamente na mesma. Uma vez acolhidos e instalados em suas casas, com certas regalias, tinham que copular com os homens casa. Em muitos desses relacionamentos que começavam de forma compulsória, acabava por se criar uma afeição sincera e até paixões verdadeiras que perduravam por toda a vida. Costumávamos chegar na adolescência e, depois de quatro ou cinco anos de doutrinamento, assim que atingíssemos os dezoito anos, éramos lançados aos leões que, nesse caso, eram os soldados recompensados com um retiro depois do sucesso de suas conquistas em territórios longínquos. Nossos corpos esculturais e muitas vezes virgens, eram o seu prêmio pelo desempenho nas batalhas. Podiam valer-se deles da maneira como desejavam, com uma única restrição, a de não nos agredirem; pois, os estupros coletivos e a violência sexual não eram considerados agressões físicas, uma vez que tínhamos sido preparados exatamente para proporcionar prazer sexual. Éramos proporcionalmente poucos mancebos para a quantidade de soldados que chegavam para suas férias ao porto da ilha, o que significava que éramos obrigados a manter relações sexuais com dez ou até doze soldados num único dia. Nossos temores, emoções e sentimentos não tinham a menor importância diante do objetivo maior que era o de devolver aqueles soldados aos campos de batalha ou às suas cidades, completamente refeitos das mazelas que as guerras deixavam em sua personalidade. O período em que cada um de nós era obrigado a devolver tudo o que tinha nos sido ensinado variava entre cinco e seis anos, geralmente até completarmos vinte e quatro anos quando tínhamos que deixar a ilha e seguir nossas vidas. A maioria de nós era absorvida, após esse período, pelas casas dos homens mais proeminentes da Grécia, e passava ali o restante de seus dias nas mais variadas condições; entre elas as de concubinos, servos de elite e até conselheiros de confiança, dado o algo grau de instrução do qual éramos dotados.
Eu ainda estava em choque após meu encontro com aquele soldado. Em questão de minutos aquela tranquilidade que minha fuga e meu esconderijo tinham me proporcionado havia sido quebrada. Era óbvio que ele ia me subjugar e exigir que eu o servisse sexualmente, afinal ele estava ali justamente para se divertir. Quando ele me soltou e permitiu que me levantasse, fui conferir as marcas deixadas no meu corpo com aquela abordagem truculenta. Fisicamente não havia mais do que alguns arranhões nos meus braços e pernas provocados pelos espinhos do limoeiro, e uma visível marca avermelhada sobre a pele alva do braço direito deixada pelos dedos do Achilleas. As marcas mais arraigadas eram as psicológicas, e eram tão ambíguas que eu não sabia se para o bem ou para o mal. Eu nunca tinha ficado tão impressionado com um homem como fiquei com o Achilleas. Ele carregava algo em si que ia muito além daquele vigor físico, daquela sensualidade inata, daquela virilidade que parecia transpirar de seus poros. Tinha naquele olhar penetrante mais do que determinação e, se eu não estivesse completamente louco, uma doçura ao fixa-lo em mim que me penetrava até a alma.
- Por que está me olhando dessa maneira? O que vai fazer comigo? Sei que sou obrigado a te satisfazer, mas vou logo avisando, se me obrigar, o que para você é bastante fácil pelo que já percebi, não vou me render sem brigar. – sentenciei, quando vi que ele me encarava como se eu fosse uma presa a ser devorada. Ele riu, o que me irritou, pois achei que estava a zombar da minha impotência para mudar o rumo do meu destino.
- Você é sempre tão arredio? Ou está querendo parecer uma fera selvagem para que não vejam o rapaz meigo e sensual que você é? – questionou, descobrindo exatamente o estratagema que eu usava quando uma situação me ameaçava.
- Não pense que vai conseguir o que quer me bajulando! – devolvi. Ele tornou a rir.
- Não estou te bajulando! É uma simples constatação. Aliás, esqueci de também mencionar que você é lindo. Mas, isso você já deve saber, já devem ter lhe dito isso muitas vezes. – subitamente me vi sem argumentos para continuar aquela conversa.
Ele continuava a olhar fixamente para o meu corpo, tinha uma expressão indecifrável no rosto plácido iluminado pelos últimos raios dourados do sol que ia descendo lento sobre o mar formando uma estrada que parecia ser revestida de ouro. Só então me dei conta de que estava parado contra o sol, o que dava tamanha transparência à minha túnica fina, que era como se eu estivesse pelado diante dele. Pudicamente levei as mãos aos genitais, embora eu duvidasse que fossem eles o objeto de seu desejo e daquele olhar de cobiça.
- Não precisa se esconder! O que é lindo deve ser admirado! E, se com isso está pretendendo que eu não me excite, pode esquecer! São justamente suas vestes transparentes camuflando seu corpo escultural que estão me deixando com tesão. Quer ver? – afirmou, descarado.
- Não quero ver nada! – respondi, de pronto.
- Por que? Está com medo?
- Não tenho medo de nada! Muito menos de você! – eram aquelas risadas que me faziam estremecer por dentro, de tanto pavor que ele me inspirava.
- Ótimo! É um bom começo para nos darmos bem, não acha?
- Não acho nada! – Eu não possuía nada além do meu corpo, mas se tivesse daria tudo para saber o que se passava na mente daquele homem, capaz de me fazer sentir simultaneamente repulsa e atração por ele. Ao contrário de mim, ele parecia ter a resposta; o medo gerava a repulsa e, a curiosidade por descobrir os mistérios do sexo com um macho como ele estavam na origem da atração.
- Venha comigo! – a maneira como pronunciou as palavras não era nem um pedido nem uma ordem, mas algo que me levava a acompanha-lo sem discutir.
Eu já tremia todo, desde o momento em que o vi se despindo e aquele membro gigantesco ficar completamente exposto entre suas coxas grossas e peludas. Eu não estava habituado a ver genitais como o dele, impudicamente grande, uma vez que até então só tinha convivido com jovens como eu, de corpos esguios e pouco dotados. Ele estava manifestamente contente ao constatar minha admiração por seu dote e, ao pegar na minha mão e me conduzir escarpa abaixo até a praia, estudava cautelosamente uma maneira de me fazer aceitar sua investida sem ficar apavorado e sair correndo. A areia branca e muito fina, ainda quente por conta do sol inclemente que a fustigou durante todo o dia, fazia cócegas nos meus pés. Ele me guiou para dentro do mar turquesa, tão transparente que podíamos ver nossos pés e tudo o que havia no fundo. Ao alcançar a altura dos meus joelhos, as ondas começaram e fazer minha túnica flutuar como se fosse uma água-viva à medida que íamos nos aprofundando e, com isso, minha nudez se tornava mais completa a cada passo. Paramos quando a água morna chegou à altura das minhas nádegas. O Achilleas não disfarçou seu olhar fixo de admiração pousado nelas.
- Não fique olhando assim para mim! – protestei.
- Por que? Que mal há em olhar para algo tão perfeito?
- Porque eu não gosto! – exclamei. O que era apenas parte da verdade.
A verdade mesmo estava no fato daquele cacetão ter praticamente dobrado de tamanho depois de entrarmos na água, e seu movimento ter feito aqueles pelos pubianos densos e negros, de onde ele emergia, começarem a boiar ao sabor do vaivém das ondas, provocando um frenesi que eu jamais havia sentido antes. O Achilleas me soltou, mergulhou e passou entre as minhas pernas, que fui obrigado a afastar para que aquele corpão todo pudesse passar por elas. Ao emergir, ele começou a jogar água sobre mim, pois todo meu tronco ainda estava seco. Aderi à sua brincadeira e também mergulhei terminando de me molhar com aquela água salgada e morna e, esquecendo de vez aquele medo que havia em mim. Nadamos em círculos um em volta do outro, ora submersos, ora na superfície da água, como se fossemos peixes num cardume. Eu ainda sentia arrepios quando nossos corpos se tocavam debaixo da água, mas não eram de pavor e sim de um súbito desejo de sentir aquela pele colada à minha. Ao voltarmos a ficar em pé, um diante do outro, minha túnica estava colada ao corpo, branca e fina, ela revelava cada curva, cada um dos meus músculos definidos, como se fosse uma segunda pele. O Achilleas levou suas mãos ao meu rosto, acariciou-o delicadamente por alguns minutos sem dizer absolutamente nada, só usufruindo do meu olhar encantado por ele. Depois, tirou minha túnica pela cabeça e a deixou flutuar sem rumo à nossa volta, enquanto ele deslizava suas mãos pelo meu corpo se apossando de cada centímetro dele. Ao se fecharem sobre as minhas nádegas, apertando-as com força, sua boca começou a se aproximar da minha, tão avassaladora que sua respiração roçava meu rosto. O primeiro toque dos seus lábios nos meus foi tão sutil que mal se podia sentir; depois veio o segundo, o terceiro já bem obstinado e, por fim, aquele tão intenso que fez meu coração disparar, a língua dele penetrar minha boca e nos permitir sentir o sabor um do outro. Meus braços envolveram aquele corpão me dando a exata dimensão daquele homem e a vontade de me aconchegar nele. Eu já não temia mais nada, nem aquele dedo vasculhando as preguinhas do meu ânus me causava qualquer temor, só um prazer com o qual nunca havia sonhado. E aquela convicção de que satisfazer um macho seguindo os ensinamentos que me foram incutidos tendo que suportar todo tipo de dor e humilhação que os rapazes que já tinham passado por isso tinham relatado a nós, os mais jovens, para onde teria ido? O calor que vinha do corpo do Achilleas estava me sugerindo que talvez nem tudo fosse um infindável sofrer. Aquilo que eu estava sentindo, e que alguns rapazes haviam me relatado também ter sentido e que chamaram de tesão, estava embaralhando tudo na minha cabeça. E foi essa indefinição do que estava sentindo que me levou a tomar uma atitude.
- Me solta! Eu sei muito bem o que você quer me obrigar a fazer! – exclamei, espalmando as mãos sobre aquele tórax vigoroso e tentando afasta-lo de mim.
- Tudo bem! Se é isso que você quer! Mas, não me pareceu que não estivesse gostando. – retrucou ele, tirando as mãos de mim apesar de seu falo estar tão duro que nem se movia mais com o ir e vir das ondas.
- Eu sei que você tem o direito de exigir que eu faça o que você quer, foi isso que meus mestres me ensinaram, porém...porém.... – não me vinha nenhuma justificativa e, se eu fosse ser sincero, teria que admitir que aquele falo entrando em mim ainda me assustava.
- Porém, está com medo que eu o machuque! – ele precisava ser tão explícito? Ante a verdade, melhor se calar, e foi o que fiz, caminhando de volta até o penhasco. – Vou deixar que você decida quando for o momento certo, ok? Está bem assim? – emendou, ao começar a vir atrás de mim. Ele não devia ser tão mau e perverso como me diziam que os soldados eram ou, seria eu tão ingênuo a ponto de acreditar nisso?
- Pode me obrigar a voltar se quiser, vou obedecer! – afirmei.
- É isso que você quer? Para quem estava fugido e se escondendo, você mudou de ideia bem rápido. Vou te confessar que não tenho disposição alguma de voltar ao asilo. Vejo que tomou o cuidado de se preparar para essa fuga, o que tem nesse farnel? – questionou, como se já fossemos tão próximos que aquela fuga parecia ter sido um projeto conjunto.
- Pão, queijo, pepinos, tomates e água. – respondi, à medida que tirava as coisas da sacola de tecido.
- Um banquete, portanto! Importa-se de dividi-lo comigo? – eu estava prestes a dividir meu coração com você, depois de me tratar com tanto zelo como só meus pais haviam feito, e com um carinho que eu já havia esquecido que as pessoas eram capazes de dar umas às outras, pensei comigo mesmo.
Ele não me obrigou a nada, não me cobrou nada, só parecia deliciado com a minha companhia e com a minha conversa. Estrelas e uma lua em quarto crescente deram lugar aos derradeiros raios que o sol lançou contra o topo do penhasco rochoso. Também começou a esfriar como era o costume assim que o sol desapareceu e ventos passaram a varrer a ilha. Eu havia me precavido trazendo com uma grossa manta urdida em lã de carneiro que servia tanto de colchão quanto de cobertor, se ficássemos bem próximos ela abrigaria a ambos.
- Vai me deixar entrar aí dentro ou terei que ficar ao relento? – questionou, quando ambos já bocejavam sabe-se lá a que horas da noite, uma vez que a única clepsydra da ilha ficava no saguão de entrada do edifício do asilo. Contudo, sabíamos que já era tarde, tanto pelo cansaço de nossos corpos, como pela posição da constelação da Ursa Maior em relação a estrela Polar que já estava em seu ponto mais alto no arco imaginário de sua trajetória noturna, indicando que dali em diante seguiria em direção oposta à de seu surgimento e que o alvorecer estava a caminho.
– Entrar onde? – perguntei prontamente, antes de refletir, fazendo-o rir.
- No cobertor, ora essa! – exclamou. – Em você só vou entrar quando você quiser! – emendou, depois de alguns minutos, quando já se achava aninhado a mim e à manta. Dessa vez fui eu quem esboçou um riso sem que ele o percebesse.
Acordei com o sol batendo no meu rosto, levando alguns segundos para atinar onde estava e a quem estava constrangedoramente abraçado. Sou do tipo espaçoso que se esparrama por todo o leito, e naquela manhã não foi diferente. Meu braço se apoiava no abdômen do Achilleas, uma das minhas coxas, abertas feito os braços de um compasso, se encontrava alojada entre as pernas dele, na qual eu sentia o roçar de sua ereção se esfregando na minha pele. Meu primeiro impulso foi o de me desvencilhar daquele corpo musculoso e quente no qual me achava encaixado; porém, ao perceber que ele ainda dormia, me mantive imóvel para prolongar aquela sensação extasiante que aquela proximidade ensejava. Ele acordou querendo que eu não o percebesse, minha imobilidade o fez crer que eu ainda dormia e, furtivo e sutil, ele guiou uma das mãos sobre as minhas nádegas, acariciando-as com um tesão contido. Eu começava a descobrir meu corpo desde que ele me tocou pela primeira vez, e constatar quão erógena era a minha bunda foi uma prazerosa descoberta.
- A essas alturas já devem ter dado falta de mim e certamente estão me procurando por todos os cantos. Tenho que voltar ao asilo! – afirmei, assim que percebi aquela mão se imiscuindo no meu rego à procura do meu cuzinho. – Seguramente os mestres vão me castigar por ter fugido da nychterinó órgio (noite da orgia) onde os novos kinaidos são lançados aos guerreiros. – todos os kinaidos que se recusaram a participar da festa ou, tivessem, de alguma forma, dado um jeito escuso de se ausentar dela revelaram que tipo de castigos lhes foram imputados, mas o pavor de uma nova ausência injustificada ficava cravada em suas mentes para sempre.
- Por mim, eu ficaria a estação toda aqui com você, só nos dois! – exclamou ele, vendo-se repentinamente desprovido das protuberâncias macias onde sua mão devassa se deliciava.
- Isso é impossível! Meus deveres não o permitem. – devolvi, embora a ideia me seduzisse.
Adentrei ao edifício do asilo pouco depois do sol estar à pino. Como imaginei, estavam à minha procura; o prior, enfurecido, por me considerar o mais promissor dos mancebos formados nos últimos anos e, portanto, uma fonte bastante lucrativa, já havia colocado dezenas de rapazes à minha caça. Ele era o deus todo-poderoso daquele lugar, suas ordens eram cumpridas, sem pestanejar, por todos os habitantes da ilha, mesmo os moradores da vila junto ao porto, embora houvesse uma espécie de burgomestre determinando como a vida acontecia na ilha. Eu temia esse homem desde o primeiro dia em que pisei na ilha e entrei no asilo, havia algo em seu olhar gélido que me penetrava até os ossos e, embora nunca tivesse recebido dele nenhum tipo de castigo direto, sabia por outros o quanto ele podia ser implacável e cruel.
- Por onde andou? Esqueceu-se das suas obrigações para com a nychterinó órgio? Não pense que não sei das suas fugas toda vez que tem algo que o desagrade para fazer. Mas, desta vez esteja certo de que não sairá ileso! – ameaçou o prior.
- Desta vez garanto que a culpa não foi dele! – exclamou o Achilleas, cuja presença atrás de mim só notei quando me defendeu. – Lamento ter burlado as regras, mas ao me deparar com esse mancebo confesso que meu egoísmo falou mais alto e eu me servi dele por toda uma noite, a mais esplendorosa que já tive. Seu pupilo aprendeu muito bem os ensinamentos que lhe foram dados, isso posso lhe garantir. – proferiu ele, fazendo com que o prior assumisse uma posição envaidecida, enquanto a mão do Achilleas subia pela parte interna da minha coxa, por debaixo da túnica, e escorregava descaradamente para dentro do meu rego, ante o olhar voluptuoso do prior.
- É uma satisfação para nós lhe proporcionar uma excelente estadia durante a estação! Espero que se sinta totalmente livre para conhecer nossos rapazes. Estou certo que eles estão prontos a lhe dispensar todo tipo de prazer. – aquele tom de voz simultaneamente servil e avarento do prior me enojava.
- Tenho a certeza que sim! Contudo, quero requisitar com exclusividade os préstimos do Priam, ao menos pelas próximas noites. Sei que compreenderá meus motivos! – retrucou o Achilleas, enquanto colocava duas moedas de Óbolos na mão esquálida do prior, ao que um esboço de sorriso sovina se desenhou nos lábios dele.
Só fui poupado de um castigo maior por conta daquelas míseras moedas, pois elas sinalizaram que podia haver muitas mais se seu caísse mesmo nas graças do Achilleas, filho de um proeminente senador e sobrinho de um renomado general que já havia adquirido alguns rapazes para seus filhos em troca de polpudos pagamentos.
- Vá se recompor e venha à minha sala, temos muito a conversar meu jovem! – disse o prior, assim que o Achilleas se despediu.
Quando fui à sua sala, o prior estava acompanhado de dois mestres, fui recepcionado com meia dúzia de bofetões na cara que quase me lançaram ao chão. Depois de um sermão censurando minha conduta, fui dispensado e aconselhado a me subjugar a toda e qualquer vontade do Achilleas, sob o risco de não contar com nenhuma benevolência deles caso eu falhasse na minha missão.
- Jamais se esqueça que você não é nada! Não fosse por nós, que o abrigamos, alimentamos e ensinamos até agora, você nem estaria mais vivo. Trate de se comportar, fazer com que um desses homens o queira e o compre, pois só isso garantirá o seu futuro. – sentenciou o prior, fazendo-me lembrar de minha origem desvalida.
- Por onde andou criatura! Ontem à noite estavam todos a sua procura. – questionou o Cylon, um dos poucos amigos que fiz no asilo. – Quem é aquele soldado que te acompanhava? Pelos deuses, nunca vi homem mais lindo do que ele! Me conte como foi sua iniciação com ele. O que ele fez com você? Anda, conta, quero saber de tudo! – ele só seria iniciado durante a próxima chegada dos soldados e, como todos os rapazes iniciantes, queria que os que já tinham sido iniciados lhe contasse como tudo acontecia na vida real, uma vez que até então só tinha sabido das coisas pelos ensinamentos.
- Foi como nos doutrinaram. Não tenho nada de diferente para contar. – respondi, até porque seria prudente que ninguém soubesse que eu não havia cumprido minhas obrigações com o Achilleas.
- Mentira! Você não quer me contar, pensei que fossemos amigos! Vocês são todos iguais, depois que descobrem como é nunca nos contam nada. Foi bom? Você gostou? O que ele falou quando entrou em você? – continuou, tão assanhado e curioso que até sua respiração estava agitada.
- Acontece do jeito que nos ensinaram, nada diferente disso. – respondi, já que eu continuava a não saber o que de fato acontece quando um homem entra na gente.
- Então você não sabe do que esses canalhas pervertidos são capazes! Pensei que fosse morrer. – nos interrompeu outro dos meus amigos, o Lysias, que entrou cambaleando no aposento que nós três dividíamos, completamente sem forças e com uma expressão aterrorizada no rosto inchado.
- Lysias, pelos deuses! O que fizeram com você? – perguntamos eu e o Cylon, em uníssono, ao mesmo tempo que corremos para ampara-lo, em meio a um choro convulsivo que deixou escapar ao perceber nossa aflição.
Segundo seu relato, cinco soldados se revezaram, sem dó nem piedade, no cuzinho dele depois de desvirgina-lo. Haviam-no rasgado, esporrado na sua boca obrigando-o a engolir o esperma, o que até ali já era o esperado. Mas, segundo ele, eles foram violentos, o ameaçaram e o trataram pior que a um cão. Ele jurou que fez tudo o lhe fora ensinado para satisfaze-los, para lhes dar carinho, no que eles absolutamente não estavam interessados. O que queriam era usá-lo por pura diversão sem se importar com as dores que estava sentindo. Ao amanhecer, quando achou que tinha cumprido sua obrigação para com eles, foi surpreendido por uma penetração dupla, e pensou que morreria ali mesmo entre os dois corpos que o manipulavam. A cara curiosa do Cylon agora só transparecia pavor, enquanto dávamos suporte ao Lysias que lavava seu cu dilacerado e ensanguentado, vertendo lágrimas de sofrimento e desalento.
Sabendo do ocorrido, um mestre invadiu o aposento para saber das condições do Lysias. Examinou-o e assegurou que no dia seguinte estaria pronto para desempenhar suas funções.
- Não há nada para você fazer esse estardalhaço todo! Homens são exigentes, precisam ser atendidos adequadamente para não se transformarem em bichos. Repense no que fez e, provavelmente vai descobrir onde falhou. Da próxima vez trate de ser mais esperto! – foi o que o miserável pronunciou, num tom professoral. – Vocês não devem se esquecer que foram forjados para serem meros depósitos de porra dos machos. Se nem isso forem capazes de fazer direito, que o inferno os acolha! – acrescentou, antes de nos deixar a sós novamente.
- Nunca mais vou passar por isso! Assim que puder caminhar, vou até os penhascos da Tabaccara e me lançar lá de cima para dentro do mar. Não vou aguentar esses machos insaciáveis outra vez dentro de mim. – sentenciou o Lysias.
- Não diga bobagens! Lembre-se do que nos ensinaram de como sublimar qualquer sentimento e emoção enquanto estamos sendo possuídos por um homem. Isso fará com que consiga enfrentar tudo o que esses pervertidos fizerem. Também tenha em mente que as dores passam, mas a dignidade permanece! – aconselhei. Contudo, eu temia que a personalidade vulnerável dele o levasse a cumprir sua afirmação e, puxando o Cylon para um canto, pedi que me ajudasse a não tirar mais os olhos dele, seguindo de perto seus passos, antes que cometesse uma loucura. Havia rumores de que no passado já haviam ocorrido três suicídios de rapazes que não suportaram serem violados daquela maneira. E o Lysias, sem apoio, podia se tornar mais um deles.
- É que doeu muito Priam, doeu tanto que você não faz ideia do quanto! E não me refiro a dor da alma, essa jamais vai se curar, mas da dor de sentir suas entranhas sendo dilaceradas sem que você possa fazer nada para evitar. – confessou. Não consegui deixar de pensar naquele falo gigantesco do Achilleas, e todo aquele pavor que senti quando o vi se aproximando de mim entre os limoeiros voltou a atormentar minha mente.
- Eu sei, meu amigo, eu sei! Porém, você é mais forte do que isso, mostre a todos como você é forte, e que não serão os desvarios de uns pervertidos que vão te derrubar. – se isso era verdade nem eu mesmo sabia. Mas naquele momento era o que meu amigo precisava ouvir.
Tive a tarde toda para me recompor e me preparar para aquela noite, pois sabia que o Achilleas viria cobrar por aquilo que pagou. Eu nunca na vida tive uma moeda nas mãos, mas sabia que os dois Óbolos que ele havia dado ao prior, não passam de uma mísera esmola. Banhei-me demoradamente, esperando até que a água ficasse tão fria que já me incomodava. Em seguida, massageei minha pele com óleo de patchouli para suavizá-la e me ajudar a relaxar da tensão que ia se acumulando em mim à medida que a hora do meu encontro se aproximava. Também distribuí algumas gotas de óleo de rosas, o qual éramos orientados a distribuir estrategicamente nas dobras da pele por suas propriedades afrodisíacas, incremento da libido e por despertar o desejo e sentimentos românticos. Não que eu pessoalmente acreditasse em nada daquilo, mas era o que os mestres incutiam em nós e nos obrigavam a usar como coadjuvantes para aqueles encontros libidinosos.
De certa forma devem ter funcionado, pois assim que o Achilleas se aproximou de mim naquela noite, eu percebi que seus olhos faiscavam com aquele mesmo desejo que tinham na praia no dia anterior. Ele não o verbalizou, mas seu sorriso o fez. Durante todo o período que os soldados permaneciam na ilha, os jantares luxuosamente servidos eram o ápice dos acontecimentos do dia, uma vez que depois deles é que começavam os bacanais que só terminavam com o raiar do dia ou a exaustão dos grupinhos envolvidos nas orgias.
- Vamos caminhar na praia! – exclamou o Achilleas quando os casais e os grupinhos começaram a se formar, cada um indo procurar um lugar mais privativo para a lascívia sexual. Então é lá que ele vai me foder, pensei, enquanto caminhávamos pela trilha até uma das praias próximas. – Por que está tão calado? Não quer a minha companhia? – indagou, depois da longa caminhada.
- Não tenho o que querer! Estou aqui para te agradar. – respondi, um pouco ríspido, pois o relato do Lysias ainda me abalava.
- Se quiser pode voltar, não vou te forçar com a minha presença! – retrucou, tirando aquela satisfação que vinha trazendo da cara.
- Desculpe, não quis ser grosseiro nem ingrato! Afinal, você pagou para eu estar aqui. – devolvi, o que o fez se zangar como nunca vi.
- Vou exigir mais do que desculpas! Já que paguei por você, como afirma, creio que tenho o direito de cobrar muito mais do que desculpas de alguém que está aqui para me servir. – seu tom de voz nunca tinha sido tão áspero para comigo.
- Sem dúvida, tem sim! Quando quiser é só dizer, prometo me empenhar ao máximo para não te decepcionar.
- Antes, só me responda uma coisa. Por que está agindo e falando assim?
- Porque assim fui instruído a fazer!
- Quem te mandou agir assim? Aquele velho asqueroso do prior?
- Não! – respondi, tão de pronto, que indiretamente acabei por responder sua pergunta. – Foi como nos ensinaram, já disse.
- Ontem você não agiu assim, estava mais espontâneo, mais afetuoso, me tratando como um amigo e não como seu inimigo. O que mudou nessas poucas horas? Me responda com sinceridade, Priam!
Ele estava sacudindo meus ombros, me obrigando a encará-lo para dar a resposta, o que quase me levou ao choro. Eu tinha conseguido enfurecer aquele homem e, o que ele faria comigo naquele estado, era impossível de prever e, provavelmente, seria tão catastrófico quanto o que fizeram com o Lysias. O Achilleas me soltou assim que viu meus olhos marejarem e eu me esforçar para não chorar diante dele.
- Caralho, o que está acontecendo com você rapaz? – murmurou inconformado.
Contei-lhe tudo o que fizeram com meu amigo. Quando terminei o relato, ele me abraçou.
- Você acha que eu sou capaz de fazer o mesmo com você?
- Não, eu sei que você não é assim!
- Então por que está agindo como se eu fosse te estuprar? Eu já não disse que só vou entrar em você quando você quiser? – questionou.
- É, disse!
- Não confia em mim?
- Confio!
- Então mude essa cara e me mostre um sorriso de felicidade por estar aqui comigo! – exclamou, erguendo meu queixo à espera do sorriso. Tímido, sem mais certeza de nada, eu o dei. – Isso, assim está bem melhor! Ficaria perfeito se viesse acompanhado de um daqueles beijos que trocamos ontem. – acrescentou. Eu me aproximei dele e levei minha boca até a dele, onde vorazmente tive os lábios chupados e mordidos por seu desejo refreado.
Sentados lado a lado sobre a areia fina, com as ondas alcançando as pontas dos nossos pés, numa conversa amistosa, eu estava convicto de que o Achilleas era diferente de qualquer outro daqueles soldados, de qualquer outro homem nesse mundo, embora não conhecesse nem os soldados, nem os homens na minha ingenuidade casta. O friozinho da madrugada nos tocou de lá. Ao contrário da noite anterior, não tínhamos uma manta para nos cobrir. Passo após passo, quando dei por mim estava no aposento do Achilleas, com ele beijando meu ombro que a alça da túnica não cobria, e as mãos subindo por baixo dela, até minhas nádegas estarem aprisionadas nelas. Apesar do tecido pesado da túnica dele, sua ereção descomunal estava totalmente visível, me seduzindo e me chamando para o pecado.
Ele desatou o nó do cordão que acinturava meu chiton, enfiou dois dedos sob a alça do ombro fazendo com ela caísse aos meus pés. Eu estava nu. Ele quieto, como se naquele momento qualquer palavra que dissesse fosse desconcentrá-lo, atraindo sua atenção para algo que não o corpo sedutor que tinha diante de si. Eu gostava do jeito que ele me olhava, mas ainda ficava encabulado.
- Nem Eros ou Afrodite juntos chegam aos pés da sua beleza! – murmurou ele, quando castamente cobri meus genitais por uns breves segundos antes de ele tirar minhas mãos de cima deles. – Não se esconda de mim. – pediu.
Após se despir, ele me conduziu até o jirau junto à janela coberto de peles de carneiro e grossos tramados de lã que lhe servia de cama. À medida que me aproximava da cama, sentia minha pele se assemelhando à de um ganso, arrepiada e fria, embora meu corpo estivesse ardendo como uma brasa. O que me fez ficar assim foi aquela pica enorme ganhando volume e consistência entre suas coxas, numa demonstração descarada do quanto ele me desejava. Deitei-me no jirau e ele veio para cima de mim, me apertando em seus braços, acariciando meu rosto, deslizando suas mãos sobre minhas costas, flancos, coxas e nádegas, enquanto nos beijávamos cada vez mais cheios de tesão. Ele erguia o tronco e esfregava sua ereção contra a minha. Eu o envolvia em meus braços, acariciava seu peito peludo, afagava aqueles bíceps vigorosos que me faziam deseja-lo ainda mais. Rolávamos de um lado para o outro, ora ele por cima, ora eu, quando então agarrava minha bunda, apartava as bandas e enfiava um dedo no meu cuzinho quente e úmido que se convulsionava com seu toque devasso. Eu chegava a gemer com prazer que vinha das minhas pregas anais sendo esmiuçadas pelo dedo licenciosamente voraz dele. Até então, seus beijos molhados e quentes amenizavam o medo que eu sentia com seu corpo pesado sobre o meu, me cerceando e me encurralando numa posição submissa. Porém, assim que fiquei de bruços com ele esfregando sua rola dura nos meus glúteos e derramando grande quantidade de pré-gozo no meu reguinho, a ponto de eu sentir a umidade tépida escorrendo ao longo dele; ouvir sua respiração se tornando quase um rugido, e sentir aqueles braços musculosos me apertando cada vez com mais força, comecei a entrar em pânico. Ele ia me foder com aquela coisa gigantesca e me deixar arregaçado e sangrando como fizeram com o Lysias.
- Pare Achilleas! Eu não posso! Não quero que faça isso comigo. – protestei.
A princípio ele apenas parou de se esfregar em mim, só me abraçando, beijando minha nuca e declarando o quanto estava gostando de mim. No entanto, ao ver que eu não cedia, e frustrado por ter que abortar aquela ereção, foi se distanciando, saindo de cima de mim e, por fim, me mandando deixa-lo a sós.
- Saia! Quero ficar sozinho! – ordenou, com voz firme e zangada. Eu quis chorar, por ver que não consegui satisfazer aquele homem que tanto me cativava. Eu era um fracasso em termos sexuais. Não era capaz nem de satisfazer um macho fogoso como aquele.
Voltei correndo para o meu quarto, me esgueirando pelas sombras, pois ainda havia muitos soldados que não tinham encontrado um mancebo para satisfazer seus desejos carnais naquela noite, e encontrar um deles seria como cair na toca de uma raposa faminta.
- O que aconteceu? Por que está tão assustado? – questionou o Cylon, quando adentrei o quarto onde ele continuava cuidando do Lysias e lhe fazendo companhia.
- O Achilleas quis me pegar! – respondi.
- E isso não é maravilhoso? Você está gostando dele, não está? Que de melhor pode acontecer do que entregar a virgindade ao homem dos nossos sonhos? – perguntava perplexo por eu ter me recusado a trepar.
- Fiquei apavorado! Ele é enorme, enorme não, gigantesco! Eu ia acabar como o Lysias. – justifiquei.
- Não seja tolo! Eu fui vítima de um bando de safados, o que é muito diferente do que ter um coito com o homem que se ama, que se importa com você e que, certamente, não vai te machucar. – sentenciou o Lysias.
- Não se faça de difícil! Você bem sabe qual é a nossa condição. Nossa sina é servir os machos, quer por bem, quer por mal. Você tirou a sorte grande ao ter um homem como o Achilleas gostando de você, até pagando pela exclusividade de estar com você. O que mais você quer da vida? – perguntou o Cylon. Havia alguma verdade nas palavras dele, mas o fato de ele estar louco para chegar sua vez de se entregar àqueles soldados fazia dele um conselheiro pouco confiável.
- Fiquei com medo! Ele vai entender. – devolvi.
- Se ele estivesse disposto a entender, você não estaria aqui. Aposto que ele te expulsou da cama, não foi? – deduziu, apesar de toda sua juventude.
- Não o culpe Cylon! O temor dele é compreensível. E trate de aquietar esse seu fogo de ter o cu arregaçado por um macho, pois você nem imagina o quanto isso dói se esse macho não for complacente com você.
- Só estou dizendo que ele não deve se fazer de difícil, o que o Achilleas não vai tolerar por muito tempo. Você confessou a ele que estava com medo do falo dele?
- Não!
- Então não se queixe quando for trocado por outros! – exclamou.
Não vi o Achilleas em nenhum lugar no dia seguinte, embora tenha procurando incessantemente por ele em todos os cantos. Até me expus perigosamente entre um grupo grande de soldados, cujos corpos musculosos besuntados com óleo e embrulhados sumariamente em tangas, praticando pankration nas areias de uma enseada, quase me atacaram não fossem três dos mestres aparecerem de supetão.
- Está caçando encrenca, Priam? Você sabe muito bem que não pode instigar esses soldados a copularem diante de qualquer um que passe por essas praias cheias de pescadores a essa hora do dia. Você bem sabe que está na lista negra do prior, não abuse! – ordenaram, me obrigando a desistir da procura.
Eu o vi durante o jantar. Ele estava se divertindo num grupo de amigos no lado oposto do salão. Não veio ao meu encontro, fazendo como se eu não estivesse ali, ou simplesmente não lhe interessasse. Aquela indiferença certamente doía mais que um cuzinho esfolado. Os pares iam se formando após o jantar e deixavam, aos poucos, o salão para procurar um lugar mais reservado para transarem. Abordei-o quando estava apenas com os dois amigos restantes.
- Quer fazer uma caminhada? – perguntei, deslizando as pontas de dois dedos sobre o bíceps dele, o que excitou seus colegas.
- Hoje não! Sinta-se à vontade para caminhar por aí com quem quiser. – respondeu magoado. Antes que os outros dois se prontificassem a me levar nessa caminhada que resultaria em sexo, eu me apressei a responder.
- Só me interessa passear com você, mais ninguém! – minha resposta não modificou sua disposição.
- Podemos acompanhá-lo! Se não se importar Achilleas, eu me disponho a mostrar ao rapaz as minhas qualidades. – afirmou, um dos colegas, ao que o Achilleas deu de ombros.
Afastei-me deles quando o soldado já estava com a mão debaixo do meu peplos acariciando minha coxa, sob o olhar indiferente do Achilleas. Atirei-me sobre minha cama e chorei feito uma criança desamparada, exatamente o que eu era, um jovem sem eira nem beira; que sem aquele homem se sentia ainda mais desamparado.
- O que foi agora? Por que está chorando desse jeito? – perguntou o Cylon.
- Ele não me quer mais!
- Eu não te avisei! Você abusou da sorte, está aí o resultado! Se, estava se borrando todo por perder a virgindade no falo grande dele, agora vai perde-la para um bando de tarados. – afirmou.
- Pouco me importa! Não é com a minha virgindade que estou preocupado. Eu não quero perder o Achilleas, eu gosto dele e sei que ele também gosta de mim. – devolvi.
- Vá ao quarto dele mais tarde, depois que estiver outra vez com aspecto de gente, e não com essa cara desmanchada de choro, e deixe-o fazer o que quiser com você. – algo me dizia que o Cylon estava com mais pressa do que eu de ter um macho entalado no cu.
- Como conselheiro você é um péssimo amigo, sabia? – retruquei, mas fiz o que ele sugeriu.
Fui ao quarto do Achilleas trajando o meu chiton de linho mais transparente, na esperança de ele se deixar seduzir pelo meu corpo e esquecer aquela zanga toda. Ele não estava. Vaguei por uns instantes pelo aposento com a lamparina na mão, aspirando o cheiro dele que já impregnava aquelas paredes frias. Deslizei meus dedos sobre o elmo trabalhado que se encontrava junto ao chlamy militar dele, cuidadosamente dobrado sobre um baú. Levei a peça ao rosto, tinha o cheiro dele, aspirei-a algumas vezes para que o cheiro daquele macho nunca saísse da minha memória. Não sei por quanto tempo fiquei sentado sobre o jirau à espera dele, os primeiros sinais do alvorecer já se infiltravam pela janela e eu desisti de esperar. Ele já devia ter se arranjado com outro rapaz, foi o que imaginei no trajeto de volta ao meu quarto. Os longos e sombrios corredores mal iluminados do edifício do asilo estavam mergulhados num silêncio quase sepulcral àquela hora, interrompido apenas por roncos, alguém espirrando atrás de uma porta, alguns sussurros vindos de algum casal que ainda não havia se saciado plenamente, ou já tinha energias recobradas suficientes para mais um coito rumoroso. De repente, uma porta se abriu à minha esquerda, poucos passos antes de eu me emparelhar com ela. O Achilleas pisou no corredor completamente nu, seguido por um daqueles seus colegas, também nu, com quem conversava na noite anterior quando fui lhe propor a caminhada. Elatos, um jovem do asilo que já estava prestes a ter que abandoná-lo por conta da idade, afagava o sacão do colega do Achilleas, enquanto o acompanhava até a porta trocando beijos lascivos com o soldado. Ele tinha cuidado dos dois. Tive vontade de socar o peito do Achilleas para extravasar minha raiva, mas me dei conta de que ele estava ali porque eu o havia rejeitado. Não podia cobrar nada dele.
- Bom dia! – cumprimentou ele, sem que me atrevesse a responder. Eu estava arrasado, tinha deixado escapar meu homem e, quase certo, o meu futuro.
Fui censurado pelo Cylon e pelo Lysias. Ambos alegaram que, mais cedo ou mais tarde, minha virgindade seria violada de qualquer forma, que a temporada dos soldados na ilha terminaria, mas que não esperasse continuar intacto. Haveriam de me iniciar e, a depender de quem o fizesse, poderia ser uma experiência bem mais traumática do que se eu me subjugasse ao membro colossal do Achilleas.
- Ele não me quer mais! Esta noite não vou me esconder mais, vou deixar o primeiro que aparecer me pegar. Não vai fazer diferença mesmo. – respondi aos dois.
Eu estava mesmo disposto a tudo. Não vi o Achilleas no jantar, mas sinalizei aos três soldados que vieram puxar conversa comigo que teriam meus favores se os desejassem. Dentre todos os rapazes do asilo, eu tinha sido o que os soldados menos viram circulando após os jantares ou nas festas, o que os fazia me cobiçar para descobrir todo meu potencial em agradá-los. Não demorou muito para eu me entediar com a conversa dos três soldados, diferentemente do Achilleas, eles eram pouco cultos, estavam mais interessados em se vangloriar de seus feitos e enfiar seus falos em qualquer fenda assim que o álcool lhes subiu às cabeças. De tão envolvidos em alardear seus tributos, nem se deram conta quando os deixei, saindo de mansinho para a noite estrelada varrida por uma leve brisa. Caminhei distraído, sem perceber que estava indo em direção ao porto, um dos poucos lugares da ilha expressamente proibidos para os rapazes do asilo, junto com a vila de pescadores que não distava muito dele. O prior se encarregava de manter na vila apenas os pescadores mais velhos e casados que não se interessavam por nós. Seus filhos ou qualquer outro jovem era rapidamente levado à Sicília, distante o suficiente para não procurar alento para seus instintos sexuais com algum dos mancebos do asilo. Mesmo assim, a zona do cais era uma área proibida, uma vez que podia haver algum marinheiro perambulando solto à procura de sexo. Ao ver os candeeiros do porto tremeluzindo na escuridão, já era tarde, dois soldados embriagados estavam transando com um rapaz cujo nome não me lembrava naquele instante. Um deles socava o cuzinho do mancebo, fazendo-o ganir feito uma cadela, enquanto o outro o obrigava a engolir uma pica peluda e grossa. Assim que me viram, deixaram o rapaz e vieram correndo na minha direção, berrando feito ensandecidos, com as jebas duras e ameaçadoras balançando pesadamente entre as pernas. Dei meia volta e comecei a correr trilha acima com toda a energia que minhas pernas eram capazes de fornecer. As sacanagens que proferiam ficavam cada vez mais próximas, o que provava que estavam em muito boa forma física. Me prometiam um coito sem igual, todo o esperma que eu pudesse engolir, e a luxúria que seus corpos musculosos podiam me proporcionar. O pânico tomou conta de mim. No estado em que estavam, libertos de qualquer pudor e controle por conta da bebida, o que os ganidos do mancebo comprovaram, eu não tinha nenhuma chance se me pegassem. O edifício do asilo começava a surgir diante de mim assim que venci o arvoredo que o cercava no topo da colina. Já não havia mais ninguém circulando pelos jardins, das janelas brotavam luzes amareladas e, em algumas delas, sombras de corpos enlaçados tremeluziam denunciando o que acontecia entre suas paredes. Não fosse o que estava a menos de dois metros de mim tropeçar na raiz saliente de um agave, ele teria me agarrado. Entrei pela porta dos alojamentos dos soldados, a primeira que consegui alcançar. O corredor escuro mal me permitia saber onde estava. Tive vontade de gritar e pedir socorro, mas isso só faria de mim o alvo de qualquer um que ainda não estivesse copulando. Os dois braços musculosos que se fecharam ao redor de mim puseram fim à minha fuga. Eu me debatia entre eles e o corpo nu e suado que me agarrava na escuridão. Meu chiton logo ficou empapado com o suor do soldado que tentava colar sua boca na minha, grunhindo palavrões e prometendo me castigar por tê-lo feito se exaurir na corrida. Meus pés já estavam fora do chão, o que me impossibilitava chutar os genitais deles, algo que me custaria um castigo brutal se concretizado, pois éramos proibidos de machucar os machos nesse local. Mas, eu estava disposto a receber o castigo para não sentir o membro duro, que roçava na minha coxa, entrando no meu ânus. Para conter minha rebeldia, ele me empurrou contra o que pensou ser a parede; porém, assim que minhas costas bateram na superfície, ecoou um som oco indicando o vazio que havia por trás da madeira, era a porta de um quarto. O soldado já estava perdendo a paciência comigo, e me socou mais duas vezes contra a porta que, finalmente, se abriu. Comecei a chorar assim que vi o rosto sonolento do Achilleas emergindo da escuridão. Estava salvo.
Com diplomacia, o Achilleas convenceu o soldado embriagado de que naquele estado seu caralho ia protagonizar um enorme vexame no meu cuzinho. No entanto, ele estava tão determinado a me foder que foi preciso o Achilleas apontar para sua pica e questioná-lo se era com aquela coisa flácida e dessensibilizada que pretendia penetrar um cuzinho fogoso e exigente como o meu. O soldado levou a mão até a rola inconsistente e, desolado, se dirigiu a mim pedindo desculpas por estar momentaneamente incapacitado de me dar todo o prazer que eu merecia, seguindo cabisbaixo e cambaleante pelo corredor até seu vulto se desvanecer na escuridão. O Achilleas e eu caímos na risada, pois eu precisava dela para me recuperar daqueles momentos de terror que passei nos braços do soldado. Sem perceber, eu ainda continuava agarrado ao tronco viril e nu do Achilleas, apertando-o com tanta firmeza como se fosse um naufrago agarrado a uma tabua flutuando ao sabor das ondas, enquanto seus braços me envolviam protetores e carinhosos.
- O que significou tudo isso? O que estava fazendo com esse soldado? – perguntou mais do que curioso, ligeiramente desfiado e enciumado, eu notei.
Contei-lhe detalhadamente como tudo se dera, pois não queria que ele pensasse que eu estava procurando sexo com outro homem.
- Sei! – exclamou ele, após findo meu relato que, aparentemente, não o satisfez por completo. Eu precisava ser mais enfático e, principalmente verdadeiro.
- Tive medo! – exclamei, deixando-o sem entender o que estava querendo dizer com aquilo. – Tive medo de você me machucar naquele dia, por isso pedi para você parar e me soltar. Tive mais medo ainda, agora, que a possibilidade de ser penetrado por outro homem, que não você, se mostrou tão factível. Eu cresci com medo, tudo me apavora, tudo à minha volta sempre se apresentou como uma ameaça, desde que perdi meus pais, desde que perdi uma referência para onde pudesse correr quando os reveses apareciam. Sempre me senti desamparado e, a maneira com que me doutrinaram desde que fiquei órfão, sempre reforçou esse sentimento. Ameaças e punições eram uma constante, o que para um garoto como eu, desvalido e só, incutiram esse pavor por tudo e todos. Foi assim naquele primeiro dia em que te vi, sua força e autoconfiança me apavoraram, temi pelo que você podia fazer comigo ali sozinho e longe de qualquer eventual socorro, justamente quando tinha fugido para não ser pego como objeto sexual. Contudo, aquele nosso encontro me provou que nem tudo era uma ameaça. A maneira como lidou comigo, como sua conversa me inspirou, me fez ver que eu podia confiar nas pessoas, ao menos em algumas. Quando salvou minha pele diante do iminente castigo do prior, vi que você era especial, um amigo, dos poucos que tenho. Mas quando você tentou colocar esse seu membro enorme em mim, tudo que havia sido incutido na minha imaginação voltou como um fantasma a me atormentar. Fui tomado pelo pavor. – expliquei, sem me preocupar em soltar aquele tronco, no qual eu já começava a ficar aquecido, apesar do chiton que o soldado rasgou praticamente não estar cobrindo mais nada do meu corpo.
- O que importa é que você veio procurar refúgio nos meus braços, o que deve significar que se sente seguro comigo. – ponderou ele.
- Sim, me sinto muito seguro ao seu lado. Me perdoe, por não ter deixado você continuar naquele dia. Me perdoe, Achilleas, por favor!
- Você devia ter me contado, devia ter se aberto comigo, eu saberia entender. Eu sei entender!
- Perdão!
- Não há nada a ser perdoado! Eu gosto de você, Priam! Me encantei com você assim que coloquei meus olhos sobre você. Quero cuidar de você, te proteger, jamais faria qualquer coisa que te machucasse. Era só ter falado comigo, me dito o que estava sentindo. – afirmou
- Eu sei! Sou ridículo, não sou? Estou virando um homem e ainda me deixo levar por medos infundados.
- Não é, não! Você é um gostoso que me alucina com sua ingenuidade. Um gostoso que não me deixa esquecer por um segundo sequer que te quero mais do que a tudo nessa vida. – devolveu ele, com seu olhar apaixonado e sedutor.
- Me faça seu! – essa foi a primeira vez que eu tive certeza absoluta de uma coisa.
- Sério?
- Entra em mim, Achilleas! – ambos estávamos eufóricos.
Ele terminou de me despir sob a luz bruxuleante da lamparina solitária que mal dava conta de iluminar o quarto. Mais do que seus olhos, eram suas mãos que se deleitavam com a visão do meu corpo, mais uma vez nu e, ao seu alcance. Como ele havia sido despertado de supetão, tinha apenas enrolado despretensiosamente um peplo na cintura, que foi a primeira coisa que suas mãos alcançaram para cobrir seu sexo. Eu o desatei e ele caiu aos pés dele, expondo seu órgão excitado pela promessa da cópula iminente. Como da primeira vez, encantei-me com a beleza dele, com o tamanho descomunal, com seu formato lascivo, com aquela consumição que o fazia pulsar e verter um pré-gozo espesso e viscoso. Era a coisa mais linda que eu já tinha visto, a mais erótica e perfeita. Uma tora reta e grossa, encimada pela glande destacada no formato de um enorme cogumelo arroxeado que exalava um aroma viril; veias tão calibrosas que mais pareciam dutos por onde o sangue quente dele a nutria e fazia latejar aquela carne toda; indo se incrustar naquela bolsa volumosa e pesada, onde as duas bolas pendiam em alturas diferentes; tudo discreta e sensualmente camuflado por aqueles pentelhos densos. Quanto mais eu examinava cada detalhe daquele falo, mais meu cuzinho se contorcia querendo aninhá-lo em suas profundezas.
- Tem certeza de que é isso que você quer? Vai doer um pouco e eu não posso garantir que também não vou te machucar, pois meu dedo já me comprovou que você é muito estreito, deliciosa e sensualmente estreito. – afirmou ele.
- Eu te quero! Quero te aninhar em mim, te afagar, te dar todo o carinho que merece, não importa se com dor ou não. Me ensina a superá-la? – se ele já estava quase estourando de tanto tesão, minhas palavras terminaram de deixar seu cacete mais duro do que o ferro.
- Ah, Priam! Garanto que nunca nenhum dos teus mestres te ensinou o que eu vou te ensinar. – grunhiu ele, alucinado pelo êxtase. – Chupa minha caceta, como fez naquele dia na praia! – ordenou, agarrando meus cabelos e esfregando a jeba úmida no meu rosto.
Tão logo senti a cabeçorra sobre meus lábios, abocanhei-a e comecei a lamber o pré-gozo. O Achilleas soltou um gemido sibilado. Chupei devotamente aquela pica babona, conduzindo minhas lambidas e delicadas mordiscadas por toda sua extensão. Mergulhei meu rosto na pentelhada grossa e lambi o sacão, massageando as bolas que coloquei na boca com a língua, assim que elas deslizavam sobre os meus lábios molhados. Embora estivesse ajoelhado com a minha cabeça entre as pernas abertas, o Achilleas trotava feito um garanhão impaciente, deixando seu caralho ser mamado com todo carinho e tesão. Não demorou e ele veio para cima de mim. Sua boca ávida procurou a minha com sofreguidão. Beijos longos e molhados, à medida que nossos corpos se entrelaçavam, foram ficando cada vez mais ardorosos. Meu cuzinho em polvorosa me fazia rebolar assanhado sobre o jirau e as mantas. De tão embevecido, nem reparei que estava gemendo e, só quando ouvi meu gritinho libidinoso, é que percebi que o fizera por conta do dedo que o Achilleas enfiava no meu cuzinho. Cheguei a levar um susto, pois pensei que já era a pica que estava entrando em mim, mas quando vi o rosto safado e pervertido dele me encarando com luxúria, consegui distinguir os movimentos circulares que o dedo impudico fazia dentro da minha rosquinha. O momento chegou, ele já não era mais movido pela razão, só por seus instintos primais, enquanto eu já havia sido levado ao devaneio por seu dedo voraz. Tive uma das minhas pernas levada ao seu ombro, o que expôs e vulnerabilizou meu cu, deixando-o à mercê dele. Depois de algumas pinceladas sobre as minhas preguinhas, ele começou a forçar a cabeçorra para dentro da fendinha já toda molhada com seu fluído viscoso. Eu segurava a respiração, tremia atemorizado me lembrando de tudo que vi e ouvi sobre a perda do cabaço, ele empurrava a cabeçorra continuamente para dentro do buraquinho, as pregas raiadas formando uma circunferência ao redor do diminuto orifício rosado iam se distanciando umas das outras, o buraquinho ia se abrindo lenta e progressivamente à medida que a glande escorregava para seu interior, a distensão da mucosa anal começava a provocar uma dor insidiosa, ele continuava forçando e enfiando sua jeba para dentro, a rosquinha chegava ao seu limite de abertura, mas a pica continuava abrindo caminho e entrando, eu precisava me agarrar em alguma coisa que fosse firme e provesse apoio, e minhas mãos encontraram os braços vigorosos dele. Há tempos minha respiração estava descompassada, entre os lapsos de inspiração e expiração, havia uns breves segundos em que ocorria um relaxamento automático da minha musculatura, era quando o cacetão conseguia continuar avançando rumo ao seu objetivo. Meu cuzinho ia se abrindo ainda mais, se rasgando e aquilo parecia não caber em mim; subitamente, a cabeçorra babona e escorregadia venceu meus esfíncteres e se alojou entre eles, eu gritei e, tentando manter a calma, comecei a ganir. Aquilo continuava entrando, abrindo espaço, arrebentando o que encontrava pela frente, me penetrando onde jamais havia entrado alguma coisa. Os olhos serenos e confiáveis do Achilleas me fitando pareciam um bálsamo para a dor pungente que eu estava sentindo, e eu não o impedi de continuar, nem me queixei, só me entreguei com o mais sincero e profundo sentimento de minha alma. Ele não parava de empurrar aquela jeba gigantesca para dentro do meu cuzinho, eu apertava seus bíceps duros à procura de alento, e deixava aquele macho vigoroso e grande entrar em mim até onde nunca alguém tinha entrado. Meu cu mastigava energicamente o cacetão dele, ajudando a suga-lo para as profundezas das minhas entranhas, numa voracidade involuntária, como se ele passasse a reger todas as minhas vontades. O Achilleas era só sorriso, um sorriso prazeroso e feliz que repercutia fundo no meu peito. Eu estava satisfazendo meu primeiro macho, usando tudo o que havia aprendido para proporcionar àquele homem todo o prazer a que fazia jus. Ele se empenhava em fazer o mesmo comigo, movendo a jeba rija e quente dentro da minha carne num vaivém impetuoso que fazia suas estocadas atingirem minha intimidade tão profundamente que seria impossível explicar como e onde. Só o deleite no qual estava imerso já justificava e compensava aquela dor que, aos poucos, se desvanecia como as brumas da manhã com a aparição do sol.
- Era assim que você me queria? – perguntou ele, após ter se inclinado sobre mim e beijado minha boca.
- Você é a coisa mais deliciosa e maravilhosa que já senti! Obrigado, mil vezes, obrigado! – respondi, segurando seu rosto feliz entre as mãos e cobrindo-o com beijos carinhosos.
- É um prazer te servir, meu tesão! – sussurrou ele, satisfeito por ter seu cacete imerso no meu casulo receptivo. – Quanto mais tempo passo ao seu lado, mais alucinado por você e por esse corpo eu fico. E agora, mais isso, você tomando minha porra, e esse cuzinho apertado mastigando minha rola. Se te ensinaram como enfeitiçar um homem, eu sou testemunha que você aprendeu todas lições direitinho. – asseverou, desacelerando o vaivém daquela jeba no meu rabo para retardar ao máximo a chegada impulsiva do gozo.
À medida que ele foi aumentando o vigor das estocadas, a dor cresceu, junto com o tesão que eu sentia. Subitamente um espasmo percorreu meu ventre e minha virilha, e comecei a gozar. A porra explodia do meu pinto em jatos que caiam sobre o meu ventre, onde o Achilleas os espalhava delicadamente sobre a minha pele, embevecido com o prazer que estava me proporcionando. Eu mal havia terminado de gozar quando percebi a mudança da expressão no rosto dele, a gana pelo meu rabo se exacerbava, ele me estocava com mais força, meus ganidos o deixavam cada vez mais excitado, o tesão já não cabia mais em seu peito, onde uma revolução parecia estar acontecendo, onde o ar inspirado se acumulava sob uma pressão incontrolável e, de onde aflorou um bramido rouco e gutural no mesmo instante em que levei uma estocada abrupta e comecei a sentir o gozo dele sendo ejaculado na minha mucosa anal esfolada. Foram tantos e tão volumosos os jatos que, no meio do vaivém da pica, um pouco do sêmen começou a vazar do meu cuzinho lanhado, misturando-se com o filete de sangue que se formara com a junção das gotículas que brotavam das pregas rasgadas, e escorria pelo rego empapando nádegas, coxas e meu chiton que havia ficado sob meu corpo, tingindo sua alvura com o vermelho rutilante do líquido precioso que me dava vida.
- Nunca tive nada tão delicioso quanto você nas mãos, Priam! Meu tesouro em forma de anjo! – sussurrou ele, deixando aquela porra libertadora sair aos borbotões do cacete latejante. Eu o envolvi nos meus braços e o apertei, desejando nunca mais soltá-lo, nunca mais viver um único instante sem o calor daquele corpanzil que me cobria. Surgiu ali um sentimento novo, algo que eu não sabia o que era, mas de cuja existência eu sabia depender minha vida.
Por um bom tempo depois de ele sacar o caralho do meu cu inteiramente esporrado, ficamos abraços nos beijando tão intensamente que mal dávamos tempo para respirar. Mesmo saciado, ele continuava a apalpar e amassar minhas nádegas, contente como um menino que usufrui de seu novo brinquedo. Nossas peles se roçavam com o entrelaçamento agitado de nossos corpos que pareciam querer se fundir um no outro. A exaustão os consumiu até que, serenos e perfeitamente encaixados, o cansaço os venceu nos fazendo cair no sono. Foi a melhor noite da minha vida, a primeira em que não me senti imerso na solidão.
Passei todo o restante do verão transando só com o Achilleas. Eu sabia que devia estar havendo algo que fugia aos padrões e às regras da temporada de orgias com os soldados, uma vez que não era comum servirmos a apenas um macho durante a permanência deles na ilha. Tanto o prior quanto os mestres, nos obrigavam a satisfazer o maior número de soldados possível. Era disso que continuava a depender a fama do lugar e a consequente riqueza dos que dirigiam o asilo. Eventualmente acabavam se formando alguns casais, o que também nunca era desestimulado, uma vez que muitas vezes resultava na venda de um de nós; o que significava mais lucro para os que nos tinham adquirido gratuitamente e se valido de nosso trabalho para manter toda aquela estrutura em troca apenas de comida e abrigo por alguns anos. Contudo, eu estava feliz demais para me preocupar com o que quer que fosse, além de namorar o Achilleas.
Foi apenas quando as festividades da última semana de estadia dos soldados começaram, que voltei a me sentir tristonho. Me perguntava se o Achilleas me amava tanto quanto eu a ele, a ponto de me levar consigo. Ele nunca havia tocado no assunto, e eu não queria forçar a barra fazendo exigências. Até porque, não estava em condições de fazê-las. Amando-o ou não, trepando com ele com a mesma frequência que os coelhos ou não, eu continuava a ser um órfão sem eira nem beira destinado a me tornar escravo nalguma casa abastada ou, na falta de sorte, perambular mendigando trabalho em troca de comida e abrigo pelas ruas de alguma cidade quando chegasse aos vinte e quatro anos e teria que sair da ilha.
Após o banquete servido na noite da véspera da partida dos soldados, quando o Achilleas e eu voltamos ao lugar do nosso primeiro encontro e fizemos amor sob o mesmo céu límpido e estrelado, ele me disse que me queria para todo o sempre. Essa revelação me fez sentir uma felicidade enorme. Ele não me abandonaria. Estava amanhecendo quando entramos do edifício que parecia também não ter dormido. De todos os quartos vinham os sons dos bacanais correndo à solta, gemidos, ganidos, gritinhos de safadeza e dor, sacanagens sendo proferidas sob o efeito do álcool, conluios sendo tramados com falos atolados em cus já exaustos e estourados de tanta luxúria.
Comecei a ficar inquieto quando, durante toda a manhã do dia do embarque dos soldados, o Achilleas não veio me procurar, me mandar juntar meus parcos pertences para seguir com ele.
- Ele me prometeu que eu seria dele por toda a vida! – exclamei, falando comigo mesmo, embora o Cylon e o Lysias estivessem ao meu lado.
- Quando estão com seus caralhos insaciáveis em nossos cuzinhos eles prometem céus e terra, não se iluda achando que vão cumprir o que prometem nessas circunstâncias. Tão logo o navio aporte noutra paragem, terão não só esquecido das promessas feitas no frenesi do sexo, mas de você também. – asseverou o Lysias, para quem aquela temporada tinha sido particularmente difícil e dolorosa, pelos escrotos que o maltrataram sem dó nem piedade.
- O Achilleas não é assim! Ele me ama, eu sei que ele me ama! – retruquei, um pouco exasperado por ele querer me fazer duvidar do homem que amo. O Lysias deu de ombros, tinha dado sua opinião, se seria acatada ou não já não lhe faria diferença. Era assim que se comportava depois de tudo que lhe aconteceu.
- Ele já devia ter te procurado para você ter tempo de arrumar suas coisas e partir com ele, não acha? O Lysias pode estar certo! – sentenciou o Cylon, me deixando ainda mais angustiado.
- Ele virá, vocês vão ver! Ele virá, tenho certeza! – respondi. Mas começava a achar aquela demora longa demais para resultar no que eu esperava.
A agitação no porto era grande, o navio que os levaria havia aportado na tarde do dia anterior e, desde então, o porto fervilhava de gente atarefada abastecendo-o, e retirando as mercadorias que trouxera. Saí à procura do Achilleas. Em seus aposentos não estava mais, o baú dele também já não estava mais lá. Estaria partindo sem ao menos se despedir de mim? Não, eu não podia pensar numa coisa dessas, não depois da noite de ontem e não com toda aquela umidade máscula que ele injetara em mim, ainda formigando nas minhas entranhas. De tão angustiado, pedi que o Cylon me acompanhasse até os limites da área portuária, proibida para nós. De lá, podia-se ver toda a extensão do cais. Nem sinal dele, ou de algum dos seus amigos mais chegados, a quem eu podia perguntar por ele, mesmo que isso me levasse a avançar para dentro da zona proibida.
- Venha, vamos voltar! Não adianta você ficar aqui, ele não vai te levar com ele! Aceite, será menos doloroso! – afirmou o Cylon.
- Ele não vai me abandonar! – balbuciei chorando. O desespero de isso acontecer era tamanho que eu já não raciocinava direito.
- Já abandonou!
- Não! – berrei, e saí correndo sem rumo, tentando arrancar aquela dor que estava me matando do peito.
Corri até me faltarem as forças e, um tropicão numa pedra mais saliente do rochedo me lançar ao chão, esfolando meus joelhos e antebraços. Trôpego, tomei a trilha que levava aos jardins do edifício. O Achilleas estava postado, impaciente, nos degraus junto à rebuscada e enorme porta de entrada. Capengando por conta dos esfolados, corri até ele.
- Por onde andou? Estou te procurando há horas! Eu já devia estar a bordo do navio. – disse ele, tão afobado quanto eu. – Por que está todo machucado?
- Eu caí! Também estava te procurando, quase fui até o cais, o Cylon me impediu. – despejei, sem coerência alguma. – Me leva com você, Achilleas! Me leva com você, por favor! – finalmente eu já não tinha mais escrúpulos para mostrar minha sinceridade e meu desespero de ser abandonado por ele.
- Era sobre isso que eu queria falar com você, mas agora ficamos sem tempo para uma conversa mais longa. Que ideia foi essa de desaparecer justamente hoje, quando eu tanto precisava conservar com você?
- Não fica bravo comigo! Diz que me leva com você!
- Não posso! Não agora! Daqui vamos voltar diretamente para as frentes de batalha. Há guerras acontecendo em diversos lugares, precisamos garantir as posições já conquistadas e ampliar nossos domínios onde ainda não alcançamos a vitória. Não posso te levar para uma guerra! – afirmou.
- Eu não me importo! Eu vou com você para onde for preciso! Só não me abandone aqui, eu suplico! – implorei, jogando-me aos pés dele e me agarrando àquelas pernas peludas.
- Não diga sandices! Você não faz ideia do que seja uma guerra! Não posso fazer isso com você.
- Eu faço o que for preciso, até luto se for necessário! Mas, me leve com você! Eu preciso ficar ao seu lado!
- Não dá, Priam! Entenda isso, não posso arriscar sua vida, ela é tudo o que eu tenho. Eu ia te explicar tudo com calma, mas você resolveu sumir. Eu preciso ir agora, cuide-se até eu voltar! – ele não esperou pela minha resposta, me tomou em seus braços e me beijou ardorosamente, enfiando sua língua na minha boca e sua mão no meu reguinho.
Dois mestres vieram interferir, me segurando enquanto ele se afastava caminhando apressado em direção ao cais. Eu gritei feito um desesperado, atraindo para as janelas dos quartos pelo menos umas dezenas de mancebos, cujos cuzinhos teriam um descanso até a chegada da próxima temporada de orgias.
- Você vai imediatamente ter uma conversa com o prior! Que ideia foi essa de fazer esse escândalo? É nisso que dá quando se enche vocês de regalias, esquecem-se do motivo de estarem aqui. – disse um dos mestres, que me sacudia como se eu fosse um boneco. – Pare com isso, Priam! Ou quer levar uma surra aqui mesmo, para aprender a se comportar? – ameaçou o outro, que já começava a tirar a cinta de couro que prendia seu chiton e a estalá-la sobre as minhas coxas, me obrigando a correr até a sala do prior, onde levei uma surra com a chibata que ficava pendurada na parede atrás de sua mesa, para nos lembrar a todos que qualquer conduta desaprovada tinha seu preço.
No decorrer da surra irascível que o prior me deu diante dos dois mestres, espasmos nos esfíncteres e contrações na bexiga me fizeram urinar e perder quase todo o sêmen com o qual o Achilleas havia me galado e, foi isso que mais doeu. Não foram as chibatadas, joelhos e antebraços esfolados que me levaram a sentir toda aquela dor, foi a sensação de abandono e aquele esperma do meu homem vazando do meu cu. Nem isso eu teria dele para amenizar a falta que ele iria me fazer.
Além da surra, fui punido com outros castigos que incluíam horas extras de trabalho ora na cozinha, ora sob o sol inclemente na horta, ora limpando o galinheiro e o chiqueiro de onde vinha parte de nossa subsistência. Mesmo sem forças, eu caia sobre o meu jirau à noite e chorava desesperançado até ficar exaurido. No final do outono, assim que os ventos ficaram mais frios, adoeci de vez. Havia perdido uns dez quilos, o que para meu corpo sem reservas, era bastante. Esquálido, não sentia fome. Minha única necessidade residia naquele homem que partiu com aquele navio, cujo velame fiquei observando desaparecer no horizonte da minha janela, mesmo depois da surra que levei. Por quase três semanas fiquei preso ao leito. Embora não o dissessem, o Lysias e o Cylon já começavam a duvidar da minha sobrevivência, e tentavam fazer de tudo para me trazer novamente à vida.
Veio o inverno, particularmente intenso naquele ano, embora não fosse esse o padrão. O cais do porto havia se tornado meu ponto de observação favorito. Cada vez que um navio aportava, meu coração ameaçava sair pela boca, na esperança de que o Achilleas viesse me buscar. As estações se sucediam sem eu me importar com nada. Um ano se passou, outro verão chegou e com ele mais uma temporada com a ilha cheia de soldados ávidos por sexo. Desta vez não havia o tronco musculoso do Achilleas para eu me refugiar e passar as noites abraçado a ele. Recuperado da enfermidade com sua partida, meu corpo voltou ao seu esplendor natural, o que o fazia ser um dos mais formosos entre todos os mancebos. Não houve uma só noite ou dia em que ele não foi requisitado para a lascívia daqueles machos que, só conosco, conseguiam se esquecer das agruras e sofrimentos da guerra. Eu já não era nem virgem, nem de um único homem, tinha que cumprir minhas obrigações para recompensar minha estadia naquele lugar. Agora nem à noite meu corpo encontrava descanso. Entre os tecidos que cobriam o jirau, eu o entregava muitas vezes a até cinco ou seis machos simultaneamente, para atender à fila de requisições que me era imposta por aqueles soldados carentes, à procura de corpos esculturais que satisfizessem suas taras sexuais.
Também foi o primeiro ano do Cylon, que perdeu o cabaço com dois soldados mais velhos, gritando de dor e desespero quando seu cuzinho virgem foi rasgado na penetração dupla dos dois cacetões grossos. Todo aquele fogo que o deixara eufórico com a aproximação da temporada, sumiu quando chegou no quarto todo arregaçado e sangrando depois que os soldados o largaram.
- Desgraçados! Mal consigo andar. Isso não são homens, são bestas, são animais selvagens! Deviam todos morrer na guerra ao invés de virem aqui se aproveitar dos nossos corpos. – esbravejou, enquanto o Lysias e eu tentávamos ajuda-lo com emplastros e unguentos cicatrizantes sobre aquele cu destroçado.
- Bem-vindo ao time! – exclamou o Lysias, eterno revoltado por se ver subjugado por aquela situação e pelos machos que o usavam. – E conforme-se! É o que todos fazemos aqui! – emendou.
- Agora faço uma ideia do quanto sente falta do Achilleas. Ele te tratou com todo o carinho, fez você confrontar seus medos nos braços protetores dele. Você é um sortudo, Priam! Um grande sortudo! – exclamou o Cylon.
- Sinto falta dele porque o amo, e só por isso! O sexo só sacramentou nosso amor, nunca foi o objetivo primordial. – retruquei.
- Esse amor é tão verdadeiro que só você o nutre, pois ele nem deve mais se lembrar da sua existência. A prova do que digo é que você está na mesma situação que todos nós, tendo que pagar seu asilo com a beleza do corpo para qualquer um disposto a te enrabar. – sentenciou o Lysias, numa argumentação cruel.
- Você é um despeitado! Não é porque só te quiserem como puta que todos os homens são iguais. O Achilleas me ama, seu tenho certeza disso. – devolvi irado.
- Vocês dois não vão começar a brigar agora, vão. Me ajudem com meu cu, pois essa noite preciso dele para satisfazer esses desgraçados. – interveio o Cylon.
O verão se foi e mais uma vez a paz voltou a reinar na ilha e em nossos ânus. Minhas caminhadas diárias até o final da trilha de onde se podia avistar o cais e, onde eu ficava observando o lento pôr-do-sol mergulhando na imensidão do mar, sonhando ver um navio trazendo o Achilleas, começaram a ficar cada vez mais espaçadas. Lysias, Cylon e minha razão diziam que ele nunca mais ia voltar, contrariando meu coração que, a cada navio entrando no porto, me garantia que ele estava a bordo.
Passou-se mais um ano, depois outro, e mais outro. Minhas esperanças se perderam em algum período desse tempo todo. O Achilleas só continuava vivo na minha memória, com aquele seu rosto másculo sorrindo e cobiçando meu corpo com seu olhar safado através das transparências das minhas vestimentas. E, nas duas vagens de alfarroba, agora secas e esquecidas sobre a pequena mesa de cabeceira ao lado do meu jirau, que ele ficou deslizando pelas minhas coxas numa tarde quente em que ficamos papeando recostados no tronco da qual elas haviam caído e sob cuja copa havíamos feito amor.
Minha quinta temporada levando cacetes de soldados no cu terminou com uma semana chuvosa, de tempestades violentas que fizeram o costado de um dos navios ancorados no cais ser praticamente destruído com a fúria dos ventos e das ondas. Também foi o último verão do Lysias na ilha. Ele completara vinte e quatro anos e tinha que partir. Já estava aguardando a chegada do navio trazendo o mercador que se encarregava de vender os escravos que não tiveram a sorte de encontrar alguém que os quisesse como concubinos ou servos pessoais. O Cylon e eu estávamos arrasados perdendo nosso amigo daquela maneira, sem que pudéssemos fazer qualquer coisa para mudar seu destino. A impotência diante de tudo é o que todos vivíamos naquela ilha. Quase nunca a aceitávamos, mas todas as tentativas de se safar dela acabavam em histórias trágicas. Ele estava resignado, aceitou seu destino como aceitou tudo o que a vida lhe dera até então, ou seja, nada. O porto de Lampedusa era rota de muitos navios e, poucos dias antes da chegada do navio do mercador, um navio que deixara a costa da Tunísia havia aportado brevemente só para descarregar umas mercadorias. O Lysias já não se importava mais em transgredir as regras, e me arrastou consigo numa caminhada até o movimento do cais pouco antes do sol se pôr.
- Se me pegarem aqui estou ferrado! Melhor não ficarmos tão expostos! – sugeri, ao que ele pareceu não ouvir, continuando a caminhar se desviando dos imensos caixotes e dezenas de barris que estavam no cais.
O assobio forte e agudo veio do tombadilho, não demos importância a ele, até que se repetisse pela quarta vez. Vinha de um marujo a bordo, que acenou assim que olhamos em sua direção.
- Juro que nunca mais vou usar um chiton transparente na minha vida, nem que me obriguem a isso! – exclamou o Lysias, pois era comum os marinheiros ficarem excitados com a nudez de nossos corpos por baixo daquele linho fino.
O marinheiro desceu correndo a prancha que ligava o cais ao tombadilho e veio decidido em nossa direção.
- Vou dar na cara desse desgraçado se ele tentar qualquer gracinha! Meu tempo de obedecer ao prior acabou. – sentenciou o Lysias.
O marinheiro era um homem feito, de uns trinta e poucos anos, parrudo; sob uma análise menos exigente, até que tinha traços bonitos e, certamente, muito viris. Ficou um pouco tímido quando se aproximou de nós e constatou como éramos jovens e como nossos corpos ainda tinham as curvas ambíguas entre o masculino e o feminino dos adolescentes, embora já não o fossemos mais. Mas, não se intimidou, e foi direto ao ponto.
- Olá! Posso participar do passeio? – perguntou, sem que seus olhos se desgrudassem de nossa quase nudez.
- Não podemos ser vistos na companhia de pessoas da aldeia! – respondeu secamente o Lysias.
- Podíamos procurar um lugar menos aberto. – sugeriu o marinheiro, que disse se chamar Brygos.
- É muito perigoso para nós, Brygos! Não desfrutamos de muita liberdade nessa ilha. – esclareci. Ele olhava para o Lysias com o mesmo olhar que o Achilleas olhou para mim no dia em que nos conhecemos.
- Entendo! Mesmo assim, como posso ficar mais tempo na companhia de vocês? – ele usava o plural, mas se referia ao Lysias, só temia estar sendo invasivo demais. – Querem subir a bordo? – convidou.
- Está maluco! Seríamos sumariamente assassinados! – a exclamação do Lysias foi tão enfática que chegou a assustar o marinheiro.
- Podemos? – perguntei, não só por estar curioso, mas porque algo me dizia que aqueles dois iam se acertar, e que talvez o futuro do meu amigo não seria tão funesto quanto parecia até então.
- Você enlouqueceu! Quer que o prior mande dar cabo da sua vida? Você ainda tem um ano pela frente, trate de não arrumar encrenca! – retrucou meu amigo, quando eu já o arrastava prancha acima.
Foi como eu imaginei, o Brygos estava encantado com o Lysias e, na pressa de resolver as coisas durante aquela breve estadia no porto, se declarou para o meu amigo. O Lysias ficou perplexo, com a cara mais estupida que já vi na vida. Eu tirei uma onda com a cara dele, e argumentei que a felicidade não costuma bater duas vezes na mesma porta.
- Deixa de ser tonto! – retrucou zangado.
- Quando e como posso te encontrar outra vez? – perguntou Brygos, sem mais disfarces, diretamente ao Lysias.
- Suba o penhasco esta noite até os jardins do edifício. Numa das últimas janelas do terceiro andar haverá um candeeiro aceso no parapeito, guarde bem a posição, depois encontrará a porta lateral do edifício destrancada, próxima do pergolado. Garanta que já seja noite avançada quando for ao asilo, entre e suba a escada que estará a sua esquerda, siga o corredor até a posição onde viu a janela, também haverá uma porta entreaberta com luz lá dentro. O Lysias estará à sua espera. – respondi, instruindo o marinheiro que mal conseguia esconder sua excitação e a ereção que estava sob suas roupas.
- Você endoidou de vez, só pode ser! – exclamou o Lysias.
- Então seu nome é Lysias? É um bonito nome, para um rapaz mais lindo ainda! – afirmou o Brygos. Foi aquele olhar voraz cheio de tesão e afeto que fez meu amigo abrir a guarda e topar o encontro.
Ouvi um sermão do Cylon quando soube da armação. Ele se negou a participar daquela loucura que daria cabo de nossas vidas, até eu apelar para o amor, e garantir que lhe rogaria uma praga para jamais encontra-lo se não nos ajudasse.
Enquanto esperávamos o alvorecer, sentados na escuridão do corredor, como dois cães de guarda, o Lysias sentia todo o ardor e virilidade do Brygos entalados entre suas pernas, procurando sufocar os gemidos de prazer que aquele macho estava lhe oferecendo. Dois dias depois ele partiu com o homem que colocara três dragmas de prata na mesa do prior, em troca do mancebo mais lindo que já tinha visto e experimentado. Chorei quando nos despedimos. Acho que o infortúnio une as pessoas de tal maneira que é impossível não sofrer, mesmo quando se sabe que as mudanças são para melhor. O Lysias ainda não estava totalmente convicto disso quando partiu, mas os anos ao lado daquele marinheiro audaz o fizeram enxergar o mundo e a vida sob um prisma bem mais alegre e otimista.
Chegou o tempo do meu último verão na ilha do arquipélago das Pelágias. Logo no início da temporada de orgias, o Cylon partiu com um capitão que se desengajou do exército para leva-lo direto para sua casa, nas ilhas Egéias. Não sei se foi uma escolha acertada, se bem que não nos é dado o direito a escolhas. Mas, me pareceu que aquele capitão não tinha boas intensões para com o Cylon que, deslumbrado com aquele macho intempestivo, não se ateve a descobrir se seu caráter era tão sólido quando a caceta que tinha entre as pernas. Ele achava que teve a mesma sorte do Lysias, uma paixão repentina, amor à primeira vista, e não pensou em mais nada. Era mais um que se ia sem que eu nunca mais fosse ouvir ou saber algo dele, o que só fazia aumentar aquele imenso vazio que estava no meu peito.
O homem com o qual tinha passado a noite e que me levou a uma das praias da ilha, afastada o suficiente do edifício e do movimento do asilo na manhã seguinte, onde podia dar mais algumas boas enterradas de pica no meu cuzinho, apesar de jovem, já tinha alguma patente, que não tive interesse em descobrir. Ele era bonito, inteligente, sensível, para muitos dos rapazes do asilo quase um sonho. Para mim, somente mais um que meu dever naquele lugar me obrigava a satisfazer, e era isso que eu fazia ali com ele, pelados e engatados no raso daquele mar verde-turquesa cujas águas o sol inclemente já havia aquecido. Ele era bastante fogoso, além de muitas, suas ereções eram bem prolongadas, o que me deixou exaurido. Ele perambulava pelas trilhas com mais uma meia dúzia de colegas quando me viu sentado solitário no penhasco para onde eu ia todos os finais de tarde conferir se algum navio estava chegando ou tivesse aportado trazendo o Achilleas em seu bojo, enquanto o sol se punha em mais um dia de desalento. Ele deixou o grupo seguir seu caminho e veio sentar-se ao meu lado, ficando uns bons minutos em silêncio ao notar que eu nem havia me apercebido de sua presença e que, aquelas lágrimas que desciam do meu rosto deviam esconder uma história dolorosa. Não me perguntou nada, só foi muito carinhoso quando fomos para cama e entrou em mim, procurando entre as minhas nádegas o mesmo tanto de carinho com o qual me possuía. Com o sol à pino, a barriga roncando e o sexo satisfeito, tomamos o caminho de volta. Já bem próximos do edifício, vimos o burburinho de rapazes agitados correndo pelos jardins. Estavam à minha procura por ordem do prior. O primeiro que me viu, veio ao nosso encontro numa pressa desatada.
- Rápido! Vá direto para a sala do prior! Ele está quase arrancando os cabelos de tão furioso que está com mais um dos teus sumiços. – disse o rapaz, quase sem fôlego.
- Eu não sumi! Fui dar o passeio que este soldado me pediu. – respondi, deixando meu parceiro ligeiramente incomodado por referir-me a ele como soldado, coisa que ele não era.
- Não importa! Corra! O homem está uma fera, e você bem sabe que quando ele está assim, vai sobrar para todos nós. – insistiu o rapaz.
- Mas o que foi que aconteceu para ele querer falar comigo com toda essa urgência?
- Não sei direito, mas estão dizendo que uns homens que chegaram no navio de ontem estão aqui para te comprar. Ao que parece, a mando de um general. – esse tipo de notícia, quando um dos rapazes estava para ser comprado, se espalhava como o fogo na relva ressequida.
De repente, pareceu que alguém me dera um soco no peito. Eu vendido para um general? Não! Eu não podia ser vendido. Claro que podia, afinal eu não passava de uma mercadoria cuja venda podia ser negociada a qualquer tempo, auferindo lucro aos que me abrigaram e instruíram por todos aqueles anos. Eu não queria ser vendido, o que era muito diferente. Eu esperava pelo retorno do Achilleas, ele ia voltar um dia qualquer. Se me levassem dali ele nunca mais encontraria meu paradeiro. Não, eu não ia ser vendido, e ponto final.
A realidade era bem diversa dos meus quereres e das minhas vontades, o prior deixou isso bem claro quando adentrei à sua sala, onde ele realmente perambulava de um lado para o outro esbravejando e xingando dos deuses ao diabo com mais um dos meus sumiços.
- Que todos deuses do dodecateão me ajudem a me livrar de você de uma vez por todas! – berrou, assim que me viu postado diante dele. – Esses seus sumiços, essa sua displicência para com seus deveres, esse seu mau exemplo para os demais, tudo vai finalmente acabar! – continuou, em seu ataque de fúria.
- Eu não estava sumido, estava exatamente cumprindo o que o senhor chama de meus deveres! – respondi, deixando-o tão irado que quase fui ao chão com a bofetada que ele desferiu no meu rosto.
- Atrevido! Continue agindo assim com quem será seu novo dono e verá que seus dias estarão contados. – berrou possesso. – Arrume-se, você segue hoje mesmo com os homens que te adquiriram para seu senhor. – determinou.
- Eu não vou! O Achilleas vem me buscar, ele garantiu! – foi a primeira vez que berrei a plenos pulmões uma resposta àquele homem que se julgava um deus, ante todos aqueles rapazes desvalidos.
- Cale-se! – gritou ele, vindo mais uma vez para cima de mim, quando o empurrei com tanta força que ele cambaleou até despencar em cima de sua mesa. – Que os diabos te levem antes que eu mande mata-lo, seu desgraçado! – continuou, quando conseguiu ficar em pé novamente.
Não foram necessários mais que alguns minutos antes que três mestres me arrastassem para o meu quarto e me obrigassem a juntar minhas coisas e, me lançassem contra dois homens do exército que haviam desembarcado no navio que aportara no dia anterior. Fui negociado enquanto cuidava de dar meu corpo e meus favores pela última vez naquele lugar.
Os dois homens foram extremamente gentis para comigo. Me trataram até com certa cerimonia e desvelo, algo a que eu não estava acostumado, e recebi com bastante apreensão.
- Temos ordens de leva-lo até Siracusa onde o general o espera! – comunicou um deles, enquanto caminhávamos até o porto onde o navio já reabastecido, se preparava para zarpar dentro de poucas horas.
A bordo, o capitão me indicou uma cabine ao lado da sua, onde eu devia me acomodar da melhor forma possível, como verbalizou, demonstrando certo acanhamento pela austeridade das acomodações, embora eu nunca tenha tido outras tão confortáveis. O que significava tudo aquilo? De onde surgiu esse general que nunca vi na vida? Como ele podia ter sabido de mim e desejado me comprar para seu servo ou, quem sabe, para suas libertinagens sexuais. Nós, rapazes, nunca sabíamos o que fariam conosco quando adquiridos.
Perguntei aos dois homens que fizeram a negociata com o prior quem era o general que havia me comprado, e para quê. Eles me disseram seu nome, o que continuou a me deixar na mesma ignorância e, o motivo eles também desconheciam. Me entregaram numa casa em Siracusa, a cidade onde nasci e, de onde fui levado dez anos atrás. A família que me acolheu também estava cumprindo ordens, mas se mostrou muito hospitaleira e gentil para comigo, estava sendo paga para isso. O que eles sabiam também não era muito, só que o general viria me buscar assim que fosse possível.
- É um bom homem! Muito influente e, dizem, muito rico. – esclareceu a senhora que em poucos dias sob seu teto, me tratava como a um filho. – Deve ter por volta de cinquenta e tantos anos, mas ainda é um homem vigoroso e determinado. Segundo nos contou, a esposa e os filhos se ressentem da falta dele, sempre no comando de tropas em territórios longínquos. – respondeu às minhas perguntas curiosas.
Talvez fosse o pai de um dos soldados com quem me deitei durante algum dos verões na ilha, pensei, pois não conhecia nenhum homem com aquela idade que estivesse entre os soldados que chegavam todos os verões. O pai do Achilleas não era general, disso eu sabia, por comentário de um dos mestres que só sabia ser ele filho de um homem influente em Atenas, mas não a que ponto. Que eu jamais voltaria a ver meu amor se tornava cada dia mais certo.
Ele veio me buscar num dia atípico do inverno onde uma chuva já perdurava havia horas. Era um homem imponente, alto, grisalho, sobre o himation que lhe chegava aos tornozelos usava um chlamy de abas bordadas preso a uma fivela reluzente no ombro esquerdo, atestando seu status. Senti um frio na barriga quando sorriu altivo e condescendente para mim. Ele tinha idade para ser meu pai, será que vou servir de alternativa para as noites em que não levar sua mulher à cama? Essa ideia fez meu corpo todo estremecer. Não que ele fosse repugnante, mas me ver com o caralho de um homem como aquele fodendo meu cuzinho, não era algo com que contava. Que diferença faz se jovem ou velho, sem o amor do Achilleas meus dias já não valiam mais nada. Viver cada um deles, do jeito que fosse, já seria um lucro.
Ao contrário do que havia imaginado, ele não veio me buscar para me levar consigo. Isso ele fez só até me embarcar num navio que deixaria o porto naquela tarde tempestuosa rumo à Tessália. Nosso encontro foi tão breve e cerimonioso que não me atrevi a perguntar que destino me daria quando fosse incorporado à sua casa. No entanto, uma de suas frases não me saiu da cabeça durante toda a extenuante viagem até o porto de Vólos – Ele soube fazer uma boa escolha – quando me lançou um olhar tão incisivo como o de um comprador de cavalos. Quem seria esse ‘ele’? Tudo me levava a crer tratar-se mesmo de algum soldado com quem tive relações sexuais.
Fiquei feliz por sentir o chão novamente firme embaixo dos meus pés, e não se movendo o tempo todo, quando atracamos. Era um dia bonito, céu claro e azul, um sol fraco, mas muito luminoso. Estaria perfeito não fosse o cheiro da maresia que ainda estava impregnado nas minhas narinas, e que fizera eu devolver todo o conteúdo do meu estômago nos três primeiros dias da viagem. O capitão do navio me entregou aos homens que se identificaram para ele, e que me instalaram numa carroça puxada por dois cavalos, depois de me examinarem criteriosamente. Eu estava tenso, ansioso, desesperado para que o desfecho de tudo aquilo chegasse logo, fosse ele qual fosse. Ao cair da tarde, com o corpo dolorido pelo sacolejar constante da carroça, cheguei ao meu destino final, uma casa de arquitetura jônica cercada por imensos e belos jardins. Não me parece que terei uma vida de escravo tão ruim nesse lugar, baseado na tranquilidade e aparente felicidade dos empregados que me trouxeram até aqui, pensei comigo. Fui introduzido num grande salão logo após o pórtico sustentado por seis colunas. Minhas mãos suavam, um friozinho na barriga e uma tremedeira por todo corpo indicavam o quanto estava nervoso e apreensivo. Queria causar uma boa impressão inicial, queria que soubessem que tinham aplicado seu dinheiro numa boa aquisição. Um casal de meia idade em trajes deslumbrantes veio me receber com largos sorrisos estampados nos rostos bem cuidados. A mulher foi a primeira a me abraçar, fiquei travado como um poste, pois já não me lembrava de como eram macios e suaves os abraços de uma mulher, desde o último que ganhei da minha mãe. Fiz um tremendo esforço para não chorar. O homem me tomou nos braços em seguida, seu aperto foi tão forte e acompanhado de palmadas nos meus ombros que pensei que ele os iria deslocar, porém traziam consigo uma energia muito positiva. Me conduziram a outro cômodo e me encheram de perguntas sobre a viagem, sobre a ilha, sobre a minha vida num lugar tão desolado e sem distrações, para um jovem tão formoso, que eu respondia quase laconicamente. De tão tenso que estava a voz mal se formava na minha garganta. E então veio o inesperado.
- Desde sua estadia em Lampedusa, o Achilleas não falava noutra coisa que não o Priam por quem caiu de amores. – ao ouvir o homem pronunciar a frase, não consegui me conter mais e comecei a chorar. Ambos se entreolharam como se questionando se tinham falado algo inconveniente.
- Achilleas! – consegui balbuciar a muito custo. – O meu Achilleas? Onde ele está? Posso vê-lo? Ele não se esqueceu de mim? – subitamente fiquei tagarela.
- Sim, meu filho Achilleas! – respondeu o homem, um pouco confuso com a minha reação.
- Infelizmente terá que esperar por mais algum tempo antes de se reencontrar com ele. O pobre coitado não conseguiu criar raízes desde que esteve em Lampedusa, as guerras, sabe como é. – afirmou a mulher.
- O exército consome todo seu tempo e suas energias. Ao menos está fazendo sua fortuna, mesmo que isso esteja lhe custando muito sacrifício. Aos homens não restam muitas opções que não as guerras para consolidarem seu status, não acha? – assim que fez a pergunta, vi que se arrependeu, uma vez que diante dele não estava propriamente um homem com as mesmas características de seu filho.
- Sim, claro, acho. – devolvi, encabulado. Por uns instantes fiquei me perguntando quando foi que deixei de ser um homem para me transformar no que sou. Não havia um marco na minha vida assinalando esse momento, simplesmente aconteceu. O que havia de concreto e palpável era o dia em que fui desvirginado, mas ali eu já sentia uma atração inexplicável pelos rapazes. Nenhuma como aquela em que vi o Achilleas pela primeira vez, pois ali não foi só a atração física que me atiçou, mas aquele palpitar descompassado que meu coração experimentou.
- Está tudo bem com você, meu filho? – perguntou o homem, quando me percebeu divagando.
- Sim, sim, está, obrigado! Achilleas é o filho de vocês! – exclamei, como se a verdade ainda não estivesse sido assimilada.
- Sim, é nosso terceiro filho! – esclareceu a mulher. – O mais rebelde e mais inquieto deles. – emendou ligeira.
- Eu o amo! – a exclamação saiu da minha boca antes que eu pudesse retê-la.
- Sabemos disso! Ele também o ama, tanto que nas poucas vezes que nos vimos, esse era seu assunto predileto, exaltar as tuas qualidades. A beleza é inquestionável, mais perfeita do que as descrições dele, não é meu amor? – asseverou a mulher.
- Aonde ele está? Quando posso vê-lo? – repeti, pois o que mais me interessava ainda não tinha sido respondido.
- Está em campanha na Macedônia. Ele garante que será a última. Dentro de uns dois, no máximo, três meses creio que poderão estar juntos. – afirmou o homem.
- Tudo isso? – outra vez as palavras me escaparam sem critério.
- Vocês jovens são tão afoitos para tudo, como se estivessem vivendo seu derradeiro dia e não tivessem toda uma vida pela frente. – sentenciou o homem entre um riso paternal.
Os dias pareciam não passar, não adiantando todos os esforços dos pais do Achilleas para me distrair e me mostrar todo um mundo com o qual eu jamais havia sonhado. Em nossas longas conversas que costumavam se prolongar noite adentro, houve um dia em que tive que contar toda a minha história, e como fui parar em Lampedusa até conhecer o filho deles. Evitei propositalmente alguns dos episódios mais tristes, não só para me poupar das lembranças ruins, mas para não me fazer de vítima, instigando neles sentimentos de comiseração. Apesar desse cuidado, o pai do Achilleas ficou intrigado quando relatei como tinham sido os quase seis anos em que fiquei à espera do retorno dele à ilha.
- Como assim, atendia os desejos carnais dos soldados que iam passar a temporada de folga na ilha? Por que decidiu se prostituir dessa forma? – a pergunta me deixou humilhado, como se eu tivesse optado por essa vida por vontade própria.
- É o que éramos obrigados a fazer! Eu tinha que lhes devolver tudo que haviam investido na minha criação, o prior deixava isso muito claro para qualquer um de nós, especialmente a mim, a quem sempre atribuiu a fama de fugir das minhas obrigações e me esconder das tarefas que me exigiam. – afirmei. Eu não queria que pensassem que traí o filho deles, o amor dele, a fidelidade que eu mesmo havia me imposto em relação a ele, mesmo com sua prolongada ausência.
- O Achilleas enviou regularmente todos esses anos uma vultuosa quantia de moedas para o asilo para que você tivesse uma vida confortável, sem precisar trabalhar ou dar seu corpo em serviço para aqueles militares. Os montantes eram entregues diretamente nas mãos do prior. – afirmou convicto.
- Eu não sabia disso. O prior sempre me cobrou meus deveres. Pouco antes de embarcar para essa viagem, ele chegou a me esbofetear porque me atrevi a responder aos desmandos incabíveis dele. – revelei, deixando ambos estarrecidos e revoltados.
- Aquele miserável! – exclamou a mãe.
- Confesso que nunca fui muito obediente. A vida naquele lugar era dura para todos nós. Quando não tínhamos que nos prostituir com os militares durante os verões, tínhamos que trabalhar para pagar pelo nosso sustento e para as regalias dos dirigentes. Não que eu achasse injusto trabalhar para me sustentar, mas a forma como isso era feito, era desumana. – continuei, mesmo notando o desconforto dos dois com as minhas palavras. – Aquilo é um prostíbulo para privilegiados disfarçado de orfanato e instituição de formação de jovens! – concluí.
- Certamente! Certamente! – murmurou o pai, quase como se estivesse falando consigo mesmo.
Já próximo a data do retorno do Achilleas, que finalmente começava a se esboçar, participei de uma conversa entre o pai dele e alguns outros homens de destacada posição política e social, da qual participava inclusive o general que me adquiriu das mãos do prior e, que vim a descobrir ser o tio do Achilleas. Havia chegado a notícia de que o prior fora enforcado em Siracusa por seus crimes contra a castidade dos órfãos que estavam sob sua guarda, junto com os principais mestres que escondiam os desmandos dele, num conluio lucrativo para ambas as partes.
Estávamos em meados do anthestérion, havia pouco mais de cinco meses que eu chegara à Tessália. Minha angustia crescia à medida que o tempo passava e o Achilleas não voltava. Eu era atormentado por sonhos nos quais ele aparecia ferido e caído no chão lamacento enquanto sangrava até a morte. Eu acordava ouvindo meu próprio grito, e passava dois ou três dias abalado com o pesadelo. Até um médico fora chamado para me fazer uma poção de soníferos e me convencer de que tudo não passava de miragens criadas pela minha imaginação.
Os pais do Achilleas estavam há uma semana na casa da filha que acabara de lhes dar o segundo neto, o que me deixou sozinho com a criadagem no imenso casarão, fazendo com que me sentisse ainda mais desolado. Eu acordara agitado, tinha tido outro daqueles pesadelos. Após o almoço fui procurar abrigo no pátio interno do casarão, uma área descoberta onde pés de magnólia exibiam suas últimas flores arroxeadas antes do inverno deixar seus ramos completamente secos, e onde o burburinho de uma fonte tinha o poder de apaziguar uma alma atormentada como a minha. Depois de umas duas horas sentado naquela calmaria, meus pensamentos divagavam me transportando até Lampedusa, à uma noite especialmente memorável, quando fiz amor com o Achilleas por tantas vezes que ambos caímos na risada quando nossos corpos já não aguentavam nem seu próprio peso, e eu estar com o cu abarrotado do sêmen dele. Um estrondo de patas de cavalos batendo nas pedras do caminho macadamizado na entrada da casa despertaram minha atenção, alguns escravos também acorreram à entrada agitados com a chegada dos cavaleiros. Do topo da escadaria avistei o Achilleas ainda sobre o cavalo intrépido que não se conformava com a parada e insistia em continuar trotando, obrigando o Achilleas a domá-lo com as rédeas. Enquanto meu coração quase saia pela boca, minhas pernas experimentavam uma súbita fraqueza que me forçava a reagir para continuar em pé. Ao me avistar ele saltou do cavalo antes mesmo de chegar à escadaria, cobrindo os últimos metros com uma corrida apressada, como se o cavalo fosse lerdo demais para a urgência dele em me alcançar. Do topo da escada atirei-me em seus braços, três degraus abaixo, pendurando-me em seus ombros e oferecendo minha boca que ele procurava desesperadamente. Tirando-me do chão, ele rodopiou comigo em seus braços, apertando-me com tanta força que senti minhas costelas estalando. Nossos lábios não queriam perder o contato, lambendo-se, chupando-se, devorando-se sensualmente. A longa espera havia terminado, estávamos juntos novamente, seis anos após nosso último encontro, nosso último coito, ao nos despedirmos em lágrimas não contidas. Nossa felicidade era tão contagiante que os servos ousaram bater palmas enquanto ele e eu nos beijávamos sem parar. Até todos voltarem para dentro da casa e continuarem seus afazeres levou algum tempo, a casa toda parecia estar em polvorosa.
Eu não cansava de olhar para ele, tomar seu rosto barbado dos últimos três dias sem ser escanhoado nas mãos e conferir se não faltava nenhum pedaço daquele homem que viveu esses últimos anos só nas minhas lembranças. Ele fazia o mesmo comigo, me examinava da cabeça aos pés para se certificar de que era o mesmo corpo languido que lhe dera tanto prazer que estava diante dele. Apesar de todos aqueles músculos estarem em seu pleno esplendor, ele estava exausto, haviam cavalgado praticamente três dias quase sem descanso, só para apressar o retorno e dar conta daquela ansiedade que estava lhes afligindo o peito. Levei o Achilleas para o quarto que os pais dele haviam preparado para nós dois e que, até então eu ocupava sozinho. Ele estava suado, o chlamy coberto de poeira, assim como as pernas peludas dele, o que acentuava seu cheiro másculo, o que logo começou a agitar minhas pregas anais. Na privacidade do quarto fresco e cheiroso, ele voltou a se aproximar de mim, encarando-me cheio de desejo, enfiou as mãos embaixo da minha túnica e começou a bolinar minhas coxas, subindo lentamente até as nádegas que, ao constatar nuas, deram início a uma ereção incontrolável.
- Você está mais lindo do que eu me lembrava! – exclamou, voltando a me beijar.
- Senti tanto a sua falta! Parece um sonho você estar aqui diante dos meus olhos. – devolvi, retribuindo meus beijos e chupando a língua sedenta que ele enfiara na minha boca.
Ele quis que eu lhe contasse tudo sobre o tempo em que estivemos afastados, enquanto eu mesmo preparava seu banho, dispensando os serviços dos criados que se apressaram a tomar as providências nesse sentido. Tanto ele quanto eu queríamos desfrutar da merecida privacidade, da intimidade que nos fora negada por tanto tempo. Enquanto eu me incumbia de ir despindo seu corpo livrando-o nas roupas empoeiradas, ele deslizava a mão sobre a minha bunda, vasculhando e amassando meus glúteos lisos e frescos.
- Eram as recordações dessas nádegas deliciosas que me faziam sentir algum alento enquanto observava as estrelas nas noites insones. – afirmou ele. – Nem acredito que as tenho nas mãos outra vez. – emendou, enquanto os dedos procuravam meu buraquinho dentro do rego estreito e polpudo.
Assim que soltei o último broche que prendia seu chlamy ao ombro, ele caiu aos pés dele e expos a enorme ereção que estava por baixo. Eu levei minha mão até ela e, delicadamente, a circundei movendo os dedos sobre toda sua extensão. O Achilleas abriu um sorriso do qual eu sentia uma saudade imensa. Beijei-o, enquanto minha mão continuava afagando o cacetão duro como ferro e massageava carinhosamente os testículos abarrotados de virilidade. Ele me ergueu pela bunda fazendo com que eu precisasse enroscar minhas pernas ao redor dele para que nossos troncos se juntassem. Senti o quanto ele me precisava colado a si para que aqueles beijos ardentes alimentassem sua carência. Ele estava prestes a me foder, tinha urgência, não importava a posição.
- Amo tanto você! – sussurrei no ouvido dele, lambendo seu pescoço, sua pele transpirada cheirando a macho. Não tivesse deixado minhas pernas caírem e firmado os pés no chão, o caralhão que roçava minha rosquinha teria entrado em mim.
Conduzi-o até a banheira, fazendo com que se sentasse na beirada de mármore, e voltei a sentar no colo dele. Numa fração de segundos um dos dedos dele entrou no meu cuzinho, me fazendo soltar um gemido de puro tesão. Escorreguei por entre suas coxas até me sentar no chão e ficar cara-a-cara com aquele cacetão saudoso. Coloquei-o na boca e comecei a chupar, fazendo-o soltar um urro rouco. O espesso fio translúcido de pré-gozo lambuzou meus lábios obrigando-me a lambê-los.
- Chupa me caralho, Priam, chupa! Preciso que me chupe, preciso dessa boca macia me mamando a pica, Priam! Meu anjo em forma humana! – grunhia ele, enquanto eu me empenhava no boquete.
O sacão peludo e gigantesco pendia completamente solto e pesado, me atiçando a abocanhá-lo e a chupar cada um daqueles colhões ingurgitados. O tesão e o aroma inebriante e almiscarado que entrava pelas minhas narinas atuavam como o ópio sobre minha mente que, repentinamente, havia se desligado do mundo e me transportado para o idílio. O Achilleas me agarrava pelos cabelos, afundava meu rosto em sua virilha, metia a jeba na minha goela até me deixar sem ar. Gemendo e chupando aquela carne quente e pulsátil, encarei-o devotamente quando senti o primeiro jato de porra cremosa na boca. Engoli-o, enquanto ele soltava um som gutural do fundo da garganta. Alimentei-me do néctar do meu macho, sem desperdiçar sequer uma única gota daquela preciosidade.
- É disso que preciso, amor! É todo esse seu carinho que me dá vida! – exclamou ele, enquanto eu terminava de limpar o caralhão melado.
Ao entrar na banheira ele me levou em seus braços. O chiton molhado colou nas curvas do meu corpo realçando minha pele abaixo do tecido. Sentamo-nos um de frente para o outro, ele olhava apaixonadamente para mim, para o sorriso de felicidade que eu lhe dirigia, e se deixava molhar o torso pela bucha encharcada que eu espremia sobre seus ombros. Só então vi aquela cicatriz feia, da largura de uma lâmina de espada, que estava abaixo da omoplata bem próxima da axila direita. Passei as pontas dos dedos delicadamente sobre a pele enrugada, mais rubra do que a que a cercava. Não consegui segurar as duas lágrimas de rolavam do meu rosto, e que ele amparou com os polegares e um sorriso de compreensão. Ela era a prova real de que eu o podia ter perdido para todo o sempre, e essa constatação estraçalhou meu coração.
- Eu morro se te perder, Achilleas! Nunca se esqueça disso, por tudo que há de mais sagrado. Nunca! – balbuciei numa voz trêmula.
- Não pense nisso! Vou estar sempre aqui, sempre ao seu lado! – ele havia percebido a dimensão do que ia no meu coração.
Banhei-o sem pressa. Acariciava-o com a ducha mergulhada de quando em quando na água tépida aromatizada com gotas de sândalo e flores de camomila. Ele se deixava afagar, só acompanhando o movimento das minhas mãos, as quais segurava de vez em quando e depositava um beijo em seus dorsos. Vez ou outra, também me fazia soltar a bucha e deslizar a mão espalmada sobre seu tronco peludo. Quando abria um sorriso safado, eu sabia que ele conduziria a mão até seu membro novamente duro, ao redor do qual os pentelhos negros flutuavam dentro d´água, só para me mostrar que ainda estava cheio de tesão. Aos poucos ele foi desfazendo os enlaçados da minha túnica tirando-a do meu corpo. Eu ainda tinha vivo na memória aquele olhar de cobiça e desejo com o qual ele olhava para a minha nudez. Era uma das mais inquietantes e maravilhosas sensações. Aproximei-me mais dele sentando sobre suas coxas e envolvendo seu pescoço um abraço que nos conduziu a um demorado beijo, com direito ao duelo de línguas e saborear de salivas. As mãos dele percorriam meu torso, onde meu coração pulsava movido pelo tesão e pelo intenso amor que aquele homem me despertava. Elas chegaram aos mamilos, os dedos vigorosos dele esmagaram meus biquinhos até eu soltar um gemido, voltaram a acaricia-los, movendo-se em círculos ao redor das tetas torneadas. Veio um beijo sobre um dos mamilos, mais outro sobre o outro mamilo, uma abocanhada que tracionou o biquinho até deixa-lo sensível e inchado, enquanto minhas mãos afagavam sua cabeleira e mantinham seu rosto junto ao meu peito. Debaixo da água meu cuzinho convulsionava de tanta excitação e desejo, sedento esfomeado por aquele cacete cuja cabeçorra arroxeada era a única parte a ter emergido da água.
- Como você consegue ser tão gostoso? – questionou, com o risinho malandro de quem está prestes a aprontar.
- Te amando sem barreiras, como toda a intensidade de minha alma! – respondi.
Ele me debruçou sobre o mármore frio da borda da banheira, abriu minhas pernas e começou a lamber meu cuzinho. Gemi sem parar com aquela barba espetando a pele sensível e rosada da minha rosquinha anal. Ele mordia minhas nádegas, enfiava a cara no meu reguinho que segurava apartado só para observar o abre-e-fecha dos meus esfíncteres convulsionando. Aos poucos começou a montar em mim, abraçando meu torso, me contendo sob o peso de seu corpo, fazendo a pica deslizar entre as bandas apertadas da bunda carnuda que estava pronto para foder. Cada vez que sentia o caralhão passar pela portinha do meu cu, a minha respiração travava, como se toda a minha energia fosse drenada para aquele orifício diminuto que, em segundos, seria distendido até limites inimagináveis de dor. O pauzão parou, a glande superficialmente inserida na depressão da minha fendinha, o Achilleas com todos seus músculos à postos, a força com que me continha aumentando gradualmente, a primeira tentativa de penetração resultando no deslize da pica dentro do rego, a segunda tentativa, mais insidiosa e potente, consumando a penetração e meu grito ecoando entre as paredes frias da sala de banho. Como um elástico meus esfíncteres se fecharam ao redor da tora grossa que deslizava latejando para as profundezas das minhas entranhas. Com a posse consumada, o Achilleas começou a bombar meu rabo, cuidadoso e gentil a princípio; mas, o tesão de tantos anos aprisionado em seus genitais o transformou num selvagem à procura de satisfação sexual, e meu cu foi arregaçado ao som dos meus ganidos de submissão e entrega, que só o deixavam ainda mais primitivo e movido a instintos. Aquele entra-e-sai no meu cu me fez gozar quase aos gritos, numa explosão de energia acumulada sem precedentes. Os grumos da minha porra esbranquiçada flutuavam na superfície da água.
- Goza com teu macho, goza, Priam, meu amor! É assim que eu gosto de ver, você se esporrando todo com a minha rola entalada no teu cuzinho. – grunhia ele, enquanto eu gemia pronunciando seu nome.
A minha posição debruçada dentro da banheira me dava apoio suficiente para rebolar a bunda contra a virilha dele. O caralhão sumia todo no meu cu, ficando apenas o sacão de fora, batendo no reguinho apartado. As estocadas dele socavam minha próstata e desencadeavam uma dor lancinante que retesava o baixo ventre e se espalhava devastadora. De repente, ele ergueu meu torso, mordeu minha nuca, apertou seus braços com força colando minhas costas nos pelos do peito dele, deu duas estocadas abruptas e soltou um bramido vindo do fundo do peito. Movendo-se com rigidez, gozou e começou a ejacular, jato após jato, inseminando minha mucosa esfolada, macia e úmida, até meu cuzinho ficar tão encharcado que algumas gotas de esperma saiam junto com o pinto que ele puxava até só deixar a cabeça dentro da minha fenda e me penetrar novamente, num único impulso, até o pinto desaparecer outra vez.
Deitei-me na cama ao lado dele, brinquei com os pelos do peito até ouvir o ressoar e a respiração profunda dele ganhando força. Em minutos ele dormia como um titã embalado por Morfeu. O que esperou por longos seis anos voltou a acontecer, dormir aconchegado pelas minhas carícias, deixando as mazelas do mundo fora daquela áurea de paixão e amor em que era acolhido.
Ele estava tão exausto que não quis se alimentar, alegando que lhe faltavam forças para tanto. Porém, acordou duas vezes durante a noite e, feliz por meu corpo nu estar ao seu alcance, me penetrou e galou minha rosquinha ferida; que depois conferiu, como tinha feito no dia em que me descabaçou e constatou como minhas preguinhas dilaceradas vertiam gotículas do mais singelo sangue virginal.
Cerca de um ano depois, nos mudamos para uma propriedade junto à costa, de cujos penhascos rochosos se avistava uma praia de areia grossa e amarelada lambida por ondas de um mar com tons de verde e azul-turquesa, onde se viam os cardumes vagando em densas manchas escuras. Nos verões, ficávamos até tarde sentados sob um pergolado coberto de ramos de parreira, deixando a brisa quente refrescar nossas peles. Era ali que traçávamos os planos e projetos para um novo ano da propriedade ocupada por vinhedos e oliveiras, dos quais substíamos, que selávamos com coitos que, no mais das vezes, começavam ali mesmo, com a lua e as estrelas como testemunhas de um amor que precisou ser paciente, infinito e verdadeiro até se consumar.
Boédromion = terceiro mês do verão no calendário ático, correspondente ao mês de setembro aproximadamente
Thargélion = segundo mês da primavera no calendário ático, corresponde ao mês de maio aproximadamente
Anthestérion = segundo mês do inverno no calendário ático, correspondente ao mês de fevereiro aproximadamente
Clepsydra = instrumento para medir a passagem do tempo que consistia de um reservatório de água superior dotado de um furo. Media-se o tempo que a água levava para passar da vasilha superior para a inferior.
Pankration = espécie de luta marcial sem muitas regras.
Chiton = traje grego de uso cotidiano composto de um grande quadrado de tecido usualmente de linho que era enrolado em dobraduras sobre o corpo, geralmente trespassado sobre um dos ombros e preso com broches e fivelas, além de cordões ao redor da cintura que lhe davam a conformação de uma túnica. Podia ser longa até os tornozelos ou curta até os joelhos.
Chlamy = um retângulo sem emenda de tecido grosso como a lã amarrado como uma túnica e usado por homens para fins militares ou de caça.
Peplos = túnica grega de linho presa a um dos ombros por fivelas ou broches, amarrada à cintura, geralmente usada sobre o chlamy ou o himation
Himation = túnica grega grossa de lã usada no frio