Eu já o conhecia antes mesmo de saber que ele existia. O desejei a vida inteira. Estava no interior do meu ser, como se eu estivesse programada para isso. Essa é a realização e a estranha plenitude da minha vida.
Ele é o Abismo, a destruição, o deus Urano, que fode Gaia initerruptamente, que consome e queima; um poder selvagem e incontido que clama por carne, exige almas, fode o que quer e como quer.
Ele não é bom, não mal – está além disso. Não é dual, maniqueísta, apenas existe. É uma potência, um desejo, um jorro de energia.
O conheci num bate-papo e desde o começo ele deixou claro: “Eu vou foder a sua vida”.
Desde mais jovem, eu desejava esse poder me consumindo. À noite permitia que pernilongos viessem se alimentar de mim. Uma vez, fui para a ilha de Itaparica – Bahia. À noite abri a janela e tirei qualquer roupa ou lençol e me ofereci em banquete às muriçocas. Enquanto se alimentavam de mim, me tocava em silencio e imóvel. O zunido deles, o toque em minha pele, a intrusão em minha carne, e a sugada de sague. Me excitava por aquilo sem saber o motivo.
Gozei em homenagem a tudo que é mais sombrio e baixo, uma vez, duas vezes... adormeci exausta, mas ainda fui possuída pelos inclementes seres. Voltava do reino de Morfeu, algumas vezes para me tocar novamente, outras só para aceitar o que me acontecia.
Acordei “comida”, com marcas do meu sacrifício pelo corpo todo. Uma vez, fui para a ilha de Itaparica – Bahia. À noite abri a janela e me oferece em banquete as muriçocas. Acordei “comida”, com marcas do meu sacrifício.
Outra coisa que me atraia como terrível naturalidade. Meu pai me ensinou a jogar xadrez, e desde pequena eu pratico; na pandemia abri uma conta no Chess.com, e comecei a amar perder. Quando era atacada meu coração disparava, e eu melava. Não me entregava, continuava lutando, enfrentando, mas sofrendo o ataque; era delicioso quando percebia que a derrota seria inevitável, iminente, que não tinha mais chances e era questão de tempo. Cada barulhinho do “cheque” me induzia um micro-orgasmo, seguindo de um silencioso gozo quando do mate, no meu quarto, escondida dos meus pais – perdendo para homens do mundo inteiro.
Não demorou para me excitar e atrair por filmes de terror. Que tipo de pessoa se masturba com isso? Imagens de aliens se alimentando, tentáculos, a gosma em meu corpo; ou mesmo demônios, degradando, oprimindo exigindo. Em pouco tempo estava no snuff.
Mas tudo isso ainda era pouco, muito pouco. Desejava o Destruidor, o Inclemente, aquele que me levaria ao estado inevitável de catatonia, completa aniquilação do ego e pura servidão em entrega total de poder.
Me entreguei a vida e aos homens em busca dele. Ser uma putinha boqueteira e fácil era a tentativa frustrada de encontra-lo. Em alguma medida conseguia a degradação que procurava, mas não plena – nenhum homem me comeu como sequer pernilongos faziam. O pior. Eu sou linda e delicada, e homem se apaixona fácil por “ninfas” como eu, e quem se apaixona, no máximo dá um tapinha na cara.
Ele veio até mim eu tinha 19 anos, 1 60, magrelinha, cabelos naturalmente castanhos tingidos de ruivo, pele branquinha, estilo gótica suave, estudante de psicologia, inteligente e intensa.
Desde o primeiro momento estava claro o papel de cada um. Ele foderia não só meu corpo – que qualquer babaca consegue – mas minha alma, minha mente, meu coração e minha vida. Eu estava terrivelmente perdida para todo o sempre. Urano encontrava Gaia para uma foda cósmica, ritual e ininterrupta.
Foi amor à primeira vista. Eu contemplava o abismo e me tornava um outro abismo ainda mais profundo do que já era. Um enorme buraco de desejo, submissão e destruição.
Nossas conversas se desenrolaram por algum tempo; sempre de madrugada, sempre me ameaçando e atraindo para um delicioso fim.