Eu recebi um e-mail faz uns dias. Quando recebi não entendi direito a mensagem. Ela dizia assim:
Oi, desculpe aparecer assim do nada... li seus contos no site. Eu normalmente não era pessoa de ler esse tipo de conto, mas os seus eu tive que ler, e vou explicar o motivo. Reparei que tem um leitor que toda hora vai criticar os seus contos. Ele se revolta e questiona o motivo do marido aceitar ser corno e se tornar cúmplice da esposa. Dá a impressão de que ele não admite esse tipo de coisa. Mas ao mesmo tempo lê a maioria dos contos desse tema. É quase sempre o primeiro a ler os contos que aparecem no site com esse tema, traição, corno, esposa liberal. Parece ter verdadeira fixação. E de verdade, tem. Mas, todos os cornos submissos que aparecem nos contos ele questiona. Ele reage como se o autor fosse cúmplice do personagem. Está tão cego com o seu problema, que mistura as bolas. Não separa autor e personagem. Parece que ele acha que todos estão mexendo na ferida dele. Dá a entender que é um macho cheio de orgulho e dignidade, e que não admite jamais ser corno cúmplice da esposa. Só que não. Então, escrevo só para lhe dar uma dica: Não se irrite. Eu conheço a figura. Não se deixe afetar pelos comentários dele. O sujeito em questão está perturbado. Não faça caso dos comentários que ele faz. É uma feria que ele tem e não consegue curar. Vi que você até tentou comentar. Ele não vai aceitar e fica cada vez mais incomodado. Está bem perturbado. Deixa pra lá. Publique seus contos e não ligue para ele. Só isso que queria avisar. Um abraço. Você escreve muito bem. Eu gostei dos seus contos. Gladys.
Eu agradeci a mensagem dela e até comentei que ficava admirado como é que isso ainda pode acontecer, já que ele parecia estar obcecado com os contos que eu escrevia. Ela respondeu em outro e-mail:
- Olha, é assim mesmo. Não tem lógica, mas tem um motivo. O que acontece é que a esposa dele não deu perdão. Releve. Abraço, G.
Aí, eu fiquei intrigado como ela parecia ter conhecimento do caso e perguntei se ela sabia da história. Ela confirmou:
- Sim, conheço bem essa história. Digamos assim, eu sou a melhor amiga da esposa dele. E sei de tudo. Bjs, (Colocou três emojis rindo) e assinou G.
Na mesma hora, já fiquei interessado em saber da história, porém, deduzi que se eu perguntasse ela não iria me contar. Sem querer generalizar, é assim que muitas mulheres costumam reagir. Então eu me fiz de desinteressado, e apenas disse:
- É uma lástima, essas coisas acontecem muito. A maioria dos casais se separam porque não têm a capacidade de se entender, de ter cumplicidade, sinceridade, tolerância, e de aceitar o outro como esse outro gostaria de ser. Mas é o que mais tem. Vivem num mundo idealizado, cada um com uma fantasia, que nada tem a ver com a realidade. E quando olham para a realidade não conseguem aceitar.
E me despedi sem perguntar mais nada. Passou um dia recebi outra mensagem:
- Olá, você não disse mais nada.
Eu respondi:
- Nada mais tenho a dizer. Entendi o que contou. Agradeço seus esclarecimentos. Mas você tem razão, não vou me chatear com o caso.
Foi quando ela voltou com outra mensagem:
- Então, já que não perguntou, vou lhe revelar. Ele tinha essas fantasias com a esposa. Vivia dizendo que queria ir a um bar liberal com ela, estimulava a mulher a usar roupas mais sexy, chamar a atenção sobre si. A esposa é bonita, sensual, mas nunca imaginou que o marido tivesse esse tipo de fantasia. No começo ela não admitia muito aquelas conversas. Achava que era pouca-vergonha. Mas ele insistia, quanto faziam sexo, ele sugeria se ela imaginava ter outro homem junto com eles, essas coisas. Ela percebeu que ele tinha esse fetiche e vontade. Então, resolveu se informar melhor sobre o assunto, foi ler sobre o tema, viu opiniões de especialistas. Na busca pela internet, até achou artigos e contos eróticos. Foi assim que ela descobriu que ele era leitor daqueles contos. Encontrou o e-mail secundário dele nesses sites e vasculhou. Ficou admirada com os comentários que ele fazia nos contos. No começo ele não questionava muito as histórias, até elogiava. Ele chegou a dizer que tinha desejo que a esposa dele fosse daquele jeito. A esposa ficou chocada. Ela me procurou para se abrir e saber o que deveria fazer. Eu, disse que se ela gostava do marido e estava disposta a manter a relação, deveria conversar com o marido e tentar saber com ele como poderiam se entender. Ela me achou muito arrojada, disse que não se achava capaz daquilo. Ela tinha medo de que aquilo influenciasse a relação deles. E eu me desliguei do caso. Mas, como água mole em pedra dura, tanto bate, até que fura, ela aos poucos começou a ficar excitada com tudo aquilo. E passou a se interessar mais. Foi aí que a coisa ficou complicada. E no final não deu muito certo. Por hora é isso. Um beijo. G.
Eu começava a entender. Ela queria me alertar, para não me incomodar com o sujeito. Mas desconfiei que ainda tinha muito mais história para descobrir, e usando a mesma técnica respondi:
- Olha só, no fundo as pessoas nunca estão felizes. Quando desejam uma coisa ficam tentando conseguir, e depois que conseguem, ficam com medo do que descobriram. Quantos não são assim, não é? Obrigado por sua mensagem. Gostei de saber. Abraço.
No outro dia veio outra mensagem:
- Olha, você não imagina o problema que foi. A esposa, resolveu aceitar as sugestões do marido, se tornou bem mais aberta, mais provocante, passou a se vestir de modo muito mais sensual, e entrou no jogo de fantasias dele. No começo ele ficou alucinado de tão excitado, achou o máximo, e marcaram de ir a um bar liberal. Ela se preparou toda sexy, ele bem animado, e foram. E naquela noite ela fez sucesso com os casais, recebeu muitos assédios, e acabaram numa cabine com outro casal fazendo coisas bem excitantes. Aquilo foi como fogo em rastilho de pólvora, ela descobriu que vivia presa nela uma mulher muito mais arrojada e liberal do que deixava aparecer. Você deve saber pois escreve essas histórias. Ela começou a gostar muito daquilo, e ele no começo pensava que poderia controlar. Mas, ele aos poucos foi ficando ciumento, agressivo, inseguro com ela. Enquanto ela ia se tornando mais empoderada do seu sex-appeal, ele ia vendo que já não podia concorrer com os machos gostosões da academia, com os solteirões galanteadores do trabalho, e dos comedores alfa que sempre estão dispostos e dar amor a uma mulher gostosa e sexy. E eles tiveram alguns atritos. Ele em vez de perceber que fora ele o estopim da explosão de sensualidade que sua esposa teve, ficava revoltado. Em vez de procurar um entendimento tentou reprimir com grosseria. Quando ela foi sincera, e disse que tinha adorado conhecer outros machos, com mais pegada, com mais elegância, e com mais dimensões fálicas do que ele tinha para oferecer, ele ficou totalmente inseguro. Aí que complicou. E ela ainda caiu na besteira de ser verdadeira, e contar que em vários anos de casamento, não teve nenhuma foda como as que ela teve nas trepadas eventuais com os pegadores. O machão desmoronou. E ficou agressivo, a agrediu, a chamou de puta, e entrou em crise. Você não imagina o problema que deu... Mas por aí você entende o que está acontecendo. Sacou? Um beijo. G.
Eu adorei saber. Estava sendo desvelado um caso que ainda prometia grandes emoções. Eu sabia que a Gladys iria voltar e contar mais sobre o caso. E foi o que aconteceu. Prometo contar mais. Mas eu continuo em breve. Hoje paro por aqui.
leonmedrado@gamil.com