Olá a todos.
Gostaria de dar uma pausa com as CRONICAS DE DANI e tentar algo novo, um conto curto.
Espero que gostem.
UM PAI PARA DOIS, DOIS PAIS PARA UM - parte 1
Quando dei por mim já tinha 8 anos de idade, vivia uma vida simples e pacata na cidade do Rio de Janeiro/RJ, vivi um início de vida humilde, meu pai era pescador, morávamos na colônia de pescadores na Ilha do Governador, minha mãe dona de casa, eu filho único da minha mãe, meu pai aparentemente tinha um outro filho de outro casamento, que recentemente rinha completado a maioridade. Eu me lembro de tê-lo visto duas ou três vezes em toda minha vida, uma das ocasiões ele me deu um barco de madeira que eu adorei, nunca entendi por que não podia ver mais meu irmão, mas sempre que perguntava, era censurado pela minha mãe.
Meus avós eram de Ilha Grande (IG), município de Angra dos Reis/RJ, já eram falecidos, mas meu pai mantinha uma casinha humilde no povoado Vila do Abraão, maior povoado da ilha, com mais ou menos uns 3000 habitantes, passei alguns verões na ilha, conhecia algumas trilhas, praias, e corria e brincava com algumas crias de seres humanos da região, sem nunca fixar muitos laços ou nomes. Me lembro de um ano que meu pai foi de barco até IG, na ocasião conhecemos praticamente toda a ilha, e na volta quase nos atrasamos para o natal, minha mãe ficou furiosa por ter ficado sozinha tanto tempo, acabou se aproximando de uma mulher que morava num canto da cidade, seu marido era pescador como meu pai, acabamos indo passar o natal com eles.
Veronica e Massimo nos receberam em sua casa para o natal, juntamente com sua filha, Julia, com quem iniciei uma amizade, sempre que voltávamos à ilha, minha mãe fazia questão que viessem almoçar na nossa casa, era tudo muito simples, bancos de madeira, uma mesa velha, mas todos riam e se divertiam muito. Uma amizade se formou, também uma parceria comercial, como meu pai tinha um barco considerado bom, algumas vezes por mês, ou a cada dois meses, ia para Ilha Grande pescar com Massimo, mesmo sob protesto dos outros pescadores, que, mesmo ele os pagando o dia de serviço, reclamavam, que quando ele ia para IG, os lucros era menores que aqui, mas ele sempre dizia que valia a pena.
Essa amizade, durou alguns anos, até que um ano que fomos para o feriado de Corpus Christi, um feriado prolongado, Massimo estava sozinho, havia se separado e Veronica e Julia tinham se mudado para o Rio, minha mãe ficou chateada por ela não ter avisado, afinal estávamos morando agora na mesma cidade, até onde sei, nunca mais voltaram a ter contato.
Meu pai era um homem forte e orgulhoso, nunca demonstrava frustração ou emoções, me criou sem muito afeto ou carinho, mas sempre fez de tudo pra eu ter o máximo que conseguia, como minha mãe era professora, sempre fui um ótimo aluno, tirava boas notas, era mais avançado que o restante da turma.
Eu devia ter recém ultrapassado a primeira década mais um de vida, quando minha mãe faleceu, teve câncer e morreu rápido, um tipo raro e agressivo, meu pai ficou desolado, na ocasião do velório, vi mais uma vez meu irmão, estava um homenzarrão como meu pai, forte e alto, estava usando barba, ficou comigo durante todo o velório, depois nos acompanhou até em casa.
Nos dias seguintes meu pai não foi trabalhar, o barco de pesca ficou com um dos funcionários, meu pai era dono do barco, mas sempre dividiu igualmente o valor da venda dos peixes, não cobrava por aluguel ou uso do barco, até a manutenção era toda dele, ninguém ajudava, o que por vezes era motivo de brigas com minha mãe, afinal, dividindo os custos, sobraria mais dinheiro pra dentro de casa.
Fato é que meu pai não conseguiu ficar em casa muito tempo, começou a beber muito, as vezes chegava muito bêbado em casa, as vezes de madrugada e vinha me abraçar, roçava a barba no meu pescoço, eu não gostava, fazia cócegas, além do bafo de cachaça. Durante este tempo meu irmão passou a ir mais na minha casa, algumas vezes chegando a ver meu pai bêbado e eu tendo que fazer comida se quisesse comer. Graças à minha mãe, aprendi a me virar desde cedo, sabia lavar roupa, arrumava a casa, até cozinhar já sabia muito jovem. Meu irmão e ele brigavam muito sempre que ele ia à nossa casa, até que um dia meu pai deu um soco nele, ele retribuiu e disse que iria me tirar dele.
Após meu irmão ir embora meu pai saiu, eu sabia que ele tinha ido beber mais, mas ele sempre voltava no máximo uma hora passada das dez da noite, mesmo aos sábados, naquele dia fiquei acordado até meia noite esperando que chegasse e não chegou, tentei ligar para seu celular e ele não atendeu, imaginei que tinha caído de bêbado, fechei a casa e fui dormir. Algum tempo depois acordei com ele chegando cambaleando, já era de praxe eu o ajudar a ir até a cama, mas naquela noite ele queria beber a saideira, e me fez tomar três doses com ele, nunca havia bebido na minha vida, três doses de cachaça me deixaram muito tonto em alguns minutos, lembro de o levar para a cama, deitar-me com ele...
No dia seguinte, acordei na cama com meu pai, senti seu cheiro de cachaça, e desta vez o cheiro também estava em mim, me mexi, ele estava com a mão nos meus cabelos como quem os afagava, me virei, ele estava pelado atrás de mim e eu só de cueca (em casa sempre dormíamos de cuecas, por fezes via meus pais nus, a nudez nunca foi um problema pra nós). Acordei e me levantei, botei meu short e com alguma dificuldade para andar meio cambaleando e dolorido fui até o banheiro, tomei um banho, lavei minhas pernas que estavam grudando, tive a sensação de ter feito xixi a noite. Meu pai se levantou, me deu um beijo no rosto e disse que ia à feira ver se os pescadores já tinham voltado com o barco, pra eu esperar que ele voltava com o café, desta vez cumpriu a promessa, voltou com pão e presunto, comemos e pela primeira vez ouvi:
- Você sabe que te amo né Alberto?
- Sei sim pai.
- Desculpa por ontem a noite.
- Desculpar o que? – Afinal ele sempre chegava bêbado, já havia se tornado um hábito.
Naquele mesmo dia meu pai me fez prometer que não ficaria mais de papo com meu irmão, que ele tinha ficado feliz em nos reaproximarmos, mas que ele já tinha perdido minha mãe, não podia correr o risco de me perder também. Algumas semanas depois deste papo, nos mudamos para Ilha Grande.
Continua...
Já agradeço estrelas e comentários.