No sábado logo de manhã recebi mensagem do João falando que iria me pegar as 19h pra irmos num barzinho com o pessoal do serviço, visto que a Letícia; uma menina super gente boa que trabalhava com a gente, estava aniversariando e tinha nos intimado a ir comemorar no barzinho.
Não gostei muito, mas como a própria Letícia me mandou mensagem logo em seguida e éramos parceiros de serviço e amigos, me conformei.
Na hora marcada João passou no hotel e quase tive um treco ao ver ele todo lindo com uma calça jeans destacando suas coxas e o pacote, sapato, camisa de botão com os pelos do peito aparecendo próximo do pescoço. Melhor ainda foi a cara dele ao me ver, aprovando o visual, e me conduzindo até o carro.
Chegamos e interagimos bem com a galera, mas meu sossego acabou poucos minutos depois quando uma outra colega do serviço chegou com uma amiga.
Ela chegou e a amiga, Lívia, já deu uma olhada de cima a baixo em João, que safado como só logo ficou todo solto com ela; puxando uma cadeira pra ela e a amiga do serviço sentarem ao lado dele.
Ficamos um bom tempo ali, João e Lívia de risinho e conversa o tempo próximo a mim na mesa, enquanto eu tentava interagir com outras pessoas. Eu sentindo uma raiva com aquilo, mas sem poder demonstrar. A noite que era pra ser nossa e eu mal falando com ele, só vendo ele se engraçando com a mulher e ela toda oferecida.
Depois de um tempo, João levantou pra ir ao banheiro e eu escutei a Lívia sussurrando com a amiga dela: “Miga, que homem (ela falou gesticulando com as mãos e eu pensei: “piranha”) ele me chamou pra sair daqui a pouco, que acha?”; ela falou e a colega só respondeu: “se joga, que outra amiga minha já ficou com o macho e diz que é ótimo”.
Não aguentei ouvir aquilo e fui ao banheiro também tirar aquela história a limpo. Entrei João já estava lavando as mãos e só me olhou pelo espelho.
_ João, que história é essa de você sair daqui com aquela oferecida da Lívia? Esqueceu do nosso combinado? – falei deixando extravasar um pouco da irritação da noite toda.
- Voce tá doido se acha que vou dispensar uma gostosa daquelas querendo dar pra mim né? – ela falou zombeteiro enxugando as mãos.
- Mas você tinha combinado comigo, não acredito que...
- Eu já te dou pica a semana toda, viadinho... segunda quando eu estiver precisando do seu cuzinho te dou de novo – ele falou já levando a mão a porta.
- Vai então, mas não vem mais me procurar – falei ameaçador
Ele interrompeu o movimento de sair e se voltou pra mim com os olhos brilhando.
- Perdeu a noção, viado? Eu pego você a hora que quiser, esqueceu já do que fiz com você na primeira... apesar que nem preciso, é só balançar ele pra você que vem de joelhos como uma cadelinha – ele falou pegando na rola e olhando mais escroto do que nunca.
- Acabou tá, vai se divertir; mas não me procura mais
Fui sair e senti ele me segurando pelo braço.
- tá precisando tomar uma sova pra lembrar seu lugar né, viadinho. Só não te dou agora porque essa pica já vai tá muito ocupada hoje
- Escroto, me larga, não faço mais nada com você.
- Não me provoca que fica todo mundo sabendo que você é puta de macho. Acha o que? Não estou nem aí, macho que é macho pega viado oferecido, não vai diminuir em nada minha reputação.
- Filho da puta – falei sentindo o peito queimar e ouvimos barulho de gente se aproximando do banheiro e ele me largou e saiu na frente.
Voltei pra mesa pouco depois e chamei minha amiga no canto e falei que ia embora, pois não estava sentindo bem. Como estava uma algazarra saí sem chamar muita atenção, acho que só João e minha amiga mesmo perceberam; pois foram os únicos que percebi me olhando.
Cheguei no quarto e desabei por dentro de uma vez depois de tudo que aconteceu nos últimos meses. Um filme de tudo foi passando na cabeça e me dei conta de que estava gostando de verdade de João. Fui dormir de madrugada depois de pesar muito tudo que tinha acontecido, o que eu estava sentindo e a última ameaça dele.
Acordei no domingo decidido do que fazer e mandei uma mensagem pro meu chefe, perguntando se podíamos conversar a tarde. Cheguei na casa dele e fui direto ao assunto, falando que queria a demissão.
Ele ficou surpreso, tentando me convencer a repensar e depois tentando entender o motivo. Mas eu só respondia que era um motivo pessoal muito forte e que precisava sair imediatamente.
Como não conseguia me convencer ele só disse então pra eu cumprir o aviso de quinze dias, uma semana na cidade até conseguir agendar um voo e a outra semana no escritório da sede na minha cidade natal. Mas disse que se até o 15 dia eu desistisse da demissão podia falar com ele a qualquer momento.
Agradeci a compreensão dele e ficamos combinados de irmos juntos no dia seguinte na caminhonete dele pro site só pra eu pegar minhas coisas que ainda haviam ficado no site e informarmos algumas pessoas da equipe, que trabalhavam com a gente.
Estava na salinha já do site com o gerente, João e algumas outras pessoas do site; todos meio alvoroçados por serem chamados logo na chegada ao site pra essa conversa; que ainda não sabiam de que se tratava.
Meu chefe tomou a palavra e contou que eu havia pedido demissão no dia anterior, arrancando umas expressões de surpresa de todos; incluindo João. Logo em seguida ele me deu a palavra e eu agradeci a todos e informei que eu iria sair do site imediatamente, mas estaria disponível durante alguns dias pra qualquer dúvida técnica ou sobre a papelada que usualmente preenchíamos.
Meu chefe finalizou dizendo brincando que nesse meio tempo ia tentar me convencer a ficar, mas eu respondi educadamente que, infelizmente, já estava decidido
Algumas pessoas vieram me cumprimentar e foram saindo aos poucos, restando apenas João que não saiu do lugar. Eu também não me aproximei e fui pro quarto do alojamento juntar minhas coisas. Estava ali esvaziando meu armário quando ele entrou no quarto.
Continuei juntando minhas coisas como se ele não estivesse ali até que depois de um tempo ele quebrou o silencio.
- Voce tá fazendo isso só por causa do fim de semana? Se foi pelo que eu disse é óbvio não vou fazer isso, foi só blefe..
- Faça o que quiser, não me importo – falei ainda sem olhar pra ele e acabando de fechar o fecho da mochila.
- Não faz isso, a gente tem um lance legal aqui – ele falou me segurando pelo braço quando fui passando por ele pra sair.
- Lance legal? Voce é a pessoa mais escrota que já convivi, sempre me tratou como lixo. Legal pra quem?... bom tá na minha hora e ainda tenho umas coisas pra resolver antes de ir embora – falei puxando o braço.
- Desculpe, eu realmente gosto.. – ele falou sem conseguir completar e eu me virei e voltei pra frente dele.
- Pega suas desculpas e enfia no seu... pensando bem não vou me rebaixar ao seu nível – falei e saí deixando ele sozinho no quarto.
Saímos pouco depois. Eu passaria a semana na cidade, pois só consegui um voo pra minha cidade no sábado a tarde.
Quando cheguei ao hotel ainda estava abalado por todos os acontecimentos do dia. Deixei minha mochila de lado, sentei na cama e peguei o celular pra contar pra alguns amigos e familiares que deveria voltar no sábado e havia ali várias mensagens de João.
Li os pedidos de desculpas, as declarações que ia sentir muito minha falta e coisas do tipo. Vi que ele estava digitando algo ao me ver online e bloqueei ele antes que enviasse o que estava digitando.
Trabalhei a semana no escritório da cidade voltando somente a tardinha ou noite para tentar sair sem deixar nada pendente. Na sexta-feira não foi diferente, cheguei ao hotel já era mais de 19h e dei de cara com João sentado em um sofá no saguão.
Eu que já estava cansado só pensei internamente “mais essa a essa hora”, mas antes que tivesse qualquer tempo de reação ele já estava perto de mim estendendo a mão e perguntando se podíamos conversar.
- João, estou cansado do dia e não tenho mais nada pra falar com você. Vou só tomar um banho, jantar e cama.
- Eu te levo pra jantar e aí a gente conversa.
- Eu não quero mesmo.
- Por favor
- tá bem então, mas na primeira grosseria eu levanto e venho embora nem que seja a pé.
- Não vou fazer grosseria nenhuma – ele falou com uma expressão diferente como nunca tinha visto.
- Beleza, me dá uns minutos então que vou tomar um banho e volto pra irmos.
Ele me levou num restaurante bacana não muito longe do hotel, mas no caminho já foi falando que sentiu muita falta minha durante a semana e eu achando aquilo tudo estranhíssimo.
Durante o jantar ele voltou a falar que a semana tinha sido péssima, que acostumou comigo, mas eu cortei ele logo.
- sentiu falta de alguém pra meter, mas fim de semana como você diz já tem muita mulher pra comer né, amanhã já passa.
- eu sou turrão, mas gosto de você mesmo, a semana foi difícil.
- Difícil, pra você? Eu abri mão do emprego que eu sonhava durante a faculdade, depois de ralar igual um condenado trabalhando e estudando pra formar. Por que diferente do que você deve pensar eu não sou um riquinho que teve tudo na mão, trabalhei muito pra me sustentar nos últimos cinco anos.
- Mas não precisa abrir, isso que vim te falar, queria te falar que quero você de volta e vou tratar bem de agora pra frente... eu sempre fui turrão, mas o que a gente teve nunca tive com ninguém de verdade.
- não estou interessado mais, acho deixei claro e não vou ser chantageado pra manter meu emprego.
- Foi muito cretino da minha parte, jamais vou fazer isso com você. Mesmo que não queira mais nada.
- Já está feito, amanhã eu embarco e não pretendo voltar aqui mais.
- Não tá nada feito, o chefe falou que você pode voltar atrás.
- Pode me levar pro hotel? – falei ignorando a última frase dele.
- Tá bom – ele falou sem contestar e partimos pro hotel sem falar muito no caminho.
Quando chegamos ele parou o carro na rua lateral e antes que eu descesse falou se podia pedir uma última coisa antes ou melhor duas, completou rapidamente esboçando um sorriso.
- Fala
- Me desbloqueia, pra gente poder pelo menos conversar? – ele falou e eu assenti com a cabeça e perguntei a outra.
- Um beijo, nem que seja de despedida...por enquanto.
- Voce não beija viado esqueceu já, João? – falei sarcástico e levei a mão até o trinco da porta e senti ele segurando minha outra mão.
- Mas eu beijo o cara que me deixou caidinho por ele, um cara especial que só depois que perdi fui dar conta de quanto é importante pra mim.
Fiquei meio atônito de ver ele falar aquilo tudo assim tão abertamente, justamente ele que sempre foi um bruto até com amigos e colegas próximos de serviço
Ele ficou me olhando sem soltar meu braço, mas também sem forçar até que eu me desvencilhei calmamente dele e falei que era melhor não.
Cheguei ao quarto, fui pra cama e fiquei lendo um tempo; mas não conseguia concentrar direito. Liguei a tv e peguei o celular e desbloqueei João, porém nem mandei mensagem.
Logo que viu que estava desbloqueado ele mandou várias mensagens se abrindo mais ainda que no carro; o que me deixou mais surpreso... mas mantive minha posição me esquivando dele.
Despedi pouco depois e fui dormir. Meu voo saía só depois do almoço, mas fui dar uma volta cedo pela cidadezinha pra despedir, visto que nunca mais deveria voltar para aqueles lados. Voltei pro hotel já próximo do check out pra só tomar um banho, pegar minha mala e partir.
Parti pouco depois daquela cidade, sentindo um aperto no peito como se estivesse me desconectando de uma parte da minha vida e de certa forma do futuro. Quando estava embarcando, peguei o celular pra por no modo avião e vi umas mensagens de João. Até tinha visto as notificações, mas não queria ler mais nada dele por hora.
“Passei no hotel de manhã pra me despedir, mas você não estava”
“Posso te levar ao aeroporto”
“Pow, você nem visualiza minhas mensagens” (emoji de carinha triste)
“Me desculpe por tudo. você foi maravilhoso pra mim e eu um cretino pra você.”
‘’Boa viagem, espero que volte pra mim”