O carro estava disparado e Heitor com os papéis para o filho do cara assinar e o que ele mais queria era terminar tudo isso.
Rogerinho não o levará por dizer que estava ocupado, então apenas o motorista levava o filho do patrão pro almoço.
Heitor estava com um pressentimento muito ruim do que viria pela frente e ele orava a todos os santos que se apegou pra que isso apenas seja uma coisa passageira.
Marry The Night tocava em seus fones de ouvidos como um lembrete que ele não poderia ser fraco, não depois de tudo o que ele tinha visto e vivido, seus pontos de Ansiedade estava ao pico com a chegada na casa grande e seu humor mudava rapidamente como um lembrete que ele teria que enfrentar seu dragão.
Ele riu de seu próprio pensamento, que por muito tempo alguém iria buscar ele pra salvar o garoto daquele inferno, mas preso no sanatório ele viu que ninguém ia salvar ele, de que ninguém estaria ali ligando para seu bem estar, e que ele teria que se salvar. E foi o que ele fez, pra ser ver livre daquele inferno, ele teve que se forçar a ficar melhor ou a fingir que estava.
O tempo estava querendo fechar, mas mesmo assim a paisagem era bonita, floresta e mais floresta de um lado ao outro, numa vastidão de cor verde e marrom, o vento batia nas folhas que dançavam em sua própria música e mundo.
"Estamos quase chegando, senhor."
O motorista ia mais rápido, pra não pegar o pé d'água que o céu estava preparando pra eles.
Heitor não respondeu e estava ficando nervoso, suas mãos suavam frio e seu coração batia mais forte, ele olhou novamente pra cidade que se formava a sua frente e via que era uma das cidades mais bonitas que ele tinha visto.
Cuiabá era uma cidade que ele gostava, por seu povo gentil e sua forma hospitaleira, a cidade que estava um pouco à frente de muitas e o ódio de todas pessoas que compravam pela internet.
Ele tinha acabado de desligar a música no meio da transição de Judas pra Marry The Night, e suspirou nervoso ao ver que o local onde iam comer era um dos restaurantes mais chiques da cidade.
Mahalo era um restaurante que Heitor nunca encontrou e achou estranho o mesmo não estar em movimento e também não ter quase ninguém no recinto.
O restaurante era rústico, com flores que enfeitavam todo o local, as mesas eram de madeira e suas cadeiras de costa alta era do mesmo material, o restaurante tinha uma cara de casa antiga o que tinha agradado Heitor.
"Boa tarde, posso lhe ajudar?"
Um garoto jovem estava ali na frente com roupas de um garçom, ele ajeitava seus cabelos ondulados e sorria falsamente pra Heitor, como se quisesse sair daquele emprego mas não pudesse, Heitor entenderia esse sentimento.
"Eu vim encontrar um senhor chamado. - Ele parou e olhou o envelope e tentou falar o nome. - Daren Maroki."
O garoto encarou a mesa que estava apenas com um jovem sentando e novamente sorriu.
"Me acompanhe, por favor."
Heitor andou a passos curtos e sentindo ainda mais seu coração batendo forte e seu corpo começar a tremer, ele começou a cantar Choose Your Battler da Katy Perry, como uma forma de controlar suas emoções, assim que se sentou ele suspirou tão alto que até o grande Apolo o encarou.
Daren Maroki era um preto de cor tão escura que fazia seus cabelos serem lilás perto dele, seus olhos eram verdes claros como se fossem esmeraldas, seus lábios eram roxos como azeitonas, seu nariz arrebitado, sentado ele sabia era grande, usando apenas uma camisa branca e simples, Heitor pode ver que ele era gordinho mas um gordinho forte. Daren tinha a cabeça raspada e isso dava uma impressão mais madura a ele, seus ombros largos faziam a camisa ficar marcada e aquela barba rala.
"Senhor Maroki, seu companheiro chegou. - disse o garçom e logo entregou o cardápio."
Ele desligou o celular e sorriu, mostrando todos os dentes perfeitos e brancos. Se Beyoncé tivesse um filho, ele seria daquela forma, esculpida por Deuses.
"Muito obrigado, eu queria que você trouxesse vinho pra gente, por gentileza. - a voz dele era melodiosa, grossa e sexy que deixava qualquer um apaixonado. - Espero que tenha sido boa a viagem até aqui."
Heitor teve que se bater em seu pé pelo menos cinco vezes, pra não aparecer um idiota.
"Claro, claro. Foi muito boa. Fora esse pé d'água que está caindo lá fora, daqui a pouco estou vendo Noé passando com a arca de Noé aqui."
Daren riu da piada de Heitor, deixando um certo garoto tímido.
"Espero que ele passe e consigamos subir na arca, não queria ficar no dilúvio ou teria que chorar pra mamãe Yemanjá nós salvar."
" Axé amado, espero mesmo que pelo menos ela nos salve, seria um desperdício você morrer."
"Ela ia salvar nos dois, Oxum não deixaria que um rapaz tão lindo desse morrer sem uma história de amor verdadeiro."
O frio na espinha subiu pelo corpo de Heitor, logo após isso ele tomou um gole de seu vinho, deixando ainda mais seu lado sexy falar mais alto.
Heitor já estava tão duro que se ele saísse da mesa naquele momento, ele passaria vergonha, porque era nítido o quão ereto ele estava.
"Hum, além de bonito o moço sabe dos deuses africanos. - comentou Heitor tomando um gole de seu vinho e tentando não parecer ridículo."
"Sou filho de Oxossi e minha mãe e Oxum. - Ele mostrou o fio de miçangas azul clara que estava por dentro de sua blusa, era fino e discreto, o que ficava ainda mais bonito. A sorte que Heitor sabia de quem ele estava falando, já que gostava de toda religião que chegou da África pro Brasil.
"Fiquei sabendo que todos os filhos de Oxossi não são confiáveis pra namoro. Tenho pena de sua esposa."
Ele precisava ser tão gato assim, puta que pariu? Pensou Heitor, ele não o reconhecia de onde estava vindo tanta ousadia.
"Não somos tão atirados assim. - ele se ofendeu. - Somos apenas caçadores, nem todos são para gente. E quando amamos, somos os mais fiéis."
"Hum, espero que sim. Vou perguntar pra sua esposa quando a vela."
"Não tenho esposo, corrigindo, por enquanto. Estou esperando oficializar o casamento, faltando só assinar alguns papéis, e pela minha sorte eu oficializo hoje."
Heitor sorriu. A pessoa que o teria seria tão feliz, Heitor se imaginou sentado naquele monumento que Oxalá criou, céus, porque ele era tão azarado?.
Eles pediram os pratos, Heitor queria comer bem e não se interessava mais em estar ali na frente de Daren, em comida ele não brincava.
"Me conte um hobby seu, você parece ser bastante interessante! - Daren comia seu pedaço de carne com tanta vontade que deixou Heitor tentando a pedir a mesma coisa."
"Bem, eu gosto de vídeo game, sou muito bom em jogos de lutas e missões. - Heitor não via a hora de compra seu Ps5 pra poder começar a descontar sua raiva nos jogos. - Tenho muita raiva e por isso gosto de jogos que me ajudem a bater."
"Problemas de raiva? Soube que seu pai é um cara bem difícil…"
"Você quis dizer filho da puta né? Porque difícil não chegar a ser adjetivo para ele."
"Não queria falar assim de Alejandro, mas ele é um cara visionário e sempre me passou a impressão que passaria na frente de todos pra ter o que sempre almeja. - Os olhos de Daren miraram nós de Heitor, deixando ele sem graça.".
"Eu poderia ser um bom filho e dizer que ele é apenas perfeccionista, mas ele não é isso, um controlador filho da puta, isso que ele é. - Heitor parou de comer e bebeu um pouco de seu vinho para descer os outros palavrões que ele poderia falar. - Espero que o que seu pai acertou com o Alejandro valha alguma coisa."
Daren desviou o olhar e ficando sem graça ele escondeu as mãos de cima da mesa.
"Não sei pra eles, mas pra mim vai ser ótimo. - Ele diz aquilo o deixando ainda mais fofo."
Heitor sorriu para o homenzarrão a sua frente e mostra sua mão para ele, sem medo algum dele rejeitar ou coisas do tipo. Daren pegou e apertou a mão do rapaz.
"Espero que seja algo bom mesmo. - Ele aperta a mão de Daren que retribui. - E você o que gosta de fazer?"
"Gosto de compor músicas. - Ele diz e seus olhos brilham, como um sonhador. - Mas meu pai não apoia muito essa ideia, então tive que ser formado em Direito para assumir muitas broncas da família."
Heitor pegou a taça e fez menção ao brindarem.
"Aos nossos pais."
"Aos nossos pais."
Eles conversaram mais ainda, o papo fluía como um riacho para desaguar no mar. Eles tiram e cada um contou algo engraçado que já passou de vida para o outro.
Fotos estavam sendo tiradas pelos funcionários do restaurante, já que Daren era um cara muito popular dentro do Instagram e quase ninguém o via com ninguém e a forma como os dois conversavam e riam, as trocas de olhares que cada um dava ao outro seria motivo pra isso.
O almoço dos dois demorou pelo menos duas horas, risos, conversas e o simples beijo que Daren deu nas mãos de Heitor, fez o coração dos dois garotos saltarem pela boca.
"Bem bonitão, espero que tenha gostado tanto quanto eu de almoçar com você. Mas preciso que assine esse contrato e podemos ir. - Ele chamou o garçom e pediu a conta."
"Eu gostei demais do nosso primeiro almoço. - Ele pegou os papéis e assinou sem ao menos olhar para o que estava assinando. Entregou o envelope para Heitor que sorriu. Pagou as contas e na hora de ir Daren pegou Heitor e o puxou mais para perto.
Os olhos se fecharam e Heitor beijou intensamente os lábios de Daren, o beijo foi intenso o bastante para que nenhum dos dois saíssem do local, a não ser seus lábios e línguas que pediram passagem para boca de um a do outro.
O mundo parou e tudo poderia acabar alí mesmo, com aquele beijo, foi o que Heitor pensou.