Capítulo 68
O sorriso de Ítalo se desfez ao abrir a porta e ver a expressão brava de Victor. O seus olhos eram como noites de tormentas, as sobrancelhas contraídas e a boca expressando severidade.
Quando o porteiro anunciou a chegada do loiro, Ítalo se animou acreditando que aliviaria o seu tesão, mas percebeu que estava enganado.
Víctor entrou como um furacão.
_ Como você pode ser tão sórdido? O que passou pela sua cabeça de acreditar que Ivan te daria dinheiro para se afastar de mim? Você é muito baixo!
_ Eu não faço ideia do que você está falando, meu amor.
_ Deixe de ser cínico! Você sempre me tirou de burro! Até chegou a fingir que tentou se matar só para me obrigar a ficar com você! Ítalo, você tem noção do mal que me fez? Da tensão que vivi todos esses dias, dos sentimentos de culpa? Isso foi crueldade da sua parte! E nem adianta negar. A farsa acabou.
"Você foi até o escritório do Ivan, seu desgraçado!"
_ Eu não sei o que aquele imbecil inventou, mas nada disso é verdade. Você conhece o Ivan. Sabe o quanto ele não presta.
_ Quem não presta aqui é você! Há câmeras de segurança no escritório do Ivan. Ele me mostrou o vídeo.
Ítalo sentiu tanta raiva por ter sido descoberto, que desejou matar Ivan. Sua ira foi expressada na sua face. Faltava-lhe palavras para inventar alguma desculpas, que se irritou a tal ponto de confessar.
_ Eu fui mesmo. O Ivan acabou com a minha vida! Ele destruiu a minha carreira, me fez perder o emprego e dificultou para que conseguisse outro. Nada mais justo que me indenizasse por tudo que me fez.
'E tudo isso por culpa sua.'
_ Ah, agora a culpa é minha?
_ Sim. Sua sim, que ficou fazendo joguinhos comigo, me traindo com o Ivan.
_ Cala a boca, seu filho da puta! Você já me manipulou muito! Você é abusivo! Tóxico! É nojento!
'Você não tem mais o poder de me manipular. Eu nunca mais vou sentir culpa pelos seus erros! Acabou, Ítalo! Eu nunca mais quero olhar na sua cara! Nunca mais quero saber de você!
'E fique sabendo que você nunca mais vai foder o meu psicológico e muito menos a minha vida! Você querendo ou não eu vou ser feliz. Essa será a minha vingança contra você. Será a minha felicidade ao lado da minha filha e do homem que eu amo.'
_ Do homem que tentou te matar. Grande coisa!_ Ítalo sorria fazendo Victor se sentir humilhado.
_ Ivan mudou muito por amor a mim. É um ser humano que evoluiu, já você continua sendo esse ser podre, obscuro e manipulador.
Ítalo gargalhava.
_ Você é patético! Essa sua burrice é ridícula! E esse jeitinho bonzinho? Ai isso é irritante. Quer ficar com o Ivan? Que fique! Eu quero que ele, você e pequena órfã se fodam! Agora saia da minha casa!
_ Já que estamos falando verdades também vou dizer as minhas. Você se acha um máximo, não é? Mas, é péssimo na cama. Fode mal pra caralho. Enquanto você me mal comia, eu torcia para que gozasse logo para acabar aquele tormento! Diferente do Ivan e do Gael, que são dois gostosos. Nem me fazer gozar você foi capaz._ Victor disse sorrindo, com um provocativo.
Ítalo ergueu o punho fechado para batê-lo.
_ Quer me bater? Então, bata para marcar. Assim eu mostro ao Ivan e ele se vinga de ti. Você o conhece. Ele já te fodeu uma vez e se eu quiser, ele faz muito pior. Encosta em mim e encare a ira do meu marido.
Ítalo girou e socou a parede.
_ Saia daqui! Fora da minha casa!
_ Saio sim! Não só da sua casa como da sua vida. E exijo que faça o mesmo comigo. Porque se voltar a me infernizar, eu vou pedir para que o meu marido tome uma providência.
Víctor saiu, deixando Ítalo furioso.
_ Filho, você tem visita._ disse Fernanda, na soleira da porta do quarto de Gael.
Ao chegar na sala e ver Ivan sentado no sofá a sua espera, se sentiu desconfortável.
_ Eu vou deixar vocês dois sozinhos. Creio que há muito o que conversarem.
Fernanda se retirou.
Há alguns dias Ivan o procurou propondo o plano para desmascarar Ítalo. A princípio Gael se negou a ajudar, alegando que não queria se envolver nas armações de Ivan.
_ Não são apenas minhas armações para ficar com o Victor. Eu não preciso disso. Nós nos amamos e já estamos juntos. É só uma questão de tempo para que Víctor volte para casa. O que mais me preocupa é essa tortura psicológica que o Ítalo está fazendo com o Victor. O menino tá sofrendo. Ele acredita que o Ítalo tentou se matar na noite da virada por culpa dele.
Gael ouvia tudo revoltado. Há um tempo observava as atitudes do violinista com Victor e não concordava.
Gael disse a Ivan que iria pensar, deixando o primo desesperançoso.
No dia em que visitou Victor, pode ver de perto os efeitos da tortura psicológica de Ítalo e saiu de lá decidido a ajudar Ivan a desmascarar o violinista.
_ Oi Gael, como você está?
_O que você quer, Ivan?
_ Eu vim te agradecer por ter me ajudado.
_ Eu não fiz por você. Fiz pelo Víctor.
_ Mesmo assim. Foi muita generosidade da sua parte. Graça a você o Víctor tirou um peso das costas.
_ Eu temo muito por ele. Víctor te ama. Ele te perdoou. Ivan, eu te suplico que não faça mal ao Víctor. Ele é um anjo. Merece ser muito feliz! Se for para destruir a vida dele com esse amor obsessivo é melhor que o deixe em paz. Por favor, Ivan.
_ Não precisa se preocupar. Eu também o amo. Vou fazer de tudo para fazê-lo feliz. E se um dia ele não me quiser, eu vou respeitar, mesmo sofrendo muito. Para mim a felicidade do Víctor está acima das minhas vontades e até da minha própria felicidade.
_ Você jura pelo que tem de mais sagrado?
_ Eu juro pela vida da minha filha.
_ Então, só me resta torcer que você esteja sendo sincero.
_ Pode confiar em mim. Fique tranquilo._ Ivan disse com um sorriso sereno._ Eu quero te pedir mais uma coisa: você pode me perdoar por todo mal que te causei? Você não merecia tudo o que eu te fiz.
_ Por que você está me pedindo perdão agora? Isso faz alguma diferença para você?
_ Eu fiquei muito mal no dia que você salvou a minha vida lá na praia. Eu me senti péssimo, um lixo de pessoa. Você retribuiu com o bem todo o mal que eu te fiz! Eu fiquei com tanta vergonha. Passei meses amargurando um profundo arrependimento. A minha consciência pesava muito. Sabe, é como se uma névoa saísse diante dos meus olhos e eu pude enxergar a verdade.
'Gael, você tinha o direito de me dizer não. Você foi sincero comigo quando disse que não queria se envolver comigo. Não se aproveitou do meu dinheiro. Isso foi muito honesto da sua parte e eu me deixei dominar pelo ódio. Eu te prejudiquei e te irritei ao ponto de envolver o Víctor nessa história e depois cometi o maior erro da minha vida. Sem contar que te culpei por isso, sendo que na verdade o verdadeiro e único culpado sempre fui eu.
'Gael, eu sinto muito por tudo. Gostaria muito que você me perdoasse. E saiba que estou a sua disposição para o que precisar. Eu quero voltar a ser o seu amigo, como éramos na infância.
'Mas, se você não quiser me perdoar, eu vou entender. Você estará no seu direito.'
Gael o olhou de um jeito meigo.
_ No momento, eu não sei se dá para sermos amigos. Aconteceram muitas coisas entre nós. Mas, o futuro a Deus pertence. Quem sabe depois de um tempo? Mas, eu te perdoou sim. Vamos passar uma borracha em tudo de ruim que nos aconteceu.
Ivan sorriu. Quis abraçá-lo, mas ficou envergonhado de pedir isso. Esticou a mão para selar a paz entre eles.
Suas cicatrizes se tocaram num aperto de mão.
_ Obrigado, primo._ disse Ivan sorrindo, sentindo por Gael o carinho que sentia na infância.
A raiva que Gael sentia por Ivan foi dissipada, deixando o seu coração mais leve.
Eles se despediram e Ivan partiu feliz.
Luíza havia ouvido toda a conversa pelo corredor próximo da sala.
Ela entrou na sala cruzando os braços.
_ Gael, como você pode perdoar o demônio do Ivan? Esse cara destruiu a sua vida! Eu não perdoaria.
_ Mágoa e ódio são sentimentos destrutivos. Não resolvem os nossos e só trazem agonia e infelicidade. E eu, minha querida irmã, tenho vocação para ser feliz.
E-mail para contato: letrando@yahoo.com
Instagram: @arthurmiguel5203