Capítulo 40
_ Deixa de ser ridículo! Como se atreve a pôr os pés aqui depois de tudo que aprontou? Quem te deixou entrar?
Daniel sentou na cadeira em frente a mesa de Bruno, apoiando o cotovelo no braço da cadeira e a mão no queixo, deixando Bruno ainda mais irritado.
_ Pode levantando daí e ponha-se daqui pra fora!
_ Bruno, eu não vou sair sem antes te falar umas verdades. Agradeça, por eu ser uma pessoa educada e não quebrar a sua cara, pois é o que você merece por correr atrás do homem dos outros.
_ Oi?
_ Eu soube que você foi jantar com o Jonas, que é o meu homem, sua vadia!
Bruno sentiu o ódio consumir cada célula do seu corpo. Uma energia ruim o dominava. Sentia-se extremamente ofendido por Daniel querer inverter os papéis, o tratando como se ele fosse o amante.
Agarrou a faca que cortava a carne, a ergueu diante do rosto e partiu para cima de Daniel.
_ Como ousa? O meu limite para você já se esgotou!_ gritava vermelho com os olhos arregalados e as veias do pescoço alterada.
Assustado, Daniel correu para o banheiro, se pondo diante da porta.
Bruno socava a porta e tentava fincar a faca na madeira.
_ Abra esta porra de porta! Você é muito abusado! Pilantra!
Do outro lado, Daniel mantia a porta fechada com dificuldades. Bruno começou a empurrar a porta com o pé, até que conseguiu arrombá-la.
Daniel correu para o box, mas não conseguiu fechar a porta de vidro.
Bruno conseguiu ficar diante do jovem, ergueu a faca em direção ao seu rosto e fez um corte na bochecha.
Daniel o empurrou com um chute na barriga, fazendo-o cair próximo à pia.
_ Nojento! Olha o que você fez com o meu rosto!_ Daniel gritava segurando a face e o sangue jorrava, sujando a sua mão.
Duda, Rose e alguns funcionários chegaram e seguraram os dois.
_ Meu deus! O que está acontecendo aqui?_ perguntou Rose desesperada.
_ Esse aí que não soube segurar marido e não se conforma que o Jonas agora é meu!
_ Cala a boca, demônio! Eu vou te matar!_ Bruno se debatia, tentando se livrar dos braços do funcionário.
_ Ele não é o seu marido, seu doente! Jonas é casado comigo!
_ Só no papel ainda, porque é na minha cama que ele passa todas as noites.
_ Isso é mais uma das suas mentiras! Vá se tratar, garoto!
_ Você acha que é mentira, né? É um corno manso mesmo! Pergunta para o porteiro do meu prédio. O Jonas não sai de lá. Quem você acha que tá pagando o meu aluguel? Graças a você, eu estou desempregado, logo eu não teria dinheiro para pagar.
_ Me solta ou eu te demito!_ o funcionário obedeceu de imediato._ Enfia o Jonas no seu cu! Eu já tô cheio dessa merda de história! Vocês se merecem, são dois lixos!
Internamente, Daniel sorria por perceber que Bruno acreditou na sua mentira.
_ Sai daqui, Daniel!_ disse Duda.
_ Eu vou mesmo. Só espero que você tenha um pouco de decência e pare de correr de homem comprometido.
_ Saaaaiiii!_ gritava, desejando matar Daniel.
Daniel saiu sorrindo e mandando um beijo para Bruno, provocando ainda mais raiva. O jornalista tentou avançar em Daniel, mas foi detido por Rose.
_ Calma, meu filho! Não vale a pena!
Rose estava trêmula por Bruno está alterado e ter usado uma faca para ferir Daniel. Foi impossível não se lembrar da morte de Gustavo.
_ Afinal, o que aconteceu aqui?
Bruno relatou a mãe e Duda o que havia ocorrido.
_ Eu não acredito que fui burro de ter caído na lábia do nojento do Jonas de novo! Que ódio! Aquela praga não tem jeito!
_ Calma, Bruno!
_ Calma nada, Duda! Eu já tô cheio disso! O Jonas me paga.
Bruno saiu correndo da sala. Rose e Duda foram atrás até o estacionamento, mas não deu tempo de alcançá-lo.
_ Ai, meu Deus! Esse menino vai fazer besteiras!
_ E agora, Rose? Duas coisas que eu ainda não entendi: como o Daniel entrou na sala do Bruno e como ele ficou sabendo que o Jonas e o Bruno se encontraram?
_ Uh é, Eduarda! Alguém deve ter dado com a língua nos dentes! E esse alguém trabalha aqui na redação. Tem um traira aqui. Mas, eu vou descobri quem é.
_ Eu também! Vou começar a investigar o quanto antes.
Jonas e Rafael estavam sentados na mesa da pizzaria. Não havia nenhum cliente e eles conversavam.
Bruno entrou no local como um jato.
Jonas sorriu ao vê-lo se aproximando.
_ Minha borboletinha!
_ "Borboletinha" é o caralho!_ disse pegando o vidro de maionese e despejando o líquido sobre Jonas.
_ Tá maluco, Bruno?!
_ Você tá pensando que eu sou algum palhaço, Jonas? Você tá querendo continuar com a sua putaria ficando comigo e com aquele nojento do Daniel? E ainda pagando o aluguel dele! Eu tenho nojo de você!
_ Do que você está falando?
_ Não se faça de ingênuo! Você fica ridículo nesse papel!
Rafael ficou parado sem ter reação. Betinho ficou de pé observando.
_ Eu não tô entendendo nada!
_ Me esquece, Jonas! Nunca mais me procure, tá bom? Acabou de vez! Agora os nossos encontros só no fórum para conversar sobre o divórcio. Fique com aquele nojento e me esquece!
_ Eu não tenho nada com o Daniel, porra! Aquele demônio fica me perseguindo, mas eu não tenho nada com ele! De onde você tirou isso?
_ Você não tem nada com ele como não tinha comigo, quando namorava o Matheus? Você não paga o aluguel dele, como não pagava o meu? Eu já vivi essa história, só que agora estou fazendo o papel do corno!
_ Você tá dizendo coisa por coisa! Vai ficar acreditando nas mentiras alheias?
_ Como ele mantém o aluguel se não trabalha?
_ Eu que vou saber? Vai ver que tá fazendo programa.
_ E o cliente é você.
_ Eu?! Que loucura!
_ Gente, vocês precisam se acalmar. Vamos conversar._ disse Rafael.
_ Eu estou calmo. O Bruno é que está descontrolado!
_ Descontrolado! Você vai ver o meu descontrole!
Bruno pegou uma das cadeiras e arremessou em Jonas, que desviou e o objeto caiu do outro lado, atingindo a parede.
_ Nunca mais me procure!
Bruno saiu furioso e Jonas quis atrás, mas Rafael o segurou.
_ Bruno!_ Jonas gritava, tentando se livrar dos braços de Rafael.
_ É melhor não, cara! Ele tá nervoso! Espere o Bruno se acalmar e depois vocês conversam.
Betinho se aproximou com a expressão assustada.
_ Genta, o que foi aquilo? Eu nunca imaginei ver o Bruno naquele estado. Ele é sempre tão equilibrado! Tava a parecendo a prima Matheusa, aquela sim é louca.
_ Vai ver que é genética!_ respondeu Jonas furioso.
...
_ Você é louca! Desiquilibrada! Totalmente louca!_ dizia Betinho inconformado.
Ele cruzava os braços diante de Patrick. Todos que caminhavam pelo shopping poderiam notar a sua insatisfação.
_ Eu não tenho nada a ver com a sua vida, amigo. Mas, acho que você precisa pensar bem antes de tomar uma decisão como essa, Patrick._ Isabel tinha um tom de voz mais ameno que Betinho, mas compartilhava com ele a mesma opinião.
Patrick sorria, mordendo o lábio inferior e os olhava como uma criança travessa.
_ Eu quero muito fazer isso!_ Patrick exclamava com entusiasmo. Os seus olhos brilhavam e o seu rosto se iluminava, deixando Betinho ainda mais irritado.
_ Você só pode ter batido com a cabeça, gay! Ah, francamente, veado! Depois de velha tá fazendo maluquices!
Patrick ignorou a desaprovação do amigo entrou no estúdio de tatuagem empurrando a própria cadeira de rodas.
Os amigos foram atrás. Isabel ficou deslumbrada com a tatuadora, o que a chamou a atenção foram os belos desenhos que a mulher tinha por todo o corpo e os tingidos cabelos vermelhos cor de sangue, ele Tinha um corte Chanel de bico, o que a fez imaginar o quão bonita ficaria Cinthia se aderisse aquele corte de cabelo.
Betinho permaneceu sentado, sem tirar os olhos da tela do celular. Pela sua expressão carrancuda fica visível a sua insatisfação com a decisão do amigo.
Patrick estava tão feliz, que não se importava com a pequena dorzinha que sentia no ante braço.
Sorriu com o resultado, sentindo a felicidade dominar todo o seu coração.
Admirava o nome do homem amado escrito em forma de uma caligrafia inglesa de cor preta próximo ao pulso. Ao lado do nome havia o desenho de uma pequena âncora verde e um coração vermelho na ponta.
O trio aproveitou a tarde para passear no shopping e lancharem na praça de alimentação. Era a primeira vez que Patrick saía em público sem Matheus e não se sentia amedrontado.
Nem passou pela sua cabeça o horror do atentado que sofreu há meses atrás. Estava feliz comprando presentes para as pessoas que estimava. Olhava para cada sacola sentindo orgulho de si mesmo por ter comprado com o dinheiro que recebeu pelo serviço que prestou à pizzaria de Jonas e Rafael.
As bobagens ditas por Betinho também ajudavam a aumentar a sua alegria. Quanto mais Betinho percebia o efeito de suas pérolas causava em Patrick, mais falava. Ele amava tanto o amigo de um jeito que não sabia explicar. O carinho que tinha por Patrick era imenso e estava disposto a qualquer coisa pela felicidade do amigo.
O ruivo fez questão de chegar em casa antes de Matheus. Tomou banho e vestiu um pijama de tecido leve, composto por uma camisa branca e uma short xadrez em tons diferentes de azul. Passou pelo corpo o hidratante de erva doce, o preferido de Matheus, e lavou os cabelos usando produtos com cheiros agradáveis.
Empolgado, mostrou a Renata a tatuagem. A mulher tinha uma na perna esquerda com nome do filho e ficou admirada com a decisão do genro.
_ Meu deus! Patrick, Você tem certeza que é isso que você quer? Eu sou mãe dele. Tenho certeza que nunca vou me arrepender, mas...se bem que agora não adianta nada.
_ Eu nunca vou me arrepender por isso. Matheus é um anjo na minha vida. Você não tem noção do quão importante ele é pra mim! Ele está tatuado no meu corpo muito antes de eu fazer essa tatuagem. Está tatuado no amor que tenho por ele, no seu toque, no seu abraço acolhedor, no carinho que me dar, na felicidade que me provoca. Isto aqui é só uma representação do que está tatuado na minha alma.
_ Aiiii! Que lindo! Vocês derretem o meu coração! Eu amo tanto vocês!
_ Nós também te amamos, querida!
Ela se abaixou, ficando de joelhos para abraçá-lo. Através da conexão dos seus corpos, ambos sentiram um emanar amor ao outro.
Matheus entrou no mesmo instante e sorriu diante da cena de afeto das duas pessoas que mais ama na vida.
_ Olha só! É por isso que um defende o outro! Dois puxa sacos._Brincou abraçando a mãe e a beijando no alto da sua testa. Em seguida, envolveu os braços sobre o corpo do marido e o beijou na boca num selinho que durou alguns segundos.
Patrick escondeu o braço tatuado deixando -o caído pelo lado da cadeira de rodas.
_ Eu estou tão cansado!
_ Matheus, Você precisa se cuidar, meu filho. Precisa se alimentar e dormir melhor. Você é muito jovem para estar exausto do jeito que está.
_ Eu vou tomar um banho e o remédio para dormir.
_ Mas você vai comer algo antes de dormir, não é, meu príncipe?
_ Claro, meu amor! Se eu não comer vou ter que aturar vocês dois falando no meu ouvido.
_ Vamos falar mesmo. E agradeça a deus por ter um marido e uma mãe que se preocupa com você.
_ Mãe, eu não vou agradecer a deus porque ele não existe. Agradeço a vocês por serem maravilhosos comigo._ Matheus disse beijando o rosto de Renata e se retirando da sala.
_ Confesso que esse novo ateísmo do Matheus me incomoda um pouco._ disse Patrick.
_ A mim também. Mas, cada um tem o direito de crer e de não crer no que quiser, cabe a nós a respeitarmos.
_ É verdade, sogrinha.
Quando Patrick entrou no quarto, Matheus estava sentado na cama cheirando a sabonete e vestia um short preto e uma camiseta. Ele digitava no celular, compenetrado nas mensagens, em inglês, que trocava com um aluno.
_ Amor!
Matheus o olhou sério, sentindo um aperto no peito. Temeu que a crise voltasse e respirou fundo, erguendo a cabeça para cima.
_ Você tá bem, príncipe?_Patrick perguntou preocupado.
Percebendo que não passou de um alarme falso, Matheus sorriu para não preocupar o marido e respondeu que estava tudo bem.
Patrick se aproximou, parando com a cadeira de rodas próximo a ele.
_ Eu tenho uma supresa pra você.
Sorrindo o ruivo esticou o pulso mostrando a tatuagem.
Para a sua surpresa, Matheus não reagiu com sorrisos e festas como ele esperava. Ficou sério, imóvel, olhando para o braço dele.
O sorriso de Patrick se desfez. Temeu receber algum sermão pela sua atitude e abaixou a cabeça, recolhendo o braço.
Sentiu o seu queixo ser erguido pela mão de Matheus, que penetrava o olhar enigmático no seu.
_ O meu fofurometro atingiu o nível máximo agora! Quase que explodiu._ após dizer a frase, Matheus sorriu fazendo Patrick sorrir também e se atirar em seus braços.
_ Você gostou?
_ Amei.
Beijaram-se.
_ O que significa essa âncora ao lado do meu nome?_ Matheus perguntou acariciando a tatuagem.
_ Você.
_ Eu?
_ O amor que sinto por você está fincado no fundo do meu coração, me dando força e estabilidade, assim como a âncora faz com o navio no mar... Você é a minha âncora, Matheus.
Matheus sentiu os olhos umidecerem e os limpou antes que a lágrima caisse. Abraçou-o com força.
_ Você pensa que não tem importância pra mim, mas não sabe o quanto me faz feliz. O seu apoio é o meu combustível.
Matheus não conseguiu conter as lágrimas e chorou nos braços do marido.
_ Você não é um marido ruim, que pensa que é. Tire isso da sua cabeça. _ Patrick disse enxugando as lágrimas de Matheus, e o beijou em seguida.
Renata estava cansada demais para cozinhar. Resolveu pedir uma pizza e ligou para a pizzaria de Jonas, já que sempre tinha desconto no estabelecimento.
Assim que o entregador chegou com a pizza, ela correu para o cozinha com a intenção de tirá-la da caixa antes que o filho visse e reclamasse. Mentalmente, ouvia a voz de Matheus dizer:
_ Eu não vou comer essa porcaria vinda da pizzaria do traíra._ era o que ele sempre dizia quando ela comprava lá, por isso, Renata retirava a pizza da caixa para que o filho não visse.
No entanto, não teve tempo de fazer isso, pois Matheus entrou na cozinha assim que ela pôs a pizza na mesa.
Sogra e genro trocaram olhares apreensivos, esperando o chilique do loiro.
Matheus olhou para a caixa por alguns segundos.
Caminhou até o armário, deixando todos aflitos.
Todavia, deixou a família surpreendida ao voltar à mesa trazendo os pratos e talheres, arrumando a mesa.
Renata e Patrick sorriam internamente e optaram por não fazer nenhum comentário.
Matheus foi até a pia e pegou três copos de vidro, que pôs ao lado dos pratos. Pegou o cortador de pizza e apontou para Patrick, perguntando se ele queria cortar. Temia parecer que estava tratando o marido como um inválido.
_ Pra mim tanto faz._ respondeu Patrick aliviado pela certeza que não haveria briga.
_Então, eu corto. Qual você quer? Suponho que prefira a de frango a portuguesa.
_ Touché!
Serviu Patrick e a si mesmo.
_ E você, mãezinha?
_ Vou começar pela de frango também, meu amor.
A refeição seguiu tranquila. A família conversou sobre vários assuntos do dia a dia e nenhum comentário sobre a origem da pizza foi feito.