O outro capítulo 7 Virada de jogo

Um conto erótico de Arthur Miguel
Categoria: Gay
Contém 5973 palavras
Data: 02/11/2021 11:36:39

Capítulo 7

A tela do celular marcava 14h, do dia 5 de maio, de 2019. Lorena sabia que a reunião chegaria ao fim em poucos minutos.

Júlio radiava felicidade por obter mais uma conquista profissional. Era uma oportunidade perfeita para a secretária fazer a sua proposta. Ela sabia que ele não recusaria e, com isso, ganharia uma gorda comissão.

Quando Lorena entrou no escritório do chefe, ele estava estourando uma garrafa de champanhe. Rubens e seu Genaro sorriam também.

_ Esse é o homem! Eu sabia que você conseguiria, meu genro.

_ Parabéns, Júlio!_ Lorena disse o abraçando._ Que tal comemorar em grande estilo?

Lorena ergueu a tela do celular diante dos olhos de Júlio, mostrando a foto de um belo jovem.

_ Puta que pariu! Quem esse deus grego?_ Júlio perguntou com os olhos brilhantes. Prevendo que teria momentos prazerosos com o jovem.

_ Dimitri, o cara que vai te levar ao mais profundo dos prazeres.

_ Deixe-me ver._ disse Rúbens, antes de Lorena o mostrar a foto._ Nossa! Também quero uma hora com ele.

_ Isso vai ficar pra outro dia, Rubens. Hoje eu quero exclusividade nos serviços dele...e sem hora para terminar.

_ Tudo bem, chefinho. Mas vai sair caro.

_ Por um homem desses eu pago o que for necessário, Lorena.

_ Bom, eu vou indo, porque não quero ser cúmplice do seu adultério._ disse Genaro, bebendo o último gole do champanhe.

_ Mas o senhor será meu cúmplice, seu Genaro. Como sempre foi. Pode tratando de inventar algum motivo para convidar o Leandro para ir para a sua casa e o prender lá até amanhã de manhã.

_ Júlio, eu não quero me meter em confusão.

_ Se for esperto, como sempre foi, não haverá confusão. Depois o senhor sabe que será muito bem pago.

Genaro sorriu. Ele sabia que devia demais ao genro para negar qualquer coisa.

"Ele aceitou. Ficou louco com a sua foto. Aproveita que o cara é rico e tire uma boa grana dele." Abner recebeu essa mensagem sorrindo. Ele adorava quando os clientes eram ricos, porque além de poder cobrar mais caro, desfrutaria de quartos luxuosos dos motéis renomados.

"Hum! Nada mal! O cara até que é bonito." Essa foi a resposta que Abner deu a Lorena, quando recebeu a foto de Júlio.

"Não se esqueça da minha comissão."

"Ok, cafetina. Kkkk"

A moto foi estacionada no motel indicado por Lorena. Abner vestia um calça preta, blusa de mesma cor e um paletó azul marinho. Os cabelos estavam muito bem alinhados e exalava um perfume agradável. Havia feito a barba, deixando a pele do rosto mais macia, de acordo com o gosto de Júlio, conforme Lorena havia informado.

Caminhava com elegância em cima dos seus sapatos sociais muito bem engraxados.

Na recepção do motel, foi informado o número do quarto que deveria seguir.

Quando Abner entrou no quarto, foi recebido por Júlio, que o aguardava deitado na cama, vestindo um roupão branco. Sobre o lençol branco havia pétalas de rosas vermelhas. Na mesa ao lado, uma garrafa de champanhe com duas taças em volta e uma vela aromática.

O quarto era luxuoso, com as paredes em volta da cama revestidas por espelhos, uma banheira de hidromassagem que era separada do quarto por uma parede de vidro.

Para chegar na varanda, onde ficava a piscina, precisaria passar pelas portas francesas com cortinas brancas esvoaçantes.

Júlio era agradável aos olhos de Abner: bem apessoado, cheiroso e tinha um sorriso safado. Vendo-o quase nu, sentiu o membro se enrijecer. Sentiu-se felizardo, pois aquela não seria apenas uma noite rotineira de trabalho. Além de ser muito bem remunerado, o garoto de programa se sentia tão atraído pelo cliente, que teve certeza que também teria prazer.

_ Que prazer te conhecer, Dimitri._ Júlio disse sorrindo, olhando-o faminto pelo seu corpo.

Abner se aproximou da cama, deitando ao lado de Júlio.

_ Eu garanto que você terá muito prazer em me conhecer. Tanto que ficará viciado no meu corpo._ Abner disse deslizando a mão sobre a perna de Júlio até chegar em seu pênis e o beijou.

_ Vou encarar isso como um desafio. Espero que cumpra o que está prometendo.

_ Amo um desafio...sempre venço._ novamente um beijo, no entanto, desta vez era mais quente e intenso, fazendo Júlio sentir arrepios pelo corpo.

Júlio o puxou pela nuca, penetrando ainda mais a sua língua no rapaz. Com a outra mão, deslizavam sobre as nádegas, apertando-as.

_ Quer me dar ou me comer?

Júlio o encarava desejoso, mordendo os lábios.

_ Eu quero te devorar.

Mais uma vez Abner teve a sua boca invadida por Júlio. Era um dos melhores beijos que havia recebido na vida. Contudo, ficou decepcionado pelo seu delicioso cliente ser ativo. Desde que viu Júlio deitado na cama, desejou entrar nele, possuí-lo com força.

Conformou-se com o seu papel. Afinal "o cliente sempre tem razão", tudo estava bem demais Júlio era atraente, o hotel luxuoso e ele seria muito bem remunerado, seria sonho demais comer Júlio...nem tudo é perfeito.

Ao desatar o nó do roupão de Júlio, Abner percebeu que o cliente era bem dotado e isso poderia ser um pouco dolorido.

Beijou-o acariciando o seu pênis latejante, massageava os testículos e o masturbava. Percebendo a animação de Júlio, deslizou a mão sobre as costas até chegar nas nádegas, com a esperança que Júlio cedesse.

_ Aí é lugar inabitável. Sou cem por cento ativo.

_ Você é quem manda, minha delícia._ Abner respondeu, dando uma leve moedinha no lábio inferior de Júlio. Em seguida, atacou o seu pescoço com beijos e chupões.

_ Fica peladinho pra mim. Quero ver esse seu corpinho lindo.

Júlio sentou num sofá em frente a cama. Levou consigo uma garrafa de champanhe e uma taça. Pelo controle remoto, apagou a luz do local e ligou as luzes em neon. Para tocar pois a música Feeling good.

Observava sorrindo Abner retirar cada peça de roupa, movendo o corpo numa dança sensual. Admirava cada parte daquele corpo delgado e moreno, as pernas firmes, a barriga lisa e reta com leve caminho de pelo que ia do umbigo ao pênis. Esse era de um tamanho desejável, tão grande quanto o seu. Tinha uma cabeça rosada e macia, com veias percorrendo o falo. As nádegas era lisas, destacavam-se por serem mais claras que o resto do corpo, com uma marca de sunga nos quadris e no começo das pernas. Não eram brancas e fartas como as Leandro, eram pequenas e um pouco empinadas.

_ Rebole a bundinha, abrindo as polpas. Quero ver esse cuzinho._ Júlio pediu deslizando a mão no próprio pau, totalmente excitado.

Abner odiava se comportar daquele jeito na cama. E deu uma cartada para escapar daquela situação. Olhou para Júlio com malícia, deslizando a língua sobre os lábios.

_ Eu tenho algo muito melhor a fazer.

Foi até Júlio. Ajoelhou-se, apoiando uma das mãos em seu joelho. Com a outra, segurou o membro de Júlio, olhando-o provocante.

Beijou a cabeça, deslizou a língua pelo tronco antes de pôr a boca e chupar de vez.

Júlio gemia alto, sentindo as pernas bambas e o corpo estremecer de prazer. Aquela boca quente e úmida o levava ao paraíso profano.

Abner recebia carinho na cabeça enquanto chupava com maestria. Parava para beijar as virilhas e chupar as bolas, retornando ao pênis.

Júlio anunciou o gozo. Geralmente, Abner não permitia que os clientes gozassem na sua boca, mas estava tão excitado que permitiu sem pudor que aquele homem o banhasse com o seu leite.

_ Se engolir, eu pago um pouco mais.

Abner obedeceu engolindo.

Júlio o puxou pela nuca e o beijou. Acariciava a bunda do garoto de programa, enquanto esse sentava em seu colo. Penetrava o dedo, sentindo a pulsação do ânus de Abner, o que fez o seu pênis se endurecer novamente.

_ Espere um pouco._ disse Abner antes de se afastar para pegar o lubrificante e o preservativo na maleta de couro.

Encaixou-se entre as pernas de Júlio, depois de vestir o pau do cliente e se lubricar. Começou rebolando em ritmo lento, mas foi aumentando conforme o tempo passava. Trepavam com beijos quentes e mãos explorando os seus corpos, impregnado o ar com luxúria libertina.

O barulho das estocadas se misturava com os dos tapas que Abner recebia na bunda. Cada estalada ardia mais, deixando-os loucos.

Júlio levantou, segurando Abner em seu colo. Jogou-o na cama. Pos-o de quatro com brutalidade, apoiando uma das pernas na cama, segurava as ancas com as duas mãos e metia com toda força, sedendo por aquele rabo quente.

Profissional, Abner rebolava deixando Júlio inebriado pelo seu corpo. Tapas, gemidos, metidas, beijos voluptuosos levaram Abner a uma experiência nova, gozou sem tocar no próprio pau.

_ Caralhooooo! Que homem! Que macho gostoso! Me fode mais, porra!

As palavras obscenas de Abner fizeram Júlio ir á loucura, gozando aos gritos, puxando para trás, os belos cabelos negros do amante.

Seus corpos caíram exaustos na cama, respiravam ofegantes, molhados de suor.

_ Você cumpriu mesmo com o que prometeu! Puta que pariu!_ Júlio disse ofegante, com a mão apoiada sobre o peito.

_ Eu sou um homem de palavras.

Abner acendeu um cigarro e esticou a carteira oferecendo a Júlio, que recusou. Percebeu que o advogado tinha uma aliança do dedo esquerdo e uma tatuagem próximo ao pulso, escrito Leandro e Vanessa.

_ Filhos?_ perguntou Abner, apontando com o olhar para a tatuagem.

_ Marido e filha.

_ Hum! Os pais de família são sempre mais gostosos. Vocês têm um tempero especial: o proibido._ Abner disse, beijando Júlio.

Fizeram sexo durante toda a noite. Cansados, adormeceram no quarto do motel.

Júlio foi despertado com os beijos do michê.

_ Bom dia, gostoso!_ o advogado disse sorrindo, correspondendo aos beijos.

Ao abrir os olhos, percebeu que Abner estava terminando de se vestir.

_ Já vai, minha delícia? Fica mais um pouquinho para dar uma fodinha matinal.

_ Não vai rolar, gato. Tenho que ir para a faculdade.

_ Huumm! Além de lindo é inteligente! Gostei. Cursa o quê?

_ Gastronomia.

_ Olha, além de bom de cama é bom de mesa.

Abner respondeu mandando um beijo.

_ São 400 reais a hora, ficamos oito. O total é de três mil e duzentos.

Júlio pegou a carteira, e o entregou uma quantia de quatro mil reais. Abner contou sorrindo.

_ Tem a mais aqui.

_ Eu sei. É um presentinho.

Abner atirou-se em seus braços, beijando-o. Estava totalmente encantado por aquele homem.

_ Te quero aqui amanhã, no mesmo horário.

_ Infelizmente, não vai rolar. Tenho cliente agendado.

_ Eu cubro esse cliente pagando o dobro. Eu gostei de você. Seu corpinho me viciou.

Júlio levantou, puxou-o pela cintura e o beijou

...

Os encontros entre o casal se tornaram recorrentes. Seus corpos ansiavam um pelo outro, viciados pelo prazer dos momentos calorosos que desfrutavam.

Abner estava cada vez mais envolvido. A chama da paixão ardia em seu coração. Júlio não era um simples cliente. Era o homem que o fazia suspirar e ocupava a sua mente na maior parte dos seus dias.

Estava desnorteado. Quase nunca se concentrava nas atividades do dia a dia e o seu rendimento na faculdade caiu em grande escala. Reduziu os encontros com outros clientes para ficar disponível caso Júlio o chamasse, o que resultou numa queda da renda financeira, se vendo com dificuldades para pagar a sua parte na mensalidade da faculdade.

Para piorar ainda mais a sua situação, a fábrica em que Martins e Lurdes trabalhavam decretou falência e ambos ficaram desempregados. Naquele tempo, era Lorena quem sustentava a casa praticamente sozinha.

Numa tarde nublada, o casal se devoravam nus dentro da piscina de um hotel. A aquela altura da relação, eles adquiriram intimidade o suficiente para Abner ter revelado ao cliente o seu verdadeiro nome.

_ Leandro vai viajar com a nossa filha para Orlando. A menina vai entrar em férias e os convenci a ir á Disney._ Júlio disse, abraçando Abner e beijando os seus ombros._ Eu disse que não poderei ir, porque estou atolado de trabalho. Isso significa que teremos algumas semanas livres. Quero te levar para a minha casa em Angra e passar todos esses dias te comendo gostoso.

O sorriso ousado de Júlio o fazia vibrar de tesão. Aquela boca era, para ele, um ímã que o atraía para o prazer. Beijou-o aproveitando ao máximo daquele língua, que o levava á loucura.

_ Seu marido é mesmo uma anta, hein. Como é que ele acredita tão fácil nas suas mentiras?_ Abner perguntou sorrindo presunçoso por ser cúmplice de enganar o seu rival, o homem que ele começava a odiar.

Afastou-se de Júlio, nadando.

Júlio foi atrás, o puxou e beijou.

_ Vai ser uma delícia passar todos esses dias contigo.

_ Seria mesmo._ Abner o beijou._ Mas, infelizmente não vai rolar.

_ Por que não?_ Júlio perguntou irritado. Ele odiava não ter um desejo atendido.

_ Eu tenho que trabalhar. A situação lá casa tá feia. Os meus pais estão desempregados, as mensalidades da faculdade estão atrasadas. Tá tudo nas costas da Lorena e eu não acho isso justo.

_ E você acha que dar o rabo em troca de dinheiro é trabalho?

Abner se irritou. Que direito aquele advogadozinho rico tinha para o julgar?! A prepotência de Júlio não o agradava.

_ É um trabalho sim. E muito honesto.

_ Honesto?!_ Júlio caiu na gargalhada.

_ Qual é a graça? Dormiu com o bozo para acordar gozado? É honesto sim! Não estou fazendo mal a ninguém e sim alugando o que é meu. A vida não é só a sua cobertura luxuosa, suas viagens para a Disney e esses champanhes e caviar que você consome. Nem todo mundo é rico como você. Tem gente que precisa batalhar para viver.

_ E você fala isso pra mim?! Garoto, eu já passei fome! Tive que suportar muitas coisas para chegar aonde cheguei. Você não faz ideia das coisas que passei. Eu sei até mais do que você o quanto a vida é difícil.

_ Então, não deveria ser um babaca de me julgar.

Abner saiu da piscina irritado. Foi andando para dentro do quarto com a intenção de se vestir para ir embora.

_ Volta aqui! Ei!

Júlio foi atrás de Abner. Puxou-o, impedindo que se vestisse.

_ Me solte, caralho!

_ Ei! Amansa! Foi mal. É que estou louco demais por ti para te dividir com outros. Eu tô com ciúmes, tá bom?

Abner sorriu ao ouvir as palavras de Júlio. Estava feliz acreditando que era correspondido na sua paixão.

_ Eu te quero só pra mim, Abner. Te quero a minha disposição! Eu te amo demais para te dividir com alguém.

Tomado pela paixão, Abner pôs as duas mãos nas faces do amante e o beijou.

_ Eu adoraria ser só seu. Eu te amo, Júlio! Isso nunca aconteceu antes. Eu tô completamente apaixonado por você.

_ Eu vou comprar o seu passe.

Abner gargalhou.

_ É sério. Eu vou fazer o seguinte: me passe o boleto da sua faculdade, que eu vou pagar. Além disso, posso empregar os seus pais. Eu tenho um sítio e estou precisando de caseiros. E tenho uma amiga que tem um restaurante super renomado, um dos melhores da alta gastronomia do Rio de Janeiro. Ela me deve alguns favores e eu posso conseguir um emprego para você.

_ Jura que você faria tudo isso por mim?! Ah, eu te amo tanto, Júlio!

Abner se atirou em seus braços.

_ Faria isso e muito mais. Você é especial, Abner. O que sinto por você vai além da cama.

_ Até parece! Se me amasse tanto colocaria aquela songa monga pra fora da sua cobertura e uma aliança no meu dedo.

_Um passo de cada vez, meu amor. Você sabe como a minha relação é complicada e o Leandro é temperamental.

_ Um estorvo.

_ Mas não vamos falar nele._ Júlio o abraçou._ Você vem pra Angra comigo. Serão dias maravilhosos.

_ Tá doido pra me comer na cama do seu maridinho né? Safado!

Abner deu um tapinha de leve no rosto de Júlio, que sorriu mordendo os lábios.

....

_ Eu não acredito! Esse Júlio é um anjo!_ Exclamou Lurdes, pondo as duas mãos na boca e os olhos arregalados, quando ouviu de Lorena que Júlio queria empregar ela e Martins como caseiros do seu sítio.

_ Ele é mesmo muito generoso._ respondeu Lorena sorrindo.

Essa notícia trouxe alegria para a casa. O casal já estava desesperado por medo que Abner perdesse a sua vaga na faculdade por falta de pagamento, já que o casal não podia contribuir com a metade.

Abner noticiou no dia seguinte que passou numa entrevista de emprego. E ganharia o suficiente para pagar a faculdade sozinho.

Apesar de estar feliz, Lurdes ficou desconfiada por tantas coisas boas acontecerem ao mesmo tempo.

_ Você deveria parar de paranóia e agradecer a deus e a nossa senhora por tudo de bom que está acontecendo._ Martins a aconselhou. Como era um homem religioso, temia que deus entendesse as desconfianças da mulher como uma reclamação e retirasse as bençãos que a família estava recebendo.

No entanto, na casa de Júlio não havia o mesmo clima de felicidade que na casa de seu amante. Júlio estava tão fascinado por Abner, que não tinha mais controle do horário que chegava em casa, o que deixava Leandro desconfiado.

Júlio sempre usava a mesma desculpa de estar trabalhando muito e que Leandro não o compreendia.

As brigas entre o casal eram diárias. Leandro percebia que Júlio não era mais o mesmo na cama. As noites de sexo eram frias, somente para o gozo de Júlio.

Sempre que Abner ligava, Júlio se afastava, se trancando no escritório.

_ Isso é puto na certa. E não é coisa de uma fodinha não. O carcamano do seu marido está de caso mesmo com um outro homem. Provavelmente, muito apaixonado.

Leandro sentiu o coração doer quando ouviu essas palavras de Valéria. O fato de Júlio não o amar mais o apavorava. Temia pelo fim do seu casamento, sendo substituído por um homem que tinha grandes chances de ser mais jovem e mais bonito.

Devido as brigas constantes, estava tão tenso que tinha dificuldade para dormir. Passava noites em claro chorando.

Certa noite, estava sentado na cama observando o marido dormir tranquilo. Júlio deitava de bruços e tinha um leve sorriso nós lábios entre abertos.

Leandro sentiu saudades do Júlio que conhecera há anos. Do homem que desvirginou o seu corpo e o seu coração, que era amável, doce e carinhoso.

Júlio mudou muito no decorrer dos anos. As carícias se tornaram beijos rápidos de despedida após o café da manhã. Antes faziam amor, agora Leandro se sentiu um objeto sexual, onde o marido depositava alguns minutos de prazer, antes de virar para o lado e adormecer.

Perguntava-se quem será o homem que o roubou o amor do marido? Odiava o desconhecido que desfrutava do amor e dos carinhos que eram dele por direito. Maldito Outro!

A imagem de Abner invadira os sonhos de Júlio, onde os seus corpos suados e ofegantes se entregavam ao prazer carnal.

_ Abner! Abner, minha perdição e o meu tesão._ Júlio dizia gemendo, acariciando o próprio pênis.

_Então o nome do vagabundo é Abner! É isso mesmo?!

Júlio despertou assustado com os gritos de Leandro. O moreno estava ao seu lado com o rosto vermelho e os olhos escorrendo lágrimas.

Júlio sentia o coração bater mais forte. Ficou parado por alguns segundos ouvindo os gritos furiosos do companheiro.

_ Do que você tá falando?_ perguntou Júlio, dissimulado.

_ Você falou o nome desse vagabundo enquanto dormia! Disse o nome do seu amante! É Abner! Abner!

_ Você tá enlouquecendo, Leandro! Precisa ir ao psiquiatra! Porra! Eu trabalho o dia inteiro naquela porra daquele escritório e quando chego em casa não posso nem dormir!

_ Deixa de ser sínico, Júlio! Você sabe muito bem que eu não estou louco e que esse é o nome do seu amante.

_ Que amante, criatura? Eu lá tenho tempo para ter amante? Trabalho feito um burro de carga... aliás._ Júlio cruzou os braços e olhou para Leandro erguendo a cabeça._ acho que tô sacando qual é a sua. Você fica o dia inteiro sem fazer porra nenhuma, vive pra cima e pra baixo com aquela sua amiga piranha. Será que não é você que tem um amante e tá fazendo todo esse showzinho para desviar o foco?

_ Filho da puta! Como se atreve e dizer isso de mim? Você sabe muito bem da minha integridade.

_ Eu não sei não. De uns tempos pra cá você anda muito histérico! Olha, Leandro, você pensa bem no que anda fazendo. Se eu descobrir que você tá me traindo, eu te mato! E não é no sentido figurado!

_ Você sabe que eu não faria isso...

_ O recado está dado! Se eu descobrir que você tá dando o que é meu pra outro, eu mato, Leandro! Te mato!

_ Você sabe muito bem que eu sou e sempre serei fiel a você. Você tá jogando o seu podre pra cima de mim, Júlio! Você é sádico!

_ Quer saber de uma coisa? Eu vou dormir no quarto de hóspedes. Eu não tenho a sua vida inútil. Amanhã tenho que acordar cedo para trabalhar e te bancar.

Júlio pegou o travesseiro e saiu furioso, batendo com a porta.

Leandro deitou na cama, abraçando o travesseiro. Chorava desesperado.

....

Beijos calorosos entre respirações ofegantes eram trocados dentro do carro no estacionamento do motel.

Valéria e o jovem queimavam em desejo, que seus corpos não aguentavam esperar chegar no quarto. Ambas mãos tocavam seus sexos, deixando-a umedecida e ele duro.

_ Você é muito gostosa! Tá toda molhadinha._ o rapaz sussurrava ao pé do ouvido de Valéria, mordendo de leve a sua orelha.

Excitada, Valéria abriu as pernas sentando no colo do rapaz.

Voltaram a se devorarem em beijos.

O rapaz deslizava a língua pelos lábios, queixo até chegar no pescoço. Valéria erguia a cabeça para senti-lo. Abriu os olhos por impulso e arregalou os olhos assustada diante do que viu.

_ Porra! Filho da puta!

O jovem parou de beijá-la e a olhou sem entender o que acontecia.

_ É o carro do Júlio! O filho da puta tá com o amante neste motel.

Rapidamente, Valéria voltou para o banco de carona.

_ Siga o carro! Siga a porra daquele carro!

_ Mas pra quê?

Já era tarde demais. Júlio havia saído e outro carro entrou.

_ Porra! Porra! Era pra ter seguido aquela merda de carro! Porraaaaaaaaa!

Leandro foi informado de imediato, o que confirmou as suas suspeitas. Juntou a informação do motel, com os últimos comportamentos de Júlio e o fato de dizer o nome de Abner enquanto dormia.

As brigas entre o casal se intensificaram ainda mais. E Valéria foi acusada por Júlio de ser uma mentirosa manipuladora.

...

Almoços natalinos eram sempre garantia de alegria e mesa farta. Junto com as sobras da ceia eram adicionadas uma fornada de empadinhas de camarão quentinhas brilhavam marrom onde haviam sido pinceladas com gemas.

A massa tinha um gosto especial, que provocado gemidos prazerosos em qualquer um que a comesse. O segredo Lurdes não revelava a ninguém. Abner suspeitava ser a banha de porco na massa.

Os risos eram certos. As anedotas de Martins alegravam a família, e às vezes eram acrescentadas as dos vizinhos ou parentes visitantes.

Lorena todo ano garantia uma deliciosa travessa de rabanadas salpicadas com açúcar e canela, era a única coisa que sabia fazer na cozinha.

Da infância, Abner tinha a recordação dos presentes que abria com o seu pai, acreditando que os presentes foram enviados por Papai Noel. Nos primeiros anos da morte de seu pai, essa era uma lembrança doída. Contudo, com o passar do tempo, a dor foi substituída por uma gostosa nostalgia, que acalentava o coração, quando folheava o álbum de fotografia do seu pai.

Mas aquela não era uma tarde de natal como as outras. Toda a sua alegria do espírito natalino foi roubada quando Júlio, horas antes, entrou em sua casa aos berros, agredindo-o verbalmente por ter ligado para ele na noite interior.

Doía saber que o homem que amava havia passado a noite com o outro, que ocupava o posto de marido. Posto esse que Abner era levado a acreditar que Leandro era indigno.

Antes de chegar na casa da mãe, Abner se entregou á tristeza, molhando o travesseiro em lágrimas.

A sua apatia foi notada pela família e foi justificada por uma falsa dor de cabeça. Somente Lorena sabia do caso do "irmão" com Júlio e o chamou num canto para saber o que havia acontecido.

Escondera para si a felicidade de saber que o relacionamento deles havia acabado, pois não suportava ouvir do homem que amava que estava apaixonado por outra pessoa.

Para consolá-lo entregou-se desnudada de corpo e alma durante a noite, enquanto todos dormiam.

A ausência de Júlio se estendeu por dias. As ligações recusadas e as mensagens não respondidas causavam dor em Abner. Sentia o coração apertado e o medo de perder o homem que era indigno do seu amor e mesmo assim o tinha.

Pensou na sua situação financeira. Temia que, por vingança, Júlio demitisse a sua família. Com as mensalidades da faculdade ele não se importava, já estavam todas quitadas e ele já havia recebido a aprovação no curso de gastronomia. Dentro de poucos meses, colaria grau e seria oficialmente um chefe de cozinha.

Decidiu priorizar a si ao invés de Júlio. Iria passar por cima da dor para focar em atingir o seu principal objetivo: ter o seu próprio restaurante. Mas para isso precisaria de muito mais dinheiro.

Como ironia do destino, recebeu uma ligação de um antigo cliente. O milionário Ivan Matarazzo queria marcar uma reunião com ele em seu escritório.

O pedido foi aceito sem pestanejar. Ivan fora seu cliente quando solteiro e nas vezes que vinha ao Brasil. Era bonito, pagava bem e não transava mal. Não seria nenhum sacrifício alugar o seu corpo para o empresário.

Foi fiel a Júlio, até onde esse mereceu. Já que preferia o marido abusivo ao invés do seu amor, ele é que não iria recusar um bom trabalho para esperar por Júlio.

Era a primeira vez que pisava na empresa Matarazzo. O lugar o fazia recordar dos grandes escritórios luxuosos que via nas novelas.

O encontro deveria ser na casa do empresário, mas Victor achou que seria imprudente receber um garoto de programa em sua casa, lugar onde sua pequena filha habitava. O loiro fez questão de estar presente na reunião. Ele que não deixaria o belo marido só, ao lado de um profissional do sexo.

_ Entre._ disse Fernanda, abrindo a porta do escritório do vizinho para que o visitante entrasse.

Ivan não era mais o mesmo desde que se encontravam. Tinha uma expressão leve e olhos sorridentes, o amor e a felicidade o embelezavam ainda mais.

_ Solzinho, este é o Dimitri. Dimitri este é o meu marido Victor.

Abner olhou para Víctor sorrindo e mordendo os lábios. Reparou que o jovem tinha uma bunda carnuda e uma beleza que o atraía.

_ Lindo o seu marido. Vai ser um prazer servir aos dois. Eu amo fazer com casal. Me sinto importante por fazer parte da história deles.

Ivan não gostava do jeito que Abner olhava para o seu Solzinho.

_ Não quero contratá-lo para nós. E acho melhor parar de olhar para o meu marido deste jeito. A não ser que queira ficar sem olhos.

Abner engoliu a seco a ameaça de Ivan. Pelo seu olhar tempestuoso sabia que Ivan cumpria com o que prometia. Sentiu um arrepio percorrer o corpo e evitou olhar para Víctor durante todo o tempo que permaneceu no escritório.

Ivan explicou que contrataria o serviço para um amigo de uma amiga.

_ Quero que der a ele a melhor noite da sua vida e sei que você é muito capacitado para isso.

Victor o olhou furioso, para ele horrível estar diante de um homem que desfrutou do corpo do seu marido.

_ Pode deixar comigo. Farei o cara ver estrelas.

_ Contudo, há uma coisinha diferente. Ele não pode saber que você é um garoto de programa. Você deve fazer parecer que está interessado nele, fazer com que ele se sinta desejado.

'Vou dar uma festa em minha casa e aqui está o convite._ Ivan retirou do bolso do paletó e o entregou._ Você irá como se fosse um convidado comum. Eu o apresentarei ao rapaz como se fosse um amigo.'

_ Quanto tempo ficarei com ele?

_ O tempo que for necessário para deixá-lo feliz.

_ Você sabe que cobro por hora. Vai sair caro.

_ Não se preocupe quanto a isso. Você será muito bem remunerado.

Abner saiu daquele escritório acreditando que teria que suportar um velho feio, recém abandonado pelo marido, que provavelmente o trocou por alguém jovem e interessante. Até cogitou de Guilherme Sobral ser uma daquelas bichas carentes e grudentas, sedentas por homens opostos a eles (belos e jovens) para alimentar o seus egos machucados.

Mas estava disposto a suportar, pois o dinheiro valia a pena. Já havia suportado tantos assim na sua vida de michê.

Na festa, ao olhar para Leandro pela primeira vez, ficou encantado de uma forma que sentiu como se recebesse um chamado. Viu nele algo além da beleza atraente, conseguia sentir uma energia boa que emanava do seu doce olhar. Como se encontrasse algo que sempre buscou.

"Que se foda o cliente e o dinheiro! É este homem que quero!" Foi o que pensou, quando decidiu ir atrás de Leandro, que nem percebia a sua presença.

Quando Ivan o apresentou como Guilherme Sobral, sentiu uma alegria tão grande...como se flutuasse. Era muita felicidade saber que teria aquele anjo e ainda receberia por isso.

Guilherme era um nome que soava como música relaxante por se tratar do nome do homem que o atraía, pelo menos era o nome que Abner achava que ele fora batizado.

Não fazia ideia de que Guilherme Sobral era uma invenção de Ivan.

_ Val, você precisa dar um jeito de conversar o seu amigo a se apresentar com um nome falso. Afinal, Dimitri é um garoto de programa e Leandro é um homem casado com um advogado conhecido. É bom evitar que esse tipo de informação chegue ao michê. Vai que no futuro, isso pode gerar alguma chantagem.

Valéria concordou com Ivan e cumpriu a promessa de convencer Leandro a aceitar ser outra pessoa por aquela noite.

Abner se entregou a Leandro de corpo e alma. Apesar de ter se apaixonado por Julio, o que sentia naquela noite era algo diferente...leve...bom...muito bom!

Não era aquela paixão tórrida e arrebatadora como a que nutria por Júlio. Tão intensa, que às vezes, doía em seu peito.

Com Leandro era um sensação boa! Um carinho mútuo. Um encanto acolhedor.

Leandro tinha um abraço aconchegante, um sorriso que despertava o seu e uma doçura no olhar que o deixava refém.

Os momentos com ele o trouxeram paz. Sentia que o mundo era um lugar melhor devido a presença do belo homem.

Despediu-se lamentando internamente. Sua vontade era roubar aquele homem para si e tranca-lo em seu coração para que nunca mais o escapasse.

Quando chegou em casa, Lorena o aguardava. Estava sentada na sala, assistindo TV. Vestia uma camisa dele de cor branca e uma calcinha de renda rosa. Os cabelos estavam presos com um coque.

_ Que cara de felicidade é essa?

Abner se jogou ao seu lado, deitando em seu colo.

_ Eu acabo de vir do paraíso, onde passei a noite com um anjo._ Abner disse suspirando, com um sorriso bobo e os olhos brilhantes.

_ Como assim?!

_ Ele é lindo! É doce, inteligente, encantador e muito...mas muito gostoso!

_ Lá vem você se encantando com mais um cliente. Você não aprende mesmo, né Abner?

_ Esse é diferente do Júlio. Muito mesmo. Júlio é tormenta, Guilherme é aquele dia lindo primaveril e ensolarado._ Abner levantou a cabeça, deitando de bruços para olhar para ela._ Ele me disse que o ex o trocou por um amante abusado. Meu deus como alguém pode ter um homem daqueles e o trair ou trocar por outro?! É como ter um tesouro e jogar fora!

_ Gamou mesmo, heim!

_ Muito! Eu quero aquele homem pra mim! Só pra mim. E vou ter.

_ Esqueceu do Júlio?_ Lorena perguntou sorrindo.

_ Foda-se o Júlio. Ele que fique lá com aquela songa monga maldita e doente. Que sofra nas mãos do gigolô insuportável. O Guilherme é tão maravilhoso, que me faz esquecer que a praga do Leandro existe. Guilherme tem um jeitinho tão inocente. Dar até vontade de cuidar.

_ Como você é deslumbrado. Eu é que não vou bater palmas para as suas maluquices. Vou fazer café. Vai querer?

_ Não. Eu tô morto. Vou tomar um banho e cair na cama._ disse Abner bocejando.

_ Vá dormir mesmo. Talvez quando acordar, já esqueceu desse deslumbre todo.

_ Impossível, queridinha. Guilherme é inesquecível.

....

Guilherme era o nome que havia se enraizado em sua memória. Abner estava tão encantado, que não conseguia esquece-lo, o que para ele não foi nenhum tormento, já que não tinha essa intenção.

Tentou ligar diversas vezes e não foi correspondido. Cogitou a possibilidade de Guilherme ter reatado o casamento.

"Que se foda! Eu quero aquele homem e eu o terei."

Perseverante, procurou por ele nas redes sociais de Ivan e a busca foi um fracasso. Apenas encontrou o perfil fechado de Valéria com o arroba da sua empresa na biografia.

Descobriu o endereço da empresa e foi até lá em busca de alguma informação sobre Guilherme. Mas, para a sua decepção, ouviu de um funcionário que Valéria não estava lá e só retornaria dali a um mês, devido as férias. O homem também não soube informar nada sobre Guilherme Sobral, alegando não o conhecer.

Mesmo Guilherme ocupando todo o seu desejo, ainda pensava em Júlio. Sentia saudades. Muitas saudades! No entanto, era orgulhoso o suficiente para não ligar. "Ele se quiser que me procure." Mas Júlio não o procurava e isso o entristecia.

Sem Guilherme e sem Júlio, procurou prazer em outros corpos femininos e masculinos, tanto em encontros casuais ou profissionais. Todavia, não se sentia satisfeito. Era Júlio e Guilherme que queria.

Recebeu com fúria a notícia que Júlio gozava de momentos felizes ao lado de Leandro. Sentia que verdade esfolava a sua face.

_ Então, era tudo mentira! Ele me enganou fingindo ser vítima do marido! Que desgraçado!

O ódio o consumia. Entregou-se por inteiro naquela paixão. Foi sincero e recebeu mentiras e traições como agradecimento!

Odiou-se por ter sido ingênuo, caindo nas mentiras baratas do amante.

Jurou vingança. Se ele estava infeliz, Júlio e Leandro também teriam que estar.

Agora mais do que nunca queria estar de cara com o rival. Jogar sobre ele toda a verdade. Esfregar em sua cara o quanto gozou com Júlio em sua cama, revelar todas as mentiras do seu marido e gargalhar assistindo a queda do casamento.

Porém, quando viu Guilherme em sua frente, o seu coração bateu desconpensado. Sua voz estava aprisionada e as suas pernas paralisadas. Não era possível que o homem que o encantou era o mesmo que o despertava tanto ódio.

Ficou em estado de inércia diante daquela situação. Tudo saiu fora do planejado. Era para Leandro ficar sem chão, mas foi ele quem se viu assim.

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Comentários

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Então foi isso o que aconteceu. Enfim, continuo na torcida para que Leandro dê a volta por cima❤

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