Capítulo 72
Três meses se passaram desde que Víctor retornou ao seio da sua família.
Apesar de estar feliz ao lado do homem que ama e da sua filha, vivendo na casa que sempre sonhara, a saudade da mãe era profundamente dolorida.
Os seus avós e Adrian mantiveram contato com o loiro por ligações, mensagens no Whatsapp e Víctor sempre os visitava junto com Alice uma vez por semana. Nenhum deles mudou o seu conceito sobre Ivan e sobre a desaprovação do relacionamento deles, mas como nada podiam fazer para reverter a situação, decidiram ignorar o fato e o nome de Ivan não era mencionado quando estavam juntos.
Victor se incomodava com a rejeição que o marido sofria da sua família. Ele queria que tudo voltasse a ser como antes. Mas, foi orientado por Ivan a aceitar a situação como estava.
_ Solzinho, o melhor a fazer é manter as coisas como estão. O importante é que te aceitem e te respeitem.
_ Isso não é justo, amor! Você não merece ser crucificado a vida inteira! Você mudou, tem o seu lado bom! Eu queria que isso fosse levado em conta.
_ Eu sei. Mas, não vamos forçar a barra. Quem sabe com o tempo as coisas mudem? E além do mais, a única coisa que me importa é que você está aqui. Que nós estamos juntos e felizes.
Nos braços do marido, Victor lamentava mentalmente a ausência da mãe.
Ao contrário da família, Andréia decidiu se afastar do filho. Não estava conformada com a decisão de Víctor em retornar à relação com o homem que tentou matá-lo.
Ela passou os meses sobre tensão. Tinha dificuldades para dormir a noite e de se alimentar. Retornou o mau hábito de fumar.
Vivia preocupada com a possibilidade de Víctor sofrer um novo atentado.
Renato fazia de tudo para acalmá-la: levava para viajar, uma vez por semana jantavam nos restaurantes favoritos dela e chegou a levá-la ao médico, para que esse a receitasse um calmante.
A colação de grau de Andréia estava se aproximando e Renato fez questão de promover uma festa para a mulher.
Andréia esperou muito pelo dia da sua formatura.
Ao se ver diante do espelho vestida com a beca e o capelo, se emocionou se recordando do quanto batalhou para se formar em Direito. Lembrou das noites que passou em claro estudando, pois era o único momento que tinha disponibilidade para isso, já que trabalhava durante o dia. Lembrou dos dias em que chegava cansada na instituição de ensino, dos estágios, das boas amizades e de todos os momentos importantes da sua vida acadêmica.
Sua maior intenção era ter um bom emprego para proporcionar a Víctor uma boa qualidade de vida.
Agora se via decepcionada, sentindo que todo o esforço foi inútil, pois ele escolheu pôr a sua vida em risco para viver com um homem que ela detestava.
Andréia tentava fingir felicidade com um falso sorriso, mas estava triste e ao mesmo tempo sentia muito ódio do genro.
Toda a sua família e amigos foram prestigiá-la na colação de grau. Na arquibancada, batiam palmas, trazendo placas de parabenização.
Ela se pocionava na entrada no ginásio de mãos dadas a uma amiga para entrar no corredor que levava aos bancos, onde aguardaria ser chamada para receber o canudo.
Caminhava pelo tapete vermelho com a expressão entristecida.
Contudo sentiu uma súbita felicidade ao ver os homens da sua vida lado a lado. Renato, Paulo e Víctor sorriam na arquibancada a saudando.
Avistou o filho vestido com um terno Armani preto, segurando a pequena Alice no colo, vestida com lindo vestido vermelho para festas, com babados e flores.
Ela se emocionou admirando o seu menino.
No final da cerimônia, Víctor deixou Alice no colo de Roseli e correu para abraçar a mãe.
Pensou que era o momento ideal para a reconciliação. Morria de saudades dela e necessitava do seu abraço.
Andréia estava muito feliz e o abraçou forte, sorrindo.
_ Que saudade, mamãe! Você não sabe o quanto me fez falta.
_ Que bom que você veio, filhinho.
Ela acariciava o rosto dele e o beijou na testa.
_ Eu não poderia deixar de vir. Hoje é um dia muito importante para a pessoa mais importante do mundo para mim.
'Mãe, eu tenho tanto orgulho de você! Você é tão maravilhosa! É uma inspiração pra mim. Sempre batalhadora, esforçada, inteligente e do tipo que consegue atravessar a Bahia de Guanabara inteira sem precisar de barco. A sua força de vontade me inspira. '
_Oh meu amor, obrigada! fico tão emocionada.
Ao tocar na mão do filho e vê a aliança, sentiu uma raiva feroz. Recordou da decisão de Víctor em voltar para Ivan.
A seriedade dominou o seu rosto, assustando Víctor.
_ Por que você é tão cruel comigo?
_ Como assim, mamãe?! Do que você está falando?
_ Como pode pôr a sua vida em risco desta forma? Você tem noção que pode ser vítima novamente daquele louco?
Víctor abaixou a cabeça.
_ Eu não durmo direito. Passo noites em claro preocupada se aquele doente possa te fazer mal. Víctor, volte para a casa? O seu quartinho está do jeito que você deixou. O apartamento é grande, eu posso adaptar o quarto de hóspedes para a Alice. Você pode retornar para o seu emprego na concessionária. Eu falo com o Renato! Ou se você não quiser voltar para lá, você pode trabalhar comigo na fábrica de bolos, que também é sua.
'Meu bem, eu posso cuidar de você e da minha neta.'
_ Mãe, já chega! Eu te amo muito, mas não posso admitir que não respeite as minhas decisões! O Ivan não é esse monstro que você acredita que ele seja. Ele me ama, me respeita, cuida de mim. Eu sou feliz com ele. A nossa relação tem o amor como base.
'O que ele fez foi horrível, mas ele também fez coisas boas! Ivan salvou a minha vida, mãe! Quando o Felipe tentou me matar, o Ivan me tirou daquele carro, se rastejou com a perna ferida para conseguir ajuda e me levar para o hospital. Ele se pôs diante da arma que o Felipe apontou para mim e implorou pela minha vida.'
_ Ele não presta! Será que você não enxerga?! Ivan é manipulador, sádico e cruel! Ele te feriu e te deixou sozinho naquele ponto de ônibus, mentiu pra todo mundo! O que o Ivan sente por você é uma obsessão doentia. Você é uma vítima dele! Agora ele está usando a Alice para te seduzir. Adotou uma criança só para bancar o João regenerado.
_ Não, mamãe! Por que você insiste em ser tão cabeça dura?! Você só enxerga o lado negativo! Está se achando acima do bem e do mal condenando o meu marido desse jeito.
_ Agora a errada sou eu?! Francamente, Victor, você está cego!
Renato reparou que mãe e filho estavam tendo uma conversa acalorada e se aproximou para tentar amenizar o clima.
_Está tudo bem aqui?_ Renato perguntou com um tom cortez.
_ Eu não sou obrigada a te ouvir defender aquele demônio.
_ Ele não é um demônio! É um ser humano com defeitos e qualidades assim como qualquer pessoa. Ele errou e se redimiu. Todo mundo erra na vida. Você se acha a superior. Você nunca errou não, mãe?
_ Errei sim! Errei na sua educação, te protegi demais. Eu enfeitei o mundo em cor de rosas para você. Escondi a realidade cruel como ela é. Até os jornais eu te impedia de ler. E com isso você se tornou esse homem ingênuo que acha que todo mundo é bom.
'Sinceramente, Víctor eu não esperava que você me daria tamanho desgosto. Obrigada por ter destruido o dia que deveria ser o melhor da minha vida.'
Com os olhos umedecidos e uma expressão tristonha, Víctor mirou nos olhos da mãe e disse:
_ Me desculpe por ter estragado o seu dia com a minha presença. Eu sinto muito por não ser motivo de orgulho pra você, mamãe. Mas, eu tentei. Só que eu não posso abrir mão da minha felicidade para te agradar. Eu não sou o seu objeto de controle. Eu não sou mais o seu bebê! Eu sou um homem! Tenho os meus desejos e vontades! E tenho o direito de fazer as minhas escolhas.
_ Você prefere o bandido ao invés da sua mãe?
_ Eu não prefiro ninguém. Eu amo você e amo o meu marido. É crueldade da sua parte me fazer escolher.
_ Eu não vou fazer isso. Você já fez a sua escolha. Se quer estragar a sua vida com aquele ser maligno que faça longe da minha presença.
_ Você está expulsando da sua festa, mamãe? !
_ Estou te expulsando da minha vida! Ou eu ou ele. E você já escolheu.
Víctor sentou uma tristeza tão grande, que se afastou correndo.
_ Andréia, você expulsou o seu filho? Eu não estou te reconhecendo!
_ Ele fez a escolha dele. O que me resta? Chorar antecipadamente a morte do meu filho. Porque é isso que vai acontecer. Como eu odeio o Ivan!
_ Você está sendo injusta! Eu entendo que você não aceite o Ivan, mas daí rejeitar o seu filho! Ele é um adulto, Andréia! Tem o direito de fazer as próprias escolhas! Mãe não é proprietária!
_ Você não faz ideia do que está dizendo, Renato! Aliás, você faz sim. Pra você pouco importa se o meu filho está correndo risco de vida, você quer é puxar o saco do seu ex-patrão.
_ Andréia, acho melhor pararmos por aqui com esta conversa. Eu não quero discutir com você. Sei que está nervosa e com certeza se arrependerá de tudo que disse e fez.
Ela se afastou do marido, indo se refugiar no banheiro. As lágrimas desabaram com força. Sentiu-se incapacitada de proteger quem mais amava. Temia que algo ruim o acontecesse.
O ódio por Ivan a dominou. Libertou todos os seus tormentos num grito estridente.
Víctor se aproximou da família e Virgínia, que brincavam com Alice. Todos notaram que ele estava trêmulo e tenso.
_ Gente, eu estou indo.
_ Mas já, coração? A festa ainda está no início.
_ Eu tenho que ir, vovó.
O loiro se despediu de todos e tomou Alice nos braços.
_ Eu te levo, carinho. Você está muito nervoso.
_ Não precisa, tio. O Walace está no estacionamento a minha espera.
_ Tá bom. Vai com Deus.
Victor saiu arrasado, tentando conter as lágrimas para não chamar a atenção e nem assustar a filha.
_ Coitadinho. Pela carinha de tristeza, eu
garanto que ele e a Andréia discutiram._ disse Adrian sentindo pena do sobrinho.
_ Eu dou o meu cu pro cachorro que o motivo da briga foi o Ivan._ disse Virgínia mastigando uma coxinha.
_ Eu fico tão triste com tudo isso, racha. A relação deles sempre foi tão boa.
_ Olha, eu detesto o Ivan por tudo que ele fez com o Vitinho, mas a Andréia também vacila. A mulher sempre foi chata, autoritária e controladora. Ela sempre o proibiu de sair, é uma sem noção se metendo na vida dele. Ah, não há santo que aguente.
_ Isso eu tenho que concordar contigo. A minha irmã é sem noção mesmo, mas no caso do Ivan, eu a entendo. Vitinho é tudo pra ela. Não é fácil pra uma mãe ver o filho voltar a conviver com o agressor.
_ É...isso é verdade. Se o Vitinho tivesse escolhido o Gael, as coisas seriam bem melhores.
_ Se o Gael não se comportasse como o Peter Pan, vivendo na Terra do nunca da putaria, o Vitinho poderia ter o escolhido.
_ Vitinho não quis o Peter Pan, mas prefiriu o capitão gancho.
_ Trágico, mona.
Víctor desabava em lágrimas no colo do marido. Havia pedido para que Maria cuidasse de Alice para que pudesse desabafar.
Soluçava de tanto chorar, com os sentimentos destroçados.
Ivan o abraçava, sentindo dó. Odiava vê-lo assim.
_ Meu amor, não fique assim.
_ Eu fico sim! Eu tenho o direito de me revoltar por ter sido desrespeitado pela minha própria mãe! Ela não tinha esse direito!
_ Realmente, não tinha. Andréia passou dos limites ao fazer isso com você, que não merece ser maltrato por ninguém. Se ela quiser me odiar, tudo bem, mas te fazer sofrer para me atingir é inadmissível! A sua mãe é muito imatura. Quando as coisas não saem do jeito que ela quer, faz pirraças como uma criança! Foi ridículo!
_ Eu a amo tanto, Ivan! Ela é uma das pessoas mais importantes da minha vida. Eu só queria estar com ela no dia da sua formatura. Eu nunca imaginei que a minha mãe pudesse me expulsar! Isso tá doendo muito.
Ivan sentia o coração partido ao ver o amado sofrendo,o abraçou e o beijou no rosto.
_ Calma, benzinho. Vai ficar tudo bem. Eu te prometo que tudo vai se acertar.
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