ESCRITO POR SANTINO PEIXOTO:
Um abraço forte e apertado. O professor Francisco abraçou o Kleber. O meu peito ardeu por um tempo. O que será que está acontecendo dentro de mim? Juro, tive vontade de vomitar quando vi essa cena. A Giovanna percebeu e me levou para um lugar mais reservado.
— Que idiota. — roguei andando de um lado para o outro ofegante. — Quem ele pensa que é para abraçar o namorado dos outros assim? O que eu faço? O que é isso que estou sentindo?
— Amigo. Isso é ciúme. E, olha, nunca te vi assim antes. Parabéns. — explicou Giovanna batendo palmas.
— Ei, tá tudo certo? — perguntou Yuri se aproximando. — Percebi que você não gostou do carinha abraçando o Kleber.
— Mano do céu. Estou com medo do Santino ciumento. — disse Giovanna, um pouco mais dramática que o necessário, nos fazendo rir.
— Ei, mana. Posso bater um papo com o Santino?
— Claro, vou paquerar os caras de sunga. O que não são comprometidos e nem gays, claro. — Giovanna afirmou saindo.
Eu não sou um cara ciumento. Na verdade, nunca tive a oportunidade de ter ciúmes. Lembrei do meu primeiro encontro com o Kleber que ele ficou com ciúmes do vendedor de miçangas. Então, é esse sentimento ruim que nos deixa ciumento? Eu não gostei dele. Não gostei nada dele.
— Ei, você sabe que o Kleber é louco por você, né? Eu consigo ver através dos olhos dele. — o Yuri comentou sentando e batendo no lugar ao seu lado.
— Eu sei, Yuri. Porém, eu não gostei de ficar com ciúmes. Nunca estive em outro relacionamento, tenho medo de trocar os pés pelas mãos e machucar o Kleber. Eu vi que ele não gostou de ser abraçado pelo Francisco. — expliquei sentando ao lado do Yuri e respirando fundo.
— Você conhece o carinha?
— Sim. Ele é o professor responsável pelo clube de arte. Agora nem sei como vou olhar na cara dele e...
— Santino. Você não pode fazer nada precipitado. Converse com o Kleber. Vai por mim, a melhor arma para qualquer relacionamento é a conversa. — Yuri me orientou e pediu para eu ter calma nos meus julgamentos, ainda mais quando se trata de outros homens dando em cima do meu namorado.
— Yuri, obrigado. — agradeci o abraçando.
— Agora vamos torcer pelo teu boy? — ele perguntou levantando e me dando a mão.
— Vamos.
Eu não sei como organizar esses sentimentos. É uma mistura de raiva, tristeza e confusão. Cheguei a tempo de assistir a segunda competição do Kleber. De acordo com o André, essa seria a mais difícil, pois, seria de revezamento e em quatro estilos diferentes. Eu não sei o que deu em mim, mas segurei o cartaz para cima e gritei: "VAI MOZINHO!!!".
O meu coração começou a palpitar forte. O juiz deu a partida, porém, meus olhos não fitaram o Kleber, mas procuraram o professor Francisco. Eu ainda não tinha aceitado o fato dele abraçar o meu namorado com tanta confiança. Ainda mais, que ele me segue nas redes sociais e sabe muito bem que o Kleber tem dono, digo, parceiro.
Remoendo o meu ciúme, nem me toquei que o Kleber e seu colega, ganharam a modalidade revezamento. Todos os alunos da Ufam começaram a gritar e celebrar a nova conquista. O Kleber recebeu outro abraço, dessa vez, do líder do clube de natação. Um abraço rápido e respeitador, como deveria ser.
Infelizmente, o Kleber não conseguiu o primeiro lugar na última disputa, mas garantiu o terceiro lugar. No momento da entrega de medalhas, eu deixei a arquibancada e segui para a área onde colocaram o pódio. Queria registrar o momento de entrega das medalhas, o meu mozinho ganharia três, duas de ouro e uma de bronze.
— E aí, campeão? — perguntei me aproximando de Kleber e entregando a mochila dele.
— Não me saí bem na última, mas tá valendo, né, mozão. — disse Kleber pegando a mochila e tirando a camisa do clube.
— O importante é competir. Você se saiu bem, mozinho.
Seguindo a orientação do Yuri, abstrai a situação para não ofuscar o dia do Kleber. Ele treinou e dedicou muito tempo para se preparar. Seria injusto trazer um assunto tão chato minutos antes da entrega das medalhas. Apenas respirei fundo e usei o Santino ator da "Malhação".
Por causa do clima, que mudou de uma hora para outra, os atletas foram chamados para o Pódio. O coordenador dos jogos estudantis entregou para o Kleber três medalhas. Ele estava tão fofo e brilhante. Rindo, o meu namorado levantou as medalhas na minha direção e consegui registrar o momento.
Eu não me orgulho do que fiz. Eu peguei a foto que acabei de tirar e publiquei no meu Instagram com a legenda: "O dia do mozinho ganhar medalhas. Parabéns, meu atleta" e marquei o Kleber. Eu sou assumido, o Kleber também, inclusive, já tenho fotos no perfil dele, porém, essa imagem em questão postei como uma afronta ao Francisco. #chupaessaotario.
Com as medalhas em mãos e uma parabenização do coordenador do curso de Educação Física, o Kleber ganhou um dia maravilhoso e o seu sorriso era tudo o que importava para mim. Afinal, para um atleta o reconhecimento é importante, ainda mais em um caso parecido com o do Kleber, um jovem que precisou desistir do esporte por causa de uma doença.
O Zedu precisou ir embora mais cedo, então, o Yuri aproveitou o momento para nos levar para a casa de um amigo dele. O apartamento era no Centro da cidade e ficava em cima de um estúdio fotográfico. O dono do apartamento se chamava George e era casado com o Jonas, os dois eram ursos, um pouco mais velhos que nós, mas ursos lindos.
— Então, Jonas e George. Esses são Santino, Kleber, André e Enzo, eles são amigos da Giovanna.
— É um prazer receber vocês. — afirmou George. — Vocês podem sentar, por favor. Yuri nos pediu para sediar uma reunião em casa, então, preparamos alguns belisquetes.
— Tem algo com queijo de búfala? — perguntou Giovanna indo em direção à mesa do lanche. — Adoro enroladinho de salsicha.
— Ignorem a Giovanna. — pediu Yuri, limpando a garganta e pedindo para nós sentarmos. — Bem, gente. Eu não sei nem por onde começar, mas...
— Fala logo, Yuri. Estou curioso. — soltou Jonas curioso para saber qual era o anúncio do Yuri.
— Calma. Tem mais gente para chegar.
De repente, a companhia tocou e outros amigos do Yuri chegaram. Logo reconheci alguns deles de fotos antigas do Yuri. Eram três rapazes e duas garotas, que se chamavam Brutus, Lucas, Mundico, Ramona e Luciana.
Eles, aparentemente, conheciam os anfitriões, então, a reunião deu uma pausa e seguimos para o lanche. O Kleber, diferente de mim, fez amizade com todo mundo. Ele conseguia manter uma conversa sem qualquer problema. O Yuri me apresentou para os seus amigos do ensino médio. Eles foram gentis comigo, apesar do meu nervosismo e falta de traquejo social.
A Giovanna contou várias histórias embaraçosas sobre os amigos do irmão. Como, por exemplo, o namoro fracassado entre Brutus e Ramona, o noivo de Mundico que era seu inimigo e quase o matou, além de citar a fase "trisal" da Luciana. Eita, fiquei até com medo de contar meu segredos para essa fofoqueira.
O Kleber trouxe para mim um prato com algumas comidas. Ele tirou todas as azeitonas de uma pizza, pois, eu não sou fã de azeitona. Outro convidado surpresa se juntou à reunião do Yuri, um outro urso que se chamava Helder. Ele era uma força da natureza. Usava uma espécie de túnica e um cabelo no estilo black power.
— Menina, nunca vi tanto jovem bonito reunidos em um só lugar. Qual é o plano, irmãs, vamos sugar a juventude deles? — questionou Helder de uma forma irônica.
— Senta gay. O Yuri tem um anuncio para fazer. Eu já estou me mordendo de curiosidade. — disse Jonas cruzando as pernas e pedindo para Yuri começar a contar o pedido que tinha.
— Bem, velhos amigos...
— Teu rabo! — gritou Hélder cortando Yuri e fazendo todo mundo rir.
— VELHOS AMIGOS! — ressaltou Yuri para tristeza de Helder. — E novos amigos. Bem, alguns de vocês sabem da minha história com o Zedu. Não foi fácil, mas no fim, a gente conseguiu e estamos juntos há anos. E sinto que o grande momento chegou. Eu quero pedir o Zedu em casamento e quero pedir a ajuda de vocês.
Que fofo! Eu não acredito que vou fazer parte do pedido de casamento do Yuri. Eu nem sei o que, mas já estou adorando. Todo mundo foi parabenizar o Yuri, que se emocionou e chorou para a alegria de Giovanna que filmava tudo. A partir daquele momento, nós nos tornamos a operação PCYZ (Pedido de Casamento do Yuri e Zedu), de acordo com o Helder.
O meu celular apitou uma mensagem do Sérgio, na verdade, um áudio, então me afastei para ouvir direito. Ele queria me convidar para jantar, porém, acabei negando, pois, a galera queria comemorar a decisão do Yuri. Antes de guardar o celular no bolso, olhei o Instagram e vi que o professor Francisco curtiu a foto do Kleber que postei mais cedo.
— Que audácia desse...
— Mozão, a galera já está de saída. Vamos nos encontrar no bar. — avisou Kleber me assustando e quase fazendo o celular cair da minha mão. — Está tudo bem? — ele perguntou pegando no meu ombro.
— Hum. — respondi.
— Santino.
Santino. Porquê o Kleber me chamou de Santino? Tá bom, eu sei que esse é o meu nome, mas fazia tempo que ele não me chamava pelo nome. O Kleber está esperando por uma resposta, mas eu não sei o que dizer. Será que ele vai me achar um moleque por ficar com ciúmes de um abraço?