Deixei a água cair pelo meu corpo e tirei esses pensamentos da cabeça e me convenci de que aquele comportamento dele deveria ser apenas pelo jogo de vôlei na praia mais cedo e assim terminei o meu banho, ao sair para o quarto enrolado em uma toalha, ele não estava no quarto no seu lugar eu achei um bilhete que dizia o seguinte:
“Sai com o Cauan para beber nos encontramos no centro da cidade mais tarde”
Meu sangue ferveu ao ler aquela frase, o que o Vitor está pensando? Ele em sabe muito bem como eu me sinto em relação ao Cauan e me deixa esse bilhete? Ele esta me punindo por cuidar dele e exatamente isso que ele esta fazendo? Peguei meu celular e verifique se tinha alguma mensagem dele, mas não havia nada. Vesti a primeira roupa que peguei e fui até o caixa eletrônico do hotel e transferi todo o dinheiro dele que estava comigo para a conta dele, “ se ele quer independência de mim, ele vai ter” era o único pensamento que estava na minha cabeça. Não me lembro de ter saído do hotel só dei por mim quando me encontrei cercado de lojas, bares e restaurantes, de alguma forma eu havia chegado no centro da cidade, meus olhos procuravam por ele em toda parte e apesar da quantidade de pessoas que passavam por mim eu consegui identifica-lo de longe, estava sentado em um bar junto com o Cauan apenas os dois na mesa um de frente para o outro bebendo e rindo, a cada passo que eu dava meu sangue fervia mais com aquela situação, entrei no bar e me direcionei para a sacada que dava para o mar (a vista do por do sol que se não fosse pela situação eu diria que estava lindo) e ignorando o protesto da atendente continuei indo de encontro a eles acreditando que nada poderia me deter naquele momento, entretanto eu estava dolosamente errado, alguma coisa poderia me parar e ela aconteceu, bem ali na minha frente o Cauan inclinou-se pela mesa e beijou o Vitor bem na minha frente. Um turbilhão de emoções tomou conta de mim, minha boca abriu e fechou varias vezes mais a minha voz temia em não sair, dos meus olhos arregalados brotavam teimosas lagrimas as quais eu não conseguia controlar, ao termino do beijo Cauan retorna para o seu lugar e pude ver o sorriso no rosto do Vitor, que rapidamente sumiu do seu rosto aos seus olhos encontrarem os meus, a única coisa que consegui fazer foi balançar a cabeça negativamente e me virar e sair correndo, eu precisava sair daquele lugar era o único pensamento que eu tinha na cabeça, e foi o que eu fiz, corri o mais rápido que eu pude esbarrei em varias pessoas e ao longe ouvia alguns sinais de protesto mais isso não importava, corri ate meu peito começar a arder mais não parei por isso, os músculos das minhas pernas protestaram dolorosamente, mais a dor ainda não era maior que a visão aquele beijo , corri pelo que me pareceu horas e só parei quando senti a exaustão tomar conta de mim, eu sabia que mesmo que ele quisesse não teria conseguido me alcançar, cai na areia da praia e permiti que o choro e o desespero tomasse conta de mim, ali sentado na areia contemplando o nascer da lua e as estrelas a raiva e a dor me consumiram, e chorei até que não houvesse mais lagrimas, peguei meu celular no bolso e tinha quase 20 ligações todas dos meus amigos, “ parece que todo mundo já sabe”, mas eu não tinha vontade de falar com ninguém, resolvi então ler as mensagens que já tinha bem umas 50, das quais 20 eram do Vitor e eu não tinha a mínima vontade de ler, comecei pelas da Valeria pois ela também podia estar sofrendo.
Valeria: Onde você está, ninguém está falando nada com nada apenas que você sumiu.
Valeria: Lucas, eu sinto muito o que aconteceu podemos conversar?
Valeria: Lucas eu também estou mal com isso me responde ou me liga.
Resolvi que iria responder.
Oi, eu estou bem sinto muito por sua dor mais no momento eu preciso ficar sozinho e na verdade eu nem sei onde estou, mais como eu já falei estou bem.
As próximas mensagens eram do Dani.
Dani: Irmão me responde pelo amor de Deus estou preocupado demais com você, o Vitor e um babaca e o Cauan e muito pior.
Respondi: Dani eu estou bem, to triste mais to bem aproveita a viagem cara.
Danilo: Sei que não quer falar com ninguém mais vou te procurar até encontrar, me sinto culpado pelo jeito que você está.
Era estranho aquela mensagem mais eu não estava com cabeça para analisar nada naquele momento, a única coisa que consegui fazer foi tirar os fones de ouvido do bolso conectar ao celular e ouvir as músicas mais melodramáticas que estavam no meu celular, em algum momento desse transe me deitei na areia e fiquei a contemplar o céu na esperança que a musica não deixasse que minha mente relembrasse aquela cena, foi deitado na areia ouvindo Right Here Waiting que ele me encontrou, sentou-se ao meu lado como quem não queria nada e olhou para mim, instintivamente eu retirei um fone do ouvido e ele simplesmente disse:
-Danilo: Eu disse que iria te encontrar.
- Eu: Realmente, mas eu não sou uma boa companhia hoje.
- Danilo: Não faz mal, preciso te contar uma cosia que talvez te ajude a entender o que aconteceu.
- Eu: Danilo, nada no mundo vai me fazer entender o que aconteceu.
- Danilo: Posso tentar.
Sem nenhuma esperança de que as coisas pudessem mudar balancei a cabeça positivamente.
- Danilo, Bom, lembra que eu tinha te falado que tive um quase namoro com alguém do grupo, então esse alguém foi o Cauan.
Olhei meio incrédulo para ele, como ele poderia namorar o Cauan, meu rosto provavelmente deve ter me denunciado meus pensamentos pois a resposta veio em um atropelo.
- Danilo: Calma, não foi exatamente um namoro, quer dizer foi para mim mais para ele acho que era só um passa tempo, assim que o festival acabou ele terminou comigo dizendo que gostava de outra pessoa, mais eu juro que não sabia que era o Vitor e nem que ele pretendia fazer o que fez, você pode me perdoar?
Por um momento avaliei o Danilo, e a única coisa que consegui perceber foi o desespero dele esperando a minha resposta, realmente ele não tinha nada a ver com aquela história, porém ainda estava se torturando com aquilo,
- Eu: Danilo, você não tem culpa de nada porem aquela letra foi escrita para ele, não é?
- Danilo: Na realidade aquilo é uma música de um cantor latino Luis Fonsi ( sim antes de acabar com a carreira com Despacito), eu apenas a traduzi para ele.
-Eu: Ele não merecia você, na realidade ele não merecia ninguém, ele usou sua carta para se aproximar e conseguir o que ele queria.
- Danilo, eu sei que você não quer ouvir isso agora, mais talvez tenha alguma explicação.
Sorri com a ironia, será que sempre alguém vai defender o Vitor?
-Eu: Danilo, um beijo não tem perdão nem versão, um beijo é um beijo.
-Danilo: talvez não, mas tem sentimento envolvido.
Talvez o Danilo estivesse certo mas eu não queria pensar nisso agora, parece que tudo estava sendo providencial demais, foi durante esse pensamento que me dei conta que eu não tinha para onde voltar, quer dizer os quartos estavam reservados para duas pessoas.
-Eu: bom, acho que vou arrumar minhas coisas e vou para o aeroporto tentar pegar o próximo voo ou talvez ir para a rodoviária pegar um ônibus para casa.
- Danilo: Você não pode fazer isso, vai perder toda a viagem por conta dele? Nos não valemos nada pra você?
- Eu: Danilo, eu não tenho nem quarto pra ficar, não vou dividir o quarto com ele então e melhor eu ir embora.
- Danilo: você pode ficar comigo, quer dizer tem duas camas de solteiro no meu quarto.
- Eu: Não sei se é uma boa ideia.
- Danilo: ao menos até amanhã.
Ele me olhava com esperança e ansiedade no olhar, “um dia a mais não vai fazer as coisas ficarem piores do que já estão” a voz na minha cabeça tinha razão as coisas não poderiam piorar.
-Eu: ok, vou ficar com você hoje.
Danilo vibrou de alegria com a notícia.
-Danilo: Você vai ver, amanha tudo vai parecer melhor.
Acabava de me dar conta que eu não sabia onde eu estava e não fazia ideia de como voltar para o hotel.
-Eu: você sabe onde estamos? Porque eu estou completamente perdido.
Danilo encarou-me por um momento e sorriu por um momento.
-Danilo: você realmente correu sem rumo, você está a mais ou menos 500m do hotel.
Sorri com a informação, parecia que tinha corrido bem mais longe, depois consultei e verifiquei que tinha corrido pouco mais de 3 km em direções diferente ate pegar uma rota inconsciente para o hotel.
- Eu: Danilo, preciso que você pegue algumas coisas para mim no quarto, preciso tomar um banho quente e demorado para colocar o pensamento em ordem.
- Danilo: tudo bem, quando chegarmos no hotel você fica no meu quarto eu pego as coisas que você precisar no seu.
Caminhamos de volta ao hotel em total silencio, era fácil ficar perto do Danilo nesses momentos, ele respeitava o espaço e a decisão de não falar, se fazia presente mais sem pressionar coisa que eu teria certeza que qualquer um dos nossos outros amigos faria, nesse momento me senti grato por ser ele a ter me encontrado. Chegamos ao hotel e o Danilo pegou minha mala e todas as minhas coisas no quarto que eu dividia com ele e apesar de eu não perguntar ele me falou que ele não estava no quarto não consegui evitar o pensamento de que ele deveria estar com “ele”, senti uma pontada no peito com esse pensamento mais ignorei e entrei no banheiro, liguei o chuveiro para agua quente e deixei a agua cair pelo corpo e instantaneamente as perguntas começaram a me atormentar, “ o que você vai fazer agora?”, “ vai reagir novamente como criança com da ultima vez?”, “vai perdoar mais uma traição dele?” e “mais eu ainda amo ele”, esse turbilhão de pensamentos tomou conta de mim, enquanto ensaboava meu corpo fui lentamente me acalmando, primeiramente eu precisava colocar a cabeça em ordem para tomar boas decisões era o que eu iria fazer agora, segundo eu não pretendo ser uma criança nunca mais, após o café da manha eu vou chamar ele pra conversar (um calafrio percorreu meu corpo ao tomar essa decisão) e também não iria mais embora eu aproveitaria minhas ferias de qualquer forma, também decidi que não queria mais perdoa-lo porem uma parte de mim ainda o amava, amava tanto que sentia dor só de pensar nele. Terminei meu banho com todas as decisões tomadas e incrivelmente mais calmo do pretendia. Sai do banheiro o Danilo estava sentado na cama me esperando, sorri para ele enquanto me encaminha para a cama do lado.
- Eu: Espero que você não ronque muito alto.
- Danilo: bom, eu nunca me ouvi dormir você vai ter que me falar pela manhã.
Sorri para ele com sinceridade. – Obrigado por tudo.
Foi a única coisa que consegui falar para ele. Ao deitar na cama percebi que estava exausto e para a minha surpresa adormeci rápido e tive uma noite tranquila e sem sonhos. Acordei as 5 horas da manhã, olhei para o lado e o Danilo ainda dormia, ele não roncava mais dormia com a boca aberta, sorri sozinho com a visão dele. Levantei-me lentamente e fui em direção a porta e abri lentamente para a minha surpresa ele caiu com a cabeça nos meus pés, abriu os olhos meio atordoado e seus olhos estavam meio fora de foco, mais sorriu ao olhar em meus olhos.
- Vitor: Graças a Deus você está bem.
Fiz sinal para ele ficar calado e para me seguir, porem ele não conseguia se levantar do chão, fiquei por alguns minutos observando-o tentar levantar sem sucesso e acabei por reparar que ele não estava bem, as roupas estavam sujas o cabelo todo desgrenhado, ele tinha um cheiro muito ruim misturado com bebida e vomito, fiquei meio impaciente e com medo dele acordar o Danilo e acabei levantando ele do chão sem nem um ponto de gentileza, quando ele estava de pé soltei-o e ele começou a cambalear novamente como se fosse cair, o pensamento de eu mereço passou pela minha cabeça, passei o braço dele pelo meu pescoço e fui em direção ao quarto que agora era apenas dele, enquanto caminhávamos consegui distinguir ele murmurar um obrigado, mas não me comovi com aquilo destranquei a chave do quarto dele entramos e coloquei ele na cama.
-Eu: Tira a sua roupa.
Ele sorriu. – Safadinho já está querendo fazer sexo de reconciliação.
Meu sangue ferveu. – Não Vitor eu não quero fazer sexo com você nunca mais, porem você precisa de um banho para curar o efeito do álcool.
Ele me olhou desapontado e com a expressão triste, tirou a camisa suja e eu tive que ajuda-lo a tirar o tênis e a calça, deixei ele de cueca e o ajudei a chegar ate o banheiro, coloquei ele sentado dentro do box e liguei a agua gelada no máximo de imediato ele começou a reclamar.
- Vitor: Por favor amor, água gelada não.
Não respondi, apenas entreguei o sabonete para ele e sai do box, fiquei sentado no sanitário ate que ele terminasse o banho, apos 20 minutos da água fria ele apresentava uma pequena melhora, achei que já era hora de tirar ele do box e levar para cama, entreguei uma toalha e uma cueca para ele, com a voz um pouco melhor ele me chamou:
- Vitor: Lucas, precisamos conversar.
- Eu: Sim, precisamos, mas essa não é a hora, agora você vai dormir e quando acordar conversamos.
Ele não reclamou apenas deitou-se fechou os olhos e aparentemente automaticamente dormiu, peguei um bloco de papel ao lado do telefone e escrevi um bilhete para ele, deixei ao lado da cama embaixo de um comprimido para ressaca e um copo de água e junto com a chave daquele quarto que ainda estava comigo, voltei para o quarto do Danilo e escrevi um bilhete para ele também que dizia mais ou menos isso:
“Fui ate a praia para ver o sol nascer, estarei de volta para o café”
Caminhei sem pressa para chegar na praia ao chegar sentei-me escorado em uma pedra grande e fiquei olhando para o horizonte esperando o sol nascer o tempo foi passando e céu já começava a tomar um tom avermelhado indicando que já estava próximo a sair e foi nesse momento que uma voz me tirou dos meus pensamentos.
