Obrigado pela excelente recepção do conto novo. Curtam e comentem, é muito importante.
Vamos ao que interessa.
PARTE 1
Semanas depois da visita do meu irmão meu pai já tinha tudo pronto e então fomos para Ilha Grande, fiquei chateado de não ver mais meus amigos da escola e da vizinhança, mas meu pai fez parecer que a mudança para a ilha seriam eternas férias de verão. Ainda não tínhamos voltado àquela casinha sem minha mãe, estava como sempre tudo muito sujo e empoeirado, meu pai levou roupas e poucas coisas da colônia de pescadores para IG no seu barco, tive que lavar todas as roupas novamente, pois tudo ficou fedendo a peixe, mas agora com um quintal enorme e muito sol, foi rápido, uma senhora de seus 50 anos ajudava na faxina e fazia a comida algumas vezes por semana, o restante dos dias eu me virava. Quando a faxina era pesada, levava seu neto pra ajudar, eu ficava incomodado dele faxinando a casa, num pensamento cheio de estereótipos, acabava ajudando também quando ainda sobrava algo pra fazer, quando chegava da escola.
Meu pai se estabeleceu rápido na cidade, Massimo o apresentou para todos, ele estava bebendo menos, e isso colocou sua cabeça no lugar, foi há muitos restaurantes e fez contrato com muitos mais para fornecer frutos do mar. IG tem muitas pousadas e restaurante, especialmente Vila do Abraão, fui matriculado, comecei as aulas, mas não me identifiquei muito com os outros alunos, era como se eu fosse mais desenvolvido que eles, afinal aquilo era uma vila, eu vinha da cidade grande, mais esperto, pensava. E quanto ao ensino, era como se eu estivesse 3 anos à frente.
***
Três anos se passaram, talvez mais, e a amizade de meu pai e Massimo seguia firme e forte, os negócios também, meu pai reformou a casa, deu uma melhorada, eu tinha computador e internet (a péssima que tem disponível), a vida seguia boa. Eu sempre nadei muito bem, principalmente no mar, adorava nadar até as Ilhas do Macedo, umas pequenas ilhas que ficavam há poucos metros da praia, mais ou menos uns 100 metros, outras vezes ia de barco, meu pai mantinha na praia um pequeno barco a motor, por vezes ia também com o barco, dava a volta na ilha e atracava na parte de trás.
Era muito calmo ali, vez ou outra apareciam algumas pessoas que também iam nadando ou de barco, eu tinha uma árvore, uma castanheira onde os galhos formavam uma base sólida, que subia e ficava vendo a cidade e a imensidão do oceano, ficava sentado lá, era calmo, com o tempo passei a amarrar um pedaço de lona no alto desta árvore, fazia uma espécie de cobertura extra.
Mais de uma vez cheguei a ficar até a noite na ilha, e um dia de mar agitado dormi pela primeira vez, poucas vezes tive tanto medo na minha vida, havia ido nadando, fiquei passeando pelo curto espaço, vendo os barcos passando próximo, ficava observando as pessoas dentro deles. Quando dei por mim, já estava noite, a maré subiu e fiquei preocupado de voltar nadando, o jeito foi me aconchegar e dormir, por sorte não faz muito frio nem a noite. No dia seguinte meu pai estava furioso, expliquei o que acontecera e achando que ia levar uma bronca, ele disse que qualquer dia, faríamos um acampamento lá, se ele poderia chamar Massimo também, acenei que sim.
Adorava aquela pequena ilha, especialmente no verão, mais de uma vez vi casais namorando nos barcos não muito distantes dali, longe suficiente da praia, mas não tão longe da ilha, e um dia uma lancha parou em um domingo ensolarado com várias mulheres e alguns homens, todos fizeram sexo a tarde toda, ficavam andando pelados na lancha até o barco da polícia de aproximar e eles saírem dali.
Aquele era meu lugar especial, meu forte. Em alguns verões, quando Julia ia passar algumas semanas com Massimo, íamos até a ilha. Logo no primeiro verão após minha mudança a apresentei minha arvore, subimos e ficávamos a tarde toda conversando, as vezes falando nada, mais de uma vez nossos pais insinuavam que tínhamos algo, um namoro ou algo assim.
Os dias eram bons, me acostumei com a calmaria e com a agitação da ilha, no verão e épocas do ano mais quentes, a vila ficava cheia de gente, turistas, gringos, eu era moleque solto, frequentava a escola de manhã e o resto do dia era todo pra mim, uma ou duas vezes ia pescar com meu pai, que agora já tinha uma pequena frota de barcos com alguns funcionários trabalhando pra ele e uma sociedade com Massimo.
Um dia, cheguei em casa da minha ilha e encontrei meu pai com meu irmão conversando, os dois bastante agitados, meu irmão veio pra cima de mim, me abraçou e olhou furioso pro meu pai, voltou o rosto pra mim e disse firme:
- O que este monstro fez com você?
Eu não fazia a menor ideia do que ele queria dizer.
- Não entendi.
- Ele não tinha o direito de fazer isso com você, ele te machucou?
- Não Marco, ele nunca me bateu, tá louco?
- Não falo disso.
- Do que então? O que está acontecendo aqui pai?
- Não te falei Marco? Difícil acreditar em mim? – Respondeu meu pai com olhar furioso para meu irmão.
- Depois do que você fez comigo, acho bem difícil acreditar em você.
- EU fiz algo com você Marco?
- Foi VOCÊ sim.
- Alguém pode me explicar o que está acontecendo? - Perguntei sem saber de nada.
- Alberto, um dia a gente vai conversar sobre tudo.
- Tudo o que irmão?
- Nada, não tem nada que vocês dois conversarem. Seu irmão já estava de saída.
- Volto pro Rio só amanhã, estou numa pousada aqui perto, amanhã a gente dá uma volta Alberto.
- Fica aqui Marco, dorme aqui.
- Ele não é bom o suficiente pra dormir na casa de um pescador fedendo a peixe, ele que durma na pousada. – Rapidamente respondeu meu pai. - E o Alberto amanhã vai sair cedo comigo pra pescar.
- Como pescar? Você ta levando-o pra trabalhar?
- Claro, alguns dias vai comigo, um dia vai ser dele, ele precisa saber lidar com o que coloca comida em casa, e ele já tem mais que idade pra trabalhar, não estou cometendo nenhum crime.
- Eu gosto Marco. – Respondi sem muita certeza, mas pra defender meu pai, a verdade é que eu não tinha muita intimidade com a pesca, gostava de ir algumas vezes, pra ver, não pra fazer daquilo meu ganha pão, sempre quis ter uma pousada, receber pessoas, disso eu gostava.
- Vão só vocês dois?
- Não, tem pescador pra dar com pau. – Percebi que marco corou.
- Volto então no próximo feriado pra te ver irmão, agora que sei onde vocês moram, me dá seu celular, coloca aqui. – Me entregando seu aparelho. – Vamos manter contato agora.
No dia seguinte meu pai me acordou cedo com um beijo na testa, saímos antes da 5h para pescar e voltamos antes das 9, meu pai me liberou assim que chegamos na praia, pedindo que eu não procurasse meu irmão, assenti e fui direto pra casa, fiquei vendo tv. Naquele dia meu pai chegou mais tarde que de costume e com um cheiro que eu já conhecia, estava bebendo, ele bebia socialmente desde que fomos para a ilha, mas pelo cheiro daquele dia, passara da conta.
>> CONTINUA...