Bruna recebe a visita da equipe de segurança e fica estarrecida com a descoberta de que ela nunca esteve sem proteção. Djalma fora o seu protetor desde que ainda era criança e estava ali novamente para resolver a confusão em que ela se meteu.
Enquanto os procedimentos eram executados pela equipe, Bruna pensava em como tinha deixado as coisas chegarem aonde chegaram. Mas, de alguma forma, já havia decidido que não iria ceder às chantagens de Ester. Custe o que custasse.
Ainda concentrada nos seus pensamentos, voltou no tempo para avaliar sua postura. Sempre fora a filha certinha, estudante certinha, namorada certinha e agora era a esposa certinha. Ou seja, deixava a todos felizes. Porém, ela pensou: ‘Mas e eu? Eu fui feliz?’. Sua vida tinha sido sempre controlada, acompanhada e protegida. Neste momento sentia falta do inserto, do imprevisto, da aventura.
Bruna achou que já era hora de tomar as rédeas da sua vida. Tinha feito sexo de uma forma maravilhosa por três vezes. Com Arnaldo, com o marido (quando da reconciliação) e com Ester. Contudo, nestas três vezes ela agiu de forma passiva. Será que só conseguiria se satisfazer desta forma?
Resolveu tomar a iniciativa. Iniciativa esta que fez com que seduzisse Djalma e tivesse, mais uma vez, uma sessão de sexo selvagem. Entretanto, dessa vez houve um fator novo, dessa vez ela foi ativa. E o que mais a intrigava é que, mesmo ela tendo sido ativa, provocando, indo pra cima, usando o corpo do amante para seu prazer, o parceiro em momento nenhum agiu com passividade.
Ou seja, ela acabara de descobrir que, em matéria de sexo, não precisa ser necessário que um seja o ativo e o outro passivo, pois ambos tinham agido ativamente e foi como uma luta, porém, uma luta onde só houve vencedores.
Fizeram a primeira reunião com Ester e os cumplices. Bruna ficou chocada com a participação do pai do Renato no esquema.
...
Diante do horário avançado, foi almoçar em companhia de Djalma que, durante todo o tempo, mantivera a postura de um profissional voltado apenas em manter sua cliente em segurança. Agora, no restaurante, aproveitara a privacidade que usufruíam e perguntou como ficaria a relação entre eles depois da noite que passaram juntos. Foi então que Bruna encontrou uma explicação para dar a ele e que, a partir de então, nortearia a sua vida.
–(Bruna) Não fica Djalma. Aliás, fica como sempre foi. Aquilo pra mim foi sexo apenas. – E ao ver que o homem a encarava entre admirado por sua postura e decepcionado em saber que não era especial, ela continuou: – Olha, não que não tenha sido bom. Acho que foi o melhor que tive na minha vida. Eu nunca tinha agido daquele jeito e gostei muito de tudo que aconteceu e da forma como aconteceu. Mas não tem sentimento nisso. É algo físico. Apenas físico. – Mesmo tendo concluído seu pensamento, Djalma ainda a encarava mudo, então se viu obrigada a explicar o que pensou que ele queria saber: – Não sei se vai acontecer de novo. Vai depender dos fatores. De eu querer e de estar no lugar certo e na hora certa. Lógico que você querer também é importante.
–(Djalma) Eu vou querer sempre. – Disse ele baixinho.
–(Bruna) Então. Vai ser assim. Se estivermos a fim de prazer, próximos, o que impede da gente repetir tudo de novo.
Djalma, nem naquela hora, nem depois, voltou a tocar no assunto, enquanto esperava ansiosamente ter outra oportunidade de ter aquela mulher maravilhosa na cama com ele.
Continua ...
Capítulo 08 – Tensão à Flor da Pele
A segunda reunião do dia foi breve. Quando todos estavam reunidos, Bruna pediu a palavra e, com poucas palavras, informou aos presentes que não cederia à chantagem e que eles poderiam fazer o que quisessem com as informações que tinham. Antes que o grupo de chantagistas tivesse a oportunidade de reclamar, Djalma pediu a palavra e informou:
–(Djalma) Antes que vocês tomem qualquer atitude em relação ao assunto, quero passar algumas informações. – Todos se calaram e grudaram os olhos na figura imponente do segurança que se levantara, olhava para todos e, percebendo que tinha a atenção deles, continuou: – Esse plano de vocês de chantagearem a Bruna é a coisa mais mal planejada que eu já vi na minha vida. Primeiro, vocês só se preocuparam com o fato dela não desejar que a família dela tivesse conhecimento de alguns de seus atos e também que vocês tiveram conhecimento do que ocorreu com o pai dela e a Clara. Bom, a Bruna já deixou claro a vocês que está disposta a enfrentar qualquer problema com a família dela.
“Segundo, quando se chantageia alguém, tem que ser em cima de algo criminoso que o chantageado tenha feio e isso não aconteceu. A Bruna é maior de idade, então o fato dela ter feito sexo com outra mulher não é da conta de ninguém, quanto mais da justiça e quanto o suposto caso do pai dela com Clara, temos uma declaração da Clara em nosso poder onde ela atesta que o sexo deles foi consensual e, como ela já tinha mais de quatorze anos na época, não vai ser considerado crime”.
Bruna olhou para Djalma com olhar interrogativo, pois em momento algum ele tinha dito que tinha esse documento em seu poder. O homem fez apenas um aceno com a cabeça dando a entender que não se tratava de um blefe e, como ela veio a saber mais tarde, essa foi uma das ações que ele tomara assim que ficou sabendo do conteúdo da chantagem de Ester. Depois de confirmar, ele voltou a olhar para sua pequena plateia e continuou:
–(Djalma) Bom gente, o que temos aqui é o seguinte. Casos vocês divulguem essas informações, e estou certo de que farão isso, vocês estarão cometendo um crime de extorsão. – Fez uma pausa demorada esperando que suas palavras fossem assimiladas pelos demais: – Então o que poderia acontecer é o seguinte, a Bruna teria que dar algumas explicações por aí e logo o assunto cairia no esquecimento, enquanto vocês estarão todos envolvidos em um processo judicial como indiciados e posso garantir que a morosidade do nosso sistema judiciário fará com que vocês fiquem tanto tempo enrolados com isso que, quando finalmente forem a julgamento, ninguém mais vai lembrar-se do que está acontecendo agora. Então é isso. Decidam o que querem fazer e depois aguentem as consequências.
O objetivo da fala de Djalma foi totalmente atingido. Ele ameaçara os envolvidos com um processo criminal, porém, aquela última frase deixava ver nas entrelinhas que alguma coisa mais poderia acontecer com eles caso dessem continuidade naquele projeto mal desenvolvido. Porém, como é comum nessa hora, logo a revolta deu lugar ao medo e, começando com Ester, várias ameaças foram proferidas, sempre acompanhadas de ofensa. Entretanto, quando perceberam que, tanto Bruna como Djalma, não demonstraram nenhum receio, começaram a sair. A primeira foi Ester que sentenciou:
–(Ester) Se você pensa que isso vai ficar assim, sua biscate, me aguarde. Você não sabe com quem está lidando.
Dito isso, levantou-se e andou em direção à porta, porém, antes de abri-la, olhou para Rogério falando:
–(Ester) E você? Vai ficar aí seu banana? – O marido de Ester levantou-se e saiu junto com ela do quarto, porém, antes da porta se fechar, foi possível ouvir a voz dela falando para Marcelo: Eu não te falei? Eu te disse que isso não ia dar em nada. Foi só para me fazer perder tempo.
Em seguida, um lívido Eduardo levantou-se lentamente, mas antes que se dirigisse à porta, foi informado por Bruna:
–(Bruna) Quanto ao senhor, seu Eduardo, vou tomar algumas providências com relação à empresa. – E diante do olhar dele que, com um movimento nos ombros deu a entender que para ele não fazia diferença, continuou: – Não vou mais querer me envolver com nada daquilo. Vou passar as ações para o Renato que vai decidir se fica na direção, se coloca alguém para administrar, se mantém os que já estão lá ou se vende o controle da Empresa e não tenhamos mais que falar sobre isso.
Eduardo apenas caminhou até a porta e saiu do quarto, sem olhar para trás.
Duas horas depois de encerrada a reunião Bruna já estava a meio caminho de volta para São Paulo, com um dos homens de Djalma ao volante de seu carro e uma verdadeira procissão de carros, todos da mesma cor e do mesmo modelo a seguindo. Ela não tivera nem o trabalho de pagar a conta do hotel, uma vez que um dos seguranças permanecera no hotel com esse objetivo, pois a pedido de Bruna, eles pagariam também as despesas de Ester.
O pensamento de Bruna, até aquele instante, trabalhara com as informações que obtivera de Djalma e, o que a revoltava mais era o fato de que estava sempre sendo seguida por um segurança e essa ordem partira do seu próprio pai. Também a declaração de Clara, providenciada tão depressa a intrigava. Resolveu pensar mais tarde no que fazer com relação aos seguranças enquanto decidia que procuraria por Clara. Queria conversar com ela, saber se ela se sentia ameaçada por alguma coisa ou não. Tomada a decisão, transferiu todos esses problemas para um compartilhamento de seu cérebro e trouxe outro, que de repente se transformara em urgência à tona. O que fazer em relação ao seu marido Renato?
Pensando nisso, não reclamou quando percebeu que o segurança seguia em direção à sua casa. Pensou: “Se é para resolver tudo isso, então é melhor resolver logo.”
Pensando assim, sentiu-se tentada a ler algumas das mensagens de Renato, porém, achou melhor não o fazer. Afinal, pensou, não quero que nada do que ele tenha escrito aqui possa servir como influência na hora da conversa, então é melhor começar do zero.
Entrou em casa normalmente deixando que sua bagagem fosse retirada do carro e entregue à sua camareira, apenas ordenando à mesma que não era para desfazer as malas ainda. Depois foi dispensar o segurança, dizendo a ele que era para ele ir se reunir com Djalma, mentindo que já havia combinado com ele de que ela seria deixada em paz e também não teria mais seguranças a seguindo por toda a parte. O homem deu mostras de receber aquilo como uma ordem e se retirou.
Depois de tomar um banho demorado e vestir roupas confortáveis, foi para a sala de visitas onde ocupou um sofá e aguardou, sendo vencida pelo sono em virtude da noite mal dormida e da tensão dos dois últimos dias, tendo sido despertada pelo celular que recebia uma chamada. Ainda sonolenta, olhou brevemente a número que chamava percebendo que se tratava de sua mãe. Atendeu tentando esconder a irritação. A voz de sua mãe soou clara e seca quando ela acionou a viva voz do aparelho:
–(Mãe de Bruna) Onde você está?
–(Bruna) Boa noite para você também. E estou com saudades. – Respondeu sem muito entusiasmo em uma brincadeira que sabia ser irritante para sua mãe.
Assim era a mãe de Bruna. Sempre aparentando estar calma e portando-se com elegância. Nunca levantava a voz, nunca demonstrava irritação. Bruna costumava pensar que sua mãe era sim uma verdadeira dama na sociedade e, pior, também devia ser uma dama na cama. Era impensável imaginá-la gemendo ou falando alguma palavra chula, mesmo durante uma transa.
No fundo, sentia pena dela, pois sabia que havia sido criada, educada e ensinada a ser assim. Uma mulher rica, com dinheiro para conhecer o mundo inteiro, sequer tinha vivido. E foi com a mesma calma, ignorando o comentário de Bruna, ela continuou indo diretamente ao assunto, outra característica sua:
–(Mãe de Bruna) Seu pai pediu para você vir para cá, agora.
–(Bruna) Pediu ou mandou? – respondeu Bruna no intuito único de irritar a mãe.
–(Mãe de Bruna) Tanto faz. Ele só disse que, se você colocasse objeção, era para te perguntar se o nome Ester significa alguma coisa pra você.
Bruna vacilou diante do choque. Agora percebeu o motivo de sua mãe nem se preocupar em saber onde ela estava, pois, se tinha algum assunto que envolvesse aquela mulher, eles já deviam estar informados de onde ela se encontrava. Respondeu um lacônico “está bem” e desligou sem sequer se despedir. Iniciou o processo para ligar para Renato, porém, lembrou-se que ele sequer sabia que ela estaria em casa, então era melhor sair antes que ele chegasse e postergar a conversa que pretendia ter com ele para mais tarde. Pegou sua bolsa, as chaves do carro e saiu.
Em quinze minutos estava entrando pelo portão da mansão de seus pais, cujo segurança, dando mostra de que já havia sido avisado, liberou sua entrada imediatamente. Deixou o carro em um espaço que ladeava um jardim, formando uma rotatória, pensando que dessa forma sairia sem maiores problemas quando a reunião terminasse e subiu as escadas que davam acesso a uma enorme varanda repleta de flores, entrando pela porta que abriu antes que ela tivesse a chance de bater. Cumprimentou o empregado todo empertigado que a recebeu com uma desnecessária reverência e foi em direção ao escritório do pai, mesmo antes do mordomo avisar que era lá que seus pais a aguardavam.
Não pode disfarçar a surpresa ao dar de cara com Renato que, sentado em uma poltrona de couro a olhava com uma expressão carrancuda. Já ficou imaginando que, se achava que aquela reunião seria tensa, agora tinha certeza de que tensão era pouco, aquilo ia ser dramático. Porém, procurou se controlar, pois sabia que nada podia fazer. Na verdade, Bruna não tinha um plano para aquilo.
Em volta de uma enorme mesa redonda, cercada por cadeiras de espaldar alto e revestidas de veludo, estavam cinco pessoas: Seu pai com sua mãe ao seu lado direito, Djalma do lado esquerdo e, depois de duas cadeiras vazias, ficando em frente ao seu pai estava Ester e ao seu lado um homem que, num primeiro momento ela não reconheceu por estar de costas, porém, quando ele virou o rosto para ela, lembrou-se de ser um homem que vira de passagem no hotel.
Era um senhor já de idade, bem apessoado, porém, havia algo de rude em sua expressão. Olhando melhor, lembrou-se de tê-lo visto no hotel em Águas de Lindóia. Começou então a tentar adivinhar o que ele estaria fazendo ali. Será que ele estava por trás dos planos chantagistas de Ester? Então se lembrou de que sempre que o vira no hotel, ele estava acompanhado de uma linda mulher, loira e aparentando ter menos idade que ele.
“Que diabo esse cara está fazendo aqui?” – Pensou Bruna entre curiosa e assustada.
Sentou-se então ao lado de Djalma sentindo algo estranho ao sentir o seu perfume. O mesmo que a inebriara durante quase toda a noite passada. Com um pequeno esforço, pois estava muito assustada com a presença de Renato e daquele estranho, controlou seus instintos e ficou preparada para o que viria a seguir. Porém, quando seu pai começou a explicar o motivo de estarem ali reunidos, interrompeu a ele, perguntando:
–(Bruna) Por que o Renato está aqui?
–(Pai de Bruna) Porque ele é seu marido e tudo o que estamos aqui para resolver diz respeito a você. – Explicou o pai com sua voz pomposa,
–(Bruna) Então por que ele não está sentado aqui? – Perguntou Bruna, dessa vez surpreendendo a todos com a calma que, com muito esforço, deixava transparecer, como também pela forma como ela deixava claro que achava aquele fato uma grosseria por parte dos pais.
O pai dela deu um pigarro e depois gaguejou tentando achar uma explicação lógica para aquilo, mas foi interrompida por Bruna que, satisfeita por entender que marcara um ponto importante naquele jogo que mal se iniciara e, animada com o efeito que causara, falou dirigindo-se ao marido:
–(Bruna) Renato, vem pra cá. Sente-se aqui ao meu lado.
O fato dela se dirigir ao marido usando o nome próprio e não a expressão “querido” ou “amor” como sempre fazia pode ter passado desapercebido por todos, mas não de Renato que a fitou longamente e depois anuiu, levantou-se em silêncio e indo se sentar ao lado de Bruna.
Com todos em volta da mesa, Bruna encarou com desafio Ester, como que ordenando que ela começasse a falar:
–(Ester) Bem, nós estamos aqui para tratar de um assunto ...
–(Bruna) E quem é esse senhor ao seu lado? Você não deveria apresentá-lo antes? – Interrompeu Bruna com o propósito de demonstrar que não se sentia ameaçada com tudo o que estava acontecendo ali naquela sala.
–(Ester) Esse é o senhor Donato, um advogado que contratei para me representar se por acaso não chegarmos a um acordo. – Respondeu Ester sem vacilar.
Djalma tossiu, chamando a atenção de todos para ele e, quando viu que todos o observavam, começou a falar:
–(Djalma) Na verdade trata-se de Donato Ribeiro, ou Divaldo Albuquerque, ou Procópio Damasceno, ou Raimundo Nonato de Albuquerque, mas seu nome real é Ignácio Loiola de Oliveira, que oficialmente morreu assassinado há cerca de vinte anos.
Todos olharam admirados para o homem que perdera a cor. Até mesmo Ester, com seu espanto, demonstrou que não conhecia direito o homem. Aproveitando o silencio denso que parecia cobrir a sala como um manto, continuou:
–(Djalma) Para cada nome que eu citei, e outros que não citei, existe um processo na justiça, ora por contrabando de metais e pedras preciosas na Amazônia e mais recentemente por contrabando de madeira, ou por envolvimento no escândalo de sonegação de impostos nas usinas de açúcar do nordeste ou de frigoríficos no Estado de Mato Grosso, isso sem falar em envolvimento com drogas, extorsões e, embora nunca provado, é suspeito no assassinato de vários figurões do crime organizado.
“Isso para citar apenas os casos mais conhecidos e que foram parar nas barras da justiça, há muitos casos cujas investigações não foram em frente, sempre por motivos estranhos, como uma decisão estranha de um ou outro juiz de direito mandando arquivar casos, ou de desaparecimento de testemunhas-chave que prejudicaram o andamento dos processos. Trata-se, para fazer uma comparação, de um dos mais importantes chefes do crime organizado desse País, pois esses envolvimentos que falei ocorreram em várias regiões, indo de norte a sul.
Ester estava pasma. Ela já conhecia a forma de agir de criminosos, pois convivera anos em companhia de Arnaldo que, perto do que Djalma falara e comparado àquele homem ao seu lado, cujo nome ela não sabia mais qual era, era um anjo de candura. Ninguém dizia nada, e Djalma aproveitou-se disso para continuar:
–(Djalma) No momento atual ele, o senhor Donato, – Djalma colocou todo o sarcasmo que conseguiu ao pronunciar o nome que o homem usava, – Está em um período sabático. Não está agindo, então, aproveita seu tempo para passear com sua atual e quinta esposa, procurando conhecer o máximo de locais turísticos do Brasil e do exterior, aproveitando esses passeios para exercer algumas atividades que, segundo Ester, deve ser condenável.
–(Pai de Bruna) Como assim? Que tipos de atividades são essas? – Perguntou o pai de Bruna, falando pela primeira vez.
–(Djalma) Ele se define como um marido liberal. Então ele aproveita esses locais para abordar outras pessoas para praticarem o sexo em companhia do casal. Bem, na verdade, a esposa é que pratica o sexo com outras pessoas, pois ele só se interessa em olhar. – Bruna prestava atenção em Djalma olhando-o com os cantos dos olhos, admirada com a calma como ele deixava tudo às claras, sem se importar que, pelo que explicara antes, aquele homem era alguém a quem todos deveriam temer e Djalma, sem olhar para ela, continuava: - Na verdade, foi assim que ele e Ester se aproximaram, pois passaram essa noite juntos, no chalé do casal.
Se o homem fulminava Djalma com um olhar carregado de ameaças, Ester estava lívida, sentindo-se ameaçada, pois sabia que a forma como aquele homem estava sendo exposto, ela seria responsabilizada de alguma forma, pois foi ela que aceitara a ajuda dele.
Na verdade, após o fracasso da reunião naquela mesma manhã, ela estava indo para o seu chalé, cega de raiva, quando foi abordada pelo casal. Eles logo perceberam seu estado de ânimo e agiram no sentido de acalmá-la. Diante de suas frustrações, Ester começou a falar e Donato logo percebeu que se tratava de uma chantagem, dizendo isso a ela e animando-a a se abrir com eles. Depois que ficou ciente com tudo, analisou a situação e aconselhou Ester que não desistisse, que fosse para São Paulo e exigisse algo dos pais de Bruna para se manter em silêncio.
Ela refutou que isso era perigoso, pois se não desse certo, não teria em quem se apoiar e Miriam interveio, pedindo para que Donato a ajudasse. Ele fingiu relutância em aceitar, porém, logo estava interrogando Ester sobre todos os detalhes e com seu cérebro acostumado com coisas ilegais a formular um plano. Plano esse que os levaram onde estavam.
Agora estavam ali. Ela não poderia recuar, pois fazer isso poderia desencadear uma reação em Donato que não seria nada boa para ela. Então, sabendo não ter outra saída, falou, tentando demonstrar que tudo o que lhe disseram de Donato não importava:
–(Ester) Não foi para julgar o caráter do Donato que eu vim aqui. – E sem dar chance de ser interrompida, continuou: – Como a Bruna sabe, eu estou em poder de informações importantes a respeito dessa família e vim aqui para encontrarmos uma forma de fazer um acordo que seja proveitoso para todos. Quer dizer, eu entrego a vocês tudo o que tenho e que vai comprometer a todos e vocês me recompensam por isso, ou ...
Interromper a frase nesse ponto tinha sido uma das instruções de Donato. Ele explicara a ela que era crucial deixar no ar o que poderia acontecer se eles não aceitassem se submeterem às suas exigências. Mas o pai de Bruna, que não sabia exatamente sobre o que essas informações se referiam, perguntou:
–(Pai de Bruna) E sobre o que seriam essas informações?
–(Ester) São várias. Como as atividades de sua filha há seis anos com alguém que pertencia a família do seu marido e da forma estranha como esse alguém foi morto a tiros logo depois, – Como esse era um assunto que era do conhecimento dos pais de Bruna, seu pai fez menção de que iria dizer alguma coisa, porém, Ester, estendendo a palma da mão direita para ele em um sinal que ordenava que ele aguardasse, continuou: – Tem também as atividades mais recentes de sua filha entregando-se sexualmente a uma mulher e depois a uma noite de sexo tórrido com seu segurança.
Nesse ponto Djalma se mexeu como se um enxame de abelhas tivesse invadido suas calças e ferroavam sua bunda, enquanto Bruna apenas abaixou a cabeça e, vermelha de vergonha, evitava olhar para o Renato. Tudo o que ela não queria era que ele viesse saber disso tudo daquela forma. Ela sentia a sensação de estar completamente perdida, porém, sabia que tinha que encontrar forças para superar o assunto Ester.
Com relação ao marido, ela iria pensar depois. Seu pai a olhava como se fosse pular sobre ela e sua mãe, bom, sua mãe a olhava com a postura de Rainha da Inglaterra, sem demonstrar nenhuma reação em seu rosto impassível. Para Renato ela evitou olhar. Então não sabia qual seria a expressão dele naquele momento. Foi salva da reação do pai pela própria Ester que continuou sua exposição criminosa:
–(Ester) Tem também uma história, essa passada há muito tempo, sobre uma certa filha de uma certa empregada que, não só sofreu assédio dentro desta casa, como também foi vítima de estupro por parte do senhor e, para piorar, tudo isso foi acobertado por sua esposa.
Bruna agora olhava para o pai e viu seu rosto se transformar. Só que, em vez de demonstrar ódio, raiva ou medo, se transformara em uma máscara fria e indiferente, como se tudo o que fora dito ali não lhe dissesse respeito e permaneceu assim enquanto Ester continuava a relatar o que conhecia daquela família.
Em seu íntimo, Bruna teve a impressão de que aquela parte da chantagem já era do conhecimento de seu pai e teve certeza quando houve uma troca de olhares entre ele e Djalma e percebeu um leve aceno do segurança com a cabeça, como se estivesse respondendo afirmativamente a alguma pergunta. Então seu pai começou a falar:
–(Pai de Bruna) Esse assunto precisa ser discutido em partes.
–(Donato) Como assim? Em partes não. Tudo isso tem que estar em um único pacote. – Interveio Donato falando pela primeira vez, desde que Ester começara a explanar suas ameaças.
Como se não tivesse ouvido o homem falar, ou agindo como se ele fosse invisível, seu pai continuou:
–(Pai de Bruna) Vamos começar pelo assunto da filha da empregada. Trata-se de uma jovem que se chama Clara e que, conforme foi esclarecido depois, praticou sexo comigo em algumas ocasiões, porém, todas as vezes de forma consensual. Então não vejo onde a palavra estupro se encaixa na sua chantagem. – Nessa hora, percebendo que Ester ia interrompê-la, foi direto ao ponto e, olhando para Djalma, ordenou: – Por favor, Djalma, vá buscar a Clara.
Aquilo foi um choque para todos os presentes. Quer dizer, todos não, pois a mãe de Bruna não moveu uma única célula do seu corpo, continuando com sua postura de que nada daquilo ali lhe dizia respeito. Só mudou um pouco quando Clara, acompanhada de Djalma que saíra da sala, retornou acompanhado de uma jovem mulher, da mesma idade que Bruna.
Bruna ficou deslumbrada com a aparência de Clara. Aquela garota bonita, com corpinho sensual desde que era novinha, transformara-se em uma linda mulher. Sua pele escura como o ébano emoldurado por cabelos ondulados que lhe caiam em mexas sobre os ombros, os olhos verdes vivazes e um sorriso em sua boca carnuda mostrando duas fileiras de dentes brancos e perfeitos.
Bruna a olhava admirada enquanto Ester pareceu que ia pular sobre ela e a desnudar ali mesmo, deixando aqueles seios fartos e sua bunda firme e grande que se destacavam abaixo da cintura estreita expostos a todos. Se antes ela era sensual, o que dizer agora. “Como ficou linda!”. Pensou Bruna.
O pai de Bruna foi o único que parecia imune à beleza da jovem Clara. Apenas se levantou e a cumprimentou com um beijo em cada face, sendo chamado de tio por ela, o mesmo ocorrendo com sua mãe. Depois parou ao lado de Bruna num convite para que ela se levantasse, o que foi feito e ambas se abraçaram, com Clara dizendo:
–(Clara) Nossa garota. Como foi que você se transformou nessa mulher linda?
–(Bruna) Olha quem está falando, – Respondeu Bruna no único momento de descontração que tiveram naquela sala.
Feitos os cumprimentos, com Renato sendo apresentado, Clara foi convidada a sentar-se na cadeira que antes fora ocupada por Djalma que se afastou e foi sentar-se na mesma poltrona que antes ocupara Renato, de onde encarava Donato como se estivesse tirando suas medidas.
A parte da chantagem que envolvia Clara foi explicada a ela que chegou a sorrir em determinados pontos da narrativa, depois, olhando para Ester, explicou:
–(Clara) Dona Ester. Eu não a conheço e nem sei de onde a senhora saiu. Mas essa história de estupro não tem o menor sentido. Fui eu que comecei tudo aquilo, provocando esse homem que, logicamente, imaginou que se tratava de uma oportunista que desejava obter vantagens com toda a sedução que eu despejava em cima dele. Foi muito difícil, muito duro mesmo, convence-lo que eu desejava mesmo era só sexo. Na verdade, a única coisa que me impedia de me atirar sobre ele era o fato de eu adorar a esposa dele, então, com todos esses ingredientes, uma hora tinha que acontecer. E foi muito bom.
“Depois ele mesmo contou tudo para a esposa e senti que eu não poderia mais ficar nessa casa. Então foi decidido que minha mãe seria demitida, mas que seria providenciado que ela não sofresse pelos meus erros. Então fomos morar em uma casa comprada por eles e minha mãe continuou a receber mensalmente a mesma quantia que recebia, o que nos deixava melhor que antes, pois agora ela não precisava mais pagar aluguel. Além disso, ela não ficou parada e começou a se dedicar a costuras e como era talentosa, a sua clientela foi aumentando e com isso o padrão de vida melhorando, o que fez com que ela procurasse outro imóvel para poder devolver aquele que morávamos de graça”.
“Ele descobriu isso e foi até nós, dizendo que jamais aceitaria isso. Mas esse encontro teve outras consequências. Aos nos vermos, o tesão que eu sentia por ele voltou à tona e parece que ele sentia o mesmo. Resultado, fomos parar em um motel e nos tornamos amantes, o que durou algum tempo. Eu nunca pedi nada, nunca quis nada, porém, era impossível evitar que ele agisse ao seu modo. Assim, tive as anuidades da faculdade todas pagas antes que eu soubesse e, ainda na faculdade, fui convidada a fazer estágio em uma clínica de fisioterapia, sem saber que era dele e que, depois que me formei, foi a mim doada e é onde trabalho até hoje”.
“Se ainda nos encontramos? Não. Nosso relacionamento terminou sem dramas quando conheci um rapaz por quem me apaixonei. Ele se afastou sem nunca me cobrar nada, como se o que importasse realmente para ele fosse a minha felicidade. Ainda tentei me desfazer da clínica e entregar o dinheiro apurado na venda para ele, no que fui desestimulada. Segundo a esposa dele, seria a maior decepção da vida para ele se eu me recusasse a ser recompensada pela felicidade e prazer que dediquei a ele. Então aceitei”.
Clara então olhou ao redor, encarando cada um dos presentes, deixando Bruna por último. Quando finalmente a encarou nos olhos, moveu os lábios pronunciando, sem som, as palavras “me perdoe”, recebendo de volta apenas um sorriso de Bruna, de cujos olhos escorriam lágrimas e, sem poder se controlar, deixou que suas lágrimas também molhassem seu rosto, dando demonstração da emoção que sentia em ter tido a felicidade de ter se entregado a um senhor que não só lhe dera muito prazer, mas também a amparara, dando um rumo diferente ao que poderia ter tido e, depois se afastado com ternura simplesmente para não impedir a sua felicidade. Depois, secou as lágrimas e falou dirigindo-se diretamente à Ester:
–(Clara) Então é isso senhora. Não sei onde esse assunto pode ser motivo de uma chantagem. Se qualquer coisa disso for ventilada, eu vou para a imprensa contar toda a história. Aliás, vou fazer melhor, vou fazer com que ele saia como herói dessa história e eu como a garota dos contos de fadas que foi feliz para sempre, enquanto a senhora vai fazer o papel de vilã, chantagista e ainda poderá responder por isso diante da justiça.
–(Ester) Então é isso, – comentou Ester tristemente – e quanto à sua filha? Ela já disse que também não vai aceitar a chantagem e não se importa se eu deixar o que tenho em mãos vazar para o público, o que é muito fácil nos dias de hoje, com as redes sociais do jeito que estão. Então me aguardem.
–(Donato) Espera um pouco Ester. – Interrompeu Donato, – não é assim que se fazem essas coisas. Eles têm que saber que coisas ruins podem acontecer a todos eles se não te pagarem o que você está pedindo.
Neste instante, Ester se deu conta que havia entrado numa fria. Ela era sim desonesta e oportunista. Adorava o poder e a vida que o dinheiro dá. Mas sua capacidade criminosa parava por aí. Ela jamais teria permitido que sua filha Aline participasse dos planos de Arnaldo se soubesse que envolvia sequestro. Disseram a ela que era só uma forma de fazer com que Bruna e Arnaldo ficassem a sós em algum local e ele as fizeram acreditar que a própria Bruna adoraria isso.
Já tinha que carregar consigo a dor e a culpa pelo desfecho que culminou com a morte da filha e não ia entrar em uma situação que poderia deixar alguém em perigo de morte, pois, pelo tom de voz, era a isso que Donato se referia, principalmente depois dela saber das coisas em que ele estava envolvido. Então disse:
–(Ester) Tudo bem Donato. A gente tentou, não deu certo, então, vida que segue.
–(Donato) Negativo, – bradou Donato numa atitude ameaçadora que fez com que Djalma se levantasse e se aproximasse dele que, não se importando com isso, continuou, – Vamos logo ao que interessa. Você diz quanto você quer e eles vão providenciar o pagamento. E agora. – Encerrou ele olhando a sua volta com olhar ameaçador.
O que se seguiu foi algo que ficou no ar para todos os presentes, menos para Bruna e para Clara. O pai dela e Djalma trocaram um olhar e dessa vez foi seu pai quem fez um leve movimento de consentimento com a cabeça. Djalma então disse que estava tudo bem, que poderiam tratar do pagamento naquela hora mesmo. Em seguida, o pai de Bruna informou que não tinha muito dinheiro em casa, porém, havia títulos de bancos estrangeiros ao portador no cofre de casa, explicando que isso era melhor, pois sendo no exterior, a transação jamais chamaria a atenção do fisco brasileiro.
Donato mordeu a isca e aceitou ir até ou outro escritório em companhia dos dois homens, enquanto Ester se decidia sobre o valor que gostaria de receber.
Quinze minutos depois, retornaram sem Donato. Segundo Djalma, ele tivera que sair apressado, pois sua esposa ligara dizendo que estava tendo um problema de assédio no hotel, o que Ester soube logo que era mentira, pois a última coisa que Donato se importaria era com Miriam ser assediada. Assustada, ela deixou-se ficar na cadeira enquanto os pais de Bruna discutiam algo em voz baixa e Bruna se aproximava, também pela primeira vez, de Renato, perguntando como ele estava se sentindo com o que acabara de ouvir:
–(Renato) Estou me sentindo um puta de um corno, casado com uma biscate, filha da uma puta que acha que, só porque tem dinheiro, pode foder com a vida de todo mundo.
Bruna já sabia, há bastante tempo, que havia entrado em um caminho sem volta e nada poderia fazer quanto a isto. Pelo menos naquela hora. Então sequer respondeu, agradecendo por Renato ter falado baixo. Apenas Clara ouvira e a olhava serenamente, como se dizendo que estava ali para lhe dar apoio se ela precisasse. Então ficou mais aliviada quando Renato, ainda mantendo o mesmo tom de voz, lhe disse:
–(Renato) A gente conversa em casa. Vamos definir isso de forma definitiva. Só vejo uma solução para não continuar a ser corno. Vou sair de sua vida de uma vez por todas.
E Bruna sabia que ele estava certo. Nessa hora, Clara se aproximou dela dando-lhe um abraço suave e falando com sua voz calma:
–(Clara) Não se aflija querida. Não há nada nessa vida que não tenha cura. Se você não puder fazer nada agora, deixe que o tempo é o melhor remédio para esse tipo de mal.
Continua ...