Sinopse: Uma decisão profissional por parte do Eric afeta a bela jovem a ponto de entristecê-la por dias e ela não vai saber como lidar com a situação. Um jantar ao lado dos pais era tudo o que Nívea procurou evitar, sem sucesso.
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- Eu e você não vamos mais nos encontrar depois das aulas.
A frase me atingiu como uma faca me rasgando ao meio. Eu olhava pra ele esperando que fosse algum tipo de brincadeira. Mas Eric continuava sério, então percebi que não era.
- Por que não? O que aconteceu? - perguntei com a voz baixa já sentindo um gelo no estômago e um nó na garganta.
- A faculdade entrou em contato comigo para uma reunião de última hora, além daquelas habituais entre um semestre e outro - ele explicava com as mãos geladas segurando as minhas - Me ofereceram uma proposta para que eu começasse a dar aula no turno da noite.
- E você... Você aceitou? - perguntei nervosa e mordendo o lábio inferior.
- A proposta é muito boa, ma petite... Vão me remunerar com o dobro do valor pelas horas. Eu não podia recusar. Se eu não te liguei hoje durante o dia foi porque estava acertando a contratação e as turmas que eu vou dar aula.
- E não vamos mais nos encontrar por causa do horário... É isso?
- É... - ele suspirou - O horário da noite começa às seis e meia. Quase sempre é o horário que eu te levo pra casa depois de ficarmos juntos... Não vai dar tempo.
Um furacão se formava na minha cabeça com tudo aquilo que Eric me dizia e eu fazia força pra absorver cada informação. Dei um passo pra trás olhando para o nada, como sempre fazia quando estava nervosa, pois me sentia sufocada. Não queria chorar na frente dele. Não queria e não podia. Minhas mãos estavam tremendo e eu abraçava o meu próprio corpo.
Eric se afastando de mim... E eu não teria mais o seu carinho, os seus beijos, o seu corpo amando o meu... Seria um pesadelo?
- Nívea, me escuta... - ele se aproximou, pegando na minha mão.
- Você enjoou de mim? - o interrompi rapidamente olhando nos olhos dele.
- O quê??? - ele me encarava, analisando cada detalhe do meu rosto, como se não estivesse acreditando no que acabara de ouvir - Enjoar de você?? É claro que não!!!!
- Pode me dizer a verdade sem medo, Eric... - eu inspirava na tentativa de não deixar cair nenhuma lágrima mesmo com o meu coração quebrado pela dor - Esse tempo longe, você conheceu uma mulher da sua idade não foi? E tá ficando com ela???
- Shiiiiuu! - ele tampou minha boca com os dois polegares segurando firme o meu rosto - De onde você tirou isso???? Não tem mulher nenhuma!!!!
- Então por que tá inventando essa história de dar aula de noite???
- Eu não estou inventando, é a verdade!!!! - a sua voz se alterou de desespero - Nívea... Acha que eu estou mentindo pra você?? Depois desse tempo todo que estamos juntos???
- Você me disse que não ia mudar nada entre nós dois, lembra? - tirei suas mãos do meu rosto.
- E não vai!!!! O meu amor por você não mudou em absolutamente nada! NADA!
- Você tá se afastando de mim... Isso não é mudar? Não me disse agora que ia enlouquecer de saudade?
- Nos dias de semana não vamos mais nos ver, é verdade... Mas os sábados à noite continuarão sendo somente nossos... Nívea, eu amo você... Por favor não duvida nunca disso...
- Então por que você aceitou trabalhar de noite? A nossa relação é proibida e nos arriscamos tanto pra ficar junto...
- Eu sei... Você tem razão... - ele olhou pra baixo, respirando fundo e me olhando novamente - Você pode não entender o que eu vou dizer... Mas eu tomei essa decisão pensando em nós dois.
- Nós dois?
- É... Em nós dois.
- Ficar menos tempo comigo não é pensar em nós dois - e me afastei dele, virando as costas fazendo o caminho de volta.
- Espera! - ele me pegou pelo braço sem usar muita força, me virando e acariciando o meu rosto - Eu não quero ver essa raiva nos seus olhos...
- Não estou com raiva - engoli em seco - Estou triste. Me deixa voltar pra casa.
- Você acredita em mim?
Eu olhava dentro dos seus olhos e não conseguia responder. Estava machucada demais com aquela conversa. Admirava Eric por ser tão dedicado ao trabalho mas eu nunca pensei que toda a dedicação dele um dia poderia nos atingir.
- Acredita??? - ele repetiu.
- Me deixa voltar... - tirei a sua mão do meu braço sem coragem para responder a pergunta - Por favor...
- Espera, Nívea! Me deixa explicar!
Não queria ouvir mais nada. Retornei para encontrar com a Melissa e Felipe à passos rápidos, sem olhar para trás e finalmente deixando as lágrimas rolarem pelo meu rosto.
***
Eu chorava e soluçava desesperadamente com a minha cabeça deitada no colo da Melissa. Doía muito. Doía saber que eu e ele não ficaríamos mais juntos após as aulas. E principalmente pensar que ele poderia ter me trocado por uma mulher mais velha. Adulta igual a ele.
- Muita canalhice dele fazer isso com você, amiga! - a ruiva afirmou enquanto alisava os meus cabelos - Te usou, fez bem o que quis, pra agora te descartar feito lixo!
Estávamos nós três sentados na escadaria da saída de emergência porque eu não podia voltar pra casa do jeito que eu estava. Felipe sentado com a cabeça encostada na parede, alguns degraus abaixo de nós duas, nos observando.
- Eu não vejo motivo pra ele mentir - finalmente ele quebrou o silêncio - Você tem que acreditar no que o Eric te disse, Nívea...
- Como acreditar nele, Felipe? Ele troca a nossa amiga por alguma vadia universitária e você quer que fique por isso mesmo?
- Isso é o que vocês duas estão supondo! Se ele realmente vai começar a dar aula de noite, é claro que vocês dois não poderiam se encontrar no fim da tarde.
- Ele não sente mais o mesmo... - consegui me levantar do colo e enxugar as lágrimas do rosto - Nós ficamos longe um do outro por muito tempo. Disse que estava com de saudade de mim mas era tudo mentira!
- Eu acredito nele.
- Lógico que acredita! Vocês são homens! - Melissa rebateu - Um vai defender o outro.
A dor no peito que eu sentia era angustiante e pensei que ela iria diminuir junto das lágrimas que insistiam em cair. Mas não diminuíram em nada.
- Ni, não chora mais por ele - a minha amiga pedia limpando as minhas lágrimas - O Eric não merece.
- Eu não consigo parar - falei sentindo os meus olhos inchados - Eu penso que ele pode estar com outra mulher agora e a vontade de chorar só aumenta.
- Você não pode voltar pra casa com o seu rosto assim - o mais velho alertou - Seus pais podem perceber que você estava chorando.
- Eu vou tentar me acalmar.
- Vamos descer um pouco, a gente fica no jardim da portaria. Mas você não pode chorar mais!
- Eu sei.
Descemos novamente e pude sentir a brisa fresca da noite. Queria que ela levasse embora a tristeza enorme que me dominava. O dia em que completei 16 anos começou com um lindo presente envolvendo a mim e o Eric. Mas esse presente fora arrancado pois ficaríamos perto e, ao mesmo tempo, longe um do outro.
***
No decorrer da semana após o meu aniversário, Eric me telefonava e enviava mensagens em vários momentos do dia. Não retornei nenhuma delas pois não queria falar com ele. A tristeza e mágoa ainda estavam presentes e eu ficava boa parte do tempo com a Melissa na casa dela e evitando olhar o meu celular. Cada ligação recebida dele eu recusava. Procurava me distrair com outras coisas mas sempre na hora de ir dormir eu me permitia chorar.
Acordei cedo na manhã de sábado e após um bom banho frio, ainda enrolada na toalha e com os cabelos molhados, ouvi batidas na porta.
- Pode entrar!
A porta se abriu e Melissa entrou usando roupas de academia, tênis branco e com o cabelo preso no alto de um coque.
- Bom dia amigaaa! - ela veio na minha direção me dando um abraço apertado - Como você tá?
- Mais ou menos - respondi sentindo os olhos pesados.
- Vim te carregar pra aula de dança hoje! Vai ser bom pra você se distrair e eu espero você se arrumar!
- Ah, eu não sei Meli. Eu fiquei esse tempo longe, acho que nem sei mais dançar.
- Pois então, mais um motivo. Anda, se arruma logo!
Olhei pra ela pensativa e realmente era uma boa ideia dar atenção a mim mesma depois de dias e noites chorando. Fui até o guarda-roupa, peguei uma calça azul-marinho de ginástica, uma blusa preta bem longa o suficiente para cobrir o meu bumbum e comecei a me vestir.
- Vocês conversaram?
- Não. Ainda não quero falar com ele.
- E como vai ser na segunda-feira, Ni? Como vai fazer pra disfarçar?
- Ele vai ser professor em sala de aula e eu apenas a aluna dele. Personagens.
- Eu fico horrorizada com o seu sangue frio. E a vontade como que tu faz?
- Vontade de quê?
- Como de quê? De trepar com ele, ué. Todo esse tempo longe, vai me dizer que tu não tá subindo pelas paredes?
- Eu não sou uma tarada por sexo igual a você, Melissa - respondi revirando o olhos - Eu senti saudade sim, mas a minha mágoa com tudo isso nem me fez mais pensar no assunto.
- Pois eu no seu lugar não aguentaria. Tu viu pelas fotos que eu te mandei que eu e a minha família viajamos pra casa da minha tia em Curitiba passar as festas de Natal e Ano Novo não viu?
- Vi.
- Amiga, foram dez dias sem o Felipe encostar em mim porque estávamos de visita na casa da irmã da minha mãe.
- E não rolou nada? - perguntei curiosa enquanto calçava o par de tênis.
- Nada. Eu dormi no quarto das minhas duas primas que são crianças, o Fê e os meus pais no quarto de hóspedes. A sorte - falou fazendo o sinal de aspas com os dedos - é que o apartamento é do mesmo tamanho que o nosso então não foi tudo tãaao ruim. Ah, mas quando voltamos pra casa, amiga...
- O quê? - fiz uma cara assustada.
- Na mesma noite em que voltamos pra casa, eu invadi o quarto do Fê e fodemos feito loucos. Ele precisou tampar minha boca por causa do escândalo que eu fazia na hora de gozar.
Arregalei os olhos e soltei uma gargalhada tão grande que minha barriga doeu por longos minutos. Melissa Amorim conseguiu me fazer rir após uma última semana terrível de férias.
- Melissa, você é louca! - falei ainda sob efeito da falta de ar devido à crise de riso.
- Louca nada, estávamos tirando nosso atraso. E gozamos juntos três vezes.
- Eu não estou ouvindo isso... - balancei a cabeça indo em direção ao espelho para prender os cabelos com um elástico cor de rosa - Ainda vou tomar café, você já tomou?
- Já, mas eu te acompanho.
***
- Bonjour! - Cumprimentei meus pais com um beijo na bochecha de cada um e me sentei ao lado da minha mãe e Melissa do outro lado ficando de frente pra mim.
- Bonjour, cherie!
- Bom dia, meu amor! Se animou pra aula de dança hoje?
- Sim! - respondi normalmente à minha mãe enquanto nós duas nos servíamos com uma garrafa de iogurte de morango e algumas torradas com requeijão.
A mesa do café da manhã estava repleta de pães, bolos, frutas, sucos, iogurtes... Meus pais tomavam café ainda usando suas roupas de dormir: meu pai vestia um conjunto de pijama na cor azul marinho e minha mãe um hobby preto de seda.
- Que bom - meu pai deu um gole na sua xícara de café - Hoje nós três temos um compromisso familiar - anunciou.
- Ah, não... - lamentei - Eu realmente preciso ir?
- Oui, mon amour. É chato pra mim também mas é importante. O Simon, um colega meu de trabalho, felizmente também foi promovido na empresa. A diferença é que ele será o CEO Jurídico. E gentilmente nos convidou para jantar hoje à noite em forma de comemoração.
- Me lembro de alguns amigos seus que você convidou ano passado para o meu aniversário, mas não me lembro dele - minha mãe comentou enquanto passava o requeijão em uma fatia de pão.
- Naquela semana, ele precisou viajar a trabalho por isso não veio pra festa.
- Então foi isso...
Desde que fora promovido, a vida social do meu pai se tornou mais intensa. Jantares, festas... Ele sempre foi um homem muito reservado e tenho certeza que herdei isso dele. Comparecia a esses compromissos apenas em nome do trabalho, no entanto nunca ficava mais do que duas horas e minha mãe o acompanhava sempre que podia, mesmo precisando acordar cedo no dia seguinte por causa da clínica.
- E que horas vocês marcaram? - perguntei enquanto mordia uma torrada.
- Marcamos para as sete da noite.
- Então vamos né, não tem outro jeito.
- Não vai ser tão ruim assim, meu anjo - minha mãe tentou me animar - Além disso, ele também irá levar a família. Simon e a esposa tem um filho adolescente, não é Jacques?
- Tem sim. Não será nenhuma tortura, mon ange...
Apoiei o cotovelo na mesa, fechando a mão pousando o meu rosto e olhei para Melissa que prestava atenção quietinha na conversa enquanto comia as torradas e bebia o iogurte.
- Amiga, eu sei mais ou menos como é isso porque às vezes o meu padrasto arrasta o Fê para essas reuniões e festinhas com os colegas dele do Fórum. Ele vai, mas com uma tromba amarrada do tamanho de um bonde.
- Eu espero que, pelo menos, eles sirvam uma boa comida - terminei de comer e me levantei da mesa - Você escolhe uma roupa pra mim, mãe?
- Claro, meu amor! Ou você quer sair de tarde com a Melissa e comprar um vestido novo?
- Não, pode escolher você um vestido pra mim. O meu guarda-roupa é todo seu. Vamos pra aula, Meli?
- Só vamos! - ela se levantou da mesa indo em direção à porta - Não vai levar o seu celular?
- Não. Está desligado na gaveta.
O olhar trocado com o da minha melhor amiga já dizia tudo: meu modo off permaneceu ativado para Eric Schneider.
***
Tudo correu bem no sábado. Consegui me distrair e até me divertir na aula de dança, mesmo me cansando pois tinha perdido o ''pique'' por causa da ausência nas férias.
Quando voltei pra casa, dei de cara com um vestido lilás em um tom bem clarinho pousado na minha cama com um decote reto de mangas folgadas um pouco acima do joelho e os sapatos modelo scarpin também na cor lilás de salto pequeno. Um par de sapatos que eu nem me lembrava que tinha. Minha mãe realmente possuía bom gosto principalmente para esses jantares com gente esnobe.
Chegamos no local escolhido pelo colega de trabalho do meu pai por volta das sete e dez da noite. Era o restaurante de um hotel muito chique de frente para o mar. Fiquei todo o tempo de mãos dadas com a minha mãe e me esforçando ao máximo para mostrar simpatia. Não sabia lidar com as pessoas no momento em que estou para conhecê-las. Me sentia deslocada em situações assim.
O lugar era iluminado à meia luz e muito elegante. Bem diferente dos ambientes descontraídos como churrascarias e pizzarias. Na entrada, meu pai informou nossos nomes à recepcionista que nos levou até a mesa onde a família nos aguardava.
Logo que nos aproximamos, o homem e sua esposa muito bem vestidos, se levantaram da mesa para nos cumprimentar. Ele tinha os cabelos em um tom cor de prata com o corte comum, os olhos azuis e um sorriso muito amigável. E sua esposa, com os cabelos na altura do pescoço, pintados em luzes e os olhos castanhos bem claros. Ambos foram muito simpáticos.
- Sua filha é muito bonita, Jacques. Está de Parabéns. - o elogio me deixou sem jeito como sempre e apenas sorri de canto.
- Merci, Simon. Nívea é a princesa da casa.
- Filho, os nossos convidados chegaram! - Denise, a esposa do Sr. Simon o chamou.
Eu não tinha reparado no rapaz que ainda estava sentado, com os cotovelos na mesa e o olhar fixo em seu celular nas mãos, distraído com a nossa chegada. No momento em que ele se levantou desviando os olhos para nós, tomei um susto quando o vi e ele se assustou igual.
- Você?? - eu o encarava surpresa.
- Fille timide?* - ele abriu um sorriso ao me ver.
Continua...
Nota da autora: Que rufem os tambores!!!! Quem será este jovem rapaz que deixou nossa pequena surpreendida, hein? Façam suas apostas. Para os leitores fiéis e atentos está molezinha Hahahahahaha.
Aos que devem estar se perguntando do porquê do nosso casal não se encontrar mais após as aulas, além da razão financeira como o Eric explicou, existe algo maior por trás dessa decisão entretanto se eu falar será spoiler hahahaha
Mas não fiquem bravos comigo! Ele e Nívea irão se acertar.
Fille timide = Garota Tímida
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