Capítulo 43
Gael chegou ao hospital portando nas mãos um buquê de orquídeas roxas.
Desde que soube por Luíza que Victor e Ivan sofreram um acidente, não parava de pensar no jovem loiro. Queria vê-lo pessoalmente. Saber como estava o seus estados físicos e emocionais. Viu no fato de visitá -lo no hospital uma forma de se redimir por não ter enfrentado a todos que o proibiram de ver Victor na primeira vez que foi internado.
O que Gael não esperava era encontrar um segurança na porta do quarto do menino.
Pescou a mentira do casal no ar. Por que eles precisariam de um segurança se só sofreram um acidente?
Deduziu que o casal havia sofrido um atentado. Que, provavelmente, ocorreu por conta de algum desafeto de Ivan, algo ligado aos negócios, talvez.
Para a sua surpresa, foi impedido pelo segurança de entrar no quarto de Victor. O profissional alegou que ele precisaria da autorização do senhor Matarazzo para poder visitar o seu companheiro.
_ Por acaso o senhor Matarazzo comprou o hospital ou o marido?
_ Só estou cumprindo ordens.
_ Você nem deveria estar aqui. Ivan não tem o direito de fazer o que quer numa propriedade que não é dele.
_ Mas tenho a autorização do proprietário para fazer. Que aliás, é um grande amigo meu.
Gael olhou para trás, onde vinha a voz.
Ivan saiu do quarto vestindo uma bermuda jeans preta, deixando expostas as marcas dos pontos que recebera na perna, uma jaqueta de marrom preta e uma blusa também de cor preta. Estava pronto para deixar o hospital.
_ Você se acha um deus. Acha que pode controlar tudo e todos.
_ O que você quer aqui?
_ Não é da sua conta.
_ Aí que você se engana, primo. Se é para falar com o meu marido é da minha conta sim.
_ Como você mesmo disse, vim falar com o seu marido. Eu fiquei preocupado com ele. Quero saber como está.
_ Ele está muito bem. Obrigado. Agora que já sabe pode ir.
_ Eu vim falar com ele.
_ Perdeu o seu tempo.
_ O que me impede de vê-lo?
_ A minha vontade.
_ Você é muito prepotente. É o Victor que deve dizer se eu posso vê-lo ou não. Ele não é a sua propriedade. Você não vai me impedir de entrar
_ Eu tenho carta branca para garantir a minha segurança e ao do meu esposo dentro deste hospital. Caso queira entrar a força, ele como segurança, poderá tomar medidas cabíveis.
_ Como pode ser tão cruel? Você destruiu a minha vida...
_"você destruiu a minha vida, me tirou o emprego, roubou a minha irmã e blábláblá." Poupe o seu português e o nosso tempo, que eu já tô cansado de ouvir a sua ladainha.
_ Você roubou o meu namorado.
Ivan deu uma gargalhada.
_ Eu? Você que foi um péssimo namorado. Por sua culpa o Victor quase morreu. Eu só fui pra ele o que você não teve competência pra ser.
Gael se sentiu péssimo pela culpa do atentado contra Victor. As palavras de Ivan o deixou atormentado.
Percebeu que não conseguiria ver Victor e prefiriu não insistir.
_ É muita cara de pau da sua parte achar que pode ver o meu marido e eu iria ficar feito uma manézão com os braços cruzados.
_O que você teme? Que eu faça contigo o que você fez comigo? Ao contrário de ti, eu tenho caráter. Não quero estragar o relacionamento de ninguém. Só queria vê-lo.
_ Mas não vai fazer isso.
Gael o olhou no fundo dos olhos.
_ Eu serei o responsável pelo seu fim. Vou abaixar o seu nariz empinado. Vou te triturar até que não sobre nada.
_ Ui! Bicha, a senhora é destruidora.
Gael saiu arrasado. Sentiu-se humilhado e triste por ter visto a quem queria bem.
_ Eu com tantos problemas, ainda tenho que me preocupar com o idiota do Gael. Era só o que me faltava.
Gael chegou em casa carregando o peso da culpa. As palavras de Ivan martelavam na sua cabeça, ferindo os seus sentimentos. Desabou as suas angústias em lágrimas.
Chorava desesperado agarrado ao travesseiro. Amargurava o gosto do arrependimento por ter deixado Victor ir embora sozinho naquela noite pavorosa.
Luíza entrou no quarto e se espantou ao ver o irmão naquele estado.
Perguntou o que havia acontecido. Mas, a resposta não veio em palavras e sim com Gael se atirando em seus braços, chorando como uma criança assustada.
Ela entendeu e respeitou o silêncio do irmão. Abraçou-o. Em seguida, pôs a cabeça dele em seu colo, e acariciava os seus cabelos, enquanto o homem chorava.
Fazia tempos que Maria estava desconfiada de Regina.
A empregada vivia pelos cantos tentando ouvir as conversas dos patrões. Fazia inúmeras perguntas aos outros funcionários sobre os donos da casa.
O que ela mais estranhava era que Regina chegava no trabalho usando uma bolsa de grife e algumas roupas tão caras, que o seu salário de empregada jamais poderia pagar.
A mulher dizia que comprava no mercado negro, mas Maria reconhecia algumas peças que foram de Sônia.
Quando ouviu, as escondidas, Regina falar com Sônia ao telefone, ela teve as suas suspeitas confirmadas.
Como tinha muito apreço por Victor, achou desleal a atitude da colega de trabalho e decidiu conversar com Regina.
_ Eu ouvi você falando com o dona Sônia ao telefone. Você está espiando os patrões?
_ Você está louca? Por que eu faria isso?
_ Em troca das roupas de grifes que você anda usando. Ou talvez, por dinheiro também.
_ É claro que não! Você tá é louca isso sim.
_ Eu ouvi, Regina. A dona Sônia não é uma boa pessoa, você pode acabar prejudicando os patrões e se prejudicando também.
_ E se eu tiver? O que você tem a ver com isso? Sua puxa saco. Vá tomar no cu, Maria.
_ Como você é muito baixa!
Regina saiu da cozinha, indo em direção à sala. Ela estava de saco cheio de Maria. Sentia inveja da amizade da cozinheira com Victor.
Quando Maria recebeu o convite de casamento dos patrões, Regina ficou louca de raiva.
_ Essa piranha da Maria pode acabar me prejudicando, mas eu acabo com ela primeiro.
O casal Matarazzo chegou casa duas semanas após o acidente.
Victor chegou numa cadeira de rodas devido aos ferimentos na perna, que ainda estava um pouco inchada. O braço estava engessado e tinha uma coleira cervical em seu pescoço.
Maria os recebeu com muito carinho. Ela ficou muito triste com o acidente dos patrões e se dedicou dias a rezar para que melhorassem. Ver Victor naquele estado a deixou muito triste. Ela o estimava muito, assim como ele a ela.
Preparou as refeições com muito carinho para agradá-los. Queria proporcionar a eles um clima aconchegante.
O loiro sentiu-se muito feliz por estar em casa novamente. Poder dormir na sua cama, ao lado do marido, era para ele muito reconfortante.
Ivan pediu para que o jantar fosse servido no quarto, para que Victor não precisasse fazer esforços para se locomover e, também que o marido ficasse mais confortável.
Enquanto o menino comia, Ivan o observava, acariciando o seu rosto.
_É tão bom estar em casa. Graças a deus estamos vivos e bem. Eu senti muito medo quando Felipe e aquele homem nos apontou aquela arma. A cena ainda me apavora.
_ Não pense nisso, Solzinho. Já passou.
_ A minha mãe ficou desconfiada que não foi só um acidente. Ela estranhou o fato de haver seguranças no nosso quarto.
_ Por mim eu tinha contado tudo a sua mãe, mas você não quis.
_ Meu bem, eu conheço a minha mãe. Ela ficaria muito preocupada. Perderia o sono e a ansiedade dela pioraria. Ela demorou anos, com muitos tratamentos e medicamentos para controlar a ansiedade. Eu não quero que ela sofra. E ainda tem os meus avós. Na idade deles não é legal terem emoções. O tio Adrian é o mais forte de todos e até guardaria segredo, mas eu tenho medo da minha mãe descobrir e ficar brava com ele por não ter contado nada a ela.
_ Se você acha melhor assim. Manteremos em segredo.
Ivan o beijou, deitando ao seu lado.
_ Amorzinho, eu acho que sei quem me agrediu.
Ivan arregalou os olhos assustado.
_ Quem?
_ O Felipe.
Nessa hora, Ivan respirou aliviado.
_ Amor, ele tentou nos matar, logo tem coragem de fazer uma monstruosidade dessas. E ele esteve comigo e Gael naquela noite. Ele me viu sair daquele lugar horroroso.
Mais adiante, eu soube que ele e Gael se pegavam. E se ele ficou com ciúmes do Gael comigo e me agrediu?
_ Faz todo sentido
Ivan sorria internamente, percebendo que poderia tirar vantagem dessa desconfiança de Victor.
_ Ivan, eu estou morrendo de medo. O Felipe tentou me matar duas vezes. E se ele tentar me matar novamente?
_ Ei! Ei! Você está protegido. A casa está cheia de seguranças. Tá tudo bem. Nem Felipe e nem ninguém te fará mal.
Victor abraçou Ivan, se sentindo seguro em seus braços.
No dia seguinte, na mesa do café da manhã, Maria terminava de arrumar a mesa, quando Ivan desceu pronta para ir trabalhar.
Pediu para a empregada para levar o café da manhã de Victor na cama.
Maria sentia-se incomodada com o fato de Regina espioná-lo. Ela sentia que deveria contar ao patrão e assim fez.
Ivan ouvia a mulher falar e raciocinava.
Pensou que para mandar Felipe e Armando irem atrás deles na boate, Sônia precisaria saber que estariam em Babylon naquela noite. E somente alguém da casa contaria para a sua mãe. Ficou furioso de ter tido uma traíra dentro de casa.
Agradeceu Maria pela informação e decidiu não ir trabalhar naquele dia. Pediu a ela que não comentasse nada com Victor, para não preocupa-lo.
Victor estranhou Ivan retornar ao quarto e se despir, trocando o traje por uma bermuda e uma camiseta, os sapatos italianos por chinelos.
_ Você não vai trabalhar?
_ Hoje não. Mudei de ideia. Quero passar o dia interinho ao lado do meu Solzinho.
Victor sorriu com o seu jeito encantador.
_ Eu amo quando você fica em casa, meu bebê.
Eu queria muito fazer um amorzinho contigo, mas estou todo fodido.
_ Não dar para rolar um amorzinho, mas dar para rolar beijinhos.
Ivan se aproximou do marido, segurou em seu queixo e o beijou.
_ Agora você vai ter que me dar uns cem beijos, meu Solzinho.
_ O quê?!_ Victor perguntou sorrindo.
_ Isso mesmo que você ouviu. Trezentos beijos.
_ Mas não eram cem?
_ Tá bom! Tá bom! Dois mil!
_ Que loucura! Mas, acho melhor a gente começar logo.
Ivan deu cinco celinhos contabilizados no marido.
_ Acho que eu perdi a conta. Temos que começar novamente.
_ Isso é roubo, amor.
Mais um beijo foi celado.
_ Amorzinho, eu estou com sede. Me dê um copo com água, por favor?
_Claro, meu bem.
Ivan foi até o frigobar e percebeu que a garrrafa estava vazia. Disse a Victor que iria até a cozinha para buscar água.
No alto da escada, avistou Regina andando pela casa com um expressão estranha. Ela olhava de um lado para o outro como se procurasse algo.
O moreno decidiu segui-la com a intenção de flagrá-la falando ao telefone com Sônia.
Ela foi até a área de serviços, onde os empregados colocavam as suas bolsas.
As escondidas, Ivan avistou Regina pôr um relógio na bolsa de Maria. E saiu sorrindo.
Ivan se aproximou, abriu a bolsa e reconheceu que o relógio implantado era o que havia presenteado a Victor.
O empresário pôs o relógio na bolsa de Regina e foi até a cozinha buscar água para Victor.
Meia hora depois, Regina o procurou em seu escritório dizendo que queria falar algo muito importante.
_ Eu odeio fazer fofocas. Mas, não posso deixar que o Victor seja traído de uma forma tão cruel.
_ Do que você está falando, Regina?
_ O menino gosta da Maria e ela se aproveita da bondade dele. Eu vi a Maria roubando um relógio do Victor. Não acho justo ela fazer isso. O menino a adora.
_ Você tem certeza, Regina? Essa é uma acusação muito séria.
_ Tenho sim, senhor. A Maria não é uma pessoa de boa índole. O senhor precisa ser alertado.
_ Tudo bem. Eu confesso que estou chocado. A Maria me parecia ser uma pessoa tão boa.
Mas, obrigado pela sua lealdade me avisando.
_ Não há de que, seu Ivan.
Ivan chamou a polícia. Disse que um relógio no valor de vinte mil reais foi furtado da sua casa e que recebeu uma denúncia que o furto havia sido praticado por uma das empregadas.
Quando Regina viu os policiais entrando na casa, sorriu satisfeita. Finalmente, se livraria de Maria e sujaria a imagem que tanto invejava da colega de trabalho.
Não correria mais risco de ser atrapalhada de prosseguir com a sua espionagem.
Ivan reuniu todos os empregados na sala da sua casa. Junto com os policiais, relatou a eles que o relógio do seu marido havia sido roubado e pediu permissão aos empregados para que os policiais revistassem as suas bolsas.
Regina sorria sem disfarçar. Imaginava com satisfação Maria sendo presa.
Regina foi a primeira a ser revistada. O seu coração bateu acelerado quando viu um dos policiais retirar o relógio da sua bolsa.
Ela gritou desesperada dizendo ser inocente. Alegava que era vítima de uma armação.
_ A senhora me acompanhe, por favor.
_ Não! Eu não fiz nada! Eu não roubei relógio algum! Eu...
_ Por favor, senhora.
Regina saiu da casa acompanhada dos policiais. Estava desesperada sentindo o efeito do feitiço que se virou contra o feiticeiro.
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