Capítulo 64
Víctor respirou fundo, expressando cansaço emocional. Ele sabia que aquela conversa com Ítalo não seria nada amigável e estava com vergonha de Ítalo fazer escândalos na frente de Luíza.
_ Eu ouvi direito? O desgraçado do Ivan voltou e você tem se encontrado com ele às escondidas e ainda adotaram uma criança? O que eu sou pra você? Um palhaço?
_ Não é bem assim, Ítalo.
A energia elétrica voltou e a música voltou a tocar. Luíza levantou.
_ Eu vou deixar vocês dois conversarem.
Victor se sentiu aliviado com saída de Luíza, já que não queria que ela presenciasse a briga deles.
O ódio de Ítalo era visível na sua expressão facial séria. A sua respiração era ofegante e tinha o punho fechado, deixando Víctor assustado.
O loiro o contou tudo sobre a adoção e os encontros com Ivan. Enfatizando o quanto ficou mexido com Alice e o quanto ela era importante pra ele.
_ Não me interessa o que você sente pela pirralha! Eu não vou aceitar que você tenha algum tipo de ligação com o Ivan.
_ Isso não é você quem tem decidir.
Ítalo o olhou com tanto ódio que partiu em direção para agredí-lo.
_ Vai me bater de novo?
Ítalo recuou para trás, sem desfazer o punho fechado.
_ Você me obriga a te agredir! Olha o quanto está me provocando? Você tá esfregando o Ivan na minha cara. Eu não sou corno. Não vou permitir que isso aconteça.
Na área externa da casa, Luíza contou ao irmão sobre a adoção de Alice.
_ E você deixou o Ítalo sozinho com o Víctor lá dentro?
_ Deixei, uh é! Eles são namorados! Precisam conversar.
Preocupado, Gael foi correndo até o quarto. Parou na porta para ouvir os gritos de Ítalo.
_ Eu não estou esfregando o Ivan na sua cara. Eu não tenho nada com ele. O que está em pauta é a minha filha.
_ Deixe de ser ridículo! Ela não é a sua filha! Ivan inventou essa história de adoção para te comover e adiar o divórcio! Ele sabe que você é um imbecil que se comove por qualquer coisa.
Gael ouvia revoltado, pois até o momento, não fazia ideia de como Ítalo maltratava Victor.
_ Não me chame de imbecil.
_ É o que você é! Um imbecil, uma bicha burra que se abre toda para o Ivan. O cara deu uma porrada na sua cabeça e você cai de novo na conversinha dele? A pancada que ele te deu deve ter estraçalhado o seu cérebro!
_ Eu não vou ficar ouvindo os seus insultos! Já tô de saco cheio deles!
_ Você vai ligar para o Ivan agora mesmo e vai cancelar essa merda de adoção!
Victor sentiu tanta raiva, que ergueu a cabeça e o olhou sério.
_ Eu não vou abrir mão da minha filha nem por você e por ninguém! Não me importa o que você diga.
_ Ah, é? Eu não aceito namorar um cara que brinca de papaizinho com outro homem. Ou eu, ou a pirralha?
_ Pois bem, se é o que você quer, eu prefiro a minha filha. Acabou, Ítalo!
Ítalo não esperava ouvir aquela resposta. Não estava disposto a perder o namorado.
_ Você não vai terminar comigo.
_ Eu já terminei!
_ Não! Eu não aceito o fim! Eu não aceito!
Víctor tentou sair do quarto, mas o Ítalo o segurou.
_ Não encosta em mim.
_ Se você não for meu, não será de mais ninguém.
_ Está me ameaçando?
_ Estou. Se for preciso, eu te mato...
Gael entrou como um jato, puxando Víctor para si, ficando de frente para Gael o encarando.
_ Você não vai ameaçar o Víctor dentro da minha casa!
Ambos ficaram se encarando com ódio.
_ Não se meta nisso, Gael. É assunto entre mim e o meu namorado.
_ Ex namorado. Acabou.
Ouvir Víctor o deixou ainda mais revoltado.
_ Eu me meto sim. O Víctor é meu amigo. Saia da minha casa agora!
_ Eu vou embora da merda da sua casa. Mas, você. _ disse apontando o dedo para Víctor. _ A gente ainda vai conversar.
Assim que Ítalo saiu furioso, Gael abraçou Víctor.
_ Você está bem?
_ Sim. Obrigado, Gael.
_ A Virgínia sempre falou mal do Ítalo, mas eu não fazia ideia do quanto esse cara é tóxico. Você precisa se afastar dele de vez.
_ Eu vou me afastar. Acabou.
Depois da briga no natal, Ítalo tentou diversas vezes fazer contato com Victor, mas sempre era ignorado pelo loiro.
O violinista ligava direto e nunca era atendido, mandava inúmeras mensagens pedindo desculpas, mas nunca era respondido.
"Meu amor, me perdoe por aquele dia? Eu estava de cabeça quente, não queria te dizer aquelas coisas, mas você me obrigou, já que me humilhou se aproximando do Ivan. Eu não consigo comer e dormir direito. Me perdoe ?"
Víctor ouvia o áudio sério, em seguida bloqueou Ítalo de todas as redes sociais, Whatsapp e Telegram.
O violinista insistiu, indo até a portaria do prédio, mas foi proibido de entrar e Víctor não o recebeu. Ele estava disposto a não retomar o relacionamento com Ítalo, pois queria paz para cuidar da sua filha.
Com o decorrer dos dias, ficou animado com a mudança. Visitou o apartamento antes e foi com Virgínia comprar os móveis para o quarto de Alice e também comprou alguns brinquedos e objetos de decoração.
Mesmo com dificuldades, fez um desenho do rostinho da menina e mandou pôr numa moldura e pôs no quarto, que coloriu de rosa claro.
A única coisa que o incomodava era o fato de Andréia o tratar com frieza, demonstrando insatisfação.
Durante o café da manhã, tentou puxar assunto com a mãe com a intenção de melhorar o clima entre eles.
Com o smartphone na mão disse:
_ Mãe, eu estava pensando em comprar panelas antiaderentes. Eu não tenho muita habilidade na cozinha...acho que esse tipo de panela será melhor.
Andréia permanecia tomando o seu café, olhando para a tela do celular, ignorando o filho.
_ Mãe, eu estou em dúvidas se compro o meu jogo de panelas vermelho ou amarelo. O que você acha?
_ Se a minha opinião sobre o fato de você voltar a falar com aquele psicopata, adotar uma criança e sair de casa não tem valor pra você. Não te importará o que eu acho sobre as cores das suas panelas.
_ Mãe, pelo amor de deus! Eu vou viver um dos melhores momentos da minha vida! Dá para você torcer pela minha felicidade?
_ É o que eu mais faço na vida. Mas você não será feliz ao lado do Ivan.
_ Quantas vezes eu vou ter que repetir que não tenho nada com o Ivan? Que saco!
_ Você se recusou a denunciá-lo, enrolou para dar entrada no divórcio, voltou a falar com ele numa boa e ainda adotaram uma criança juntos. Victor, eu não nasci ontem. Sei muito bem onde isso vai parar.
_ Não vai parar em lugar nenhum! Eu só quero viver em paz com a minha filha, no meu canto.
_ E sobre o divórcio? Quando pretende pedir?
_ O mais depressa possível. Está satisfeita?
Renato, que ouvia a conversa por trás da porta, entrou sério.
_ Víctor, venha até o meu escritório. Eu preciso falar com você.
O menino seguiu Renato, que ao entrar, trancou a porta para que tivessem mais privacidade.
Víctor sentou no sofá, que ficava ao lado da estante de livros. Renato sentou ao seu lado.
_ Eu peço licença para opinar sobre a sua vida. Me dá agonia te ver passando por toda essa pressão que a sua mãe está fazendo sobre você.
'Não há dúvidas de que ela é uma boa mãe e quer o seu bem. Mas, há certas decisões que só cabem a você tomar. Um divórcio é algo muito sério. É um passo muito importante na vida, que precisa de muita reflexão antes de fazer.'
Víctor abaixou a cabeça.
_ Você tem certeza que quer se divorciar do Ivan? Mas, uma certeza que venha de ti, sem influência de terceiros.
_ Eu não sei te responder.
_ Então, você não se sente pronto para tomar essa decisão?
_ Não. Eu ainda não sei o que fazer.
_ Então, não faça nada.
_ Mas, eu tenho vergonha.
_ Vergonha de quê?
_ Das pessoas. Elas me olham e me tratam como se eu fosse um imbecil. É isso que elas pensam de mim por não ter dado um ponto final nessa história com Ivan. Eu estou decepcionando a minha família.
_ Víctor, eu sou a favor do divórcio quando não há amor. Sabe aqueles casamentos em que o casal não se suporta, vivem em pé de guerra, há traições...ou pior, quando preferem passar o maior tempo na rua do que um com o outro. Mas, quando há amor as coisas são diferentes. Vocês dois se amam muito. Isso é nítido. É um amor puro, que faz bem tanto a um quanto ao outro. O Ivan mudou muito por sua causa. E não me refiro desde que ele voltou dos Estados Unidos, e sim desde que vocês dois começaram a se relacionarem. Ele se tornou mais doce, mais amoroso e até mais feliz. Você também foi muito feliz ao lado dele, não é verdade?
Víctor fez um sinal positivo com a cabeça.
_ Agora vocês têm uma filha. É uma criança que sofreu tanto e que pela primeira vez na vida receberá o amor de alguém. Será muito bom pra ela conviver com uma família que se ama. O amor de vocês dois entre si e para ela fará muito bem a essa criança.
_ Você acha que eu não devo me divorciar?
_ Eu acho que você deve pensar. Pensar muito bem antes de tomar qualquer decisão. Refletir por si só, se deve ou não dar uma chance ao amor. Acho que deve analisar se o Ivan está apto a viver contigo, se vale a pena ou não reatar a relação. Isso é você quem tem decidir. Não a sua mãe ou qualquer outra pessoa.
_ Você tem razão. Eu tenho que tomar as rédeas da minha vida.
_ Sim. Você não é mais um menino. Agora é pai. É responsável por uma criança e precisa ser responsável por si mesmo também.
_ É verdade. Eu ainda não me decidi se quero ou não me divorciar. Eu vou me dá esse tempo para pensar com calma. Agora tem a Alice na minha vida e eu devo decidir o que será melhor pra mim e para ela.
_ Exatamente.
_ Mais uma vez, obrigado, Renato. Você me tirou um peso das costas.
_ Fico feliz em ter ajudado. Agora vamos manter esta nossa conversa em segredo, senão a sua mãe me arranca o couro._ Renato disse sorrindo.
Ivan desceu as escadas da nova casa correndo animado. Foi para a cozinha, parando ao lado de Maria com as mãos para trás, girando e mordendo o lábio inferior.
_ Maria, eu quero te pedir um favorzinho.
_ Diga, seu Ivan. Se tiver a minha disposição eu faço com o maior prazer.
_ Então, eu quero que me ensine a fazer estrogonofe de frango daquele jeito que o meu Solzinho adora.
_ Hum, seu Ivan! É isso mesmo? O senhor quer cozinhar?! Ah, mas eu não acredito que estou ouvindo isso.
_ Eu vou buscar a minha filha amanhã.
_ Mas eu posso vir cozinhar.
_ Não. Amanhã é o último dia do ano e tanto você, quanto a Dora estarão de folga. E não quero pedir bufe nenhum. Eu mesmo quero preparar o prato preferido do meu Solzinho.
'Mas quero que saia impecável, por isso quero treinar muito hoje.'
_ Eu fico tão feliz em saber disso. Quer dizer que a nossa princesa vem amanhã? Eu achei que ela só viria na semana que vem.
_ E seria. Mas, eu mexi os meus pauzinhos e adiantei a chegada dela.
Ivan dizia com cara de criança travessa, fazendo Maria sorrir.
_ Ah, que bom, seu Ivan!
_ Eu mesmo faço questão de preparar o almoço para os meus dois bebês.
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