PARTE 6
Foi no primeiro dia de aula que descobri o que era me apaixonar. E como já falei antes, no começo pareceu apenas desejo. Ashton estava lindo, como de costume. Sua pele morena e reluzente parecia convidar ao toque. Seus lábios brilhosos e carnudos eram irresistíveis ao beijo. Sua franja que parava logo acima dos olhos lhe garantia uma aparência ainda mais sedutora. E sua voz aveludada? Quando ele se apresentou, com todo seu carisma e simpatia, concordei comigo mesmo que seria maravilhoso ouvir aquele som ao pé do meu ouvido.
Mas eu precisava me conter.
Nunca o tinha visto antes.
E talvez não fosse o que ele procurava ou merecia.
Poucas semanas se passaram. Apesar dele não sair dos meus pensamentos, estar tão presente na minha vida, era pouco provável que soubesse da minha existência. Minhas amigas em certas ocasiões me tiravam dos devaneios quando, reunidos em grupos, discutindo as atividades, eu o observava tentando ser discreto e imaginava as coisas das quais ele seria capaz de fazer. Elas sorriam divertidas. Eu garantia que era apenas desejo. Mas descobri que não era só isso.
Enquanto o observo ao meu lado, adormecido, entregue ao cansaço, como se estivesse rendido completamente à vida, é impossível não me lembrar de como as coisas começaram entre nós. De como ele foi incrível quando ninguém mais poderia ser.
Eu havia reprovado na prova.
Cursávamos Psicologia e eu tinha ido muito mal na prova de Neuroanatomia. Não sabia como recuperar aquela pontuação. Reclamei minha preocupação para minhas amigas enquanto estávamos no refeitório da universidade. Eu não imaginava que ele estava perto o bastante para me ouvir. E não imaginava a proposta que faria.
“Posso te ajudar”. Basicamente se intrometeu na conversa, mas ele poderia se intrometer no que bem entendesse. “Se quiser, é claro”. Os olhos que mais pareciam preenchidos por gotas de mel me encaravam com seriedade. Ele estava mesmo disposto àquilo.
“Eu...”. Fiquei constrangedoramente gago naquele momento mais inoportuno. Mas reassumi o controle sobre minha motricidade e respirei fundo antes de responder. “Se não for incomodá-lo”.
“Será um prazer”. Ele não sabia o quanto. “Coloca seu endereço”. Entregou o celular.
Ele na minha quitinete?
Era simples, mas arrumada. Torci em silêncio para que a minha simplicidade não o afastasse.
E ele veio aqui. Na quitinete onde acabamos de fazer amor. Onde ele acabou de se entregar a mim de uma forma que ninguém havia feito antes. Eu sempre fui o passivo das rápidas relações que tive. Mas ele me fez dar um passo a mais. Confiou seu corpo ao meu. Aquilo era muito importante para mim. Tê-lo em minha cama, despreocupado, certo de que não sou uma ameaça e de que ele pode estar comigo da forma como quiser, me enche de certeza sobre ter feito a coisa certa, sobre ter escolhido amá-lo.
Naquela tarde em especial ele estava mais gato que o habitual. Vestia uma regata justa, branca, que marcava seus mamilos escuros e contornava seu abdômen bem cuidado. Cheirava a um aroma amadeirado. Parecia ter acabado de sair do banho.
Os livros que trazia na mão o deixavam sexy. Um nerd sexy. O homem que me enlouquecia sem nem imaginar.
“É pequeno. Mas espero que esteja tudo em ordem”. Referi-me à minha humilde acomodação.
“Eu não ligo para essas coisas”. Disse descontraído, como se já fosse um velho conhecido, puxando uma cadeira, sentando-se e colocando os livros sobre a mesa de dois lugares. “Fique à vontade”. Sorriu divertido indicando a outra cadeira. “Lamento que tenha reprovado, mas daremos um jeito nisso e será agora”.
Foi a melhor tarde de estudos da minha vida.
Ele foi atencioso em cada detalhe. Quando eu aparentava dificuldade em algum ponto, ele o repetia de maneiras alternativas e me fazia garantir que havia compreendido. Quando eu estava distraído e ele percebia, era gentil ao me fazer voltar para a terra. Sua gentileza era um toque na minha mão, ou um toque no meu braço, enfim, toques que me arrepiavam por dentro.
Ele não tinha aquela obrigação.
E eu queria saber porque fazia aquilo.
“Não quero parecer um ingrato. Mas nunca trocamos nenhuma palavra. Por que me ajudou?”.
“Você é notado, Jake. Talvez só não saiba disso”. Levantou-se. “Preciso ir. A hora passou... Já anoiteceu...”. Olhou pela janela.
“Nem pensar... Vamos comer alguma coisa...”. Peguei o celular para fazer algum pedido, mas suas mãos cobriram as minhas, seu corpo se aproximou do meu, percebi que era maior do que eu alguns centímetros, os centímetros mais confortadores que podem existir.
“Eu não fiz isso querendo retribuições. Acredite. Também está sendo importante para mim. Você não sabe o quanto”. A voz aveludada quase ao pé do meu ouvido. Algo criava vida em meu corpo.
“Posso pagar um lanche na faculdade, então?”.
“Pode ser meu amigo?”.
“Sim...”
“Já é o bastante para mim”.
E partiu.
Tive que correr para o banheiro.
Abaixei a calça e vi o que estava acontecendo.
Sem conseguir tirar Ashton da cabeça, sem conseguir parar naquela aproximação que tivemos, sem poder me afastar do som da sua voz, procurei apoio contra a parede enquanto pressionava meu membro contra os meus dedos e começava movimentos desesperados.
Quem era aquele garoto?
Ou melhor, quem era aquele homem?
Eu queria que fosse o meu homem.
Minha mão passeou por sobre o meu corpo levantando minha camisa, mas em minha mente era a sua mão que me acariciava com firmeza e vigor.
Meu pau latejava enquanto eu travava uma batalha contra si, mas em minha imaginação era a sua boca que o envolvia com paixão.
Comecei a mordiscar meu antebraço já ofegante, mas em meus pensamentos era a sua boca que eu beijava, eram os seus lábios que eu tinha aos meus.
“Você é notado, Jake”.
Sua fala ecoava em meu coração enquanto meu corpo ardia em desejo.
“Também está sendo importante para mim. Você não sabe o quanto”.
O que ele queria dizer com aquilo?
Seria o mesmo que eu?
Eu o desejava ao ponto de gemer seu nome no banheiro apertado.
Meu corpo arqueou.
Meu pau pulsou com intensidade.
E minha porra espirrou com fervor.
Naquele momento percebi que não era apenas desejo. Eu estava realmente me apaixonando.
E me apaixonei perdidamente por esse cara maravilhoso que dorme em minha cama de solteiro. Não pude resistir à vontade de tocar seu peito nu. Sentir o calor da sua pele. A textura de sua carne. Não pude resistir ao impulso de beijá-lo, sentir o gosto da sua boca e despertá-lo com o meu amor...
(Foi um capítulo menos erótico, mas espero que tenha sido prazeroso. Continuo?)