Deitado. Olhou para o celular, abriu novamente a imagem, viu, fechou. Olhou para o teto.
Já fazia 30 minutos desde que Sérgio iniciou essa repetição de movimentos. Duas dúvidas circulavam sua mente: Por que Elisa, alguém com quem ele teve minutos, quiçá segundos, de conversa, teria mandado algo tão explícito? E ainda, por que ele não só gostou como queria mais? Óbvio que como um jovem-adulto comum ele já tinha visto alguma mulher sem nada sobre, porém, que lhe deixasse dessa forma? Isso sim era a primeira vez.
- Filho, jantar tá na mesa. Pedi uma pizza pra gente – disse Bianca, após bater na porta do filho.
Ao chegar lá, limpou os pensamentos por momento e focou em dividir a pizza entre si, seus irmãos e sua mãe. Vale recordar que eram estas 6 pessoas vivendo em conjunto na casa: Bianca, Sérgio, Mateus, Carlos, Camilla e Esther. O falecido pai da família acreditava que iria ter somente um filho junto de Bianca, Sérgio, só que ao saber que a esposa queria mais, teve uma ideia para os nomes (contando com a sorte): E = mc^2. Ele como um grande matemático e físico fez essa homenagem a famosa sigla que corresponde a equivalência massa-energia.
- Tá tudo bem filho? Pizza tá ruim?
- Tá tudo certo sim, já ia até pra pedir mais vezes desse lugar - Sérgio acordou do seu estado estático. Percebeu que os pensamentos iriam voltar enquanto não fizesse algo.
- Bem, se você está pedindo... Da próxima vez repito o pedido. Agora esse olhar perdido tem algum bom motivo? - “Ela percebeu? Como?”
- Se a senhora percebeu então já achou – respondeu rindo - É nada não, preocupado com a faculdade só.
- Humm, sei não. Já vi isso algumas vezes. Cuidado garoto!
Ao retornar ao quarto, deitou e reiniciou sua rotina. Sabia que devia fazer algo, iniciar uma conversa, entender o que estava acontecendo. Fez então o óbvio: colocou seu celular para carregar e foi dormir. Afinal, a conversa podia esperar e os raciocínios fluirão mais em meio aos seus sonhos.
O sonho foi emblemático. Aparecia um alguém e este o puxava para um caminho sem rumo. Conforme ele a parava para entender o que estava acontecendo, o ser se tornava dois, um idêntico ao outro para então tornar ao caminho, voltando a ser um só.
- E então foi isso que aconteceu. Conseguiu enxergar algo?
- Sinceramente? Ou você tá ficando louco e tá jogando a notícia pra mim primeiro ou... é só um sonho. Não necessariamente precisa ser alguma coisa. - respondeu Carlos. Ambos se dirigiam a universidade junto de Camila que estava atrás ouvindo música.
- Tá bom. Que foi estranho foi, mas tudo bem
- Mas se tu for buscar sentido em tudo que é estranho tu é que vai ficar estranho de tão perdido.
- Perdido. Tu e mamãe falaram a mesma coisa já. Talvez eu esteja precisando me encontrar mesmo. Inclusive deve ser isso, achar um rumo, um caminho.
- É... vai nisso aí então - Carlos disse dando risos leves do irmão
3 dias se passaram e Sérgio continuava com o sonho e seus questionamentos. Em tempo similar, Anna seguia praticando seu violão. Tentava, exercitava, machucava os dedos até o terceiro dia chegar junto do primeiro som limpo saindo. Feliz com isso, mandou logo uma mensagem ao professor.
18:00 – Vaaai! Falei que ia aprender. Já consigo tocar alguma música? - Anna
18:01 – Se fosse fácil dessa forma não existirão professores de violão kkk - Sérgio
18:01 – Mas posso pensar em passar algo simples no sábado. Conhece a música “O Sol”, do Jota Quest? Se sim, escute. Se não, escute. Ela é bem fácil.
18:02 – Jota Quest? Já ouvi algumas, mas não essa. Agora por que só no sábado? E o nosso almoço?? - Anna
18:02 – Aeh, o almoço. Achei que estávamos brincando. - Sérgio
18:05 – Achou porque não queria ter gasto, certeza disso kkk – Anna.
18:06 – Vamos amanhã. Tem carro né? A gente pode ir no shopping, tô sem aula a tarde.
18:10 – Gasolina, almoço. Começa assim, daqui a pouco tá me tirando a carteira. - Sérgio
18:10 – Sendo só sua aluna? Vou pensar no caso. - Anna.
18:37 – Fechado então??
18:40 – Fechado. Não vai se atrasar. - Sérgio.
- E ai, vai rolar? - Elisa perguntou.
- Vai, ele topou. Mas não, não vou fazer isso dessa vez. - Anna disse de forma firme.
- Como assim Anna? Já é tradição isso. Todo primeiro encontro a gente faz a troca. Ora essa, com o Fábio foi assim, não foi? - Elisa fez cara de inconformada.
- Foi. Mas foi um encontro, Encontro – nessa repetida, Anna soletrou para dar ênfase -Dessa vez é só um passeio, uma reunião de aluna-professor.
- Deve ser sim, já vi muitas histórias de aluna-professor que tomaram outros rumos. - Elisa estava realmente chateada.
- Isso são outras histórias e contos, aqui é vida real amor – Anna brincou.
- Não me chama de amor – disse Elisa, agora já fazendo birra.
Anna foi e abraçou Elisa, mesmo após muita luta para conseguir fazer isso. Mal sabia ela que a irmã já tinha pulado a frente. Sobre isso inclusive, ela se mantinha pensativa. Falava algo? Mandava mais? Não era mais linda e perfeita o suficiente para atrair a atenção e as palavras de um garoto no mesmo segundo? Questionamentos de um, intrigas de outro, no fim a resposta de ambos segue o mesmo destino.
Três seres deitam-se em suas camas, põem a cabeça no travesseiro e sonham. Um, o mesmo dos últimos dias. Outro, com a vida, suas escolhas, expectativas e consequências. E uma última com um romance. Um romance que começará, sem que ela já saiba ou espere, com um simples olhar.