Da guerra à paixão, um caminho turbulento - Parte I
Era noite Véspera de Natal, Cliff, Gary, Matt e eu fazíamos parte da patrulha que seguia o quadragésimo primeiro Esquadrão de Infantaria Blindada e que, tinha acabado de deixar para trás a aldeia 10 quilômetros a noroeste da cidade de Andkhvoy totalmente destruída pelos talibãs em fuga rumo ao Turcomenistão. Era sempre a mesma coisa, quando perdiam terreno, antes de debandarem, eles promoviam o caos nas pequenas aldeias, saqueando, estuprando e matando a população civil, para depois acusarem as tropas estrangeiras pela destruição e massacre. Como agente de comunicações, era raro que eu acompanhasse alguma patrulha, geralmente permanecendo na base americana itinerante que servia de apoio às tropas. Desta vez, a baixa de alguns agentes tinha me obrigado a seguir com uma das patrulhas, para que os relatórios do oficial em comando chegassem prontamente a seu destino. A passagem pela aldeia destruída ainda dominava nossas mentes, a profusão de corpos espalhados pelas ruelas estreitas e empoeiradas, os cadáveres de olhar apavorado executados nos pequenos cômodos das casas rústicas, as crianças sem vida agarradas aos corpos das mães, seriam nossas lembranças pelos próximos dias, quando não por toda a vida. Eu que era menos habituado a fazer parte do front, estava devastado por dentro, desiludido com o ser humano, odiando a aquela guerra e seus responsáveis que, de seus gabinetes confortáveis a milhares de quilômetros dali, determinavam o destino de toda aquela gente e dos soldados que travavam uma luta que não era deles. Os últimos foguetes lançados em nossa direção haviam cessado a pouco mais de uma hora. Não acertaram nenhum alvo, só deixaram crateras na estrada que serpenteava entre as montanhas.
Naquele grupo eu era como um peixe fora d’água. Desde a minha vinda ao Afeganistão servindo compulsoriamente o serviço militar, eu sempre havia atuado nas bases que eram montadas à medida que novas áreas eram reconquistadas pelas forças que compunham o contingente das Nações Unidas, como um militar de retaguarda cujas funções estavam estritamente ligadas ao setor de comunicações. Éramos encarregados de propiciar os contatos entre as diversas bases, entre os comandantes em campo executando alguma campanha, entre as bases e o alto comando distante milhares de quilômetros de onde aconteciam os combates e, quando nas bases, propiciávamos através da Internet o contato dos soldados com suas famílias nos países de origem. De certa forma, eu estava numa posição privilegiada, que me permitia conhecer muitos dos comandantes e soldados americanos que atuavam naquela guerra interminável. Quando estava trabalhando na sala de comunicações, era comum os soldados entrarem para pedir um acesso a vídeo-chamadas ou simplesmente bater um papo quando estavam de folga e enfastiados. Foi assim que conheci, entre muitos outros, o Cliff, Gary, Matt, o tenente Luke e o capitão Buck que comandavam um esquadrão de Marine Seals, uma tropa de elite especializada em operações de assalto, reconhecimento e infiltração em terrenos ocupados pelas tropas Talibãs. A empatia deles por mim aconteceu logo nos primeiros dias que cheguei à base. Eu atribuí essa rápida identificação entre nós a minha facilidade de fazer amigos, especialmente quando se tratava de homens como aqueles, parrudos, musculosos, exalando testosterona por todos os poros e que, aquele uniforme de camuflagem parecia deixar ainda mais sensuais e apetitosos para um gay discreto como eu. Além da minha espontaneidade, eu sabia que boa parte do meu poder persuasivo estava em meu rosto harmonioso que já havia estampado algumas capas de revistas de moda e, de um corpo escultural que, no meu caso, passava quase totalmente despercebido dentro do uniforme, não fosse um olhar mais atento e sedento de desejos. O que, diga-se de passagem, não era algo tão difícil de se encontrar entre aqueles homens que ficavam meses sem ver uma mulher e, que tinham deixado as suas praticamente do outro lado do mundo. Eu também sabia que não eram apenas os twizzlers de alcaçuz que sempre estavam na gaveta da minha mesa e, serviam de álibi para as verdadeiras intenções das visitas, que atraiam aqueles machos para conversas, às vezes picantes, à sala de comunicações. De modo geral, eu sempre tive um jeito muito carinhoso de tratar as pessoas, nem mesmo me furtando a exibir esse mesmo comportamento quando se tratava de homens que me atraiam desde que os hormônios se instalaram nas minhas veias durante a adolescência. E, aqueles militares carentes procuravam por isso quando vinham ao meu posto de trabalho, ou quando me encontravam pela base.
Começou como uma brincadeira para descontrair aquele clima nefasto, na trincheira natural do relevo que acompanhava o início do desfiladeiro, com o Gary sacudindo o imenso cacetão logo após ter mijado contra o barranco, cujo solo ressecado logo absorveu sua urina, deixando apenas uma marca mais escura na camada avermelhada de terra. Ele caminhou os poucos passos que o separavam de nós, fazendo o caralho flácido girar como se fosse a hélice de um ventilador. Todos riram. Os risos ali, naquelas condições, não eram naturais e espontâneos e, sim, fruto da tensão, do medo e ansiedade. De qualquer forma, o Gary era um sujeito engraçado e audaz, fazia piada quando estava nervoso na tentativa de se acalmar e fazer os outros entrarem em seu jogo. Quando ele ficou muito próximo de mim, a lua cheia que iluminava o céu me permitiu enxergar com maior nitidez o tamanho e o formato daquela pica. Ela fazia jus ao tamanho do Gary, parrudo, musculoso devido ao treinamento como Marine Seal há quatro anos, e tão linda quanto ele. Ele continuou a girar aquela coisa a menos de três palmos do meu rosto e, num impulso descontrolado e irrefreado, eu o segurei e o levei à boca, diante dos olhares incrédulos do Cliff e do Matt. Tão logo meus dedos se fecharam ao redor do cacetão grosso e quente, o Gary o soltou, deixando que eu o controlasse. Havia o cheiro da urina recente, mas também um perfume penetrante e delicioso que me lembrou o de nozes mofadas. A chapeleta mal coube na minha boca, mas eu a circundei com os lábios e a lambi sensualmente, fazendo minha língua rodopiar junto ao orifício uretral. O Gary soltou um sonoro e longo gemido pronunciando simultaneamente – TESÃO, QUE DELÍCIA! – enquanto jogava a cabeça para trás e se deixava chupar. Eu estava tão focado em saborear aquela jeba pulsando na minha boca que nem reparei quando o Cliff e o Matt abriram suas braguilhas e também tiraram suas rolas, igualmente descomunais, de dentro das calças. Eu sugava, lambia, dava mordiscadas delicadas naquele membro sensível e irrequieto, me deliciando com o sumo aquoso e ligeiramente salgado que ele começou a verter. Afora os gemidos que o Gary procurava sufocar, o silêncio só era interrompido por conversas em tom baixo de outros soldados mais à frente na trincheira. Além de nós quatro, ninguém saberia dizer o que estava acontecendo ali. Não fazia nem cinco minutos que eu estava chupando o Gary quando ele gozou na minha boca, soltando outro – TESÃO DA PORRA! – junto com uma quantidade absurda de jatos de porra cremosa, que eu, naquele devaneio, ia engolindo como se dela dependesse minha vida. Eu nunca antes tinha feito uma loucura semelhante e, muito menos, engolido o esperma de um macho desconhecido. Naquela noite, achei ambas as coisas sublimes. Talvez foram as circunstâncias, pensei logo após me dar conta da loucura que havia feito, Véspera de Natal, longe da família, aquele macho tão cheio de vitalidade e carente de sexo brincando para espantar toda a opressão que carregava no peito, tudo isso podia servir de desculpa para minha atitude impulsiva. Porém, antes que eu continuasse a me questionar, o Matt colocou sua rola grossa e pesada, à meia-bomba, diante da minha boca, com o olhar brilhando de desejo, como um garotinho que vê o colega segurando um sorvete. O cheiro emanado pela virilha do Matt me levou a colocar sua pica na boca, a textura, o sabor, os aromas eram todos diferentes, mas igualmente deliciosos. Ele se contorceu bem mais que o Gary enquanto eu mamava sua rola, tanto que sua agitação despertou a atenção dos soldados que estavam mais adiante. O Cliff o censurou por ser tão indiscreto, e isso o fez tentar se controlar. Mesmo assim, ele suplicou – NÃO PARA DE MAMAR MINHA CACETA, SETH! POR FAVOR, NÃO PARA! – e, nem mal terminou de balbuciar o pedido, eu senti o primeiro jato entrando na minha garganta e quase me sufocando de tão volumoso. O Cliff mal se continha, vinha fazendo um esforço gigantesco para não gozar na punheta enquanto me via mamando o gozo leitoso e espesso dos colegas e, aguardava sua vez de colocar sua jeba avantajada na minha boca para receber a mesma atenção e carinho. Ao vê-lo ali todo ouriçado, cheio de tesão, louco para ser mamado e, saber que não o deixaria de fora daquela insanidade que eu estava levando à cabo, sabe-se lá por que razões, me senti um pervertido pela primeira vez. Aquilo era uma loucura sem tamanho, mas eu estava gostando de cada minuto, de cada sabor daqueles machos, de cada gota de suas porras cremosas. Na minha cabeça prevalecia o desejo de dar a eles algum alento para aqueles dias difíceis pelos quais estavam passando, para sua solidão, para a falta que o sexo fazia em suas vidas, mais do que um prazer pessoal e egoísta de minha parte. Em nossas trocas de olhares sob o breu daquele céu de um país estranho cada um deles compreendeu a sensibilidade e afeto do meu gesto. Eles não me consideravam uma bicha tresloucada que repentinamente deu para chupar rolas numa situação completamente inusitada. Receberam meu boquete como um presente, assim como eu recebi seus espermas da mesma forma sublime. Eu apalpava o escroto pesado e cheio do Cliff enquanto lambia e chupava toda a extensão de sua verga grossa, cabeçuda e de veias ingurgitadas. Ele se contorcia e gemia sentindo a proximidade do gozo avançando de modo irreversível, prendeu minha cabeça entre as mãos e estocou a pica na minha garganta para garantir que nenhuma gota de sua virilidade se perdesse. Foi quando o grito autoritário ecoou na noite silenciosa pondo um fim a tudo, exceto o gozo do Cliff que continuava a sair aos jatos diretamente na minha boca e, à minha pressa em engolir tudo aquilo.
- Que putaria é essa! – berrou o capitão Buck surgindo abruptamente da escuridão da trincheira. – Vocês estão querendo amargar alguns dias de cadeia? Estão procurando por uma punição por conduta indecente não compatível com a situação pela qual estamos todos passando aqui? O que deu em vocês? – questionava ele aos berros, enquanto eu me punha novamente em pé e deglutia o último gole do sêmen quente e saboroso do Cliff, sob o olhar embasbacado e incrédulo do capitão.
- É culpa minha, capitão! – exclamei de pronto, tentando livrar a cara dos que estavam diretamente sob o comando dele. – Foi um impulso! Um ato falho e impensado! – emendei gaguejando, pois não sabia o que dizer para me justificar.
- Vocês serão expulsos quando eu apresentar meu relatório sobre esse descalabro! Os misseis não pararam um minuto de voar sobre as nossas tropas e vocês, ao invés de estarem se comportando como soldados em plena guerra, estão aí se divertindo numa putaria sem precedentes! – continuou ele, enquanto as picas eram enfiadas novamente para dentro das calças.
- Eu repito, capitão, a culpa é minha! Não puna seus homens, por favor! – implorei.
- Essa viadagem vai lhe custar caro, Seth! A vocês todos! – continuou implacável.
- Por favor, Buck, eu te imploro, não leve isso adiante. Todos estamos sob tensão, é noite de Natal, seus homens são soldados inigualáveis, você sabe disso, não destrua a reputação deles, eu te suplico!
- Buck, o caralho! Para você é capitão Buck! Sua bicha vadia e rameira! – essa fúria descomunal não era típica dele, eu sabia que só podia haver algo mais por trás de toda essa braveza, pois tinha certeza que ele e eu tínhamos uma amizade sincera e verdadeira que não conhecia limites.
Ele caminhou a passos largos e decididos na direção onde havia mais comandantes de pelotões reunidos traçando novas estratégias de avanço das tropas assim que amanhecesse. Eu o segui determinado a persuadi-lo de denunciar seus amigos e comprometer suas imagens com o que acabara de acontecer. Apesar de estar a apenas dois passos atrás dele, ele não me dava ouvidos. O Gary, Cliff e Matt vinham atrás de mim afirmando que eu não precisava me humilhar tanto, que eles assumiriam sua parte da responsabilidade pelo que tinha acontecido, mas eu também não os ouvia.
- Capitão! Eu suplico, me ouça com calma, por favor. Não são apenas seus homens, são seus amigos, não faça nada que possa abalar essa amizade e do que vai se arrepender futuramente. Foi uma coisa impensada, eu admito, mas não foi nenhum crime. Todos estão abalados, longe de seus entes queridos, carentes, numa noite que deveria ser especial e de harmonia. Me ouça, Buck, por favor! – ele continuava caminhando e ignorando meu pedido, como se fosse desprovido de sentimentos. Então fiz mais uma coisa intempestiva, vinda de nem sei onde, achando que com isso sua raiva se aplacaria. – Se você quiser, eu faço um boquete em você também! – exclamei impensadamente. Ele estancou tão repentinamente que eu quase o atropelei.
- Como é que é, sua bicha piranha? Está pensando que vai comprar meu silêncio e minha integridade mamando meu caralho? – simultaneamente às perguntas veio uma bofetada tão violenta com aquela mão enorme e pesada que ele tinha, que eu perdi o equilíbrio e cai, sendo amparado pelo Matt antes de bater com a cara contra as pedras do barranco. – Você devia ter vergonha na cara, seu viado depravado!
- Chega! Isso está indo longe demais! – exclamou o Cliff, indignado com a postura do Buck. – Deixe-o fazer o que quiser! Não há porque você se vilipendiar tanto por algo que fez com tanto carinho e consideração por nossas carências. Antes de mais nada somos seus amigos!
- Exato! Vamos aceitar a punição que nos cabe, sem que você tenha que passar por isso tudo. – emendou ligeiro o Matt, enquanto me amparava em seus braços.
Ao se deparar com a cena do Matt me abraçando de forma tão protetora, o Buck ficou por alguns instantes sem chão, dava para ver isso no olhar dele. Se minhas palavras não o convenceram a desistir da denúncia, aquela imagem o faria, dizia uma voz dentro de mim.
Dias depois, eu vi que tinha acertado. O Buck não levou o caso adiante, nenhum de nós foi advertido pelo que aconteceu na trincheira. No entanto, minha relação com ele se quebrou. Ele nunca mais me dirigiu a palavra, exceto para questões estritamente necessárias. Bem como, nunca mais passou pela minha mesa dentro da base para filar alguns twizzlers ou trocar umas palavrinhas. Ao contrário do que fazia comigo, ele continuava se relacionando com o Cliff, o Matt e o Gary como se nada tivesse acontecido, mesmo eles insistindo para que ele revisse sua postura para comigo.
- O Seth é um cara incrível, Buck! É sensível, carinhoso e tem um coração gigantesco. O que ele fez naquela noite de Natal foi fruto dessa personalidade, ele viu que estávamos para baixo, longe de casa e de nossas famílias, e quis quebrar aquele clima depressivo fazendo não uma perversão, mas uma brincadeira carinhosa. Pelo menos, foi assim que nós três encaramos o que aconteceu. – ponderou o Gary.
- Entendam como quiserem! Para mim ele não passa de um viado rameiro sem escrúpulos. – devolveu o Buck.
- Você sabe que está enganado quanto a ele! Admita que teria gostado se ele também tivesse feito um boquete em você. – completou o Matt.
Cinco anos depois daquela noite fatídica, meu restaurante em Everett, Washington estava empenhado com a festa de casamento do Cliff, que aconteceria no final daquela semana. Ao dar baixa do serviço militar quando voltei do Afeganistão há quatro anos, eu voltei para a cidade onde o Cliff, eu e o Gary nascemos. Ao pisar novamente em solo americano não demorei mais do que três semanas para descobrir que meu namorado tinha se envolvido com outro cara durante a minha ausência. Até tentei entender seus motivos para me trair, a distância, a falta de notícias regulares, as necessidades sexuais não supridas, a possibilidade de o reencontro deixar evidente que nossos sentimentos já não eram os mesmos. Mesmo assim, ficou um enorme vazio em meu peito e, uma sensação de ter sido traído por quem eu não deixei de pensar um segundo sequer enquanto estive na guerra. Me mudei para Seattle para fugir daquela dor e terminar meu curso de gastronomia, enquanto trabalhava como sous chef na badalada cozinha do Four Seasons da cidade. Com o diploma em mãos, minha tia Bertha, irmã da minha mãe, e que vinha cuidando de mim, uma vez que perdi meus pais muito cedo, meu pai quando criança e minha mãe aos dezoito anos, resolveu apostar em mim, entrando como sócia no restaurante que ela me instigou a montar em Everett. Era, de certa forma, uma maneira de me prender junto a ela, já que tinha enviuvado enquanto eu estava no Afeganistão. A edificação comercial de três andares na Colby Ave estava desocupada havia quase um ano quando minha tia me levou até o local e me falou do potencial do lugar.
- O que me diz de montar seu restaurante aqui? É uma região privilegiada da cidade e eu acho que falta um restaurante de classe nessa avenida, o que acha? – questionou entusiasmada.
- É maravilhoso! Mas você sabe que não tenho como bancar um local como esse. As economias que juntei nesses anos no Four Seasons não me permitem um passo tão ousado. – respondi.
- Serei sua sócia! E nem pense em mexer nas suas economias. Vamos deixar esse lugar um brinco e você dará sua alma ao lugar. Tenho certeza que será um sucesso, querido! – sentenciou querendo me agradar.
- É muita coisa, tia! Não sai barato montar um restaurante do zero. – ponderei.
- Diga-me meu amor, onde vou gastar meu dinheiro? Você é meu único parente. Um dia tudo que tenho será seu. Qual o problema em adiantar um pouco as coisas? – ela me encarava cheia de amor e carinho, como sempre fizera desde me fiquei órfão.
- Só se me deixar devolver o que investiu aos poucos, à medida que o restaurante passar a dar algum lucro. – retruquei.
- Está bem, seu cabeça dura! Faça como achar melhor! Eu te amo, Seth! Sempre vou te amar e desejar o melhor para você. – devolveu ela, vindo se aninar em meus braços.
Tia Bertha e eu sempre tivemos um relacionamento muito próximo. Foi ela quem sacou que eu era gay, ainda na adolescência, quando imperava uma confusão na minha cabeça sobre quem eu era. Foi a ela que contei pela primeira vez que achava que era gay, que alguns dos meus colegas de colégio despertavam meu interesse. Ela apenas riu e me abraçou.
- Ainda bem que você descobriu quem é! Não há mal algum em você gostar de rapazes. Só tome cuidado para não se machucar. Se relacionamentos heterossexuais já são problemáticos, os homossexuais podem ser ainda mais tumultuados. Também seja cuidadoso com seu comportamento, o preconceito ainda é grande por parte de muitas pessoas e, eu temo por sua integridade física, pois não faltam malucos dispostos a tudo para humilhar os gays. Quando vai contar para a sua mãe?
- Ainda não sei! Acho que ela vai ficar escandalizada. Mamãe sempre foi tão certinha, será que vai aceitar numa boa? – questionei.
- Ela te ama, vai acabar aceitando, talvez mais facilmente do que você imagina.
- Tenho lá as minhas dúvidas! De qualquer forma, não vou contar por enquanto. Estou feliz que você saiba, já significa muito para mim. – ela me beijou a testa e me apertou contra o peito, enquanto alisava meus cabelos.
Quando o Cliff e a Louise resolveram casar, vieram me pedir para fazer o buffet da festa, uma vez que o restaurante estava na boca de toda a cidade, cheio de elogios. Eu topei sem pestanejar. Minha amizade com o Cliff tinha ganhado força durante a guerra, bem como a com o Gary. Estávamos sempre juntos. Antes de conhecer a Louise o Cliff até tentou me levar para a cama algumas vezes, saudoso daquele boquete na trincheira, como afirmava ele, com seu jeito safado e incontrolável de saciar sua jeba colossal. Eu apenas me esquivava da mão boba que passeava por lugares pouco recomendáveis do meu corpo, devolvendo um sonoro – Não – às sacanagens que ele sussurrava nos meus ouvidos. Um envolvimento mais íntimo poderia acabar colocando nossa amizade em risco se não desse certo, tanto ele quanto eu sabíamos disso. Ele era um sujeito feito para casar, ter filhos, uma família nos padrões normais e, cedo ou tarde, ele se daria conta de que num relacionamento homoafetivo isso nunca ia acontecer. Assim, o tesão que sentia por mim e pela minha bunda, ia sendo aplacado com aquelas brincadeiras cheias de segundas intenções e volúpia.
Outra grande qualidade do Cliff era cultivar as amizades que fazia ao longo da vida, e isso o fez juntar todos os seus amigos na festa do casamento, incluindo os que fizera no Afeganistão. Fora ele e o Gary, eu nunca mais tinha tido contato com os Navy Seals que haviam servido na mesma base que eu durante meu período militar. Nem foi pela distância, pois todos moravam em Everett ou muito próximo, uma vez que na cidade está localizada uma Base Naval da Marinha dos EUA, mas por alguma negligência em continuar perpetuando essas amizades. Assim, o casamento serviu para nos reunir novamente, em condições não tão adversas como aquelas nas quais havíamos nos conhecido.
A cerimônia do casamento aconteceu numa tarde ensolarada de temperatura agradável de setembro sob um gazebo decorado no centro dos jardins do Hidden Meadows a sudeste da cidade, onde também se seguiu a festa. O Cliff estava radiante, o que o tornava ainda mais lindo. Ao vê-lo naquele terno bem ajustado ao seu corpo musculoso cheguei a me questionar por nunca tê-lo deixado me levar para cama, como tantas vezes seu desejo deixou explícito. Mesmo sendo somente uma experiência sexual, certamente teria sido maravilhosa. Ao menos era isso que aquele homem másculo sorrindo para mim todo bobo de felicidade me inspirava naquela tarde. Uma pontinha de inveja boa da Louise me espetava ao ver o Cliff em seu pleno vigor físico e emocional, pois em poucas horas ela estaria sentindo aquele cacetão suculento e saboroso, cujo potencial eu bem conhecia, se saciando em sua vagina.
- Você está lindo! – exclamou ele, quando fui lhe participar de que todos os detalhes do jantar programado para o entardecer estavam conforme havíamos planejado. – Eu devia ter te enrabado, apesar das tuas negativas, quando estava livre e desimpedido. Essa sua bunda me alucina. Vou até evitar de ficar muito perto de você para não ficar de pau duro, dentro dessa calça seria um vexame. – continuou sorrindo de felicidade e excitação.
- Você ouviu o que eu disse, seu depravado? Daqui a algumas horas você estará em plena lua-de-mel com sua esposa, que maluquice é essa de ficar com a ideia fixa na minha bunda, seu tarado? Trate de ser um marido fiel à Louise, eu gosto muito dela, ou vai se haver comigo! – devolvi. Ele apenas riu.
- Amo você, sabia? Tenho certeza que tudo está maravilhoso. Você é muito especial! – exclamou, para fazer com que minha expressão voltasse a esboçar um sorriso.
E foi mesmo, tudo maravilhoso. O sol se punha no horizonte com o céu ganhando tons azulados cada vez mais escuros e intensos. As luzes dos jardins iam se acendendo em meio as pessoas circulando e cumprimentando os noivos. Aos poucos as mesas distribuídas pelo jardim foram sendo ocupadas à medida que as pessoas iam se servindo do jantar. Minha equipe estava impecável em cada detalhe, assim como as pessoas que eu havia contratado para reforçar o time, o que me permitiu curtir a festa como convidado, embora sem deixar que um olho ficasse sempre em alerta para o que estava acontecendo.
- Oi! Mesmo de costas reconheci essa silhueta inconfundível! – exclamou uma voz que se aproximara de mim pelas costas, sem eu perceber. Era o Matt. – Seth, o anjo da base no Afeganistão, que além de sempre ter um sorriso e uma palavra amiga, tinha uma gaveta cheia de twizzlers para a gente filar. – continuou, assim que me virei em sua direção.
- Matt! Há quanto tempo? Por onde você andou? O Cliff me disse que você mora em Marysville, por que nunca mais deu as caras? – despejei, caindo no abraço vigoroso para o qual ele havia me puxado, ao mesmo tempo em que discretamente me dava um beijo junto ao queixo que quase tocou meus lábios, numa demonstração que deixava claro que aquela antiga amizade continuava sólida e permitia essa intimidade.
- Sei lá! A gente vai se envolvendo com os problemas do dia-a-dia e vai protelando o encontro com os amigos. Você está maravilhoso, para dizer o mínimo! – exclamou em resposta. – Soube que abriu um restaurante e que esse jantar foi organizado, promovido e presenteado aos noivos. Ficou fantástico, parabéns! – emendou, demorando a me soltar, o que me fez corar ligeiramente, pois as pessoas à nossa volta olhavam para aquele abraço um tanto quanto focadas demais.
- Obrigado! Você precisa me fazer uma visita no restaurante, vou adorar te receber. – devolvi, quando ele me soltou. – E você, o que anda fazendo?
- Quando dei baixa do serviço militar fui trabalhar na Boeing, estou lá desde então. – respondeu ele.
- E as namoradas? – perguntei curioso, uma vez que aqueles Seals eram homens que nunca passavam despercebidos por onde passavam. Primeiro, por seus corpos esculturais e vigorosos, segundo, porque eram machos que me pareciam insaciáveis, conforme me lembrava deles na base do Afeganistão.
- Complicadas demais! Entender as mulheres não é coisa fácil! – retorquiu, um pouco amargurado pelo que pude constatar em sua expressão.
- Pelo visto levou um fora recente, de alguma delas. Mas isso logo passa. Pelo que me consta vocês são mais cobiçados que um prêmio de loteria, logo, logo vai aparecer outra. – devolvi.
- Não, não é bem por aí! Mas não quero falar sobre isso agora. Por hora pretendo matar as saudades de você! – exclamou enfático. Os problemas dele não se resumiam a relacionamentos amorosos, mas a sequelas psicológicas deixadas pela guerra, o que só vim a descobrir algumas semanas depois.
- Tem tido notícias de mais alguém que serviu conosco? – perguntei curioso.
- Não, até que não. Só os mesmos que você, acho. – respondeu ele quando, de repente, se lembrou de mencionar o capitão Buck e o tenente Luke.
- Estive com o Luke na semana passada. Ele comemorou o aniversário no meu restaurante com alguns familiares e amigos. Reencontrei-o logo depois de ter voltado para a cidade, após o curso de gastronomia. Desde então nos encontramos de vez em quando. Sei que ele também trabalha na Boeing. – mencionei.
- A metade de Everett trabalha na Boeing! Estamos em setores bem distintos, nunca o vejo no trabalho, só em alguns encontros também. – revelou ele.
Propositalmente não perguntei nem fiz nenhuma alusão ao capitão Buck. Tinha ficado um clima hostil entre nós depois daquele flagrante nas trincheiras que nunca foi solucionado, embora ele não tenha levado o caso adiante, nem acusado nenhum de nós conforme havia deixado claro no momento de fúria que se seguiu ao ensejo acalorado daquela visão de eu mamando as rolas deles.
- Já viu o Buck? Ele está por aí. Chegamos praticamente juntos ao casamento. – disse ele, me obrigando a falar alguma coisa.
- Não, não vi! – ele percebeu meu constrangimento na voz insegura.
- Vocês ainda não superaram aquele incidente? Foi há tanto tempo! – questionou ele.
- Não é isso! Nem me lembrava mais daquilo. Só não nos reencontramos mais, foi isso. – menti, uma vez que eu nunca superei o fato de o capitão ter sido tão intransigente e preconceituoso com aquele gesto de carinho que, eu concordo, foi bastante ousado; embora naquelas circunstâncias tivesse trazido uns momentos de muita satisfação e contentamento em meio a horas de tensão, fadiga e estresse extremos, algo que me pareceu o capitão foi o único a nunca conseguir enxergar por trás daquele gesto carinhoso.
- Podíamos ver por onde anda aquele cabeça-dura. – era exatamente isso que eu temia, que ele forçasse um encontro com aquele homem que, de início, eu tinha como um bom e grande amigo, mas que se transformou numa pessoa irascível e quase um inimigo depois do flagrante.
- Tenho que dar umas ordens aos meus funcionários, talvez mais tarde. – retruquei. Ele sacou que eu queria evitar aquele encontro a qualquer custo.
- Ok! Vejo que não está pronto para encarar esse reencontro. – concluiu. – Mas vou ficar por aqui, e gostaria de conversar um pouco mais com você, pode ser?
- Claro! São apenas uns minutinhos, logo estarei de volta. – respondi. Eu gostava do Matt como gostava de todos eles e, algo me dizia, que ele estava precisando de mim para alguma coisa que estava camuflada por trás daquele olhar perturbado, embora lindo.
Eu mal podia acreditar que estava sendo tão infantil procurando fugir de um reencontro com o Buck como se eu fosse um garotinho que tivesse aprontado alguma bobagem. Era ridículo, eu sabia, especialmente depois de tanto tempo, mas não encontrava uma forma de me manter indiferente àquele reencontro. Fiquei um tempo assessorando meus funcionários, o que me permitia ficar afastado dos convidados que circulavam pelos jardins, formando grupinhos aqui e acolá. Eu já havia identificado o Buck entre eles por duas vezes, seus ombros largos e aquele corpão com mais de um metro e noventa de altura não se faziam facilmente imperceptíveis. Não dava para negar que eu tinha uma queda por ele desde a primeira vez que o vi na base do Afeganistão. No dia da minha chegada à base, cansado e perdido devido a longa viagem, eu o vi preparando um pelotão que estava prestes a fazer uma incursão em território inimigo. Apesar do tamanho e do equipamento pesado que carregava, seu corpo tinha uma agilidade felina, máscula, isso sem levar em conta aquele rosto anguloso e viril. Foi paixão à primeira vista. Eu sempre soube disso. Não depositei nenhuma esperança quanto a ele, nem mesmo uma amizade eu achei que podia brotar dali. Muito provavelmente ele nem me enxergaria e, se viesse a saber da minha homossexualidade, certamente nem a palavra me dirigiria. Contudo, me enganei redondamente. Da primeira vez que entrou na sala de comunicações da base, regressando de uma missão para enviar seu relatório ao alto comando, ele se aproximou da minha mesa, mesmo sabendo que eu era um novato recém-chegado e me incumbiu de fazer a conexão com seus superiores. Não sei o que o levou a se dirigir à minha mesa, pois havia outras quatro e ele já era bem conhecido pelos outros operadores. Aproximou-se com um sorriso discreto e um olhar penetrante que, por uns instantes, fez meu cuzinho piscar, vendo aquele macho parrudo se aproximando como um predador. Me atrapalhei todo na operação do equipamento, embora o dominasse sem nenhum problema. Ele se divertiu com meu embaraço e, se minha intuição não estivesse me pregando uma peça, podia jurar que ele sabia que tinha conseguido me perturbar. Fiz o que ele me pediu em questão de minutos, que me pareceram séculos com ele olhando ali para mim tão fixamente que dava para sentir uma curiosidade perfurante entrando no meu corpo.
- Relatório enviado! – exclamei ao receber a confirmação do envio.
- Beleza! Muito obrigado, Seth! – ele fez questão de pronunciar meu nome mais lenta e sonoramente que o normal.
- Às ordens! – devolvi, o que pareceu deixa-lo muito satisfeito como se não estivesse relacionado ao favor que eu acabara de lhe prestar, mas a algo que estava na mente dele.
- Posso? – perguntou, tirando um twizzler de alcaçuz da minha gaveta que estava aberta.
- Claro! Fique à vontade! – por que eu tinha a impressão de que as minhas respostas estavam abrindo caminhos para além do conteúdo de suas perguntas? Teria haver com aquele olhar que brilhava feito um sol ao meio-dia?
Naquela noite sonhei que estava fazendo amor com meu namorado que fui obrigado a deixar para trás devido à convocação do serviço militar. De repente, acordei assustado, ao querer beijar seu rosto no momento em sua pica inteira se alojou no meu cuzinho, me surge nitidamente o rosto hirsuto do capitão Buck, sorrindo de satisfação por estar fodendo meu cu. Era só o que me faltava, pensei, no meio da agitação que me fez perder completamente o sono pelo resto da madrugada. A partir daí, cada vez que cruzava com o capitão, sentia algo desconcertante se revolvendo em meu peito, quando não o próprio cuzinho se contorcendo de desejo. Receava que ele pudesse perceber o quanto mexia comigo, por isso, adotei uma postura até certo ponto distante e fria em relação a ele, o que não acontecia com outros militares da base. Independente disso, nos tornamos amigos, mais pelo empenho dele do que do meu.
Depois de não ter nada mais a instruir aos meus funcionários, tendo feito mais hora do que o necessário, voltei aos jardins e fui ter com o Gary, que estava num grupinho bastante animado. Ele era o centro das atenções. Estava contando piadas, o que sempre foi seu forte. Embora houvesse algumas garotas no grupo, ele não se preocupava em passar um crivo em seu vocabulário, o que parecia arrancar ainda mais gargalhadas da turma. Ele estivera almoçando comigo há duas semanas no restaurante quando fiquei sabendo que estava se divorciando da Susan, pouco mais de dois anos depois de se casarem. A notar como estava se divertindo, percebi que o fim daquela relação tinha sido mesmo um alívio para ele, conforme ele próprio havia me confidenciado quando almoçamos juntos.
Juntei-me ao grupinho um pouco tímido, pois não conhecia ninguém, exceto o Gary. Ao notar minha aproximação, ele logo tratou de fazer as apresentações. Fiquei um pouco perplexo quando ele mencionou que eu era o responsável por um dos mais inesquecíveis e sublimes presentes que já havia recebido numa noite de Natal. Por alguns segundos, pensei que ele fosse revelar diante de todos o boquete insano que fiz nele e nos outros na trincheira, mas ele foi cavalheiro e discreto, dando-me tão somente um abraço caloroso, deixando a curiosidade do grupinho pairando no ar. A simples menção de qualquer coisa relacionada àquele dia me deixava inseguro e me dava a exata dimensão da enorme besteira que foram aqueles boquetes. Eu estava fadado a carregar essa culpa e vergonha por essa cagada pelo resto da minha vida. Fiquei aliviado quando ele voltou a contar outra piada o que fez com que ninguém mais ficasse se perguntando que presente natalino tão especial tinha sido aquele. Minha descontração durou pouco. O Matt vinha ao nosso encontro e, estava acompanhado do capitão Buck. Minha espontaneidade sumiu como por encanto.
- Olá! – eu não via o capitão tão de perto desde aquela noite de Natal no Afeganistão. O tempo pareceu deixar aquele homem ainda mais sexy e desejável. Ou seria mais uma das minhas fantasias loucas?
- Oi! – retribuí, fazendo um enorme esforço para me mostrar confiante e no controle da situação.
- Os rapazes me disseram que foi você quem organizou o jantar, meus parabéns! Está maravilhoso! – continuou ele, tentando ser gentil e talvez quebrar aquela imagem negativa que havia deixado em nosso último encontro.
- Obrigado! – devolvi num sorriso tímido. Subitamente percebi que não tinha assunto para falar com ele. – Você queria falar comigo, Matt, agora estou disponível, se quiser? – emendei rapidamente na direção do Matt, pois tinha sido esse o nosso trato antes de eu ter ido ter com meus funcionários. Na verdade, eu queria sair dali o quanto antes.
- Não há pressa! O que tenho para conversar com você pode esperar. Talvez num dia no início da próxima semana, o que me diz? – retrucou ele.
- Por mim tudo bem. – respondi. Muito provavelmente ele não tinha nada a me dizer e, só usado essa tática para colocar o Buck diante de mim. Eu não duvidaria se o plano tivesse sido arquitetado pelo próprio capitão.
Felizmente a conversa passou a girar em torno do restaurante, assim que o Matt, o Gary, o capitão e eu nos afastamos ligeiramente do grupinho e fomos ocupar uma mesa próxima. Enquanto o assunto fosse esse, eu estava dentro da minha zona de conforto, mesmo que aquele par de olhos do capitão estivesse me medindo fixamente da cabeça aos pés.
Ia-se fazendo tarde, e os convidados iam se despedindo lentamente. Os noivos já haviam deixado a festa. Não pude deixar de pensar na ansiedade do Cliff para ter sua agora esposa à mercê daquela jeba cavalar e insaciável que tinha entre as pernas. Certamente a Louise há muito não era virgem, nem ia se deliciar com a caceta do Cliff pela primeira vez, mas pensar nos dois fazendo sexo com todo o amor que os envolvia me deixou emotivo. Eu sempre sonhei em trepar com um cara pelo qual estivesse perdidamente apaixonado. Quando conheci o Don, meu primeiro relacionamento gay que chegou às vias de fato, achei que tinha encontrado a felicidade plena. Assim como achei que aquele amor que sentíamos um pelo outro resistiria aos três anos que passei no Afeganistão. Ledo engano. Poucos meses após a minha partida, o amor que o Don dizia sentir por se desvaneceu. Eu punha tanta esperança naquela paixão que não percebi como suas cartas, seus e-mails iam ficando cada vez mais curtos e sem assunto. Precisei voltar e ouvir de sua boca que havia outro em meu lugar para que todo o castelo de areia que minha imaginação havia construído se dissolvesse numa onda e fosse carregado pelo mar. Passei a ver as relações homoafetivas com certa desconfiança. Gays são criaturas promiscuas e voláteis, passei a acreditar. Nunca vou encontrar um amor verdadeiro nesse meio, quando muito alguém que se disponha a ser uma amizade mais duradoura. Foi isso que a decepção com minha primeira paixão havia deixado em mim e, a partir daí, também deixei de me empenhar na procura por uma nova. Se tivesse que acontecer, pensei, aconteceria espontaneamente.
Quando deixei os rapazes para orientar meus funcionários a arrumarem tudo no caminhão e dispensá-los por aquele dia, o Matt e o capitão já estavam um pouco altos como comprovavam os copos vazios diante deles. O capitão ganhava de longe.
- Tudo foi recolhido, Seth! Você vem conosco? – perguntou meu gerente, quando o caminhão com todos os utensílios e louças já estava carregado.
- Vou em seguida! Podem ir na frente e não se preocupem em descarregar, faremos isso na segunda-feira. Tenham todos um ótimo final de semana! Vocês, mais uma vez, foram excepcionais rapazes, parabéns e muito, mas muito obrigado! – dizia eu quando um dos funcionários vindo dos banheiros me interrompeu.
- Chefe, tem um sujeito completamente embriagado ou drogado no banheiro, acho melhor avisarmos a segurança ou o sujeito vai passar a noite trancado lá dentro. – afirmou ele.
- Isso é de responsabilidade do pessoal do Hidden Meadows. Deixe que resolvam o problema. Vamos dar um toque neles e o resto eles se encarregam de providenciar. – respondi.
- Acho que é um daqueles caras que estava na mesa com o você e seus amigos! – exclamou o funcionário. Logo imaginei quem podia ser.
- Oi Gary? Por acaso quando você deixou a festa o capitão estava com você? – perguntei ao ligar no celular dele.
- Não! Não o vi mais depois de ele ter deixado a mesa. Saí com o Matt e o Luke e nos despedimos no estacionamento. Por falar nisso, combinamos de nos encontrar na terça à noite no The Irishmen, como fiquei de te avisar já o faço agora.
- Você faz ideia de onde o capitão possa estar?
- Não! Por quê? Aconteceu alguma coisa?
- Ainda não fui conferir, mas um dos meus funcionários encontrou um sujeito completamente bêbado caído num dos banheiros e, pelo que ele me passou, acho que pode ser o Buck. – revelei.
- Vá até lá e veja se é ele mesmo. Me avise se for, volto aí para te ajudar. – eu não estava a fim de me envolver, mas o que iriam pensar meus funcionários se eu abandonasse um sujeito, que na visão deles era meu amigo, bêbado à própria sorte sem ao menos prestar minha solidariedade?
Era o Buck. Tão alcoolizado que estava praticamente inconsciente. Liguei para o Gary, não queria enfrentar esse problema sem apoio. Fiquei ao lado dele enquanto aguardava a chegada do Gary que, felizmente, foi ligeiro e prestativo.
- Para onde vamos leva-lo? Acho que ele precisa de atendimento médico – afirmei.
- O Buck está morando na Base Naval, pelo que eu sei. Não podemos leva-lo para lá nesse estado. Estaríamos colocando-o numa situação complicada. – respondeu o Gary. – Também não posso leva-lo para minha casa, voltei a morar com meus pais depois do divórcio e as coisas por lá ainda não se acalmaram. Não pode ser na sua? – era tudo o que eu não queria ouvir.
- Você sabe que eu e o Buck perdemos contato desde aquele episódio no Afeganistão. Não sei se é o certo a fazer. – devolvi, sem conseguir encontrar outra saída.
- Aquilo é passado! Vocês sempre foram amigos. Se você quiser fico com você até ele estar em condições de voltar para a Base. – prontificou-se
- Tudo bem, mas quero que você fique. – respondi. E lá estava eu com um abacaxi nas mãos. Por que eu estava com a impressão de que aquela boa ação ia me colocar numa enrascada? Feeling, era a única resposta plausível.
O capitão só recobrou a consciência quando o tiramos do carro em frente à minha casa, se é que se podia chamar o estado em que se encontrava de estar consciente. Pelo menos ele abriu os olhos e começou a balbuciar coisas desconexas. O despertar foi bastante agitado, ele gritando a plenos pulmões – É UMA EMBOSCADA, É UMA EMBOSCADA, AFASTEM-SE DAÍ! SAIAM DAÍ IMEDIATAMENTE! – enquanto atirava os braços para todos os lados quase me acertando uma bordoada. Logo associei sua fala à guerra, mas não atinava com uma situação concreta.
- O que deu nele agora? Está tão bêbado que pensa que ainda está no Afeganistão. – afirmei, quando o Gary veio me ajudar a segurar o ímpeto e a fúria do Buck.
- Sim. Você não teria como saber. Foi aproximadamente um ano depois de você ter dado baixa. Aconteceu na aldeia de Tuzlak a poucos quilômetros da fronteira com o Tajiquistão. O inimigo ia perdendo terreno ruela a ruela entre os casebres da pequena aldeia. A linha de confronto não tinha mais do que algumas dezenas de metros, eles já não tinham mais nenhum veículo de combate ou armamento poderoso em seu poder, eram talvez uma centena ou pouco mais de soldados que defendiam a retaguarda como podiam. O Buck instigava seu pelotão fortemente armado a avançar sem dó nem piedade, as miras a laser e os detectores de calor deixavam o inimigo praticamente exposto diante das nossas armas. Entramos numa viela cheia de corpos de civis que haviam sido sumariamente fuzilados pelos talibãs. Diante de uma choupana, uma mulher jovem, quase uma menina, segurava uma criança no colo. Ela estava em estado de choque e não se mexia junto ao umbral da entrada do casebre, nem se abalava com o choro da criança. O Buck ordenou que o Sam e o Olinsky avançassem para verificar se havia alguém escondido dentro da choupana. Tudo parecia fácil demais, nenhuma resistência, ninguém atirando contra nós, uma calmaria preocupante. E então, a constatação. A mulher estava sendo usada como chamariz, a pedir socorro. Era uma armadilha. À volta dela haviam sido enterradas minas. Quando o Buck se deu conta já era tarde. Ele ainda gritou desesperado na direção do Sam e do Olinsky, mas era tarde demais. Os corpos deles, da mulher e da criança voaram em pedaços pelos ares assim que o Olinsky pisou numa das minas. O desespero se instalou entre o pelotão, o que permitiu com que o inimigo ganhasse tempo para fugir. A cena era tão bárbara que nenhum de nós a esquecerá enquanto viver. O que você acabou de ouvir o capitão gritar foi o que ele gritou naquele dia.
- Meu Deus! – balbuciei, sentindo as lágrimas descendo pelo rosto.
- Não sei se você sabe, mas o Buck e o Matt estão no programa de recuperação psicológica de veteranos da Base Naval. O Matt está bem melhor depois desses cinco anos, mas o Buck ainda apresenta transtornos de comportamento e falta de adaptação à vida civil, desde que foi liberado do serviço militar. – revelou o Gary.
- Não, eu não sabia! – respondi.
Levamos o capitão para dentro de casa, tarefa hercúlea mesmo para duas pessoas, uma vez que aquele homem imenso pesava mais que uma centena de quilos e, no estado em que se encontrava, não facilitava em nada o trabalho de leva-lo para dentro.
- Vamos dar um banho de água fria nele, antes de o acomodarmos em algum lugar. – sugeri. Com o que o Gary concordou. – O certo teria sido leva-lo a um pronto-socorro para tratar desse coma alcoólico, ele precisa de um médico e não de dois leigos bem-intencionados. – afirmei.
- Isso só complicaria a situação dele. E, acredite, ela não é nada boa. Ele se meteu em muita confusão desde que voltou do Afeganistão e, está compulsoriamente na Base Naval justamente para evitar novos problemas. – afirmou o Gary.
- Ele está detido?
- Não sei se o termo é bem esse, mas é algo nesse sentido. Ele tem permissão para ir e vir, mas precisa se apresentar regularmente.
Enfiar o Buck sob o chuveiro foi outra batalha. Ele se recusava terminantemente e, para nosso azar, tinha forças suficientes para se recusar a fazer o que pedíamos.
- Não seja teimoso, Buck! Vai se sentir melhor depois de uma ducha. – afirmei, enquanto o despia ao mesmo tempo em que o Gary o impedia de me dar uns socos.
- Por que está tirando minhas roupas, seu boqueteiro de caralhos? Vai mamar minha pica? – questionava em delírio, com um sorriso torto na boca. – Ele quer chupar meu cacete, Gary! O viadinho quer mamar minha rola! Vou encher sua boca de porra, bichinha rameira! – grunhia ele.
- Não se preocupe, Buck! No estado em que você está não teria graça alguma. Você nem ia conseguir apreciar o que eu estaria fazendo. Por enquanto só quero que tome uma ducha fria para ver se volta a raciocinar. – devolvi.
- Chupa minha pica, Seth, chupa? Eu quero que você me faça uma chupetinha! – continuou delirando. – Você me traiu quando mamou a pica daqueles safados! Era a minha que você devia ter chupado, só a minha, entendeu, sua bicha?
Quando finalmente o sentamos dentro do box e eu abri a água gelada ele começou a espernear e a desferir socos para todos os lados.
- Filhos da puta! Eu vou acabar com a cara de vocês! – gritava encolerizado.
- Depois você faz isso! Agora trate de ficar quietinho e fazer o que eu estou mandando! – exclamei com aspereza.
- Você está zangado comigo? Não quero que se zangue comigo! Diz que me ama e que quer transar comigo, diz?
- Quanta coisa não está guardada nesse subconsciente! Só bêbado para ele colocar tudo para fora! – disse o Gary.
- Deixa de ser besta! Não vê que ele não faz a menor ideia do que está falando? – devolvi.
- Você que pensa! Estamos desconfiados de que ele sente algo por você desde aquele dia em que prometeu nos denunciar em seu relatório e não o fez. Aquela explosão de raiva com você naquela noite só tem uma explicação, ciúmes! – continuou.
- Ficou maluco! De onde você tirou isso? Nunca tive nada com o capitão!
- Não teve porque não quis ou não deixou acontecer, pois temos a certeza de que se fosse por ele você já teria sentido esse cacete no seu rabinho.
- Chega de falar asneiras! Vamos me ajude a tirá-lo daqui e a deitá-lo no sofá! Foi uma péssima ideia seguir seu conselho. Eu devia ter chamado os paramédicos para tirá-lo daquele banheiro, ao invés de me envolver com isso. – despejei contrariado.
- Calma! Não precisa ficar furioso comigo. Estou aqui só para te ajudar. – retrucou o Gary.
- Não é o que está parecendo!
Alojar o Buck no sofá da sala não foi fácil, mas com perseverança e alguns tabefes que acertaram tanto a mim quanto ao Gary, conseguimos que ele parasse de se debater.
- Preciso de uma bebida! Forte, de preferência! O que você tem aí? – afirmou o Gary, quando a sonolência do Buck ia voltando aos poucos.
- Depois dessa, até eu preciso de uma bebida! Tenho um vinho na geladeira, pode ser?
- Pode! Qualquer coisa que me faça relaxar.
Ele se dispôs a buscar o vinho na cozinha, enquanto eu, sentado ao lado do capitão para que ele não rolasse do sofá, olhava para aquele macho delicioso, completamente nu que estava diante dos meus olhos. Era um tesão de macho. De repente, senti um desejo enorme de beijá-lo, de afagar aquele rosto e confessar que ele tinha mexido comigo desde a primeira vez que o vi. Ele havia afundado a cabeça no travesseiro, eu acariciei com as costas dos dedos o contorno de seu rosto sentindo a barba áspera como uma lixa roçar na minha pele. Em meu peito o coração pulsava acelerado, era ridículo, era doído, era fantasioso, nunca haveria nada entre nós. Mas, eu sofria por isso. Daí o bizarro e o ridículo da situação. Para piorar, eu encarava aquele caralhão imenso, flácido e pendendo pesado sobre o sacão colossal ouvindo o eco das palavras do Gary de há pouco – TEMOS A CERTEZA DE QUE SE FOSSE POR ELE VOCÊ JÁ TERIA SENTIDO ESSE CACETE NO SEU RABINHO – temos quem? O que os fazia acreditar que o capitão se envolveria comigo?
- Apaixonado? – perguntou o Gary, quando colocou a taça de vinho na minha mão.
- Hã? O quê? Pare com isso! Não estou a fim de suas bobagens. – retruquei.
- Está bem, não está mais aqui quem falou!
Conversei com o Gary por mais de duas horas. Ele também não parecia nada bem. Falou do divórcio que, segundo acabei concluindo, não tinha sido nada amigável e, pelo qual seus pais ainda o culpavam. Essa maldita guerra fazia vítimas não somente no front, mas devolvia ao país homens com marcas profundas em suas personalidades e que faziam de suas vidas algo complicado. Embora não houvesse um termo de comparação entre mim e os que estiveram constantemente nos confrontos diretos, eu também havia voltado com cicatrizes, por isso era perfeitamente capaz de entender aqueles homens e o que estavam vivendo.
- Vá se deitar no meu quarto! Vou ficar aqui, caso o Buck precise de alguma coisa. – aconselhei.
- Vou seguir sua sugestão, estou mesmo bastante cansado. – disse ele, seguindo para o quarto.
Diminui as luzes da sala, ajeitei um cobertor sobre o corpão musculoso do Buck, toquei delicadamente meus lábios nos dele e lhe desejei boa noite. Procurei me ajeitar na poltrona que tinha trazido para junto do sofá, mas estava excitado demais para conciliar o sono. Tinha sido um dia cheio, mais cheio do que era de se esperar. Minhas pálpebras pesavam como chumbo e me faziam perder a noção do tempo de espaço em espaço.
- Vem para cama! Aí não é lugar para você descansar. – disse o Gary, três quartos de hora depois, vindo me buscar. – A tua cama tem o perfume da sua pele, mas não é o suficiente para mim, preciso do calor do seu corpo. – emendou, tomando-me em seus braços e caminhando para o quarto. Ele nu era sedutoramente sexy, e eu deixei que me conduzisse.
Junto à cama, ele fez deslizar dos meus ombros o roupão no qual eu estava enrolado desde que saí da ducha. Os braços dele me envolveram, puxando minhas costas contra seu peito. Os pelos dele roçaram minha pele e eu fiquei arrepiado até a raiz dos cabelos. O sexo gigantesco dele se comprimiu contra as minhas nádegas. Um beijo, vindo por trás, deixou a umidade de seus lábios na pele do meu pescoço. Ergui os braços e o puxei para mais perto de mim. Ele tocou meus mamilos e os acariciou, apertando os biquinhos entre os dedos. Precisei gemer, eu estava saudoso de um toque como aquele, do toque de um macho sedento. Fomos nos deitando aos poucos, ele sobre mim, com a boca afoita procurando a minha. Eu envolvi seu tronco em meus braços, aceitei aquela língua intrépida entrando na minha boca e a chupei. Ambos começamos a experimentar uma ereção. A dele, úmida, lambuzava a pele lisa de uma das minhas coxas. A força daquele macho vigoroso se fazia sentir à medida que ele me abraçava com mais volúpia. Nossas bocas se esfregavam uma na outra, tórridas e sequiosas. O peso daquele corpo quente havia deixado meu cuzinho em êxtase. Comecei a abrir e erguer as pernas até os joelhos chegarem aos ombros do Gary. Ele se encaixava sobre mim e me fitava com um olhar fixo de luxúria. Cruzei as pernas na altura de suas ancas, e a ereção dele escorregou para dentro do meu reguinho aberto, umedecendo-o com o sumo viscoso que minava do caralhão dele.
- Não devíamos estar fazendo isso, Gary! – balbuciei dúbio
- É, não devíamos! – retrucou ele, enfiando bruscamente a cabeçorra da pica no meu cuzinho. Eu gani, puxei seu rosto para junto do meu e o beijei.
Durante o longo beijo, ele metia o pauzão em mim, fazendo-o deslizar continua e progressivamente para o fundo das minhas entranhas. Eu erguia minha pelve, o que facilitava a penetração, diminuía a dor intensa que estava sentindo com aquele caralhão grosso me machucando e, instalava lentamente um prazer sem tamanho em todo o meu corpo. O Gary foi carinhoso, sabia que estava me machucando, pois nunca tinha sentido a pica tão firmemente comprimida dentro de uma fenda tão estreita. Não dizia nada, apenas me deixava aconchegar seu sexo prodigioso, e recebia minhas carícias com um sorriso inebriado no olhar.
- Eu precisava tanto disso, Seth! – sussurrou, voltando a colar sua boca à minha. Eu não ia confessar, mas também estava precisando angustiadamente daquela sensação que latejava impulsiva no meu cuzinho.
Ele movia suas ancas ritmicamente, o cacetão deslizava num vaivém cada vez mais ardente no meu rabo me obrigando a gemer que, naquelas alturas, eu já não distinguia se de dor ou de prazer. Era uma miscelânea total. Em meio a ela gozei, sentindo minha porra escorrer sobre meu ventre. O Gary sorriu quando me viu gozar, inclinou-se mais uma vez sobre mim e me beijou com ternura. Antes que sua boca se afastasse para pegar folego, ele deixou os jatos do gozo fluírem abundantes e tépidos para dentro do meu cu, encharcando-o com sua virilidade pegajosa.
- Me abraça, Seth! E, obrigado por toda essa felicidade! – gemeu ele, antes de me beijar feito um alucinado.
Agora, literalmente esgotado, com minhas últimas forças dispendidas naquele sexo que me fez perceber que eu ainda precisava me resolver quanto a isso, acabei adormecendo abraçado ao Gary. O latejar de sua pica no meu cu ia ficando a cada minuto menos intenso, já não machucava nem doía tanto, e ia trazendo uma deliciosa sensação de relaxamento, que o escorrer viscoso de toda aquela porra cremosa que se espalhava pela minha mucosa tornava ainda mais tranquilizante. Caí no sono antes dele, pois até o último minuto, eu senti que ele me apertava junto ao corpo dele.
Acordei com o sol batendo na minha cara, tínhamos esquecido de fechar a janela do quarto. Também estava sobressaltado, ao notar que havia uma mão pesada na minha cintura. Levei uns segundos para me situar e me lembrar que tinha ido para cama com um homem. Porém, bastou mover ligeiramente as pernas para que tudo voltasse à minha memória, a ardência e umidade no cuzinho se encarregaram disso. Minha primeira preocupação foi com o capitão. Vestindo apressadamente o roupão que o Gary havia tirado dos meus ombros ao me desnudar, corri em direção à sala para ver como o Buck estava. O sofá estava vazio, as roupas de cama revolvidas. Um sentimento ruim começou a crescer em meu peito. Chamei por ele, pensando que talvez estivesse no banheiro, onde cheguei encontrando-o também vazio. O capitão havia partido.
- Por que está tão agitado? – perguntou o Gary quando voltei ao quarto e ele esfregava os olhos, ainda confuso com o lugar onde estava.
- O Buck foi embora! – ouvir minhas próprias palavras pareceu tornar a realidade mais cruel.
- Sinal de que o porre passou! – devolveu o Gary.
- Você não entende? É quase certo de que ele nos viu deitados aqui juntos e deve estar pensando horrores a meu respeito. Se com aqueles boquetes ele já me chamou de tudo que é palavrão que conhecia, o que não estará pensando agora, que estávamos nus e abraçados na cama? – sentenciei.
- Porque isso está te afligindo tanto? Ele não é seu homem, ou é? Qual o problema de ele ter nos visto abraçados e pelados? – questionou ele.
- Porque não quero que ele me tome por uma pessoa sem princípios ou moral! Não sou uma bicha rameira como ele acha que sou! Nos ver juntos só vai reforçar essas certezas na cabeça dele. – respondi.
- Você sempre esteve apaixonado por ele, não é? Caso contrário, não estaria todo preocupado com o que ele pensa ou deixa de pensar a seu respeito! Juro que não dá para entender vocês dois. – devolveu ele.
- Não diga sandices! Apaixonado como, se nosso contato se limitou quase que exclusivamente ao Afeganistão, e por lá, como você bem sabe, as coisas não foram das melhores?
- E desde quando a paixão escolhe lugar e circunstâncias para brotar? A preocupação entre vocês dois com o que um pensa do outro é algo que transcende uma simples amizade ou coleguismo de quartel. Só um cego não enxerga isso!
- Liga para ele! Pergunta por que ele foi embora. Pergunta se ele está melhor. Faz alguma coisa, Gary, por favor, ao invés de ficar aí alisando essa caceta dura!
- Calma, Seth! Não precisa apelar! Vou fazer o que me pede, tenha paciência.
- Eu sabia que trazer o Buck para cá só ia trazer confusão!
O Buck não respondeu a ligação do celular, o que só serviu para me confirmar que ele tinha nos visto juntos e tinha enchido a cabeça de caraminholas. Se já havia uma montanha entre nós dois, agora havia também um enorme abismo, e isso me machucava.
- Vem cá seu garotão encanado! Não comece a sofrer antes das coisas acontecerem e, se acontecerem. – tentou me tranquilizar, me abraçando e colocando beijos nos meus ombros que ele havia tratado de expor sob o roupão.
- Já aconteceram! Se liga!
- Pois bem, então que seja! Daqui para a frente é procurar uma solução, simples assim.
- Simples porque não e com você!
- Se fosse comigo eu já teria te colocado novamente debaixo de mim nessa cama e feito você agasalhar minha rola com o mesmo carinho que fez na noite passada. – retrucou. – Você sabe como dar afeto e carinho a um homem, Seth! Sabe como poucos. – emendou, tentando levar minha mão para sua ereção novamente visível e enorme.
Dois dias depois, na terça-feira, em meio ao intenso movimento da manhã no restaurante quando faltava pouco para abrirmos, um funcionário veio me avisar que uma pessoa queria falar comigo, e que não havia se identificado.
- Era só o que faltava! Já estamos atrasados, não sei o que aconteceu esta manhã para estarmos com tantas coisas não terminadas. – retruquei exasperado. Ao chegar ao salão, constatei tratar-se do capitão, meu coração quase veio à boca.
- Desculpe vir te incomodar a essa hora! É que eu precisava te agradecer pelo que fez por mim no outro dia. – disse o capitão, assim que o fiz sentar numa mesa junto à janela.
- Sua presença nunca é um incomodo, Buck! Quero dizer, capitão. Não há nada que precise me agradecer. Fizemos o que qualquer amigo faria pelo outro. – respondi.
- Não me chame de capitão! Não sou mais capitão e você sabe como me chamo! – a voz dele foi ríspida. – Sei que fui um estorvo, é por isso que quero me desculpar e agradecer. – emendou ligeiro, ao ver que sua rispidez tinha me ferido.
- Por que foi embora sem se despedir? Eu fiquei preocupado com você. Não sabia se estava bem, para onde tinha ido. Acha que foi justo fazer isso comigo? – questionei
- Vi que estava ocupado com o Gary e não quis atrapalhar!
- Não é o que você está pensando! Como você viu não tenho muito espaço na minha casa, por isso o Gary deitou na minha cama para esperar amanhecer. – esclareci.
- Completamente nu, com a pica descansando sobre seu rego e ele fungando no seu cangote, não tenho que ser nenhum gênio para tirar minhas conclusões. – revidou intempestivo.
- Só me vi envolvido nessa situação por sua causa! Não fosse seu porre homérico eu jamais teria dois homens nus na minha casa. – retorqui
- Ah! Então a culpa de você se embrenhar com o primeiro macho que está na sua frente, é minha? Numa noite agitada você resolve mamar os caralhos de três machos ao mesmo tempo e eu também devo ter sido o culpado por isso! – exclamou, já furioso.
- Não distorça minhas palavras! Você entendeu o que eu quis dizer! E, afinal, posso saber por que está regulando minhas atitudes com tanto afinco? – questionei.
- Não estou regulando nada! A consciência é sua, faça o que achar melhor! – respondeu.
- Minha consciência está tranquila! Sei que não fiz nada de errado. Posso ter sido um pouco inconsequente, admito que não era hora nem lugar para eu fazer o que fiz com os rapazes naquela noite. Eu só quis ser carinhoso com eles, só isso. Até porque eu também estava carente naquela ocasião. – esclareci, pela enésima vez.
- Felizardo do macho a quem você quer demonstrar carinho, vai levar uma bela mamada ou se esbaldar no seu cu. – afirmou sarcástico.
- Talvez você tenha razão! Pena que aquele a quem eu gostaria de fazer de felizardo nunca tenha me dado valor. É a vida, o que se há de fazer! – aquilo estava me exaurindo e eu tinha um dia cheio pela frente. – Eram essas as ofensas que você tinha para me dizer? – perguntei
- Que merda, Seth! Não vim brigar com você! – respondeu ele, dando um soco na mesa que fez os talheres já alinhados darem um salto no ar.
- Então me procure quando essa vontade de quebrar a minha cara tiver passado! – exclamei, me levantando. – Se quiser ficar e experimentar minha comida, é meu convidado! – emendei, deixando-o remoer sua birra. Ele ficou, o que sinalizava que aquele tinha sido apenas o primeiro round e, aparentemente, eu fui o vencedor.
Ao chegar na cozinha liguei para o celular do Matt e pedi que viesse me ajudar, pois temia que nossa troca de palavras ofensivas nos levasse a um impasse sem volta. Tudo o que eu não queria era brigar com aquele homem que parecia não compreender a extensão do que eu sentia por ele.
O Matt concordou em vir ao meu socorro, mas já me preveniu que não era para eu esticar demais a corda pois, no estado em que o Buck estava, era bom não testar seus limites. Foi um sábio conselho. Apesar de estar assoberbado de serviço, juntei-me aos dois numa mesa discreta e mais privativa para um almoço que transcorreu sem muitos altos e baixos. Não tenho dúvida de que a presença do Matt ajudou em muito, o Buck parecia se controlar um pouco mais na presença dele, talvez porque ambos estivessem passando pelo programa de recuperação de veteranos de guerra na Base Naval. Porém, o que queria que acontecesse não aconteceu, que o Buck se soltasse um pouco e se abrisse, falando mais abertamente dos problemas que estava enfrentando uma vez que estava entre amigos.
- Você vai ao The Irishmen esta noite como ficou combinado? – perguntei, já que isso abriria mais uma oportunidade de nos aproximarmos.
- Não sei! Talvez! Por quê? – devolveu ele.
- Seria legal estarmos todos juntos outra vez, não acha? Exceto o Cliff, é lógico, que a essa altura só tem cabeça para a lua-de-mel. – afirmei rindo.
- Deixa de ser estraga prazer, cara! Ele vai sim, pode deixar. Me encarrego pessoalmente disso. – afirmou o Matt
- Desde quando você tem autorização para falar por mim? – grunhiu o Buck, no que era bem seu estilo.
- Tive poucas oportunidades de estar com todos vocês, faça por mim, por favor. – pedi, fazendo propositalmente uma cara de desvalido que talvez reverberasse no coração daquele petulante.
- Vai ser preciso muito mais do que esse teatrinho para abalar minhas convicções! – retrucou o Buck. Mas, algo me dizia que ele ia me atender.
Passava das dez quando cheguei ao The Irishmen, retido por questões de trabalho no restaurante. Soube que o Gary, o Matt, o Luke e o Buck também tinham chegado há pouco, questão de meia hora antes e estavam na primeira rodada de drinques.
- Pensávamos que ia dar o cano! – disse o Luke quando cheguei.
- Cara, essa semana não está sendo fácil. Acho que vou acabar tendo uma estafa ou virar um workaholic. – E aí, sobre o que estão falando? – respondi.
- De trabalho, acredita? – respondeu o Gary
- Bem, então sugiro mudarmos de assunto, pois por hoje já deu para mim! – houve umas risadas e a conversa descambou para os esportes, mais precisamente, para o campeonato da NFL onde o Seattle Seahawks vinha fazendo uma campanha promissora e, do qual à exceção do Luke e de mim, os outros eram torcedores.
- Seu timinho anda as quantas? Ainda existe? – perguntou o Matt, tirando uma com a minha cara, já que o time vinha colecionando derrotas.
- Claro! É uma questão de tempo para estarmos no topo! – respondi.
- No topo do abismo! – debochou o Gary. Tinham resolvido me fazer de Cristo.
Quando a terceira rodada de bebidas chegou à mesa, percebi que a voz do Buck se sobrepunha a de todos. O Matt tinha lançado um olhar na direção do Luke que me deixou apreensivo. Eu tinha ficado sabendo recentemente que o Buck tinha ordens médicas para não misturar bebidas alcoólicas aos medicamentos que estava tomando para tratar da depressão e do transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva, que o acometeram e o levaram a ser desligado da marinha. O episódio durante o casamento do Cliff tinha servido de alerta para que outros se repetissem, caso o deixássemos seguir sem controle. Originalmente, o Buck não era dado a vícios, nunca os tivera e, eu me ressentia muito com o problema dele. Achava que um homem com toda aquela vitalidade física também deveria ser psicologicamente equilibrado. Mas, o Afeganistão causou estragos em sua mente, como em muitos dos militares que voltaram de lá e, de outras guerras estúpidas nas quais o país tinha se envolvido.
Por duas vezes, ousei colocar discreta e suavemente minha mão sobre o braço do Buck quando ele pegou no copo de bebida. Sabia que estava lidando com um homem cujo psicológico estava em desequilíbrio e, que aquilo podia causar uma explosão de fúria. Pelo que me ligava a ele, arrisquei. Em ambas as vezes, ele me lançou um olhar que mais parecia um tiro de fuzil, embora eu sustentasse meu olhar no dele num desafio que podia me colocar em maus lençóis. Assim que ele foi a banheiro, fui atrás dele. O The Irishmen estava vazio naquela terça-feira, portanto, as toilettes também, à exceção de um sujeito gordinho que já balançava a rola junto aos mictórios quando o Buck e eu entramos. O Buck se posicionou diante de um deles na extremidade oposta da que o sujeito estava deixando. Coloquei-me bem ao lado dele, embora não estivesse precisando urinar. Ele desviou ligeiramente os olhos na minha direção quando percebeu que eu não estava abrindo a braguilha, enquanto ele já segurava o cacetão enorme na mão.
- Não quero ser invasivo, nem controlar sua vida, mas percebi que você está no terceiro Bourbon. Não seria melhor dar um tempo por hoje? Fico aflito só de pensar que você volte a ficar no estado em que estava no casamento do Cliff. – argumentei, pondo o tom de voz mais brando que consegui entoar.
- Está contando quanto eu bebo? Qual é a tua, Seth? Vá se foder! – eu não esperava outra coisa vindo dele.
- A minha é que gosto de você! Quero te ver bem. Quero que se cure o quanto antes. É querer muito de um amigo de quem se gosta? – devolvi.
- Já andaram enchendo a sua cabeça, não é? Eu não tenho nada! Você entendeu? Eu não tenho nada! E pare de bancar uma mãe, pois sou bem crescidinho para caminhar com as próprias pernas. – rosnou ele.
- Promete que não vai se zangar comigo, nem encher minha cara de porradas com o que vou fazer. Eu só quero que você saiba que há sensações muito mais recompensadoras do que aquelas que um tanto de álcool na cabeça pode proporcionar. – afirmei, no mesmo instante em que fechei delicadamente minha mão ao redor da pica cavalar dele, de onde jorrava um jato forte de urina amarelo-cítrico para dentro do mictório.
Pensei que a primeira reação dele fosse a de me bater, como tinha feito na trincheira. Mas, ele ficou estupefato quando sentiu minha mão segurando sua rola pesada e meu olhar amistoso fitando o dele. Ele continuou aliviando bexiga, eu não podia mexer muito a mão, pois isso faria o jato sair dos limites do mictório. Contudo, movi suavemente os dedos como se estivesse dedilhando as teclas de um piano, comprimindo suavemente aquela tora de carne quente. Abri um sorriso libidinoso que, de início, pareceu não o abalar. Mas, instantes depois, seus lábios esboçaram uma devolutiva. Ele estava sentindo prazer com a minha mão em seu membro, era inegável.
- Está muito zangado? – perguntei, mesmo sabendo que ele estava cheio de tesão.
- Por que está se comportando assim? – questionou.
- Pelo que eu disse, há sensações muito mais prazerosas que uns tragos de álcool, concorda? Ou vai começar e me xingar de bicha rameira e me esbofetear? – perguntei, em alusão ao que ele tinha feito na noite de Natal no Afeganistão.
- Não, não vou te insultar nem te bater. Nunca mais vou cometer uma barbaridade dessas com você, pode ter certeza. Eu nunca quis te machucar, Seth! Acredite, nunca! – o arrependimento transbordava de seus olhos.
- Eu sei que não! Assim como o que eu estou fazendo não é para te ofender. – asseverei.
- Você não existe! – exclamou, abrindo mais o riso. – Só tem um detalhe, eu terminei de mijar e, se essa mão continuar aí, não me responsabilizo com a transformação do meu cacete. – garantiu.
- Ele só tem como ficar ainda mais lindo! – devolvi. A mão dele deslizou pela minha cintura e ele me apertou contra si.
- Você sempre se oferece tão facilmente aos machos?
- Não! Só me ofereço para aqueles por quem tenho sentimentos e, antes que você comece a imaginar e colocar besteiras na sua cabeça, essa é a primeira vez que uso dessa tática ousada. – ele apenas sorriu.
- A primeira? Duro de acreditar!
- A primeira, sim senhor! Em outras ocasiões, não fui eu quem tomou a iniciativa, só precisei deixar me conquistar. – devolvi jocoso.
- E onde você pretende chegar com essa tática ousada?
- Se você aceitar vir para a minha casa, ao sairmos daqui, e levarmos um papo sobre todo esse tempo em que não tivemos notícias um do outro, eu já ficaria muito feliz. Principalmente, se você estiver bem mais lúcido do que da última vez! – ele parecia querer ouvir outra coisa. Não que minha resposta o tivesse decepcionado, mas um convite para o sexo talvez não tivesse sido tão comedido assim. De qualquer forma, ele entendeu o recado.
Retornamos à mesa onde a conversa rolava solta, ao que me pareceu, não tinham dado pela nossa falta ou, não atribuíram importância e especulações a respeito dela. Permanecemos por cerca de mais uma hora antes de cada um tomar seu rumo. Minha ansiedade era grande, a decisão ou não de me acompanhar até em casa ainda era uma incógnita. Assim, quando chegamos até os carros estacionados e, o Buck dispensou a carona do Matt, eu senti um alívio enorme. Aquele rosto sorrindo discretamente para mim e aquele olhar cheio de expectativas que me encarravam foram recebidos com uma alegria imensa. Talvez o Buck e eu ainda tivéssemos um futuro, e isso para mim já era um grande passo.
Uma vez dentro de casa, instalou-se um silêncio constrangedor. Talvez ele estivesse pensando que eu o levaria imediatamente para a cama, que meu convite tinha tão somente essa finalidade. Foi isso que me inibiu, pois eu achava que a opinião dele a meu respeito era a de um gay fácil que atrai os machos para o sexo. Fiquei tão travado e sem assunto que me arrependi por tê-lo chamado.
- Quero deixar claro que não te convidei para vir aqui para transarmos, ok! – afirmei quando recobrei a coragem.
- Ah, tá! – retrucou ele. Esse – Ah, tá – significava o quê? Que ele estava decepcionado? Que ele estava aliviado? Puta situação embaraçosa.
Eu precisava me afastar um pouco dele, de tão nervoso que estava, e fui até a cozinha preparar um chá, sem nem mesmo perguntar se ele o queria. Era apenas um pretexto para não ficar frente a frente com ele sem saber que rumo dar à nossa conversa. Ele caminhou pela sala, deslizava os dedos sobre alguns objetos, principalmente alguns porta-retratos onde eu aparecia com minha tia, com alguns amigos, alguns que ele também conhecia e outros não. Constatar que ele também não estava completamente à vontade me deixou ainda mais apreensivo. Não demorou e ele apareceu na cozinha, sentou-se junto ao balcão e colocou duas colheres de açúcar na xícara de chá fumegante que coloquei diante dele. A naturalidade com que se serviu me acalmou. Depois de dois goles que pareceram ter queimado seus lábios, ele começou a falar sem que eu precisasse perguntar nada.
- Comecei a sentir tesão por você desde a primeira vez que te vi. Fiquei maluco por esse seu rabão carnudo que ginga de um jeito único quando você anda. Não só eu, mas um bocado de caras que estavam na Base no Afeganistão, entre eles a galera que você já conhece. Não sei se você se recorda de um mestre sargento de armas chamado Dawson, um dia ele apareceu com uma folha arrancada de uma revista na qual você aparecia com o torso nu, lisinho e bronzeado, vestindo uma calça de couro justa que mostrava todo potencial da sua bunda carnuda, uma puta bunda gostosa. Essa página da revista rodou entre os rapazes por mais de uma semana. Quando a vi, me lembrei de um comercial que você fez para a Harley-Davison no qual você discute com uma suposta namorada numa praia ensolarada da Califórnia e sai caminhando da praia, só de sunga, em direção à moto que está sob uma palmeira, coloca o capacete e ameaça partir, quando ela te alcança, te abraça, te dá um beijo no ombro e senta na garupa. Lembro de ter ouvido alguns comentários a respeito desse comercial, de que a tua bunda dava muito mais tesão do que a da garota. – eu engolia em seco. Me recordava desses trabalhos que fiz para uma agência de publicidade e, estranhamente ouvindo-o falar sobre eles, me senti um objeto sexual.
- Faz tanto tempo... – balbuciei, quando ele me interrompeu
- Deixe eu continuar! Bem, foi por isso que eu, e os rapazes tenho certeza que pelo mesmo motivo, comecei a passar pela sua mesa e puxar conversa, fingindo estar atrás dos twizzlers de alcaçuz que serviam de pretexto para as visitas. Durante aquelas nossas conversas, fui percebendo que o tesão que eu sentia por você não se restringia à sua bunda tesuda, mas à criatura sensível e carinhosa que havia por trás da sua pinta de galã. Eu tinha acabado de me casar dois meses antes de seguir para o Afeganistão e, foi isso que me fez segurar a onda e não te contar o que estava sentindo por você. Infelizmente eu não era o único, aquele bando de machos carentes de mulheres devia estar com as mesmas intenções que eu. Confesso que tinha ciúmes de você quando te via conversando e rindo com eles. Também me segurei porque não queria ser infiel à minha mulher. A guerra ia passar, eu ia voltar para casa, e não queria trazer na consciência uma traição com um gay com o qual achei que nunca mais teria contato. Eu sabia pouco sobre você, e muito do que sabia era o que contavam na Base, nem sempre verdade e, muita fantasia. Eu tinha enrabado umas duas ou três vezes um garoto vizinho dos meus pais quando terminei o colégio. Não éramos grandes amigos, nos conhecíamos por conta de estudar na mesma escola, mas eu fazia sucesso por conta do meu físico e, um dia, ele me confessou que se sentia atraído por mim. Achei que precisava fazer jus à minha fama de garanhão e o descabacei. Transei mais uma ou duas vezes com ele depois disso antes de dizer que não ia mais continuar com aquilo. Ele ficou chateado, e nos afastamos. O que eu tinha curtido daquilo tudo, quando estava naquela idade de extravasar inconsequentemente todo o tesão que se sente, foi o fato de poder transar sem a preocupação de uma gravidez indesejada. Gays, felizmente, não engravidam, por mais que você os foda. – eu ouvia calado, estava surpreso com aquela abertura dele, e não me atrevi a interrompê-lo.
- Fiquei puto e me senti traído naquela noite em que te flagrei fazendo uma chupetinha no Matt, no Gary e no Cliff, aquilo me levou a acreditar no que eu já tinha ouvido diversas vezes, gays são volúveis, depravados e só vão atrás da maior rola que conseguirem. No momento, não pensei noutra coisa, apenas que você também era assim e eu, tolo, achando que você era diferente, fui surpreendido com aquela cena. Perdi o controle, o resto você sabe.
- Eu te compreendi, não .... – comecei a explicar.
- Espere, me deixa falar. Bem, sabe no que deu a minha fidelidade? Num grande par de chifres. Eu voltei dois anos depois de você do Afeganistão, tinha visto as mais cruéis e sangrentas barbaridades da minha vida e estava emocionalmente abalado com tudo aquilo. Perdi dois dos meus homens por tê-los mandado para uma emboscada, e nunca tive a chance de lhes pedir perdão por minha incompetência. Achei que voltando para quem eu amava, tudo ia voltar ao normal. Só que não. Minha mulher tinha um filho de quatro anos, um filho do meu irmão. Sabe o que isso significa? Que eles me traíram poucos meses depois de eu ter partido para a guerra. Feito um estupido, eu a imaginava esperando pelo meu regresso, enquanto ela e meu irmão fornicavam com o acobertamento dos meus pais. Nunca me deixaram perceber quando entrava em contato com eles, do que estava acontecendo por aqui. – os olhos dele começaram a marejar e eu comecei a sentir uma vontade enorme de abraça-lo.
- Você quase nunca fazia contato com as pessoas que deixou para trás, me lembro que você era o que menos solicitava ligações ou vídeo-chamadas para casa, dentre todos os militares da Base. – afirmei.
- Já te pedi para não me interromper! – retrucou ele, um pouco ríspido. A revolta por aquela dor não era para comigo, mas para com o mundo, daí a rispidez. – De repente, eu não tinha mais casa, não tinha mais pessoas nas quais pudesse confiar, não tinha mais pais que estivessem do meu lado. Todos me traíram. Minha cabeça deu um nó. Tudo o que eu passei por essa merda de país só serviu para arruinar a minha vida, entende? Enquanto eu me fodia naquele país dos infernos, naquelas trincheiras imundas, lutando e defendendo os interesses de sabe-se lá quem, pelas minhas costas as pessoas se divertiam, mantinham seus privilégios, sem a menor consideração pelo que nós estávamos passando. – não era de se estranhar que o Buck estivesse precisando tratamento psicológico para superar tudo aquilo. Subitamente, me dei conta de que histórias parecidas deviam se multiplicar por todos os cantos do país, com aqueles que lutaram nessas guerras estúpidas, e voltavam sem perspectivas de se reintegrarem na sociedade, porque aquilo pelo que tinham passado, modificou sua maneira de enxergar a vida.
Não me contive e fui abraça-lo. Ele colocou seus braços em minha volta de forma tímida, relutante, até eu trazer sua cabeça para o meu ombro quando, em silêncio, ele chorou. Talvez, pela primeira vez, de forma espontânea, sem reservas, sem vergonha do que estava sentindo.
- Não sou um frouxo! – exclamou, me encarando.
- Não, não é! Você é um herói! E sempre vou te respeitar por isso, Buck! – devolvi, trazendo novamente sua cabeça para o meu ombro.
Aos poucos, o calor dos nossos rostos tão próximos, foi nos guiando até que nossas bocas se tocaram num beijo suave e cheio de significado. Ele compreendeu que na minha sensibilidade estava a força de que precisava para se reerguer. Eu me apaixonei perdidamente por ele naquele instante.
- Está tarde, eu vou indo! – disse ele, quando nossos lábios úmidos conseguiram se soltar.
- Fique! Passe a noite comigo! – balbuciei precavido, com o tesão atiçando meu corpo.
- Não! Você merece um homem por inteiro, pleno, completo. Tudo o que eu no momento não sou. – devolveu ele.
- Não diga isso! Você sabe que não é verdade. Você é o homem mais completo que eu já conheci. Ninguém pode esperar algo melhor em sua vida do que um cara como você, Buck! – retorqui.
- Quem sabe daqui algum tempo você não me terá como merece. – respondeu em tom irrevogável ao se dirigir até a porta. Fiquei desolado, com um nó crescendo na garganta. Depois de ter dado dois passos porta afora, ele voltou, envolveu minha cintura e me puxou para junto dele num beijo carregado de tesão, que eu retribuí chupando a língua dele que se emaranhava com a minha. Depois partiu.
Fiquei quase duas semanas sem notícias dele. Agoniado, por diversas vezes peguei o celular e acariciei a tela quando o nome dele apareceu nos contatos, mas não completei a chamada. Ele precisava de um tempo, do tempo dele, não era o momento de pressioná-lo. Por outro lado, meu temor de perdê-lo só fazia crescer.
A tarde de domingo daquele final de maio ameno estava iluminada por um sol acolhedor. Passava um pouco das dezesseis horas quando regressei do restaurante, encerrando aquela semana, uma vez que não abríamos para o jantar aos domingos. Sentia meu corpo enrijecido nos ombros, nuca e panturrilhas como resultado do cansaço e um possível resfriado querendo se instalar. Tomei uma ducha e me atirei na cama, a preguiça fez com que lançasse a toalha de banho de lado e continuasse nu. Em segundos estava cochilando. No meio de um sonho prazeroso um forte apito de trem se repetia a intervalos curtos, até eu despertar e descobrir que se tratava do telefone.
- O que está fazendo? – a voz grave e um pouco rouca do Buck soou do outro lado.
- Cochilando na cama! – respondi, com a voz sonolenta
- Você não tem vergonha? Está um dia lindo lá fora! Um dia para ser aproveitado ao ar livre! – exclamou ele, com um entusiasmo inusitado.
- Não para quem trabalhou até há pouco!
- Passo por aí em vinte minutos para te levar a um passeio. Esteja pronto! – determinou.
- Espere, Buck. Não sei se é uma boa ideia, euEsteja pronto, Seth! – repetiu, antes de desligar. Eu não tinha escolha, me espreguicei e fui até o armário procurar o que vestir.
Um quarto de hora depois ele estava diante da porta, com um sorriso largo, uma bermuda e uma camiseta que se amoldava quase como uma segunda pele sobre aquela profusão de músculos. Um verdadeiro colírio para os olhos e, uma tentação para um cuzinho carente como o meu. Rodamos um pouco à esmo pela cidade até ele seguir em direção ao Grand Avenue Park onde iniciamos uma caminhada lenta, durante a qual ele se mostrou falante e cheio de disposição. Ele estava visivelmente alegre com alguma coisa, e eu esperava descobrir a razão dela. Havia muita gente aproveitando a tarde ensolarada, famílias inteiras se deixavam acalentar pela temperatura agradável, casais de jovens flertando e dando uns amassos pipocavam nos cantos mais discretos, cães corriam esfuziantes pelos gramados bem cuidados. Entramos numa sorveteria cujas mesas na calçada estavam lotadas, com os copinhos de sorvete nas mãos, procuramos um local sossegado para degustá-los. Alguns metros antes de alcançarmos o local pretendido, um dos três garotões entre 18 e 20 anos, mais ou menos, que vinham em sentido contrário, esbarrou propositalmente no meu braço e fez o copinho de sorvete voar pelos ares. Indignado, encarei o sujeito que tinha um risinho de deboche na cara procurando a conivência dos colegas, com uma expressão indignada.
- Olhe por onde anda, cara! – exclamei irritado.
- Isso vale para você também, florzinha! – retrucou debochando
- O que foi que você disse, seu filho da puta? Repete! – interveio ameaçador o Buck. O garotão não se atreveu a repetir, mas manteve o risinho irônico na cara, achando que tinha conquistado uns pontos com umas garotas que estavam numa rodinha próxima e viram a cena toda.
Sem esperar por mais nada, o Buck partiu para cima do garotão. No primeiro soco o moleque já estava no chão, o Buck foi atrás, de punhos cerrados e sem medir as forças, deu mais dois socos na cara do garotão apavorado, cujo nariz tremendamente desviado para um lado sangrava cobrindo o rosto de um vermelho vivo. Outro soco do Buck o fez perder os sentidos. Os dois amigos dele vieram para cima do Buck, um deles havia sacado um canivete do bolso da calça e, mais ousado que o outro desarmado, achou que levaria a melhor. Instantes depois, um corte transversal no braço do esquerdo do Buck vertia um filete de sangue, enquanto o garotão já se via sem sua arma e recebia o primeiro de uma série de socos na cara que tentava inutilmente proteger com as mãos.
- Pare Buck! Você vai quebrar os ossos do rosto dele, pare por favor! – implorei, quando vi que aquele ia ter o mesmo destino que o outro.
- É exatamente o que pretendo fazer com esse filho da puta! – retrucou ele.
O terceiro, com o qual eu havia me engalfinhado para quebrar a vantagem de dois contra um, já prevendo que teria a mesma sorte dos amigos, mas não querendo dar uma de covarde diante das garotas que já torciam pelo Buck, começou a pedir calma e a erguer os braços como se estivesse se rendendo para não ter o rosto desfigurado pela fúria do Buck. Não adiantou muito. Caminhando de costas quando o Buck avançou na direção dele, o garotão começou a pedir desculpas, antes que a segunda frase saísse de sua boca, levou uma rasteira e caiu sentado no chão. Com as mãos sobre a cabeça e implorando choroso por perdão, levou uma joelhada na cara que o deixou atordoado. De repente, o garotão parecia um saco de pancadas no qual o Buck descarregava uma selvageria assustadora. Tive que segurá-lo para que não acabasse com a vida do moleque ali diante de uma plateia que havia se juntado ao redor de nós.
- Enquanto você, seu filho da puta, crescia numa redoma de proteção e privilégios, nós estávamos dando as nossas vidas a milhares de quilômetros longe de nossas casas e famílias, para que você pudesse ter uma vida sem problemas. Agora você vai sentir na pele o que eu aprendi por lá, comendo o pão que o diabo amassou para você se transformar nessa merda de pessoa que se transformou. – vociferava o Buck, sem dar trégua nos golpes de desferia no corpo que se contorcionava sob seus socos.
Quando consegui que o Buck me ouvisse, seus olhos estavam injetados e coléricos e, totalmente fora de si. Os garotões, ainda no chão, se moviam com dificuldade, como lesmas tentado encontrar um caminho para longe dali.
Convencê-lo a ir em direção ao carro e deixar tudo aquilo para trás não foi fácil. Furioso, ele não se deixava tocar pelas minhas mãos e se desvencilhava delas querendo voltar a agredir os sujeitos. Íamos ter problemas com aquilo, eu já previa, pelo estado em que os garotões ficaram. Os dois primeiros a apanharem tinham certamente ossos quebrados, quanto ao terceiro, eu não duvidava de alguma lesão interna, dado que alguns golpes do Buck o acertaram diretamente sobre os rins.
Ele bufava feito um touro bravio quando sentou ao volante, não me deixando dirigir para casa. Com alguns lenços de papel que encontrei no porta-luvas eu procurava estancar o sangue que corria do corte pouco profundo em seu braço. Havia tanta adrenalina correndo em suas veias que ele nem sentia as compressões que eu fazia.
- Desculpe ter estragado nosso passeio! Era para ser uma tarde só nossa. – disse ele, quando eu lhe amarrava uma bandagem sobre o curativo que tinha feito em seu braço.
- Não foi sua culpa! Não tem do que se desculpar. – devolvi.
- Não era para ser assim! – disse ele, dando a entender que seus planos tinham ido por água abaixo, fossem eles quais fossem.
- Esqueça! Teremos muitas outras oportunidades. – respondi, embora soubesse que ele tinha planejado uma ocasião especial para aquela tarde.
Ele ficou taciturno depois de ter conseguido se acalmar um pouco, ao menos parecia estar um pouco mais calmo. Muito embora eu não tivesse a mínima noção de como ele se sentia por dentro.
- Tenho uma surpresa para você! – afirmei, ao tentar lhe devolver o ânimo. Ele apenas se voltou para mim como se qualquer coisa que lhe fosse dita naquele momento não tivesse mais importância. – Um cara bem posicionado dentro da Boeing costuma frequentar o restaurante, ora para negócios ora com a família. É um cara bem simpático e acessível, que costuma elogiar muito os meus pratos. O Luke também o conhece bem, apesar dos dois não trabalharem no mesmo setor da Boeing. Eu conversei com ele a seu respeito e da possibilidade que ele encaminhar um currículo seu para quem tem poder decisório, e ele se propôs a te indicar pessoalmente. Aqui está o cartão dele, é só você entrar em contato e marcar uma hora com ele. Não é legal? O Luke me apoiou nessa iniciativa e garantiu que o cara vai conseguir uma boa posição para você lá dentro, uma vez que você tem uma excelente formação como engenheiro de produção. – concluí.
Repentinamente, fiquei apavorado com aquele silêncio do Buck que perdurava por mais tempo do que era de se esperar. Será que ele interpretou meu gesto como uma intromissão em seus assuntos? Por que não respondia? Por que mantinha esse olhar frio sobre mim? Eu já ia começar a balbuciar alguma desculpa por talvez ter sido precipitado em não o consultar primeiro, mas ele se antecipou, a resposta dele já estava articulada, e me atingiu como um furacão.
- E o que você precisou fazer para conseguir essa entrevista para mim, o cara que não sabe se virar sozinho? Seguiu-o até o banheiro e segurou a pica dele enquanto ele mijava, ou quem sabe não fez um boquete no caralho dele? Talvez o trouxe para cá e o levou para a cama para ele meter a caceta no teu cu? Como foi, hein, Seth? Me conta como esse sujeito tão encantado com você resolveu me dar uma chance de sair do buraco. Será que foi em troca de foder o seu cu, hein, Seth? – a frieza e o cinismo nas palavras dele me desmontaram.
- Saia da minha casa, Buck! Agora! Suma da minha frente! Suma da minha vida! – berrei encolerizado, a ponto de ele levar um susto com meus gritos.
Não esperei pela resposta, fui em direção ao quarto e bati a porta com tanta violência que o estrondo ecoou pela casa toda. Eu estava arrasado. Que tipo de reação foi essa? O que eu tinha feito de tão abominável? Estender a mão para um amigo, ou melhor, para o homem pelo qual se está apaixonado, para que consiga superar seus problemas era algo tão pecaminoso assim? O que se revolvia no meu peito não me deixou chorar, não me deixou outro sentimento que não o de uma ingratidão sem tamanho. Eu devia estar muito equivocado com esse homem. E, ali, na solidão e na dor que me consumia dentro daquele quarto, eu prometi a mim mesmo que nunca mais deixaria o Buck bater no meu rosto como tinha feito na trincheira, ou cravar sua raiva pelo mundo no meu coração como acabara de fazer.