Estava em transe quando ouvi seu grito! "Não vem me ajudar hoje!!!"
... Continuando
Desta vez, demorei pra executar a decisão que tinha tomado algo bobo, simples. Não via erro ou acerto era apenas um gostar de alguém e fazer sentir-se bem, sem medir consequências ou penalizar-se mais pelo ato. Para mim o erro foi não retribuir, era dado o momento.
No quarto:
Embora fosse a segunda vez, o que me perturbava era ter passado a noite em um sentimento de tristeza, dor o que decidi fazer comecei, como disse diferente, havia em minha mão um conjunto branco, ainda com etiqueta olhei com carinho o tecido era suave lindo, pleno em sensualidade que pela minha idade refletia em charme e delicadeza, ainda não tinha a relação entre delicado e sensual.
Tirei minha roupa, com tesoura cortei o fecho plástico da etiqueta, e separei.
Peguei suavemente calcinha, fui subindo ao corpo, ainda sem sentir a textura algo automático, quando chegou ao meio da coxa, um click na pele, na mente, nas mãos fez eu parar, derrubei ao chão, mas estático não saí correndo, não corri apenas fiquei perplexo com o que senti. A angustia até então que sentia, parece que ao tocar do tecido, ao pressionar minhas pernas deu lugar as antigas sensações dos sonhos que custo a lembrar.
Passou-se um minuto, dois ou 30 não sei, mas como em câmera lenta agachei-me peguei novamente a peça que cobria uma pequena parte de meus pés e voltei a subir, como é diferente quando se faz algo automático e quando se faz algo com os sentimentos aflorados, meu coração estava acelerado, pele arrepiada embora achasse que fosse frio.
Já havia passado o joelho, o click veio, e demorei mais ainda pra subir ate a cintura, nada ali encaixava, mas cumpri esta fase. Por curiosidade peguei a peça de cima e coloquei apenas sobre o peito, novo click, novo choque, mas ao invés de jogar, trouxe ao rosto, acariciei a pele com ele, apertei, estiquei o braço e vi, girei, estiquei, balancei. Um brinquedo diferente acho que era isso que meu consciente dizia, enquanto o inconsciente somava cada segundo a milhões de sensações.
Nas revistas que li, já veio um artigo sobre o primeiro soutien, ri, pois era exatamente essa cena que eu estava vivenciando, era como ler um livro e depois assistir ao filme, mas eu era simplesmente o protagonista.
Novos minutos entre prender ao contrario, girar e passar os braços. A gente não analisa nosso corpo quando somos crianças/meninos. Mas ali naquele momento, refleti minha imagem atual e ao lado a de um amigo próximo (meus amigos de brincadeiras) não entendia o que estava diferente, o consciente viu apenas a vestimenta o inconsciente, os mesmos milhões de sensações em cada segundo.
Fiquei no automático, coloquei a camiseta e o short, já de inicio eu mesmo percebi que ele não estava "folgado" ou torto sem ajuste em cima e que em baixo na frente desconfortável, mas atrás estava exatamente como o short pedia, agora entendia a primeira diferença entre roupas de meninas e meninos isso me deixou em transe.
No atelier um grito:
"Não vem me ajudar hoje!!!"
Sentia na voz dela uma tristeza, um comodismo de fazer algo sem sentido, sabe quando você faz no automático para ocupar a mente e o tempo.
Estava na porta, ouvindo o bufar de alguém exausta e triste, quando fiquei a sua vista pela terceira vez senti algo diferente em mim, nela e no ambiente.
Minha irmã levantou a sobrancelha, virou um pouco a cabeça para o lado e falou, senta aqui um pouco, já volto e vi-a saindo apressada, preocupada.
Eu achei que tinha piorado as coisas, a sensação exata de como acordei me dominou, mas junto veio um medo, jamais associando a como estava vestido, a imagem dela saindo apressada, cheguei a ver os olhos mareados, essa era a cena dominante em minha cabeça.
Querendo, não constranger, peguei uma roupa que estava à frente e fui desmanchar bainha, era o que meus olhos viam como o que fazer a mente não sabia consciente e inconsciente que até então eram antagônicos embora ainda não soubesse da existência deles estavam em estado de coma.
Se foi segundos, minutos ou mais que isso, parece que eu estava vivendo o D'javu do tempo, o mesmo que vivi em meu quarto.
Minha irmã voltou, pediu desculpas voltou com um copo d'água, vi ela engolir seus remédios e como se nada tivesse mudado nosso dia, mas mudando, falou.
Bom vamos ajustar, agora percebo que ele precisa de pequenos ajustes, marcou com alfinete, fez umas medidas e quando eu ia sair falou não se preocupe, só estamos nós duas, para não perdermos tempo, vamos mexer com estas peças, ai percebi que tinha uma minissaia nas mãos ela um top que combinava, fomos fazendo nosso trabalho, volte e meia ou era eu que me olhava ou era ela, o espelho que minha mãe tinha no atelier agora era de alguma forma o centro das atenções de nós duas, volte e meia um fugia do olhar da outra após alguns segundos reparando no espelho.
De alguma forma, minha irmã recuperou a áurea, tratou-me com carinho e antes do tempo, assim que terminamos o ajusto na minissaia e top ela falou que eu podia subir e me aprontar para a aula, que o dia hoje tinha sido produtivo, terminando dizendo. Só não podemos deixar estas roupas pra doação, você usou, vamos precisar lavar. Jogue no cesto do meu quarto, por favor.
Sem argumentar fui para o banho, demorei pra tirar a roupa no banheiro, algo me fez olhar e olhar, puxar soltar, quando me vi estava no automático ajustando o soutien, não estava mais solto, e aquilo mexeu comigo, no banho mesmo sem nada ainda sentia cada pressionar daquelas roupas em meu corpo.
Sai, fui ao quarto e coloquei tudo no cesto, era momento de ir para a aula.
No dia seguinte, acordei recuperado, como era boas a sensação e dormir sem angustia. No atelier a vida florescia, foi um dia focado na roupa que escolhi pra arrumar, curiosamente era a primeira vez, em todas às vezes, que eu havia escolhido algo pra ajustar.
No outro dia, cheguei ao atelier, próximo da minissaia estava o conjunto já lavado e passado, dobrado que havia usado. Estava camisa, short, soutien e calcinha. Olhei e pensei quem teria posto ali, mas achei que era minha Irma. Ela pegou tudo e guardou no em um armário que havia atrás dela, achei estranho afinal iam sempre para o saco especial, mas percebi que já tinha outras coisas naquele armário, mas não dei bola.
Já era quase fim do dia, minha mãe chegou, parou na porta e falou:
Lavei e deixei ai algumas coisas que estavam no seu cesto filha, vejo que já organizou, já deu o destino certo.
Minha irmã olhou pra mim, quando mamãe deu as costas e piscou, mandando um beijinho.
Pegou na mão a peça que havíamos terminado e falou, pena que não da tempo de ajustar melhor, já ta tarde, amanha se puder me ajudar!
Fui pra aula aquele dia com esta frase na cabeça, à noite a mesma coisa. Implorei pra não ter pesadelos.
Foi estranho acordar, só senti minha irmã preocupada, mas não liguei as coisas, eu me sentia perdido em tudo que estava fazendo pela manha antes do café, quando dei por mim, meus irmãos tinham acabado de bater a porta da casa indo para aula.
Só ouvi algo como, "Você irá me ajudar no ajuste final?”...
Balancei a cabeça, disse sim e sem perceber fui ao atelier.
... Continua