Meu despertar – o começo (4°parte)
Minha tia é uma mulher tão forte que mesmo estando passando por tudo isso, ainda consegue ser um doce de pessoa.
Fiquei tão feliz com o que ela me disse que podia até cantar se não fosse um momento tão triste em nossas vidas.
Depois de tudo ensacado e separado para o transporte, tia Carina disse que descansaria um pouco em seu quarto pois estava se sentindo um pouco fraca.
Como queria de alguma forma retribuir o que estava me acontecendo procurei na lavanderia os produtos necessários para limpar o quarto do Lucas que ficou uma bagunça. Achei tudo para começar meu serviço, vassoura, sacos de lixo, aspirador de pó, etc...
Depois de tudo limpo e arrumado, passei para o resto da casa limpando com o mínimo barulho possível para não acordar minha tia, restando apenas o quarto dela.
O dia já estava terminando e eu completamente exausta depois do trabalho doméstico. Tomei um banho merecido e fui para o quarto da minha prima me trocar. Estava realmente vivendo momentos maravilhosos naquela casa.
Como já estava praticamente anoitecendo, procurei um pijaminha para dormir. A única coisa que encontrei mais próximo de um pijama foi um shortinho com uma blusinha tipo regatinha que depois vim a saber que era um short doll preto de algodão, muito gostoso e confortável de usar.
Como estava com fome fui até a cozinha procurar algo para comer, enquanto preparava um miojo minha tia me chamou dizendo se podia fazer um chá de camomila pra ela.
Quando fui levar o chá, ela me olhou de cima a baixo e com lágrimas nos olhos me agradeceu com um beijo no rosto. Juro que fiquei sem ação com o que aconteceu... achei que eu tinha deixado o chá sem adoçar.
Terminei de comer, lavei a louça e como estava sem sono, fui assistir TV na sala. Naquela época no SBT durante o programa do Silvio Santos tinha um quadro de transformistas que eu adorava. Vibrava em saber que eu não era o único menino que gostava de usar roupas de mulher. Homens muito bonitos em vestidos maravilhosos e muito bem maquiados, difícil saber se eram homens realmente.
Fui pra cama feliz em saber que eu era normal. Como na casa da minha tia tinha um computador com acesso a Internet, pra mim foi mais fácil me aceitar porque pela busca no Google, entrei em um site que falava apenas desse tema pouco conhecido que era “Crossdresser” pessoas de um determinado sexo que por prática de fetiche usavam roupas e acessórios do sexo oposto.
Em alguns casos o fetiche é uma porta de entrada para mundo completamente diferente do seu. Um universo vasto de opções completamente fascinante e uma mudança radical na vida de algumas pessoas.
No meu caso foi por curiosidade mesmo, depois foi um desejo enorme de me vestir por completo... logo em seguida uma força te domina e você passa para o próximo estágio que é além de usar roupas de mulher, você assume ter uma alma feminina. Mesmo que alguém lhe diz que é uma criatura vulgar, porém, o reflexo no espelho te mostra uma mulher, uma linda mulher que existe no seu interior.
Enfim... depois que terminei de ver quase toda a programação da TV fui dormir. Logo pela manhã assim que fiz minha higiene pessoal, fui até o guarda roupa e comecei a procurar alguma coisa legal pra vestir. Assim que achei uma peça de roupa de couro, não resisti a tentação e puxei ela entre as outras roupas para saber o que era... Nossa, que graça uma saia curta de couro preta separei e coloquei sobre a cama, procurei mais um pouco e acabei encontrando um body branco de manga comprida, e uma sandalinha de salto completava esse look.
Gente do céu! Quando terminei de vestir tudo é me olhei no espelho não acreditei...
Corri pra penteadeira e comecei a me maquiar como a Michelle me ensinou um dia. Minha prima era uma garota que tinha de tudo um pouco, meus tios não deixavam faltar nada pra ela em relação a moda e beleza. Peguei um pente e o babyliss e meio sem jeito procurei imitar minha mãe quando ela fazia o mesmo no cabelo dela.
Voltei ao espelho do guarda roupa que é grande o suficiente para ver o corpo todo e uma onda de choque percorreu meu corpo todo... eu estava LINDA!
Não percebi que tia Carina estava me olhando e num momento insano dela me chamou de filha. Ficamos nos olhando por alguns segundos sem saber direito o que aconteceu.
Ela saiu correndo e se trancou no quarto me deixando sozinha no meu quarto, completamente incrédula pelo jeito dela ter me chamado de filha e sair correndo logo depois. Comecei a achar que estava indo longe demais e por isso minha tia ficou triste comigo.
Tirei a roupa e vesti um shortinho de cotton com uma camiseta simples e uma rasteirinha.
Como fiquei triste com isto, fui até o quarto dela e bati na porta, mesmo insistindo ela não abriu e nessa hora lembrei do que minha avó me disse sobre ter paciência com ela. Então procurei o que fazer para passar o tempo.
Durante a minha faxina, tia Carina se senta no sofá e me chama pra conversar...
Eu: aconteceu alguma coisa tia? Será que você ficou triste comigo por ter mexido nas roupas da Michelle?
tia Carina: Duda eu não estou triste com você querido. Na verdade por um instante pensei ter visto sua prima...😢😢😢
Então ela me mostrou uma foto da minha prima que por coincidência estava com a mesma roupa que eu usava quando minha tia entrou no quarto, e por incrível que pareça, ela na época da foto éramos muito parecidas de corpo e de rosto... como eu estava com o cabelo já com o comprimento chanelzinho, realmente ficamos bem parecidas.
Agora eu entendi o porque minha tia correu pro quarto e fiquei triste por não ter minha prima lá comigo, mas ao mesmo tempo por mesmo que alguns segundos ser confundida com ela.
Abracei minha tia e senti sua ternura e carinho por mim nesse momento. Não me lembro bem o motivo nem o porque disse a ela que se um dia eu me tornasse uma mulher meu nome seria Michelle.
Depois desse dia senti que tia Carina mudou, passou a sorrir mais, e começou a cuidar mais da sua aparência, afinal era é uma mulher muito atraente.
Os dias passavam e agora eu tinha total apoio da minha tia para ser o que eu sentia ser. Acho que ela ainda queria tirar a prova mesmo se eu era gay ou não. Ela precisou sair e quando voltou me disse que eu gostaria da surpresa que ela tinha comprado pra mim.
Peguei aquela sacola com tanta alegria por achar que poderia ser uma roupinha nova que nem olhei o que tinha nela, apenas corri pro meu quarto para experimentar. Mas, infelizmente minha alegria durou pouco eram roupas de menino. Como eu não voltei pra sala feliz da vida, ela bateu na porta e disse que eu tenho a opção de escolher o que usar.
E agora?
O que eu faço?
Sou um garoto e infelizmente tenho que usar roupas sem graça de menino por causa da descriminação das pessoas e do pré conceito da sociedade. Voltei pra sala e era nítido minha tristeza e decepção de estar usando cueca, bermuda e camiseta. Assim que ela me viu, me perguntou...
Tia Carina: Duda, por que você está assim tão triste?
Eu: com lágrimas nos olhos só podia responder, nada não tia...😢.
Tia Carina: você não gostou da roupa, é isso? Pensei que como você não trouxe suas roupas gostaria de voltar a ser novamente o menininho que sempre foi.
Eu nada respondia... só chorava, e agora chorava copiosamente 😢😭😭😭. De repente ela foi pro quarto e voltou com um vestido estampado que se me lembro bem, era da minha prima. Lindo demais com um decote pequeno, um pouco acima do joelho, uma graça.
Tia Carina: vai lá Duda, já vi que você nasceu mesmo pra ser uma garota!
Na hora voltei a sorrir e corri pra me vestir.
Nossa! Isso realmente não tem como explicar, parece que nasci mesmo pra ser mulher. Não é uma roupa que define quem você é, mas ela tem o poder de te mostrar o futuro.
Nossas vidas mudaram muito dali pra frente. Tanto ela como eu ficamos mais próximas e com uma imensa vontade de viver. Da hora de acordar até a hora de dormir, sempre sorrindo e cantando só pelo simples prazer de estar vivas.
Passaram meses e eu não sentia vontade de voltar pra casa, porém nem tudo é como queremos, né?
Minha mãe resolveu aparecer sem avisar e justo neste dia, minha tia precisou sair cedo. Como já estava acostumada a ficar sempre como menina, nem me preocupei em tirar a camisola pra atender a porta, só coloquei um roupão por cima, mesmo porque todos os vizinhos já me conheciam como a sobrinha da Carina.
Na hora que abri a porta e minha mãe me viu daquele jeito, meu coração disparou porque mesmo usando o roupão ela notou que eu estava usando uma camisola por baixo. Como ele era de cetim não teve como esconder a marca da calcinha e ainda por cima ainda tinha vestígio de maquiagem no meu rosto.
A única coisa que ela me disse assim que entrou foi, o que eu estava fazendo com aquelas roupas, e onde estava minha tia e se ela sabia que eu estava daquele jeito.
Eu: Mãe não é o que a senhora está pensando... eu esqueci de trazer minhas roupas e por isso que estou usando as roupas da Michelle.
Mãe: Duda você acha que sou idiota? Menino não testa minha paciência porque já peguei você usando as roupas da sua prima antes...esqueceu?
Mesmo jurando que estava falando a verdade ela não acreditou e me chamava de sem vergonha, ouvir isso de um estranho é ruim, mas ouvir isso da própria mãe. ..doeu na alma!
Voltei pro meu quarto e fiquei lá chorando sem vontade de sair por nada deste mundo. Mais uma vez esse meu desejo me deixou mal, minha referência de mulher, minha mãe só não me chamou de santo, me senti humilhado por ela.
Nisso minha tia voltou e deu pra ouvir a briga das duas quando minha mãe me chamou de viado e que tia Carina estava concordando com essa pouca vergonha.
Mãe: Carina minha irmã o que está acontecendo aqui? Por telefone você me disse que meu filho estava usando as roupas do Lucas porque ele esqueceu de trazer as dele. Aí eu chego aqui e pego meu filho com resto de maquiagem, de camisola e ainda por cima de calcinha...
Tia Carina: caramba como você é minha irmã... ao invés de criticar seu filho, porque você não procura entende-lo? Será que não percebeu que ele é um menino diferente?
Mãe: quando aceitei que ele viesse pra cá, foi para te fazer companhia e ajudar em tudo que fosse preciso por causa dessa fatalidade, mas pelo jeito parece que vocês se ajudaram, né?
Depois da conversa das duas, um silêncio que para mim durou uma eternidade, mas foi o suficiente pra minha mãe entrar no meu quarto e me chamar para ir embora com ela.
Mesmo contra a minha vontade não podia fazer nada pelo motivo de ainda ser menor de idade. Tentei vários argumentos para ficar com a minha tia, mas pelo o que ela viu não adiantou.
Infelizmente voltei pra casa e durante a viagem não falei nada com mamãe, sempre de cabeça baixa e com uma expressão triste no olhar. Acredito que por ser mãe, o coração dela devia estar em prantos por me ver triste daquele jeito, mas como ela mesma disse: NÃO CRIEI MEU FILHO PRA SER VIADO...
Agora eu sei porque muitas travestis saem de casa! Infelizmente nem todas as pessoas tem um coração de verdade batendo dentro do peito. Sempre imaginei que o apoio viesse da família, ou da mãe.
O problema não é ser gay, o problema é você não poder ser quem você é por causa da idade. Para evitar qualquer problema com a minha mãe, deixei de usar roupas femininas.
Durante 7 anos deixei o meu lado feminino escondido dentro do armário, me apaixonei por uma garota e acabei me casando.
Continua...