A casa grande ainda estava da forma como Heitor lembrava, uma casa grande de pelo menos três andares, da cor de tijolos, a casa em sua formação mais parecia um grande U, com a entrada e suas divisas indo pra quartos, biblioteca, escritorio e uma sala que o pai de Heitor nunca deixou ele ir.
A casa grande era cheia de plantas dentro decorativas, e logo que se entrava duas escadas enormes onduladas davam para as alas de quartos da mansão, Alejandro sempre gostou de tudo em mogno e isso Heitor achava o auge da cafonice, mas era seu pai que mandava e ele apenas tinha que obedecer.
Seus olhos bateram em tratores e um barulho infernal de construção, no minimo seu pai estava inventando moda, logo que o carro estacionou na garagem ele viu a grande coleção de carros importados que seu pai tinha. E o quanto isso ainda irritava tudo aquilo.
Ele entrou na garagem direto para a ala que dava para a grande piscina olímpica e para o vasto campo com cabecas e mais cabeças de gado e tudo que se podia imaginar, logo ao longe ele via maquinas construindo uma cúpula que logo logo descobrira o que seria.
“Olha que apareceu depois de tantos anos.”
Aquela voz de fumante, fez os pelos do garoto se arrepiarem, um frio na barriga o percorreu o corpo todo. Ele se virou e lá estava seu progenitor de uma forma que nunca pensou em ver.
De samba calção azul escuro, de sandálias havaianas e com uma xícara grande de cafe, ele sorriu e abriu os braços.
“A quanto tempo meu filho.”
Heitor encarou ele, todas as emoções que estava sentido desde do avião se aumentaram de ver a cara de cínico de seu pai ali na sua frente, sorrindo e abrindo os braços como se nada tivesse acontecido, como se todos os traumas que sentiu ate hoje fosse por causa de seu relacionamento conturbado com seu pai, desde das brigas e ate mesmo com a gota d'água com a internação no hospício.
Ele fechou a mão e respirou fundo, tudo estava girando em sua mente, uma tempestade se criou e agora estava virando uma catástrofe dentro de si, ele queria gritar, bater e esmurrar seu pai.
“O que foi meu filho? Esta impactado que seu pai continua sendo bonitão depois de tanto tempo? Isso você puxou de mim.”
Heitor estava contando ate dez para não explodir, ele não daria aquele gosto pra seu pai, ele tinha vencido o jogo dele, tinha saido da reabilitação, tinha melhorado e nunca mais voltaria àquele Heitor que ele deixou no hospício, nunca mais.
“Eu estava pensando que nunca tinha encontrando alguem mais narcisista do que você. - Respondeu tentando ser firme em suas palavras.”
“Narcisismo não é algo ruim, é uma qualidade em nossa familia. - Ele respondeu de forma simplista e tomou mais um gole. - Rogerio, preciso que supervisione a obra, obrigado por ter trago meu bebê de volta.”
Ele afirmou com a cabeça nos deixando sozinho na sacada da mansão. Heitor riu, de uma forma tão irônica e debochada que podia.
“Alejandro esta com um filho novo, pelo que percebi.”
“Ele foi um grande aliado, enquanto você estava passando as ferias num Risort. - Deu de ombros Alejandro ao beber mais um pouco de seu café.”
“Então é assim que você acha que um hospício funciona? Nossa, você é um desgraçado mesmo.”
“Eu também te amo meu filho - Respondeu Alejandro dando de ombros pra raiva que seu filho estava emanando.”
Alejandro não ligava para a raiva que seu filho tinha dele, estava apenas protegendo a familia, protegendo seu herdeiro, protegendo tudo que ele prezava.
“Vamos tomar café? Deve estar faminto da viagem.”
Heitor não achava que seu pai tinha mudado e nunca acharia aquilo, ele apenas queria estar ali para saber do porque tinha sido solicitado a sua ida e sumir mais uma vez o mais longe possivel, sera que o Havai estava bom essa época do ano? Ele esperava que sim, já não queria ter chegado na fazenda, agora queria sumir o quanto antes.
A mesa estava posta e tinha tudo que Heitor gostava, desde de pão de queijos, com sanduiches e a famosa salada de frutas da dona Benta, a cozinheira que estava na familia fazendo a anos.
Alejandro colocou a xícara de cafe na mesa e logo se sentou, mostrando para seu filho a mesa que tinha preparado pra ele.
“Venha, vamos tomar café juntos, como a família que sempre quis que fossemos.”
Aquilo foi mais uma alfinetada em Heitor, que seus olhos arderam, seu rosto queimou e um estalo se ouviu em seu ouvido. Ele não podia ser tão cínico dessa forma, mas era ele era o grande Alejandro, o dono da cara de pau mais lavada do mundo, e como, como ele não podia ver que seu proprio filho estava tão quebrado por dentro, do estrago que ele fez, a raiva rugia ainda mais alta no peito do garoto.
“A familia que eu sempre quis? A família que você destruiu, minha mãe esta morta por sua causa, você me deixou preso desde do fim do meu ensino médio ate agora num hospício, por eu ser gay e querer sumir dessa família desgraçada, e agora você me vem com essa. Me poupe de suas palavras, seu degraçado filho da puta. Eu quero que você morra de uma forma tão lenta, que eu quero ver. - Heitor pegou a faca de manteiga e jogou mirando bem em seu pai, que desviou sorrindo.”
Os empregados da cozinhas correram para acudir, mas apenas viram que era uma discussão de pai e filho.
“Acabou com seu show? Já falou tudo o que queria? - Alejandro ergueu uma sobrancelha e encarou seu filho com a respiração alterada. - Estou aqui porque preciso da familia perto, estou me candidatando ao cargo de presidente de Mato Grosso e preciso da familia perto, logo também preciso que meu querido filho faça algo por mim.”
Heitor encarou os olhos de seu pai de uma forma cruel, ele não estava querendo ouvir mais nenhuma palavra, ele precisava controlar aqueles sentimentos, ele não queria que o outro aparecesse naquele momento.
Alejandro não esperou que seu filho fala-se e logo ordenou.
“Você vai fazer com que um filho de um empresário assine este papel que vai estar na suas mãos hoje num almoço com ele. Esse rapaz é o porta voz de um grande aliado que preciso fazer pra ter apoio. E depois disso te dou a liberdade que quer, me ajude a conseguir esse cargo e pode ir pro inferno se quiser, não vai mais ter seu querido pai para se preocupar, e fora que é meu herdeiro e ira tomar tudo o que tenho por direito, mas se sentir mais à vontade, posso fazer um documento assinar e lhe entregar. O que acha?”
Os olhos de Heitor se estreitaram, seu coração bateu mais forte, não ver mais seu pai, era tudo que ele mais desejava, enfim poder viver a vida que tanto queria da forma como queria.
“Isso esta muito facil, Lobo, o que realmente esta aprontando?”
Alejandro apenas sorriu e mordeu um pedaço enorme de bolo.
“Sou seu pai, estou cuidando de nossa familia da forma como eu acho certo. E não estou aqui para dizer que estou armando ou não. - Ele tomou um gole de seu café friou. - E mesmo que se eu tiver aprontando, você ainda vai ganhar com tudo isso. Então, seja um bom menino dessa vez e ajude seu pai.”
“Quero esses papeis de testamento ate amanha em minhas mãos, e ajudo você da forma como quiser. Quero me livrar de você o quanto antes. - Sentou Heitor e pegou a sala de fruta, saboreando o doce em sua boca de uma forma majestosa. A anos ele não comia uma comida boa.”
“Seu pedido é uma ordem filhão. Agora suba e se troque em seu quarto, vão te levar para o almoço que lhe falei.”
Alejandro se levantou da mesa e disparou para seu escritório., deixando seu querido filho sozinho novamente.
Os empregado andavam de um lado ao outro preocupado em deixar tudo organizado para não receber nenhuma reclamação, Heitor andava de volta aquela grande casa e a dor que ele sentia por ter perdido sua mãe no final do seu ensino medio bateu novamente, a apatia que ele encontrava depois de ver o caixão descendo, a depressão que o consumia, e seu pai que logo em seguida já estava saindo com outras mulheres.
Ele abriu seu quarto e sentiu o perfume amadeirado que sua mãe sempre usava, ele viu que ainda estava da forma como ele tinha deixado, tudo desarrumado, ninguém nem ao menos tinha ao menos aberto as cortinas.
O quarto era grande num tom azul claro, tapete felpudo estava cobrindo todo o chão, moveis de madeira enfeitavam o quarto do garoto, uma grande cama de madeira estava posta com dois colchões enormes, o ar condicionado grande estava parado, seu antigo computador estava ainda na escrivaninha e sua coleção de cd’s e Dvd’s estavam com poeira, seus videos games estavam ainda nas estantes ao lado da sua grande Tv a frente de seu sofa vermelho dobravel. Ele abriu o frigobar e tudo que estava ali tinha virado mofo, ele abriu a porta de seu closet e a luz ligou sozinha pela primeira vez a anos, suas roupas estavam ainda ali, ate mesmo o casaco jogado no chão e as roupas pretas que tinha usado no velório de sua mãe estavam ali.
Tudo estava tão igual que ele sentiu novamente a melancolia chegando mais perto e o abraçando como se fosse uma velha amiga, Heitor deitou no chão frio do closet, agarrou suas roupas pretas do chão e chorou.
Sua mãe saberia o que fazer, sua mãe o defenderia, ela jamais permitiria o que tinha acontecido, o rumo que sua vida lhe deu. Heitor sentia falta dela todos os dias e todo dia 13 de agosto ele chorava mais ainda, por ser o dia de sua morte, ele não comemorava mais seu aniversário que era dia 19 de agosto por causa da sua mãe, e odiava o natal por sua mãe ter nascido perto do dia. Eram os meses que ele mais odiava no ano e torcia para passar rapido, mas lá estava ele a poucos dias do aniversário da morte de sua mae e de seu aniversário, voltando pro inferno que ele prometeu nunca mais voltar.
Ele derramou todas as lágrimas que tinha guardado a anos.
Assim que ele derramou a ultima lágrima, de parar de soluçar e sentir toda aquelas emoções misturadas dentro de si, ele se levantou, pediu pra um empregado trazer um latão de lixo grande, álcool e fósforos. Ele abriu as janelas e puxando cata cortina, cada lençol e cada roupa que tinha e jogou dentro do galão de lixo ateando fogo no mesmo.
Pegou o computador e jogou janela fora, pegou a Tv e tudo que podia jogando fora do quarto no terceiro andar e caindo no jardim. Ele ficou por alguns minutos vendo tudo que lembrava aquele garoto assustado e com medo pegar fogo.
Ele tomou seu banho, pegou os papeis em cima da escrivaninha, a governanta da casa apareceu correndo ao ver a fumaça preta que saia de seu quarto, seus olhos por de trás dos óculos se arregalaram e seu rosto em formato de coração ficou mais vermelho que pimentão.
“Senhor o que esta fazendo? Pode causar um incêndio dentro da casa.”
A governanta era um senhora de seus quarenta e poucos anos, de cabelos cacheados pretos, de baixa estatura, seus olhos negros e severos, ela tinha labios finos e sempre fazia o batom ficar um pouco a mais para cima, para fingir que tinha mais labios. Sempre andando impecável, por ser detalhista ate demais. Ela se virou e mandou 3 empregados trazer extintores de incêndio espalhados pela mansão.
“Você vai colocar ainda essa casa abaixo em cima de todos nós. - Disse firmemente ao olhar o filho do patrão. - Porque fez isso?”
“Porque o velho garoto Heitor morreu, sou uma nova pessoa. - Ele se virou pra olhar bem para sua madrinha e logo respirou bem fundo. - Desculpas por isso, mas não vou ficar aqui nessa casa, o celerio já esta pronto não esta?”
“Sim, ficou pronto quando o senhor saiu para seu Resort. - Ela escolheu bem as palavras para poder enfim dar continuidade na conversa. - Rogerinho esta usando ele.”
“Então faça com que ele saia do celeiro hoje ainda. Vou no shopping compra tudo novo pra mim, se quiserem levar pra vocês tudo o que tem aqui não me importo. - Heitor fez desdém com seus ombros e logo voltou seu olhar para governanta. - Traga ele para casa, já que ele é o filho preferido de meu pai.”
Heitor saiu para onde o carro estava pronto pra acabar logo com tudo isso.