... Éramos unidos e o fato de eles fazerem colégio de manhã e eu e ela à tarde, acabava que fazíamos tudo junto.
Continuando
Naquela manhã minha irmã estava muito mais atenciosa comigo, preparou meu suco, meu lanche e o dos meus irmãos e assim que eles foram pra escola e a mamãe mantinha a rotina de passar antes no hospital e depois seguir para o trabalho, fomos aos afazeres normais, mas isso durou por uns três dias, no quarto dia, após o lanche da manha e meus irmãos já terem saído ela perguntou se eu podia ajudar.
Como eu já até tinha esquecido o pedido, e ela tinha sido atenciosa, mesmo eu não dando bola pelo que ela pediu, fui no automático e acenei com a cabeça que sim;
Gastamos a primeira hora com ela me falando um monte de coisas sobre tipos de tecidos e o que combina com o que, achei muito confuso, mas se ela precisava de ajuda desse tipo de ajuda, fui ouvindo e reconhecendo cada coisa que ela falava, às vezes eu voltava e dizia algum nome trocado e ela calmamente me corrigia.
Foi me falando de diferenças entre saia, vestido, minissaia, top, jardineiras e tudo o que envolvia as roupas que ela tinha ali para reformar, e não eram poucas, notei que meninas tinham muito mais opções e roupas do que os meninos e eu já estávamos a usar roupas surradas de meus irmãos há anos sem nem me importar ou notar. Ganhávamos roupas novas em determinadas ocasiões, mas olhando tudo aquilo ali no quarto de costura, vi que havia uma "leve" vantagem a favor de minha irmã.
Nestes dois dias foi apenas isso. Veio o final de semana e na segunda, antes mesmo dela pedir já fui seguindo para o quarto.
Neste dia ela perguntou o que eu achava de algumas e se eu achava bonito nas meninas, eu sem jeito às vezes escolhia um ou outro, não pela sensualidade, mais pela delicadeza, ainda não tinha conotação sexual em nada.
E assim fomos aquelas duas manhãs, só empilhando as roupas em montes diferentes, as que eu achava legal e as que nem tanto e as que fazia cara de nojo rsrsrs.
Minha irmã ficou muito feliz, disse que foram os dias mais felizes dela comigo e que eu ajudei e muito.
Uma das pilhas ela colocou na sacola e etiquetou como doação, as outras ela também empacotou e escreveu ajustar e na outra Especial, nem havia reparado que esta última foram cuidadosamente embalada e eram as que eu tinha achado legal.
Cada dia naquela semana ela tirava uma roupa do ajustar e trabalhávamos nela, eram coisas como trocar botões, um zíper frouxo, uma costura que abriu, não fazíamos nada com pressa, eu praticamente olhava e ela contava o que fazia, por que e aonde tinha usado a roupa. Isso for por quase três semanas, ao final de cada semana ela entregava no dia que a empregada vinha a(s) peça(s) reformada(s) para ela presentear para uma de suas filhas.
Tinha vezes que eu ficava olhando, mas com o tempo ela me passava uma ou outra tarefa, e deixava-me ali, e ia fazer outra coisa na casa, no quintal ou mesmo ia às compras, pois nossa mãe já estava passada inúmeras tarefas para cada um. Mamãe às vezes após seus horários de plantões ia ao quarto onde tinha o "Atelier" de minha irmã e ficavam conversando. Pegava uma ou outra roupa reformada e levava pra seu trabalho, lá sempre tinha campanha de doação. Isso me deixava muito feliz, em saber que estava fazendo algo de bom pra minha irmã e ainda ajudando outras pessoas.
Os dias passavam rápido, foram mais três semanas e minha irmã sempre feliz comigo me agradecia com lanches, bolos e coisas que fazíamos pra comer pela manha, antes de meus irmãos chegassem.
Eu sem referencia outra senão minha irmã, fui me acostumando, às vezes pegava uma revista de moda e ficava lendo, sem falar nada, nestes dias minha irmã apenas olhava de canto de olho, com um sorriso de alegria e satisfação. Não interrompia minha leitura, mas fazia questão de que eu falasse o que tinha lido e trocava ideias sobre minha opinião e a dela, percebi que tínhamos leves divergências em gosto e estilo.
Neste final de semana iria começar a primavera, ela trouxe um monte de roupas suas e ficamos quatro dias naquela de escolher as roupas, dizer quais eu gostava, quais podíamos customizar e quais o fim era mesmo o "reciclável", assim que dizíamos para as que doávamos sem modificar nada. Pela primeira vez minha irmã colocou nos montes calcinhas e sutiãs, estranhei pra mim era tudo reciclável, não tinha visto ninguém doar roupas intimas na casa, nem eu usava cuecas dos meus irmãos e nem dava, pois era lastimável o estado final de nossas cuecas, já as da minha irmã, mantinham o frescor e um perfume diferente, rsrsrs.
Mas algo me chamou a atenção, três peças estavam intactas, ainda com a etiqueta da loja, eu falei, poxa você não gostou que nem usou, mamãe iria ficar chateada, melhor não deixar na doação, e ela não pensou duas vezes, piscou para mim e falou. Vamos por pra ajustar, afinal mamãe tá sempre pegando roupas aqui.
Na sexta ela me pediu algo diferente, disse que já tinha reformado um conjuntinho de camisa e shorts e não sabia se tinha ficado torta e só podia saber se a filha da empregada vestisse, mas eu disse você não ouviu a mamãe falar que as meninas não podem vir mais, pois esta tendo um surto de H1N1 e mamãe não esta feliz com o que tem visto.
Minha irmã ficou triste, e eu, pra agradecer o carinho dela meio que falei se é só pra ver se tá torto, eu posso por aqui na frente como você faz às vezes e ai você olha e arruma o que esta errada.
Minha irmã mudou o semblante, é vamos ver, colocou meio que não gostando da ideia, vi que murmurou algo como "... acho que perdi meu tempo!!", deixa prá lá, jogou a camisa no monte de doação, nem sequer tocou no short e saiu do quarto e foi para outros afazeres na casa.
Aquilo me deixou triste por ela, mas preferi não intervir. À noite fiquei pensando que eu estava sendo bobo e ingrato, afinal eu já sabia que este tipo de ajuda não ia mostrar se a peça ficou boa ou não, volte e meia que minha mãe pela pressa fazia isto conosco nas lojas de roupa, por falta de tempo, era certo que tínhamos que trocar no dia seguinte.
Não dormi direito, tive a sensação que meus sonhos estavam a me dizer que eu tinha que realmente ajudar minha irmã, sabe que já fazia algum tempo que eu sonhava, tinha a nítida impressão de ser um sonho maravilhoso, mas não lembrava o sonho, apenas acordava mais feliz, lembrava parte do sonho, minha irmã estava sempre nele, mas logo em seguida já não lembrava a continuação.
Acordei e tomei uma decisão, fazer uma surpresa pra ela, tomamos o café, tarefa diária realizada na cozinha fui rápida peguei a muda de roupa e fui pra meu quarto, arrumar a cama e ajeitar as coisas no quarto e fazer minha irmã feliz, não demorou 15 minutos minha irmã como sempre me chamou pro Atelier.
Cheguei ela já estava olhando o que reformar, parou imediatamente o que fazia e ficou me olhando, parecia que fazia 1 hora que ela estava sorrindo e me olhando, eu fiquei com um pouco de vergonha, parece que isso deixou ela ainda mais feliz, pois não parava de elogiar, me chamou pra perto, ajustou aqui, ali e acolá, me fez dar voltas e tudo mais. Deu-me um grande e afetuoso abraço, um beijo na testa e disse, ficou ótima, linda.
Entendi que era a roupa, agradeci nem sei por que e quando fui tirar, ela com uma cara de quem tá brigando falou, escuta aqui, já perdemos muito tempo, temos muito que fazer, fica assim, e vamos ao trabalho, se tudo der certo, terminamos e você se troca já pra ir pra escola, tudo bem?
Eu como estava totalmente inebriado pelo carinho, elogios e tudo mais assumi minha posição de ajudante e fomos trabalhar. Volte e meia eu me atrapalhava com a roupa, e brincava com ela que estava tudo desajustado, não via como a roupa estar perfeita, ela só olhava e ria, dizia algo que não entendia tipo tá faltando os complementos por isso não esta legal.
Terminado a manhã, fui me trocar, voltei e entreguei a roupa a ela, ainda brincando, tome acho que não ficou como você queria, ficou com a parte de cima folgada e o short incomodando.
Ela pegou, dobrou e não pos na pilha de doações deixou ali num canto onde ficava as roupas que já estávamos trabalhando. Acho que eu acertei sobre as folgas pensei comigo todo feliz em ter ajudado e ainda por cima ganho tanto carinho.
Novamente recebemos a visita e nossa mãe no Atelier, ela foi pegando algumas coisas, ai quando pegou a muda que havia usado minha irmã falou não esse não, vou precisar dele pra alguns ajustes, e tomou de minha mãe a roupa e toda a roupa intima que ela tinha pegado mesmo as usadas e brincando falou.
"Mãe", logo você querendo reciclar roupa intima chato doar pra um estranho.
Minha mãe olhou e brincou, ué não to vendo outra menina aqui pra poder usar, ou doar deve ir pro "reciclável" direto. Não sei por que, mas aquilo me deixou num misto de triste e curioso. Minha irmã desconversou, chamou minha mãe pra perto, pediu pra eu sair dizendo pra me trocar pra aula e eu sai com as duas falando sobre a pilha enorme de roupas pra doar.
Passou o fim de semana, segunda feira minha irmã me chamou, pediu pra eu vestir a muda de roupa pra ajustar, eu sai coloquei e voltei. Ela marcou uns pontos e tal pediu pra eu tirar e foi conversando comigo.
Sabe, olhando a roupa em você eu descobri por que ela ta desajustada, faltou isso e ergueu um soutien e calcinha!
Eu falei sim, claro que faltou você faz um menino experimentar, por isso que nunca ia dar certo, mas acho que tá bom, pois se ta ruim pra menino deve estar ok pra menina. Ela me olhou, ia dizer algo e novamente resmungou, “... acho que perdi meu tempo!". Novamente aquela frase doeu no meu coração. Foi mais uma noite pensando na minha falta de carinho e empatia com minha irmã.
No dia seguinte clima no Atelier estava estranho, triste, muito no automático sem o devido carinho e atenção, foi uma tortura e sofrimento pra eu ver minha irmã daquele jeito, achei que não era comigo, algo na escola e não dei bola.
No outro dia a mesma coisa, nem tivemos um dialogo decente, quando foi à noite me vi chorando triste e com um remorso enorme. Novo sonho, só que desta vez acordei assustado e chorando, um remorso uma dor, não lembrava o sonho, mas era muito real o que eu devia ter sonhado, pois na mesma hora associei ao episodio da roupa intima e só vi um jeito, fazer esta vontade e por um fim aquele clima.
Era isso, fiz como na outra vez, fui mais rápido na tarefa básica do café, passei no atelier, fui arrumar meu quarto, demorei-me um pouco.
Estava em transe quando ouvi seu grito!
"Não vem me ajudar hoje!!!"
... Continua