Capítulo 41
Rose decidiu não ir para a casa naquele tarde. Após Bruno sair transtornado da redação, ela ligou para Jonas, que contou tudo o que ocorreu na pizzaria.
Nervosa, foi para a casa de Bruno, onde resolveu passar a noite.
Ele chegou em casa e se trancou no quarto.
Retirou as roupas e se pôs debaixo do chuveiro, onde chorou por longos minutos.
Quando saiu do banheiro, vestindo um roupão e os cabelos molhados, encontrou Rose sentada na cama.
Bruno deitou em silêncio, se encolhendo na cama, com os olhos lacrimejando.
_ Está mais calmo, filho?
_ Um pouco.
_ Você tem noção da merda que fez hoje? Bruno, você sabe que poderia ter matado aquele rapaz com uma facada!_ Rose disse sussurrando. Ela sabia que não havia ninguém em casa, além deles, mas o medo de ter o seu segredo revelado nunca a deixava se sentir segura para tocar nesse assunto.
_ Ele me provocou! Ousou a me tratar como se eu fosse o amante de Jonas e ele o marido traído! Eu não tenho sangue de barata!
_ Você me prometeu que ia se controlar depois do que aconteceu com...enfim você tem que manter a calma.
_ Você ia falar do meu pai? Sim! Eu matei o meu pai e não me envergonho disso! Muito pelo contrário, tenho orgulho!
Rose arregalou os olhos assustada com a revelação do filho.
_ Mãe, ele era um monstro! Até hoje eu tenho pesadelos com ele me batendo! Você lembra quando ele me arrastava para o quarto, trancava a porta e me batia com um porrete? Eu só saia de lá quando ele via o meu sangue!_ as lágrimas começaram a cair dos olhos de Bruno._ Eu fiquei durante anos guardando dentro de mim o meu ódio por ele!
"Porra, eu era só uma criança, quando ele chegou em casa...Ainda me lembro como se fosse hoje, eu estava lavando a louça e ele me fez uma pergunta, que não me lembro qual, ele não gostou da minha resposta e quebrou o prato em mim! Na minha cabeça! E ainda disse "não chora não! Se chorar apanha mais!" Eu nunca o considerei como um pai! Pai é quem ama e cuida. Gustavo era só um monstro que tinha prazer em causar o meu sofrimento.
Você lembra quando ele descobriu que eu era gay? Ele entrou no meu quarto e remexeu mas minhas coisas, acabou encontrando uma carta de um ex namoradinho da escola. Foi o Inferno aquele dia! Ainda me dói como se fosse hoje! Ele te espancou na minha frente para me punir, cada porrada que ele te tava doía muito em mim!
_ Você não precisa se lembrar disso, meu amor. Esquece esse passado doloroso.
_ Ele foi o responsável pela da minha melhor amiga, ele quase matou o homem que eu amo e ainda te mantinha refém da crueldade dele.
"Eu sinto prazer quando lembro que cravei a faca nele, quando vi o seu sangue jorrando como água e ele se estribuchando. Eu pude libertar toda a minha raiva. Eu, o veadinho de merda, como ele sempre me chamava, consegui acabar com a vida dele. Eu nos libertei, mãe!
Rose o abraçou forte, mantendo a cabeça dele em seu peito.
_ Meu amor, você precisa manter a calma. Você sempre foi tão sensato! Hoje perdeu o equilíbrio! E se você matasse aquele rapaz? Teria jogado tudo que você construiu no lixo: a sua carreira, a sua liberdade e a sua felicidade.
_ Que felicidade, mãe?_ Bruno dizia chorando._ Eu sempre fui fiel ao Jonas e ele vive me sacaneando. As pessoas só me humilham! Me fazem de idiota! O Daniel se fingia de meu amigo e me apunhalou pelas costas, o homem que eu amo me traiu e o meu primo, que eu tanto amava me humilhou de uma forma dolorosa, que só de lembrar o meu coração sangra! Eu não sou feliz! Acho que nunca vou ser.
_ Não diga isso! Você vai ser muito feliz! Toda essa perturbação vai acabar. Agora, você precisa por a cabeça no lugar e pensar bem antes de agir para não fazer besteiras.
"Primeiro, O Jonas me disse que não tem nada com o Daniel e ..."
_ Nem venha defender o Jonas, mãe! Hoje eu tô bem e não quero discutir com você.
_ Tudo bem! Eu não vou discuti. Eu vou preparar o seu jantar.
_ Eu tô sem fome.
_ Você precisa comer alguma coisa, meu amor. Vou te fazer um sanduíche de frango desfiado com catupiry e um suco de graviola. E nem adianta dizer que não quer. Você não vai dormir sem por nada no estômago.
....
Betinho arregalou os olhos, erguendo a bandeja ao ver Dani sentado em uma das mesas da pizzaria. O jovem sorria debochado.
_ O que você está fazendo aqui, sushi de cobra? O Jonas não te quer aqui!
_ Abusadinha você! Ponha-se no seu lugar de empregado e me sirva.
_ Fora daqui!
_ É melhor melhorar o tom comigo. Logo logo vou ser o seu patrão e vou te pôr no olho da rua.
_ Quer saber? Eu é que não vou perder o meu tempo discutindo contigo.
Betinho saiu apressado, indo até o escritório de Jonas. Informou ao patrão sobre a desagradável visita de Daniel.
Jonas chegou no salão revoltado. Segurou Daniel com força pelo braço, levantando-o da mesa.
_ Eu não quero que você ponha os pés aqui! Eu já proibi a sua entrada.
_ Você não vai se livrar de mim! Eu não sou uma embalagem, que depois de comer o conteúdo, você joga fora.
Betinho retirou o celular do bolso e começou a filmar.
Jonas estava tão nervoso, que nem de importou com os olhares curiosos dos clientes.
_ Me deixa em paz, moleque! Você já destruiu a minha vida! Acabou com o meu casamento! O que mais você quer?
_ Eu quero você! Eu te amo e sei que você também me ama!
_ Você é doente! É louco!
_ Eu sou louco por você, Jonas. E não vou descansar até te convencer a aceitar que me ama também e ficarmos juntos.
_ Saia daqui, Daniel, antes que eu perca a paciência e faça uma besteira!
_ Você não vai se livrar de mim, Jonas! Eu não vou sossegar até conseguir o eu quero.
_ Você conseguiu estragar o meu casamento, mentindo para o Bruno. Mesmo que ele nunca mais me queira, eu não vou ficar com você. Nunca! Prefiro morrer! Você me dar nojo!
_ você não sentiu nojo quando me comeu.
_ Foi a pior coisa que eu fiz. Perdi o homem que eu amo por causa de uma burrice.
_ Perdeu mesmo._ Daniel deu um sorriso._ Furioso do jeito que ele ficou, ele nunca mais vai acreditar em você.
_ Por que você mentiu!
_ Menti mesmo! E vou mentir sempre! Você ainda vai ser meu.
Jonas puxou Daniel, o arrastando para fora da pizzaria e o jogando na calçada.
_ Da próxima vez que você aparecer aqui, eu vou te arrebentar de porrada.
_ Hum! Umas porradinhas esquentam a relação, bebê. _ Daniel disse se levantando do chão.
Furioso, Jonas voltou para o escritório.
Betinho salvou o vídeo e guardou o celular de volta no bolso.
....
Betinho entrou no escritório de Jonas lendo uma xícara de café. Pela sua feição, dava para perceber que estava compadecido do Patrão.
_ Eu trouxe pra ti, Jonete.
_ Obrigado, mas nada me desce.
_ É...hoje não foi um dia fácil. _ Betinho disse sentando na cadeira em frente a de Jonas, tomando o café que levou para ele.
_ Eu não aguento mais, Betinho! A minha vida está desmoronando! Tudo por culpa da minha estupidez. Por que eu fiz a burrice de transar com aquele cara?! Por que, meu deus?
_ Porque a senhora é safada e não consegue guardar o pinto dentro das calças.
_ O preço que estou pagando por essa safadeza é alto, Betinho. Eu fui fraco! Deveria ter me imposto, não deixado o Bruno botar o Daniel na nossa casa, deveria ter contato para o Bruno que aquela cobra dava em cima de mim! Mas, não. Eu fui burro! Agora, além de ter aquele louco na minha cola, o meu casamento acabou.
_ Sobre o sushi de cobra, eu te avisei.
_ Eu não quis ouvir. Achei que fosse exagero seu. Agora me fodi.
_ E sobre a Brunosa, o casamento de vocês não acabou.
_ Acabou sim, Betinho. Bruno acreditou nele e nada do que eu fizer vai poder reverter a situação. Bruno até me jogou na cara as traições que cometia com o Matheus. Ele sempre vai me jogar na cara.
_ Eu te garanto que você e a Brunosa vão volta, ou eu não me chamo Luiz Alberto do Carmo Motta. Confie em mim. Você sabe que quando eu quero, sou babadeira.
....
Matheus estava sonolento quando entrou na cozinha e encontrou Renata e Rose tomando café da manhã. Ele não estranhou a presença da tia aquela hora da manhã, já estava acostumado com a presença constante da mulher em sua casa. Rose, assim como Renata, estava vestida com um pijama, e Matheus presumiu que ela dormira em sua casa.
_ Bom dia, meu pitico._ Renata beijou o filho no rosto, enquanto ele sentava para tomar café da manhã. Ela levantou para servi -lo.
_ Dormiu bem, filhote?
Ele fez um sinal positivo com a cabeça enquanto experimentava um gole de café quente.
_ Você está bem, Matheus? Tem ido ao psicólogo? Ele te passou algum medicamento?
_ Tia, eu estou fazendo terapia com a doutora Jaqueline e tem sido muito bom pra mim. Não é atoa que o Patrick fala tão bem dela. Mas, como psicóloga, ela não pode receitar nenhum remédio, só os psiquiatras.
_ É mesmo? Isso eu não sabia! E você foi ao psiquiatra? Vê se não fica adiando.
_ Fui sim e já fui medicado.
_ Toma os remedinhos direitinho?
_ Tomo sim, tia. Tomo sob a fiscalização da senhora minha e o senhor meu marido, que pegam mesmo no meu pé.
_ Pegamos mesmo. É sinal de que nos importamos com você.
_ Eu sei._ Matheus respondeu mandando beijos para Renata.
_ Matheus, você e o Patrick passaram por muita coisa ruim. Vocês precisam de um momento só de vocês. O feriado prolongado está vindo aí, pegue o seu marido e faça uma viagem.
_ Tia, você fala como se fosse tão fácil. Eu bem que adoraria, mas não tenho grana pra isso não. Tudo que ganho vai para as despesas médicas do Patrick e o que sobra eu junto para, futuramente, puder ter o meu cantinho para viver com o meu nenê.
Rose o olhou pensativa por alguns segundos. Até que exclamou:
_ Eu vou pagar uma viagem pra vocês!
Tanto Renata quanto Matheus a olharam espantados.
_ Vocês podem ir à Paraty, que fica aqui mesmo no Rio. Você vai de carro. Eu pago a pousada e te dou um extra.
_ Ah, fala sério, tia.
_ Estou falando sério!
_ Eu não posso aceitar.
_ Você vai aceitar e ponto final. Vocês precisam relaxar. Você vai ver que depois dessa viagem, vocês vão voltar renovados.
_ Aí, Meu filho, aceite. Vai fazer tão bem pra vocês.
_ Tia, eu não quero te causar prejuízo.
_ Deixe de bobeira, que não será prejuízo nenhum. Pode ficar tranquilo que o dinheiro não me fará falta. Se fizesse falta, eu nem oferecia. Eu só quero ver um sorriso nesse rostinho porque faz tempo que isso não acontece.
_ Puxa, obrigado, tia. Você tá sendo muito legal conosco. Eu nem sei como agradecer.
_ Sendo feliz, tanto você, quanto o Patrick, pois é isso que vocês merecem.
...
Patrick tinha os olhos presos ao livro que lia em seu colo, A mulher de trinta anos, livro de Honoré Balzac, indicado por dona Chiquinha. Matheus entrou no quarto em silêncio, abrindo a porta devagar.
Patrick o olhou por alguns segundos e retornou a leitura.
O fato de Matheus ficar ao seu lado, sentado na cama, o olhando de um jeito doce e acariciando o seu rosto o fez perder a concentração. Fechou o livro e olhou sorrindo para o marido, deitando a cabeça em sua mão.
_ Eu te amo!
_ Se amasse, não interromperia a minha leitura._ Patrick brincou dando um selinho em Matheus. _ Mas, eu só te perdoou, porque você é muito amor da minha vida.
_ A minha tia ofereceu uma viagem para nós dois. Para Paraty. Passar o fim de semana lá.
_ Você aceitou?
_ Eu aceitei. Passamos por tantas coisas ruins ultimamente, que seria bom curtirmos uma viagem. Mas, se você fizer objeção, eu digo para a minha tia que não vamos.
_ De jeito nenhum, amor! Você acha que eu sou louco de recusar um fim de semana em Paraty, com tudo pago e na companhia de um homem delicioso? Eu não sou louco!
Matheus sorriu com o canta da boca e o beijou.
_ Vai ser bom para a nossa vida dar uma relaxada.
_ Sabe que eu sou muito mais feliz depois que deixei de usar os pronomes "eu " e "meu" para usar os "nós " e "nosso"? "Nossa casa", "nosso desejo", "nossos senhos", "nossa decisão ". É tão bom dividir a vida contigo, meu príncipe. Eu me sinto tão completo ao seu lado!_ Patrick disse sorrindo. O brilho dos seus olhos e a leveza da sua expressão facial expressavam o amor que aquecia o seu coração.
_ Essa boquinha só diz coisas fofas, ou ela beija também?_ Matheus o puxou para si, num abraço e o beijou.