POR ESSE AMOR - EP. 32: CONTO DE FADAS

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 3869 palavras
Data: 10/04/2021 22:45:56
Última revisão: 10/04/2021 22:47:55

ESCRITO POR SANTINO PEIXOTO:

Tenho uma lembrança muito presente da minha infância, o dia em que o meu pai foi embora de casa. Logo, liguei o abandono parental com o meu comportamento, afinal, a última coisa que ele falou foi: "Esse teu filho é afeminado demais, Úrsula".

Por esse motivo, na minha cabeça, o casamento virou algo superestimado. Cresci e muita coisa mudou, principalmente, a opinião sobre o casamento. Afinal, hoje estou ajudando um amigo na organização de uma festa de noivado.

— Você acredita em contos de fadas? — Yuri me perguntou, enquanto ajustávamos o computador para projetar as fotos deles.

— Oi? — respondi sem entender o questionamento.

— Contos de fadas. Você acredita neles?

Nossa. Nunca me peguei pensando no assunto. Eu acredito em contos de fadas? Crescemos com a ilusão de que contos de fadas podem ser reais, de nada Disney. Na verdade, não consigo idealizar um "felizes para sempre", quando o meu alicerce foi totalmente quebrado.

O Yuri olhava para mim de forma estranha, ele ainda esperava a minha resposta, porém, o meu 'tico-teco' entrou em colapso e pensei em várias formas de responder.

— Eu acho que nós construímos o nosso feliz, mesmo que ele não seja para sempre, Yuri. Como um cara, gordo, sempre idealizei um príncipe encantado, mas fui vendo os meus amigos namorando e sofri muito bullying. Então, achei que a vida nunca poderia se igualar a um conto de fadas. — disse passando o conteúdo de um pen drive para o computador.

— Entendi. Eu sinto muito, Santino. Assim como você, eu também sofri muito preconceito, porém, tive a sorte de ter irmãos e a tia Olívia, eles seguraram muitas barras por mim. — Yuri contou pegando no meu ombro.

Se a minha vida fosse um conto de fadas, em qual categoria ela se enquadraria? Bem, não me considero uma dama em perigo como, por exemplo, a Aurora (Bela Adormecida), Cinderella (Cinderella) ou a Bela (A Bela e a Fera).

Mas, também, não me imagino como uma princesa empoderada igual à Mulan ou Merida. Talvez, eu seja um pouco Elsa, ela sempre foi forçada a não usar seus poderes e esconder quem realmente era.

Enfim, a minha atenção se voltou para Giovanna que se tornou uma ditadora. Mandava e desmandava em todos os envolvidos na organização do noivado.

— Ei, mocinha! — exclamou Giovanna chamando a atenção de uma das moças da ornamentação. — Essa flor deveria ser vermelha. — apontando para um arranjo de flores em uma das mesas.

— O Seu Yuri pediu uma Dália-branca. — explicou a moça.

— Desculpa. — pedi pegando nos ombros da Giovanna e a levei para uma área mais afastada. — Amiga, menos. Não quero estragar a festa do Yuri.

— Estou nervosa. Você sabe que quando fico nervosa me torno um ser horrendo. — disse Giovanna tentando roer às unhas, mas sendo impedida por mim.

— Você pagou caríssimo nesta obra de arte, não vai estragar não. Vamos nos arrumar. — pedi a levando para área interna da minha casa.

***

AMORZINHO:

— Já fiz 3 gols para você. (Selfi no campo de futebol)

AMORZÃO:

— Que sexy! Acho que poderíamos usar essa roupa de jogador, hein.

AMORZINHO:

— Olha. Podemos usar isso hoje depois da festa, mas vou colocar para lavar kkkkk

AMORZÃO:

— Eba!!! Vou dar uma canseira no Amorzinho!

AMORZINHO:

— Promessa é divida. Até daqui a pouco. Te amo.

***

O meu príncipe encantado é perfeito, não posso mentir. O Kleber me completa de todas as formas possíveis. A gente possuía uma sinergia incrível, dentro e fora da cama.

Fazia tempo que não via a minha casa desse jeito. Pessoas por todos os lados, incluindo, a família do Yuri e Zedu que chegaram cedo para ajudar na organização da surpresa.

A mamãe, nem preciso dizer que adorou, né. Ela socializou com todo mundo e até pediu conselhos jurídicos da Olivia, tia do Yuri.

O jardim de casa ficou lindo. O Yuri optou por uma decoração rústica, intimista e acolhedora. Todos os itens ornaram de forma competente. Cada mesa contava com um arranjo de flores brancas e velas aromatizadas.

Já o palco montado pelos meninos ganhou um tapete vermelho e, atrás dele, um telão montado com a ajuda de uma estrutura de ferro. Antes, testamos os vídeos e a música também.

Na mesa do bolo, que sobreviveu ao "cagaço" do Sérgio, a decoradora espalhou vários artigos vintages como relógios, máquina de escrever, câmeras fotográficas antigas, livros e malas envelhecidas para criar algo aconchegante.

Eles aproveitaram o espaço e criaram um arco de madeira com folhas e na parede várias fotos de Yuri e Zedu, além desenhos feitos por Giovanna e eu, que ficaram perfeitos.

Não imagino como é ser o responsável por dar o primeiro passo para um pedido de casamento. O Yuri estava nervoso, mas não pensava em desistir, quer dizer, segundo ele, a vontade era jogar tudo para o ar e correr para longe.

Pedi para a chef do mal fazer um chá de camomila para acalmar os nervos do meu amigo. Ela serviu em uma xícara e levei para o Yuri que descansava no quarto de visitas.

— Oi, nervosinho. — falei entrando com todo o cuidado para não derrubar a xícara.

— Tino. Faltam apenas uma hora. O Brutus levou o Zedu para se arrumar na casa dele. Eu estou hiperventilando. — Yuri que estava sentado levantou e andou de um lado para o outro.

— Calma. Respira. Yuri, você está prestes a fazer uma bela declaração de amor para o Zedu. Toma o chá e relaxa esse coração. — pedi entregando a xícara para o Yuri. — Me diz uma coisa que te acalma?

— Oasis. A banda Oasis. — ele informou tomando um gole de chá.

— Ok. Oasis. — soltei pegando o celular e entrando em um aplicativo de música. — Qual canção?

— Don't look back in anger. É meio que um hino atemporal para mim.

— Tudo bem. Vamos de "Don't look back in anger". — dei play na canção.

***

Deslize para dentro do olho da sua mente

Você não sabia que poderia encontrar

Um lugar melhor para brincar?

Você disse que nunca esteve

Mas todas as coisas que você já viu

Irão lentamente desaparecer

Então eu começo uma revolução da minha cama

Pois você disse que a minha esperteza havia subido à minha cabeça

Pise do lado de fora o verão esta florescendo

Fique ao lado da lareira

Tire esse olhar da sua cara

Você nunca irá queimar meu coração

Então Sally pode esperar

Ela sabe que é tarde demais

Enquanto caminhamos

A alma dela se afasta

Mas não olhe para trás com raiva

Eu ouvi você dizer

***

A música é linda, não existe outra palavra para defini-la. Aos poucos, enquanto, o cantor entoava a canção, o Yuri foi se acalmando. Realmente, a música pode ser uma terapia competente.

— Essa canção tem um significado muito forte. — comentou Yuri sentando na beira da cama. — Ela fala de rancor, perdão e arrependimento. Eu perdi meus pais muito cedo, Santino. Eles eram maravilhosos, então, usei essa canção como mantra. Olhar para frente, sem se preocupar com os fantasmas do passado.

— Uau, virei fã do Oasis. — comentei sentando ao lado do Yuri. — Você é um cara muito especial. Merece toda a felicidade do mundo. Então, não olhe para trás. Pense na vida maravilhosa que vocês dois vão ter a partir de agora.

— Que festa é essa? — perguntou Luciana entrando no quarto.

— Noivo em pânico. — brinquei levantando, pois, quem ficou nervoso foi eu com a chegada das amigas do Yuri.

— Yuri. Pode parar, não tenta te sabotar não, por favor. — aconselhou Letícia sentando ao lado do amigo e o abraçando.

Ainda bem que outra pessoa apareceu para me ajudar. A Letícia, além de uma ótima amiga conseguia ser linda de morrer, afinal, o que esperar de uma modelo e apresentadora? Ela usou da psicologia reversa para afastar o pessimismo do amigo.

A Ramona não ficava para trás no quesito beleza e simpatia. Elas lembravam as minhas colegas de ensino médio, só que ao contrário das amigas do Yuri, as minhas cagavam para mim (desculpa, Sérgio).

Com o tópico "Yuri em Crise" resolvido, recebi uma mensagem do Kleber. Ele já estava chegando em casa com o Enzo e André. Eles iriam se arrumar no meu quarto, então, fui conferir se estava tudo em ordem, pois, detestava que as pessoas me achassem desleixado.

A mamãe recebeu os meninos na sala. Eles estavam sujos e o André torceu o pulso, por esse motivo, ele pediu ajuda da chef maligna que entendia de primeiros socorros.

Eu já estava arrumado para a grande surpresa, parte dos participantes já tinham chegado, principalmente, as famílias dos noivos. Liberei o quarto para o pessoal e sentei no sofá.

— Santino, a gente pode conversar? — Sérgio me perguntou, mas antes que eu pudesse responder, a Giovanna apareceu e falou que o carinha do bar foi barrado na portaria.

— A gente conversa daqui a pouco. — falei pegando no ombro do Sérgio e saindo para resolver o problema.

— Santino, é algo sério, por favor. — ele pediu pegando no meu braço, quase apertando.

— Sérgio, assim que eu voltar a gente conversa. — puxei o meu braço que estava doendo.

— Ok. — ele resmungou saindo da sala.

— Qual o problema dele? — Giovanna quis saber.

— Eu sei lá. — dei com os ombros e saí para resolver o problema na área externa.

Desculpas, Sérgio. Sem tempo para os seus dramas de hétero topzeiro. Corri até a portaria para resolver o problema da entrada. O Kleber tem razão, geralmente, a segurança do condômino causa algum tipo de problema, eu sei que é trabalho deles, mas, às vezes, é chato.

De acordo com Yuri, o Brutus estava enrolando Zedu em sua casa e faltavam apenas 30 minutos para começar o show, no caso, o pedido de casamento. Eu já estava ficando nervoso pelo meu amigo. Procurei o Sérgio pela casa, entretanto, aquele lugar parecia um hotel.

A cerimonialista, ou melhor, ditadora, nos reuniu no jardim e agradeceu a presença de todos, entre amigos e familiares dos noivos. Erámos 50 pessoas no jardim de casa. A minha sogrinha chegou e estava deslumbrante com o seu vestido azul celeste. Logo puxou assunto com a mamãe e foram falar sobre nós, o Kleber e eu.

Falando no meu namorado. Ele parecia um príncipe encantado. Pela primeira vez, vi o Kleber usando gel para cabelo, antes de voltar para casa, eles passaram em uma barbearia.

— Todos lindos. — falei ao avistar os três se aproximando de mim.

— Gostou? — Kleber perguntou segurando no colete e arrumando. — O melhor para o meu mozão.

— Obrigado, mozinho. — disse o abraçando e beijando.

— Obrigado, mozinho. — soltaram, Enzo e André, fazendo uma péssima imitação de mim.

— Olha, André. — chamei a atenção dele, enquanto, abraçava o Kleber. — Tirou os dreds?

— Sim. Estava na hora de mudar o visual. — explicou André passando a mão nos cabelos e piscando.

— Ei, Santino, Kleber, André e Enzo. — Giovanna chamou nossa atenção estalando os dedos e segurando o microfone. — Loira bonita falando. Eu pensei que os gays fossem mais educados. Enfim, como eu estava falando. — continuo minha amiga dando ênfase no "falando". — Vamos todos nos esconder quando o Zedu chegar e torcer pelo melhor. Principalmente, se o Yuri amarelar ou o Zedu responder com um não.

— Giovanna. — repreendeu Olivia, entregando o bebê para o esposo, Carlos. — Filho, vai dar tudo certo. — abraçando Yuri.

— É verdade, Yuri. O Zedu vai responder com um sonoro sim. — afirmou a mãe de Zedu, a dona Tereza, uma mulher de idade, mas elegante e cheirosa, quando a abracei fiquei impregnando com o perfume dela.

O momento se aproximava. A Giovanna ficou em contato direto com o Brutus, que dava pistas de onde os dois estavam. O código que eles usaram foi: "O tambaqui está chegando no rio". Achei engraçado, não vou mentir.

Resolvi deixar a missão de acalmar os nervos do noivo para a família e amigos mais próximos. A gente foi até o bar para ver as opções de bebidas. O Bar é um espetáculo a parte.

Para começar, os garçons estavam vestidos um avental com dois ursos se beijando. Aparentemente, eles eram especializados em festas temáticas, achei demais e peguei o contato deles para eventos futuros.

A barraquinha era toda colorida com um arco de luzes piscando nas cores da bandeira LGBTQIA+. Os meninos foram paquerados por uns dos garçons, o André se interessou e já queria dar um "match".

Encontrei o Sérgio em uma das mesas, percebi que ele já estava entornado o quinto copo. Ok, acho que é o momento para ser um bom amigo.

— O que você vai querer, amor? — perguntou Kleber.

— Deixa eu ver. — passei o olho no cardápio e a maioria das bebidas possuíam nomes fofos como, por exemplo, Ursinhos Carinhosos, Unicórnio Dourado, Explosão de Glitter e Black Pink. — Acho que vou querer um Black Pink. Ei, eu vou ali com o Sérgio. Volto em um minuto.

A vida é muito louca. Se ano passado você falasse que o Sérgio estaria morando na minha casa e sendo uma espécie de irmão para mim, bem, preciso confessar que não acreditaria, porém, lá estava ele, com sua cara de poucos amigos e, aparentemente, chateado.

— Ei, bobão. Já quer ficar bêbado antes da apresentação? Não esquece que você vai brilhar hoje. — alertei puxando uma cadeira e sentando ao lado dele.

— Essa porcaria de Ursinhos Carinhosos não tem álcool. — ele avisou tomando um gole da bebida colorida, que era uma mistura de suco de framboesa e xaropes coloridos e, claro, um arco de algodão em cima.

— Não fala isso. O copo é tão bonitinho. — soltei pegando um dos copos vazios e mostrando para o Sérgio que deu uma risada.

— Você é um cara muito especial, Santino. Eu sinto muito por não conseguir enxergar antes.

— E isso agora? — perguntei deixando o copo na mesa. — O seu pai aprontou alguma coisa?

— Aquele velho escroto não está mais em Manaus. Foi para a casa da minha avó no Rio de Janeiro. Sabe, de uma forma estranha e engraçada, a nossa história é parecida. Dois garotos ricos e que não se dão bem com os pais...

— Ei, tá tudo bem? Você sabe que pode contar comigo. — disse pegando no ombro dele e apertando.

— Droga, Santino. Porque você precisa dificultar tanto as coisas? — ele perguntou aumentando o tom de voz.

— Tá, desembucha logo. Estou começando a ficar preocupado. — pedi me aproximando dele.— Em primeiro lugar, eu quero pedir desculpas. Eu sei que já tivemos esse papo antes, mas eu lembro das coisas que fiz e me sinto tão culpado. — Sérgio confessou ficando cabisbaixo.

— Sérgio, essa história toda eu já superei. Eu segui em frente. — me assegurei de falar com o coração aberto, pois, havia o perdoado há muito tempo.

— Mas eu não me perdoei. Não consigo me perdoar por cada palavra, empurrão e coisas nojentas que eu chamei você. Eu não consigo me perdoar por não ter te defendido das maldades do Renan e da Emilly. Eu não consigo. — lamentou, Sérgio, ainda arrependido pelo passado obscuro que tivemos.

— Cara, acredite em mim. Eu não guardo rancor nenhum de você. Acho que a pessoa que precisa de perdão aqui não sou eu. Sérgio, de uma forma estranha e engraçada, se tornou o irmão que eu nunca tive. Você precisa deixar o passado ir embora. Não se apegue à essas coisas pequenas. Temos um futuro brilhante à nossa frente. Sérgio, eu te amo. — declarei o abraçando e percebendo que o Sérgio estava chorando.

— Santino, eu vou fazer uma coisa...

— O Tambaqui está no condomínio!!! — gritou Giovanna correndo de um lado para o outro. — O Tambaqui está no condomínio!!!

— Puta merda! — soltou Sérgio ficando em pé. — A nossa conversa não acabou. — Sérgio limpou às lágrimas e seguiu para o palco.

Nem um treinamento de guerra seria tão eficaz. Em menos de dois minutos, todos os convidados se esconderam em seus lugares. Fique com o Kleber, André e Enzo, na área do bar e todas as luzes foram desligadas.

— Só por curiosidade? — perguntou Kleber perto do meu ouvido. — Que abraço foi aquele?

— O Sérgio precisando de um carinho. Ficou com ciúmes? — questionei de volta, gostando de ver o Kleber ciumento.

— Não, não, claro que não. Eu com ciúmes do Sérgio? Por favor. — desconversou Kleber dando uma risada nervosa.

Alguém pediu para ficarmos em silêncio. Toda aquela expectativa estava me deixando nervoso. Vi duas sombras se aproximando pela entrada lateral. De repente, uma luz foca em Sérgio que estava em cima do palco com o seu violão.

Pude ver pouco do Zedu, pois, ele ficou de costa para mim, mas, com certeza, deve ter sido um momento de choque. De forma lenta, o Sérgio dedilhou os acordes da canção "Quero Muito Mais", do duo "Lado de Cá".

Moro há meses com o Sérgio e sempre o vi tocando violão, porém, nunca ouvi sua voz, quer dizer, sua voz de cantor. A Giovanna e ele, ficaram responsáveis pela parte musical. Enquanto, os dois cantavam, uma montagem com fotos de Yuri e Zedu passava no telão.

***

SÉRGIO:

Já pensei em desistir

Mas ainda estou aqui

Eu só vou deixar fluir

Porque agora entendo o que sinto por dentro e eu escrevo pra te ver sorrir

GIOVANNA:

Tudo que me fez sentir

Foi como ver o sol surgir

O arco-íris colorir

Primavera, verão, o calor e um lindo momento ao ver sua flor se abrir

SÉRGIO E GIOVANNA:

Faz tanto tempo eu sei

O amor que mais amei

A vida leva e trás

E agora eu quero, quero muito mais

***

Que fofuras. Eu poderia passar à noite ouvindo os dois cantando juntos. Pelo visto, o Sérgio podia ser um bom amigo quando queria. Durante a homenagem, o Zedu, chorou relembrando sua relação com o Yuri.

Algumas fotos ficaram mais recentes e mostravam a vida dos dois na faculdade e, para minha surpresa, apareci em duas partes. Realmente, é muito legal fazer parte de um momento tão especial na vida dos nossos amigos.

***

GIOVANNA:

Quando sonho com você

Lembro como é bom viver

É de repente descobrir

Um planeta distante

Um cometa brilhante

Ao sentir sua luz me invadir

Faz tanto tempo eu sei

O amor que mais amei

A vida leva e trás

E agora eu quero muito mais

Quero muito mais

***

Com o fim da apresentação, todas às luzes foram ligadas e Zedu pode ter uma dimensão do que foi preparado. Emocionado, ele deu uma volta de 360º graus e não segurou às lágrimas. Nós começamos a bater palmas e gritar, principalmente, quando o Yuri apareceu no palco e pediu para o namorado subir.

— Yuri, o que está acontecendo? — perguntou um emocionado Zedu ao abraçar o Yuri.

— Isso é para mostrar o quanto eu te amo. — disse Yuri se afastando e segurando a mão direita de Zedu. — José Eduardo, o meu primeiro e único namorado. — Yuri havia preparado um discurso, mas decidiu improvisar. — Nós passamos por cada situação ao lado desses anos. Não foi fácil. Apesar de tudo o que ganhamos, eu sei o quanto você perdeu, amor. Eu, também, sei que se dependesse de você nós não estaríamos aqui. Eu sei que você está indeciso sobre aceitar a proposta de emprego. Eu sei de tudo, sabe o por que? Porque você é o meu melhor amigo, meu companheiro fiel e confidente. Não importa o que você escolher, pois, sempre estarei ao seu lado. Dessa forma. — balançando a mão de Zedu.

— Eu te amo. — soltou Zedu entre lágrimas e apertando forte a mão de Yuri.

— José Eduardo! — exclamou Yuri se ajoelhando e segurando a caixa de alianças. — Aceita casar comigo?

— Claro. Claro que sim!!! — grito Zedu ficando de joelhos na frente do namorado, agora noivo, e o beijando. — A resposta sempre será sim, meu amor.

Com as mãos tremulas, Yuri encontrou dificuldade para colocar o anel no dedo de Zedu. A gente gritava e aplaudia muito. Os fotógrafos, uma equipe de George (amigo de Yuri) ficou responsável por registrar todos os mementos alegres.

A família dos dois foram abraça-los. A mamãe e Bruna chegaram perto de nós. Elas pediram uma festa daquelas para quando chegasse nossa vez. Olhei para o Kleber e sorri, pois, tinha certeza que ele seria um bom marido, porém, guardei a informação. Não queria ser taxado de desesperado.

Era oficial! Yuri e Zedu estavam noivos. Contratamos um DJ para deixar a festa mais animada. Ele tocou sucessos dos anos 90 e 2000. Quem se destacou na pista de dança foi o Hélder, que usava uma túnica nas cores da bandeira ursina (tons terrosos, passando pelo branco e indo até o preto).

Não sabia que dançar em uma roda de amigos podia ser tão engraçado. As coisas ficaram mais animadas quando os noivos chegaram para celebrar conosco, infelizmente, alguém os chamou para mais uma sessão de fotos.

— Que festa animada! — gritou Giovanna nos assustando, porque ela estava perto de nós, mas parece que se tele transportou para o palco. — Agora, vamos assistir ao vídeo de alguns amigos de Yuri e Zedu que não puderam comparecer.

De repente, na tela do aniversário apareceu um site destinado para garotos de programa. Vi o nome de relance, era algo do tipo, "GP PRA VC". Bem, o nome do site é autoexplicativo. Porém, o que choca à todos nós foi uma foto de Kleber, completamente pelado.

***

CAIO FERRAZ

idade: 18 anos

peso: 70 quilos

altura: 1,69 m

preferência: ativo

valores: R$ 100 (uma hora)

***

"Meu Deus, ele é garoto de programa"

"Gente, o Kleber é GP"

"Uau, que corpão"

"Por isso está com um ricasso"

A coitada da Giovanna quase teve um treco quando viu o Kleber pelado. O rapaz responsável pelos vídeos correu e conseguiu mudar a imagem. Só que o estrago já estava feito. Eu segurava a mão de Kleber, mas, aos poucos, e com lágrimas nos olhos, soltei.

— Caio...

— Eu posso explicar, Santino. — pediu Kleber ofegante e tremulo, ao ter um dos seus maiores segredos revelados.

— R$ 100. É isso o que você vale? — perguntei chorando, com o coração batendo forte, ainda tentando entender o que vi na tela.

— Não é o que parece, Santino.

— Vai pro inferno, Kleber! — gritei saindo da pista de dança e passando pelo Sérgio. — Não deixa ele me seguir, por favor.

— Santino, eu... — balbuciou Sérgio ficando na frente de Kleber que tentou me alcançar.

Colocaram o vídeo certo, o da homenagem. Uma música conhecia começou a tocar no sistema de som, "Don't Look Back In Anger", do Oasis. Lembrei de todos os bons momentos que vivi ao lado do Kleber. Tudo uma mentira. Ele conseguiu me enganar direitinho.

Entrei no carro e o Kleber apareceu na minha frente. Ele correu para a janela e ficou batendo igual um maluco. Eu não conseguia conversar naquele momento. O meu coração estava doendo demais. Acelerei o carro, o Kleber tentou correr atrás de mim, mas acelerei e passei pela primeira guarita do condomínio.

***

Então Sally pode esperar

Ela sabe que é tarde demais

Enquanto ela caminha

Minha alma se afasta

Mas não olhe para trás com raiva

Não olhe para trás com raiva

Eu ouvi você dizer

Pelo menos não hoje

***

A vida não é um conto de fadas. Às vezes, ela sai do nosso controle e, infelizmente, não podemos mudá-la. Até pensei que essa relação poderia dar certo, mas eu não conseguia olhar para o Kleber.

Desculpa, Yuri, porém, nem todas as relações podem ser perfeitas igual a tua. Sinto muito, por estragar a sua grande noite. Desculpa.

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Comentários

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Sérgio Talarico se juntou com o Kiko para destruir o romance

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Esse Sérgio se juntou, com o maldito do prof.que tranqueira.

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