A menina do marketing

Um conto erótico de Phill Door
Categoria: Grupal
Contém 4305 palavras
Data: 01/04/2021 21:03:01

Viajar a negócios é, em geral, sempre muito bom. Ainda que frequentemente seja cansativo, permite uma mudança de ares, conhecer gente nova, quebrar a rotina. Tem gente que acha isso um sacrifício imposto pela empresa, uma obrigação. Em geral, tenho que assumir que eu quase pagaria para isso. Não raro, a vida me presenteava com experiências muito boas.

O cliente era novo, a empresa de porte médio para grande, o projeto tinha visibilidade. Assim, quando surgiu a solicitação de uma série de reuniões presenciais para apresentarmos a nova estratégia de divulgação deles, não houve surpresa alguma. Internamente escolhi o pessoal que iria me acompanhar na viagem à Porto Alegre, sede do cliente, e ficamos aguardando apenas a definição de datas por parte deles.

As coisas começaram a ficar interessantes quando, conversando sobre a temporada de calor que se abatera sobre o sul do país, veio o convite do presidente da empresa:

- “Marcos, venha para cá na próxima 5ª feira, no final da tarde.”, começou ele. – “Vocês terão a 6ª feira inteira para a apresentação de vocês. À noite sairemos para jantar, e no sábado levo vocês para um passeio de barco pelo Guaíba. Domingo cedo vocês pegam o voo de volta, e ainda podem aproveitar o dia em São Paulo, se é que dá para fazer isso aí nessa cidade.”

- “Por mim, perfeito, Dr. Rodrigo. Vou validar essa agenda com a minha equipe, e confirmo até o final da tarde.”, respondi, pensando em como meus dois assessores na viagem reagiriam, mas achando que a proposta estava ótima.

- “Não tem que validar nada, Marcos... não me enrole. Você manda ou manda nessa equipe?”, perguntou, decisivo. – “Não aceito um ‘Não’ como resposta. Pelo que estamos pagando para a sua empresa, esse prazer é o mínimo que vocês têm que me proporcionar.”, concluiu.

“Isso por que não é ele que vai ter que justificar essas diárias a mais para o Financeiro”, pensei, mas resolvi que valia encarar a briga. Até porque, imaginar a Dani em um biquíni a bordo de uma lancha era mais incentivo do que qualquer um precisaria para comprar a briga que fosse.

Acertos feitos, embarcamos para Porto Alegre na quinta-feira a tarde, dispostos a iniciar uma jornada que prometia ser de muito retorno para ambas as empresas. No time, eu e dois assistentes. Alex, designer líder do projeto, e a Dani, assistente de Marketing responsável por comunicação e mídias sociais.

Não poderiam ser mais opostos... Alex era algo próximo a um ser sociável, mas não muito. Fechado, arredio, sem graça, embora fosse ótimo profissional, se a viagem tivesse que ser somente com ele eu teria escolhido de bom grado ser açoitado amarrado a um poste, como alternativa. Tanto isso era verdade que o financeiro nem estrilou quando eu pedi quartos separados no hotel. A fama dele o precedia.

Já a Dani tinha o problema de parecer ter saído de um clichê de filme. Loira, alta, esbelta, tremendamente bonita e, para desespero de todo o time masculino, absurdamente sexy, ela roubava a atenção por onde passava. Eu a levaria nessa viagem, para impressionar o cliente, nem que ela tivesse o QI de uma pedra. Mas, para deleite de todos, ela era exatamente o oposto. Muito capaz, articulada e inteligente, ela mesclava suas opiniões com criatividade e charme em uma medida perfeita, a tornando uma peça fundamental na equipe. Assim munido de recursos, lá fui eu para mais uma jornada em terras distantes.

Assim que desembarcamos, no taxi a caminho do hotel, recebi uma mensagem no celular: - “Espero que tenham feito uma boa viagem... Aprontem-se, apanho vocês no hotel às 19:00 para um drinque de boas-vindas. Rodrigo.”

- “É pessoal... Parece que nosso compromisso foi adiantado.”, falei, após ler a mensagem. – “Banho e se preparar para começarmos a ser sabatinados. O cliente que nos levar para um chopp.”

- “Mas eu preciso revisar uns detalhes do site... Eu pensei em pedir um lanche no quarto, e trabalhar à noite.”, começou o Alex, tentando escapar da árdua tarefa de interagir com outros espécimes semelhantes.

- “Larga a mão, Alex... Já revisamos tudo, três vezes. Se o cliente quer beber, vamos beber. Que mal há em aproveitar a viagem um pouco?”, contemporizou a Dani, ganhando mais uns pontos comigo, se é que isso era possível.

Chegamos no hotel, cada um foi para o seu quarto tomar um banho e descansar um pouco, e dez minutos antes das oito estávamos lá embaixo esperando nosso anfitrião. Em breve um luxuoso sedã alemão azul-marinho parou, e o bem sucedido empresário gaúcho fez questão de descer para nos cumprimentar. De um outro carro parado atrás dele vieram três pessoas da sua equipe, nos cumprimentando de modo festivo. Nos dividimos entre os dois carros, e para desespero do Alex ele foi obrigado a ir sozinho no carro dos diretores, enquanto eu e a Dani entrávamos no carrão do Dr. Rodrigo.

Seu motorista nos levou a uma região badalada de Porto Alegre, com uns restaurantes e bares muito descolados. Entramos em um com janelas imensas e muito verde compondo um cenário intimista, e foi impossível não reparar na reação dos gaúchos com a Dani. Já naturalmente alta, em cima do sapato de salto alto que ela escolhera, a loira estava de parar o trânsito. Sua calça jeans agarradíssima parecia tatuada em suas pernas e bunda, e a blusa de muito bom gosto rendada que ela escolhera mal continha a forma abusada dos seus seios, diretamente apontados para a frente.

Os diretores tentavam ser discretos, mas era até engraçado reparar no olhar deles para ela, seguido de cochichos e trocas de olhares. Com o Dr. Rodrigo se derretendo em atenções a ela, e regado a muitos chopps, a noite transcorreu de maneira muito gostosa, proporcionando a integração que os gaúchos haviam programado.

Enquanto esperávamos os carros chegarem, entretanto, reparei que estrategicamente o Dr. Rodrigo havia ficado para trás, juntamente com a Dani, e conversava algo de modo reservado com ela. “Até eu, que sou mais bobo...”, pensei, entendendo completamente o cliente assanhado. Eles nos deixaram no hotel, prometendo mandar um carro nos buscar pela manhã, e entramos no saguão, cansados mas satisfeitos com o início da viagem.

- “Cacete, meu... que papo mole.”, reclamou o Alex, esperando a chave do seu quarto. – “Puta gente chata, eu não via a hora de acabar isso.”, completou, com a graça de quem pisoteia um jardim bem cuidado.

- “Eu gostei deles...”, a Dani falou, com sua graça habitual. – “Adoro o sotaque deles.”

- “Eles estavam sondando a gente, tentado conhecer quem são as pessoas que irão tocar esse projeto tão importante para eles.”, contemporizei. – “E acho que fizeram isso de uma maneira super bacana. Podíamos tomar uma saideira e planejar a abordagem de amanhã, cedo... que tal?”, convidei, olhando para o bar do hotel, bastante convidativo.

- “Nem a pau, meu... Estou pregado, preciso descansar. Amanhã vai ser foda...”, pregou o Alex, seguido por um “Boa noite. Vocês deviam ir dormir também.”, quase se esquecendo de quem era o chefe e quem era o funcionário ali.

- “Eu topo!”, falou a Dani, já andando em direção ao bar.

Enquanto eu agradecia a deus pela atitude dela, apreciando a visão enquanto ela atravessava o saguão em direção ao bar, pensei que, embora eu jamais tivesse conseguido avançar nas minhas intenções com ela, talvez aquela viagem pudesse, apesar do Alex, proporcionar uma oportunidade. Embalado pelos chopps já ingeridos, me sentei ao lado dela no bar.

- “E aí, chefe? Qual a sua avaliação?”, ela perguntou, enquanto esperávamos pelo barman.

- “Linda, simpática e inteligente.”, respondi, cravando o olhar nela, sorrindo de modo meio cafajeste.

- “Ok.”, ela respondeu, depois de uns segundos de um constrangedor silêncio. Abafando um riso, ela respondeu, olhando para baixo: – “Anotado. Mas, e quanto ao encontro com nosso cliente, que, não vamos perder de vista, é o que nos traz aqui.”, ela falou.

Se ela tivesse dito isso de modo sério, seria um banho de água fria. Mas ela falou sorrindo, e mexendo no cabelo. Também anotei isso, mas tentando não pesar demais em cima dela, abracei a abordagem de trabalho e gastamos uns minutos falando de trabalho. O barman finalmente nos deu atenção:

- “Para mim, um Buchanans, em um copo baixo, com gelo. Para a dama, um mojito.”, falei, sem olhar para ele, olhar cravado nela, sorrindo.

- “Como você sabe?”, ela perguntou, corando.

- “Percepção, Dani...”, falei, tentando provocá-la. – “Eu reparo nas pessoas...”

- “Isso ainda não explica como você sabe que eu gosto de mojito. Eu não fico bebendo isso no escritório.”, ela disse, realmente interessada.

Ficamos uns minutos nesse joguinho, enquanto o barman preparava nossas bebidas, comigo provocando-a. Disparei:

- “Proponho uma troca de respostas... Uma pergunta de cada um, resposta 100% honesta.”

- “Nem a pau... Ainda não estou bêbada o suficiente.”, ela respondeu, de novo mexendo no cabelo.

- “A noite é uma criança... a gente chega lá.”

- “Chefe... Se eu não te conhecesse eu iria pensar que você está tentando se aproveitar de mim.”

- “Jamais... Se eu tivesse essa chance, eu a trocaria pela oportunidade de você se aproveitar de mim.”, respondi.

- “Opa!!! Ai sim... Eu pediria um aumento.”, ela falou, rindo muito e balançando aqueles seios maravilhosos dentro da blusa fina.

- “Você está certa... Não bebemos o suficiente, ainda.”, respondi, melancólico, e arrancando mais risos dela.

A noite foi se aprofundando, com muitas piadas mais, algumas confissões pessoais aqui e ali, várias cantadas minhas sem serem plenamente refutadas por ela, e vários drinques a mais. Quando pedimos a saideira o assunto virou para o Alex, e seu jeito para lá de estranho.

- “O meu único medo é, no passeio de barco no sábado, ele aparecer com um biquíni igual ao que você deve ter trazido...”, falei, tentando arrancar algo dela. Ela riu alto, antes de responder:

- “Na real? Acho bem pouco provável. Aliás, definitivamente acho melhor não.”, ela disse, mordiscando o canudo do seu terceiro mojito. – “Ia ficar muuuuuito estranho. Kkkkkkk”

- “Nossa. Tão pequeno assim?”, adivinhei.

- “Isso você vai ter que esperar para ver.”, ela falou, fazendo charme. – “Ainda não decidi se vou usar mesmo. É muito pequeno, não condiz com um ambiente de trabalho.”

- “Esquece isso.”, falei, quase desesperado, imaginando a cena na minha cabeça. – “Um barco não é um ambiente de trabalho.”, apelei.

- “Ah, não? E é um ambiente de que, então?”, ela provocou.

- “De sedução...”

- “Sério, Má? Será que o Dr. Rodrigo está tentando me seduzir?”, perguntou, canudo na boca, cabeça ligeiramente abaixada e aqueles grandes olhos sapecas me secando, enquanto os meus secavam o seu decote.

- “O quê nos leva à troca de perguntas iniciais, agora que já bebemos...”, falei.

- “Você já ficou com alguma das meninas do escritório?”, ela disparou, na lata.

- “Sim. Algumas vezes. Mas não digo quais, como, onde ou por quê.”, respondi, tentando valorizar o que ela obviamente já sabia, mas dando a sensação de discrição que, obviamente, ela procurava.

- “O quê o Rodrigo cochichou no seu ouvido, na saída do restaurante?”

- “Ele não cochichou...”, ela falou, divertida. – “Você não perde nada, hein... Me parabenizou por namorar um cara tão bacana como você.”, falou, olhando fixamente para mim, medindo minha reação.

- “E o quê você respondeu?”, perguntei, interessado.

- “Ai já são duas perguntas, Sr. Marcos.”, ela falou, pondo o copo no balcão e se levantando do banquinho, caminhando em direção aos elevadores. – “Obrigada pelos mojitos.”

Sai atrás dela, a alcançando bem quando ela entrava em um elevador, apertando o botão do nosso andar. Assim que as portas se fecharam parti para cima dela, levantando seus braços, grudando seu corpo contra a parede e beijando a sua boca. Com os braços presos, ela se limitou a levantar uma perna, enroscá-la em mim me puxando de encontro a ela enquanto nossas bocas duelavam. Soltei uma das suas mãos, deslizando a minha própria pela lateral do seu corpo, até a base dos seus seios. O beijo ardente durou até o elevador finalmente chegar em nosso andar. Para minha frustração, ela me beijou rapidamente e me dispensou: - “Boa noite, Marcos... Sugiro que você tome um banho gelado, agora... Eu vou!”. Disse, indo em direção ao seu quarto, mas olhando de volta para mim antes de entrar porta adentro.

Nem preciso dizer como foi aquela noite. Várias vezes sai na varanda do quarto buscando me refrescar e arejar meus pensamentos, e mal consegui dormir com a imagem tentadora da loira deslumbrante devidamente nua na minha cama. Finalmente, o dia amanheceu e descemos para o café. Na fila do buffet para nos servirmos, ela disparou, na frente do Alex:

- “Nossa, chefe... você está preocupado com a apresentação, hoje? Está com olheiras, parece que não dormiu.”, falou.

- “Ao contrário...”, respondi, olhando em frente sem encará-la. – “Eu não tenho dúvidas sobre o quê irá acontecer. A expectativa é deliciosa.”

- “Eu acho que você devia abaixar o giro um pouco... As vezes expectativa demais pode acabar gerando frustração.”

O Alex olhou para nós com uma cara de quem tentava entender a conversa, e eu olhei de volta para ele pensando nele vestindo o biquíni que eu imaginava que a Dani tinha levado. Definitivamente, a sexta-feira estava começando estranha.

Acabamos o café, e a Dani disse que iria subir para se trocar, o quê chamou a minha atenção e do Alex, que obviamente já havíamos descido prontos para o trabalho. De qualquer maneira sentamos no saguão fazendo hora até o carro da empresa vir nos buscar, quando finalmente a Dani desceu. Após uns trinta segundos olhando para ela, sem me mexer nem falar nada, percebi que eu estava fazendo papel de babaca.

A loira apareceu a bordo de um look composto por uma mini saia preta, no meio das suas deliciosas coxas, devidamente cobertas por uma muito elegante meia calça. Vestia um blazer também preto, por cima de uma blusa de cetim azul marinho que fazia seus seios parecerem um presente dos deuses, balançando sensualmente ao ritmo do seu caminhar. Por uns quinze segundos eu considerei a ideia de correr para o banheiro do saguão e render (outra) homenagem a ela, tão sedutora o conjunto a deixava.

Desnecessário dizer que, na empresa, a reação foi a mesma. Acho, sinceramente, que o banheiro anexo à sala de reuniões deve ter tido fila para renderem a tal homenagem que mais cedo eu pensei. A apresentação do projeto correu maravilhosamente bem, não fosse pelo assédio quase descarado dos gaúchos para cima da Dani, a cada pausa para o cafezinho. Mas, fomos vencendo as etapas e, ao final da tarde, estávamos todos felizes com o que fora apresentado.

- “Parabéns, Marcos... Excelente apresentação, estamos realmente empolgados com esse projeto.”, o Dr. Rodrigo me cumprimentou, com um abraço afetuoso. – “Vocês mereceram o jantar de hoje. Vão conhecer uma churrascaria de verdade!!!”

Quase tive que dar um pesco-tapa da nuca do Alex, tal a revirada de olhos que ele deu. Felizmente todos os homens da sala estavam olhando para a Dani abraçando o Dr. Rodrigo, e só eu reparei a manifestação super-social do meu funcionário. Fato é que, ainda antes das 6 da tarde, rumamos todos para a tal super churrascaria gaúcha, nos juntando ali a várias esposas dos diretores e também a Lígia, esposa do Dr. Rodrigo.

A tal churrascaria era muito legal, super bem servida, mas nada que um bom paulistano não tenha visitado já nas nossas famosas assadoras de carne de 1ª linha, por aqui. O bom, de verdade, é que a conta era por conta deles. Isso, e as esposas, claro. Um verdadeiro desfile de loiras de olhos azuis, lindas, altas, educadas e todas, sem excessão, absolutamente deliciosas. Era um verdadeiro desfile, a ponto de me fazer sussurrar para a Dani, em determinado momento:

- “Se eu vier trabalhar aqui, minha única chance de crescer na empresa e me casando com você!”

- “De onde você tirou isso?”

- “Pow, meu... todo diretor aqui é casado com uma deusa...”, falei, fazendo ela se engasgar com o vinho e começar a tossir, compulsivamente.

Após uns tapinhas providenciais nas costas dela, tendo atraído a atenção de um mutirão de esforçados socorristas de plantão querendo ajudar, fui devidamente fuzilado pelo olhar dela, mas a noite seguiu em paz. Ou algo próximo a isso. A um determinado momento, o Alex falou para mim:

- “Junto com o projeto nós estamos entregando a Daniela para eles? O porra do chefão está comendo ela com olhos, na maior caruda... Não sei como a dona ao lado dele não se tocou.”

Após um merecido chute por baixo da mesa para ele se calar, meu olhar encontrou-se com o da tal ‘dona’, a Lígia, esposa do chefão, e o arrepio que percorreu minha espinha quase me fez esquecer de onde e com quem eu estava. O olhar dela era, para dizer (muito) pouco, paralisante. Rapidamente desviei o olhar, certo de que 100% das pessoas na mesa haviam visto aquilo.

Finalmente, como a promessa de passeio de barco no dia seguinte nos obrigava a um horário meio madrugador, vários casais começaram a ir embora. Eu sabia que nem todos ali presentes haviam sido convidados para o rolê do dia seguinte, mas tentar imaginar quais daquelas deusas estariam de biquíni no dia seguinte foi um exercício rejuvenescedor, àquela hora e após aqueles drinques todos. Mas o Dr. Rodrigo era duro na queda, e sabia fazer o papel de anfitrião (e no caso, anfitrião galanteador):

- “Vamos embora daqui...”, disse sinalizando para o seu diretor financeiro, acompanhando de uma das únicas morenas na mesa além da própria Lígia, para resolver o ‘detalhe’ que era aquela continha básica, pensei eu. – “Marcos, você aprecia um bom charuto?”

- “Não, Dr. Rodrigo... Ainda não fiquei inteligente o suficiente para aprender esse gosto.”, respondi, tentando não parecer tão idiota quanto pareci.

- “Ahaha... boa resposta. Preciso ficar esperto com você. É um sacana com as palavras.”, ela falou, puxando a cadeira para a Lígia se levantar. – “Vamos mesmo assim, para um charuto de saideira. Eu fumo, você me acompanha em um bom Buchanans de fim de noite. Você não deve fumar, também, mas toma um uísque, não é?”, falou, se dirigindo ao Alex, com o tom de voz que usaria para trocar umas palavras com um arbusto no meio do caminho.

- “Bem... Sim... quero dizer, não... quer dizer, eu ainda preciso fazer umas coisas, e...”, se enrolou o Alex, manifestando sua aversão ao contato com outros indivíduos da sua mesma espécie.

- “Não tem problema... Sérgio...”, falou, rapidamente chamando seu diretor financeiro, que acabara de passar o cartão para pagar a conta. – “Você poderia deixar o Alex no hotel, por gentileza?”, matando dois coelhos com uma cajadada, ao despachar seu funcionário mais próximo.

Dispensando o motorista, o Dr Rodrigo foi pilotando o seu alemão para a sua belíssima casa, para o tal charuto & drinque de fim de noite, enquanto no banco de trás eu e Dani trocávamos olhares de “E ai? O quê rola, agora?”. De qualquer maneira, eu estava achando ótimo. Não me incomodava nem um pouco bancar o namorado da loira, se o cliente achava isso, e para confirmar o fato abracei ela, protegendo-a do frescor causado pelo ar condicionado.

Previsivelmente, a casa do presidente da empresa era enorme, suntuosa, em um declarado estilo europeu presente em cada detalhe. A Lígia logo o enxotou da grande sala de estar, dominada por enormes sofás de couro e uma lareira de tamanho suficiente para assar um búfalo inteiro, dizendo que ele sabia o lugar para seu charuto. Ela ficou na sala, tomando mais vinho com a Dani, e o homem me levou para seu escritório, espaçoso e bem servido com dois sofás grandes.

Regado a um excelente uísque e às baforadas azuladas do seu charuto, falamos por cerca de uma hora sobre assuntos muito diversos do trabalho, começando pela sua fascinação pela 2ª guerra, passando por filmes e literatura. De repente, já lá pelas tantas ele disparou, finalmente:

- “A Dani é simplesmente espetacular. Profissional e pessoalmente.”, disse, como quem avaliava um belo carro. – “Como vocês estão? Digo... Quais os planos para casamento?”

- “Como?”, respondi, sem pensar, de modo instantâneo, e só muito tempo depois entendendo que a pergunta fora feita assim, de propósito e de sopetão para justamente avaliar minha primeira reação. – “Não é algo em nossa alça de mira, nesse momento...”, respondi, usando um jargão militar e garantindo que, com essa resposta, eu passaria em qualquer polígrafo... Não era mentira, afinal de contas.

- “Bah!”, disparou, me olhando de soslaio, e claramente avaliando cada reação minha. – “Vocês paulistas e essa mania de ‘juntarem os trapos’, como vocês dizem... Uma mulher certa merece uma decisão certa.”, concluiu, professoral.

- “O senhor está certo.”, falei, levantando o copo em direção a ele, em um brinde solitário.

- “É claro que estou...”, ele disse, pondo mais uísque no meu copo, e me dando a impressão que estava tentando me derrubar. – “Três casamentos me ensinaram isso.”

Pensei na Lígia, e na minha impressão (correta, agora eu tinha certeza) de que ela devia ser uns 30 anos mais nova do que ele. Talvez 35. Observei que, embora ele parecesse bastante simpático comigo e bastante entrosado na conversa, não parava de olhar o celular, brevemente, lendo recados que chegavam sistematicamente. Em um dado momento ele anunciou que o Alex havia sido deixado no hotel, gastando alguns minutos para dizer que ele parecia “muito imaturo para um projeto tão complexo”, de certa maneira dando um recado que fiz questão de anotar mentalmente: - “Não mais envolver o alienígena em contato direto com o cliente.”

Mas, virava e mexia o assunto voltava para o terreno dos relacionamentos, com ele dando dicas de porque seus relacionamentos passados haviam falhado. Ele praticamente pediu para que eu fizesse a próxima pergunta, e embalado pelo 18 anos que, mais uma vez estava acabando em meu copo, disparei:

- “Qual o segredo então, Dr. Rodrigo, para ser feliz de verdade com uma mulher, e ainda mais uma mulher tão especial como a Lígia? Inteligente, culta, linda, tão jovem...”, perguntei, afundando na poltrona de couro, a espera de uma eventual explosão.

Ele se aproximou muito de mim... Em excesso, até, eu diria. Sentou-se no grosso braço de madeira da minha poltrona, e a centímetros de mim, disparou:

- “Essa é a pergunta de um milhão de dólares, Marcos... Você é um rapaz esperto, brilhante, eu diria. Teria sucesso aqui na empresa. Encare isso como um convite para o futuro, se quiser. E eu vou te dar a resposta de um milhão e meio de dólares...”, ele falou, professoral, de um jeito quase paternal. – “Aventura!”

- “Isso é simples demais, Dr. Rodrigo, até mesmo para mim. Escalar uma montanha nunca salvou um casamento... a menos, é claro, que um dos dois empurre o outro montanha abaixo.”, falei, um recente filósofo criado às custas de um terço de uma garrafa que custava mais do que eu gastaria em um mês de bebedeiras.

- “Ah ah ah ah ah…”, ele explodiu em gargalhadas. – “Eu devia ter te conhecido no começo dos meus dois primeiros casamentos... Puta ideia... e eu levei aquelas duas megeras para Mont Blanc, na França. Puta oportunidade perdida...”, ele ria sem parar, maquiavélico às custas do meu pileque. – “Você é fantástico, o convite está de pé, DE VERDADE.”, frisou. – “Você tem que trabalhar para mim, ainda.”

Bem, pelo menos a viagem serviria para alguma coisa, afinal de contas. Não sei se aquele frio todo do Sul me faria bem, mas com todas aquelas loiras maravilhosas por lá para procurar aconchego... Bem, era uma ideia, eu não podia negar.

- “Bem, a ideia da montanha é ótima, tenho que reconhecer, mas podemos pensar em algo menos ‘policial’, por assim dizer...”, ele falou, vindo com aquela maldita garrafa maravilhosa em minha direção, outra vez. – “Você já praticou swing, Marcos?”

Eu demorei umas quatro horas para processar todas as informações (e imagens) que vieram à minha cabeça, ao mesmo tempo. É verdade que essas quatro horas (para mim) devem ter durado uns três segundos, mas tenho certeza de que o tempo parou durante esse raciocínio. Eu só via aqueles grandes olhos verdes me fitando, divertido. Finalmente, quando juntei alguma coisa inteligível para dizer, ele mais uma vez se antecipou...

- “Antes que você responda, bobagens... Eu perguntei sobre swing.”, falou, mais uma vez professoral, enchendo pela enésima vez meu copo. Eu já estava quase pedindo a minha cota daquilo em reais, ao invés de em mililitros. – “Não falei de orgias, de garotas de programa, de fim de festas bêbados, de gente que mal se conhece... Tudo isso é muito bom. Aquele barco de amanhã que o diga, mas eu sei que nem o barco e nem você, que ouviu isso agora, dirão.”

- “Nos termos em que o senhor está perguntando, minha resposta tem que ser não.”, respondi, honesto.

Nunca havia, de fato, entregue minha namorada, noiva ou mulher (as quais, só a título de informação, jamais as tive) para outro homem comer na minha frente. Mal e mal, ficantes, e como ele mesmo dissera, em geral essas orgias estavam muito mais ligadas à bebedeira do que a qualquer outra coisa.

- “Mas você acha que passaria por essa experiência, se houvesse a oportunidade, Marcos?”

Curiosamente, antes de embarcar no aeroporto de Guarulhos rumo ao Sul, pensando sozinho na sala de embarque, eu achava que estava preparado para as perguntas mais desnorteadoras, que mais impacto fossem causar sobre mim, para as quais nem de longe eu teria uma resposta razoável, e pensei firmemente que estaria pronto para todas elas. Naquele momento, com cara de babaca sem ação, descobri que não.

- “Venha, Marcos... Eu acho que nós dois poderíamos nos juntar às nossas companhias, afinal...”, disse ele.

Só então me dei conta que já havia tempo que ele havia apagado o charuto. Com um sorriso satisfeito, Dr. Rodrigo me conduziu para a grande sala de estar da casa, agora à meia-luz, iluminada apenas pelo fogo na lareira e alguns candelabros pendurados estrategicamente nas paredes.

Assim que passei pelo beiral da porta, olhado para as duas deusas no centro da sala, de pé, novamente meu coração parou de bater por uns segundos.

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Comentários

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Boa tarde!

Quando que sai a segunda parte desse conto que deixou a todos com vontade de saber o final da istoria???

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Olá, Cialis. Venho novamente pedir a continuação do conto. É um bom enredo, personagens e situações instigantes, mesmo não havendo a ainda consumação, há a espectativa da mesma. Sem falar da tensão entre os dois personagens principais até aqui. Continue o conto, que espero vire uma série. Obrigado por compartilhar sua criatuvidade.

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Olá Zamis, obrigado pelo comentário.

Vou finalizar a continuação, e nos próximos dias publico, ok.

Estive escrevendo outros textos, e realmente esse aqui ficou sem a continuidade.

Um abraço.

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Eu é que agradeço imensamente pela atenção!!! E aguardo, ansiosamente, pela continuidade desde e, se me permite o abuso, da serie "A indevida". Novamente, muito obrigado.

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Ótimo conto e espero a continuação... Obrigado por voltar a escrever suas estórias. Você escreve muito bem, bons enredos e bom português também, que é muito importante. Mais uma vez, obrigado e, não demore tanto na continuidade do conto...

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Muito bom! E bem vindo de volta. Aliás, contando cm você já são pelo menos uns três bons autores recentemente retornando depois de longas ausências. Quem sabe pra ajudar a recuperar o nível do site...

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