Capítulo 51
_ Que moleque desgraçado! A minha vontade é matá-lo com as minhas próprias mãos.
Paulo dizia entre os dentes, socando o ar.
Victor permanecia em silêncio, sentado no sofá com os braços cruzados e o rosto triste.
Roseli e Paulo ficaram revoltados ao saberem da verdade por Andréia. A família inteira esbravejava e se indgnava com a canalhice de Ivan.
_ É um carcamano doente! Fez o que fez com o meu neto e ainda teve coragem de seduzí-lo e se casar com ele! Nós o recebemos com tanto carinho. Aquele infeliz merece sofrer muito._ dizia Roseli abraçando Victor e beijando o rosto do neto._ Oh, meu menininho, você não merecia nada disso. Quanta crueldade.
_ Você fez bem em dar uma surra naquele pilantra, Andréia. Eu no seu lugar teria cometido uma loucura.
_ Vocês acreditam que o Renato teve a cara de pau de me ligar? Mas, não atendi. Estou me preparando psicolocamente para ficar cara a cara com o safado e colocá-lo contra a parede de um jeito que não tenha como ele mentir que não sabia de nada.
Víctor olhou para a mãe sentindo um incômodo.
_ Mãe, vovó, vovô, eu tenho algo para dizer a vocês. Mas, vocês prometem que não vão brigar comigo? Eu sei que errei em esconder isso de vocês, mas peço que não me julguem e me perdoem. Eu estou abalado demais para ser repreendido.
_ O que ouve, coração?_ perguntou Roseli.
_ Eu e o Ivan não sofremos um acidente.
Todos o olhavam espantados e confusos.
_ Foi um atentado.
_ O quê?!_ perguntou Andréia.
_ O Ivan me fez o único herdeiro dele. Eu não sabia. Aí quando fomos à Babylon, fomos abordados no estacionamento por Felipe e mais um cara. Eles apontaram uma arma para nós e puseram algo em nossos narizes. Apagamos e quando eu despertei eu estava no hospital.
_ Como assim, Víctor? E você não me contou nada? Mesmo quando eu perguntei o porquê do Ivan ter reforçado a segurança, você mentiu e ele também dizendo que era porque o lixo foi assaltado. Eu não acredito que você mentiu pra mim, que sou a sua mãe!
_ Eu não quis te preocupar! Tive medo de deixar vocês desesperados. Eu sinto muito por ter mentido.
_ Meu deus, filho, você correu risco de vida e não me contou nada?!
_ Eu já te disse que sinto muito. O Ivan acredita que a mandante do atentado seja a mãe dele, já que com as nossas mortes ela poderia herdar a fortuna do Ivan.
_ Você tem noção do perigo que estava correndo, menino?! E nos deixa de fora!_ gritou Paulo, fazendo Victor abaixar a cabeça.
_ Você passou por tanta coisa, meu amor. E eu inútil, sem poder te proteger. A minha vontade é te por de volta no meu útero para garantir que nada de mal te aconteça.
Andréia o abraçou e Victor e o menino começou a chorar.
_ Já passou, tá bom? Mamãe vai cuidar de você. Eu prometo que vai ficar tudo bem.
_ Eu te amo, mãe. Amo todos vocês. Me desculpem por ter te escondido isso?
_ Mamãe te perdoa. Mas, nunca faça isso, meu amor. Pronto ! Fique calminho.
_ Eu tô sofrendo muito, mãe. É uma dor horrível. É a pior decepção da minha vida. Eu o amo tanto e ele mentiu dizendo que me amava também, quanto na verdade me odeia por ter ciúmes do Gael. O que eu faço com esse amor que sinto por ele?
_ Vai passar. O tempo vai te ajudar a curar toda essa dor que você está sentindo, tá bom, meu amor?
Toda a família também sofria pelo menino e odiavam Ivan na mesma proporção.
Renato recebeu com indignação a notícia que havia sido demitido. Acreditava que era um erro da equipe do RH e os profissionais garantiram que não era um equívoco. Que a ordem da demissão veio direto do doutor Ivan Matarazzo.
Indignado, entrou na sala de Ivan sem bater e sem ser anunciado cobrando explicações para a sua atitude tão insana.
_ Você enlouqueceu? Só pode! São mais de vinte anos me dedicando a esta empresa e você me demite? Logo eu, que além de ser o seu braço direito, sou o seu amigo. Você só pode ter enlouquecido.
_ Não enlouqueci. Fiz para o seu bem.
_ Agora me enxotar da empresa é o meu bem?
_ Renato, se você permanecer aqui a Andréia não vai acreditar que você não sabia de nada. Diga a ela que você pediu demissão porque estava com raiva de mim... ou melhor, diga que estava com nojo.
'Renato, eu acabei de depositar quatro milhões de reais na sua conta bancária e comprei uma concessionária para você. Além de tudo isso, você vai receber a sua indenização pelos anos de serviços prestados à empresa e todos os seus direitos trabalhistas.
'Você poderá pedir a Andréia em casamento como estava planejando em fazer. Vocês serão felizes juntos! Eu sei que você a ama e ela também te ama. Eu vivi o amor e é a coisa mais linda da vida.'
_ Eu não posso te abandonar, Ivan. Você está sofrendo muito. Não pode ficar sozinho.
_ Eu vou ficar bem. O importante é que você faça tudo como deve ser feito. Procure a Andréia, diga que está indignado com a minha atitude, que pediu demissão e que nunca mais quer me ver. Ela vai acreditar em você.
_ Não! Ivan, você não está bem! Você quase se matou! Eu não vou te abandonar.
_ Deixa de ser burro, Renato! Eu fui um imbecil de ter feito merda e acabado com o meu casamento. Se estou no fundo do poço foi porque fiz por merecer, mas não vou te levar comigo.
_ Mas, Ivan, eu acho que...
_ Renato, você vai embora agora! Vai procurar a Andréia e vai fazer o que eu mandei. Não vai mais me procurar. Eu vou proibir a sua entrada na minha casa e na empresa. Você já está bloqueado nas minhas redes sociais. Agora vá!
_ Isso não é justo! Deixe eu pelo menos te ligar ou te mandar mensagens para saber como você está? Eu morro de medo de você tentar se matar.
_ Faz o seguinte: a gente faz um trato. Eu não tento me matar e você se afasta de mim e vá ser feliz com a Andréia. Certo? Se continuar insistindo, eu meto uma bala na minha cabeça, já que eu não tenho nada a perder mesmo.
Renato o olhava triste.
_ Eu sinto tanto que as coisas chegaram a esse ponto. Eu gosto muito de você. Vou sentir a sua falta, Ivan.
Renato o abraçou e Ivan tentou conter as lágrimas.
_ Agora vá. Tenho muito o que fazer.
Renato se afastou com a cabeça baixa e o coração angustiado.
_ Renato!
O homem olhou para trás com a esperança de Ivan ter mudado de ideia.
_ Já que vai ser o marido da Andréia, eu quero te fazer um pedido. Cuide bem do meu Solzinho?
Renato confirmou com a cabeça e saiu do escritório antes que começasse a chorar.
Assim que a porta foi fechada, Ivan desabou no choro, mordendo o punho.
Sim. Ele precisava de Renato. O seu ombro amigo, os seus conselhos e a sua presença eram muito importantes para Ivan. O carinho que tinha por Renato vinha desde a infância, pois encontrou nele o amor que não teve dos pais.
Sabia que sentiria saudades do amigo. E isso o causava um sofrimento profundo. Mas o seu amor por Renato não o permitia destruir a felicidade do amigo.
Se viu desolado sem o seu amigo e o seu grande amor. Sentiu o peso e a dor que as suas atitudes cruéis causaram. Para ele era doloroso demais perder os seus entes queridos.
Fernanda bateu na porta e Ivan secou as lágrimas antes de autorizar a entrada da tia.
_ Bom dia, Ivan.
_ Bom dia, tia.
_ Eu vim saber se serei demitida de imediato ou terei direito a aviso prévio.
_ Como assim?
_ Depois do que os meus filhos fizeram, revelando ao Victor a verdade é óbvio que você não vai querer a minha permanência na empresa. Você pode me demitir é um direito seu. Mas, como mãe eu te imploro que não se vingue dos meus filhos. Por favor? Você pode descontar a sua raiva em mim. Aproveite já que nunca me suportou por ter sido a amante do seu pai, mas por favor, não faça nada com o Gael e a Luíza? Eu te suplico!
Ivan a olhou sério.
_ Não se preocupe. Você me surpreendeu sendo uma excelente secretária. Eu confesso achei que você faria merda, mas você se mostrou muito competente. Eu preciso dos seus serviços. Penso em te efetivar e que fique no cargo de vez, já que a antiga secretária disse que não voltará, quer se dedicar ao bebê.
_ Você está falando sério?
_ Eu pareço estar brincando?
'Sobre o Gael e a Luíza, pode ficar tranquila. Não há nada para me vingar. Se eles contaram a verdade para o Víctor foi porque gostam dele e queriam protegê-lo. Além disso, eu sempre fui o filho da puta da história. Persegui o Gael por não aceitar uma rejeição e acabei causando mal ao meu marido, ou seja, fiz a maior merda da minha vida.
'Já a minha irmã, eu fui um desgraçado com ela. A prejudique para magoar o Gael e ela sempre foi inocente nessa história toda. Eu não quero mais guerra com vocês. Estou destruído demais para isso. Agora, vá e me traga o relatório que te pedi.'
Fernanda ficou surpreendida com as atitudes do sobrinho. Não reconhecendo naquele homem o Ivan prepotente e maldoso que sempre foi.
_ Obrigada, Ivan. Com licença.
Adormecido, Victor sente os dedos de Ivan se entrelaçarem com os seus. Ao pé dou ouvido, sente o hálito quente do amado sussurrando:
_Acorda, meu Solzinho.
O loiro sorrir sentindo a língua úmida de Ivan percorrer pelo seu pescoço. A mão do amado procura pelo seu sexo, deslizando pelo abdômen nu, barriga provocando arrepios no seu corpo, em seguida chega ao lugar desejado, que já está ereto quando é acariciado por dentro do short azul xadrez de seu pijama.
Victor geme antes de ter a boca beijada e os dedos do empresário tocando os seus mamilos , o deixando louco de tesão.
Ao abrir os olhos, vê diante de si o rosto sorridente do homem amado. O seu olhar doce que diz que o ama sem precisar usar as palavras.
Victor sorrir de volta, sentindo as mãos macias de Ivan acariciar o seu rosto. O seu coração se aquece de ternura.
_ Eu vim te buscar, Solzinho. Vamos voltar para casa.
Victor fecha os olhos e abre a boca com a intenção de ser beijado, mas o silêncio predomina.
Estranhando, abre os olhos para olhar o amado e se surpreende, ao vê-lo sentado diante de si um Ivan com a expressão maligna. Os olhos raivosos e vermelhos, as narinas abertas e o rosto retorcido numa careta diabólica.
O empresário ergue um taco de beisebol e abaixa com toda força em direção à cabeça de Victor.
O menino grita desesperado e desperta ofegante.
Senta na cama segurando o peito. Sente falta de ar e corre para pegar a bombinha de asma.
Quando recuperado, percebe que o quarto estava escuro. Concluí que eram mais ou menos dezoito ou dezenove horas e o que deveria ser apenas um cochilo pós almoço se tornou uma tarde de sono pesado.
Aos poucos, percebeu que estava em seu antigo quarto e que não jantaria com Ivan, que não receberia o seu amado com o beijo rotineiro. Lembrou-se da noite em que descobriu que estava casado com o próprio agressor e desabou em lágrimas, soluçando.
Acreditou ter feito papel de burro, que foi usado por Ivan para provocar Gael. Concluiu que nunca foi amado de verdade.
Sentiu raiva de si por ainda amar o seu algoz. Prometeu a si mesmo que o esqueceria. Que faria o que fosse necessário para deixar de amá-lo.
Levantou e caminhou até o banheiro para urinar e escovar os dentes.
Ouviu um barulho vindo da sala e o seu nome ser gritado por Roseli.
_ Vitinho, meu amor! Você está no banheiro?
_ Estou sim, vovó.
_ Venha até aqui, coração. Você tem visita.
Victor presumiu que fosse Virgínia e a princípio pensou em dispensá-la, mas mudou de ideia concluindo que poderia se distrair com as pérolas da amiga.
Ao chegar na sala, foi surpreendido com o fato de o visitante ser alguém inesperado por ele.
Ítalo o aguardava sentado no sofá com um pequeno buquê de rosas vermelha na mão.
Sorriu ao vê o loiro e levantou-se para ir ao seu encontro.
_ Eu vim ver como você está. Espero que esteja melhor.
_ Você já sabe de tudo?
_ Sim. A Luiza me contou. Eu sinto muito. Me parte o coração saber do seu sofrimento. Eu vim te oferecer a minha solidariedade e o meu ombro se precisar.
Ítalo o abraçou, fechando os olhos para sentir o cheiro agradável do loirinho.
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