Ma Petite Princesse - 2° Temporada - XVII

Um conto erótico de Ana_Escritora
Categoria: Heterossexual
Contém 10519 palavras
Data: 15/11/2021 21:00:54
Última revisão: 11/11/2024 14:27:28

Sinopse: Ao retornar das férias e fazer uma surpresa de aniversário para o Felipe junto dos pais, a nossa bela jovem é quem acaba sendo surpreendida. E de uma maneira nada agradável.

***

Sentir o amor e o carinho dos meus pais em forma de abraço era a melhor parte de se voltar para casa depois de um mês de férias. Meu corpo era puro cansaço com as onze horas de vôo, porém, estava feliz. Principalmente pela surpresa preparada naquela noite de sábado.

- Morremos de saudades de você, meu anjo! - minha mãe me abraçava junto do meu pai formando um abraço triplo no meio da sala - Essa última semana parecia que estava se arrastando.

- Também senti muita falta de vocês - continuava abraçada aos dois - A casa dos meus avós, passear com os meus tios e primos... Tudo é maravilhoso mas a nossa casa é tudo de bom!

- Pronta pra surpresa, món chére? - nos afastamos e meu pai perguntou fazendo um carinho no meu rosto.

- O Lipe não vai acreditar quando me ver! Ele não desconfia de nada? Achei ótimo vocês terem me contado quando nos falamos antes de ir pegar o trem para Paris com o meu tio. Desculpa pela hora aqui no Brasil.

- Imagina, meu anjo. Eu e o seu pai já estávamos acordados! E ele não desconfia de nada pois estamos escondendo isso há dias! Mas além de você, consegui contar rapidinho para Cecília e para Melissa quando recebi a mensagem do seu pai que o seu vôo atrasaria um pouco.

- Ah, então a Meli sabe???

- Sabe. Se ela é a sua melhor amiga achei justo contar!

- Que bom! Vou deixar minha mala no quarto e ligar pra ela rapidinho. Acha que estou bem assim pra ir? - Fiz uma pose de frente para eles, com os braços esticados, mostrando o meu vestido cinza claro com uma estampa enorme da minnie mouse e que era um pouco apertado nos quadris e no bumbum - Eu e a Madeleine compramos esse modelo na Disney em Paris. Na verdade compramos quatro vestidos com cores e estampas diferentes e deixei um na casa da vovó.

Era um vestido de tecido macio parecido com pijamas, o decote em V e as mangas curtas iguais ao uniforme do colégio.

- Tá linda como sempre, filha! E esse tênis all star rosa combinou com ele.

- Então tá, eu vou no meu quarto deixar minhas coisas. Só vou ligar para a Meli e pegar o presente do Lipe.

- Eu e sua mãe vamos voltar pra festa. Não demore!

- Tá bom.

Peguei do chão a minha mala cor de rosa pela alça, a mochila bege que estava em cima e usava como bolsa, colocando em um dos ombros e fui arrastando as rodinhas até o meu quarto. Entrei nele e senti o cheiro delicioso de limpeza que com certeza, a minha mãe orientou a diarista a fazer. Depois de ligar o ar condicionado, pois o cômodo estava um forno, joguei a bagagem em cima do tapete e abri, pegando o presente do aniversariante que estava logo à vista deixando na minha cama. Como o meu pai pediu, eu não podia demorar muito.

No momento que tirei o meu celular da mochila e o liguei, foram várias as notificações de mensagens e atualizações do Instagram que vieram ao mesmo tempo quando o wifi de casa o ativou. A hora na tela marcava nove e dez da noite. De imediato, digitei as primeiras letras do nome da Melissa e cliquei em cima, fazendo a chamada, colocando no ouvido e esperando ela atender.

- Oi... - depois de uns três toques, ouvi a voz dela.

- Amigaaaa - a euforia tomava conta do meu corpo - Já chegueeeiii! Tô aqui no quarto arrumando algumas coisas mas já tô indo aí!!!! Tá podendo falar???

- Tô sim, amiga. Tô no meu quarto...

- Tá tudo bem? Sua voz tá estranha... Meli, eu cheguei! não tá feliz???

- Tô sim. Muito. Morri de saudades. Eu nem acreditei quando sua mãe contou sobre a surpresa. Tô sem acreditar direito até agora.

- Eu sei!!! Achei a ideia dos meus pais o máximo. Você não falou nada pro Lipe né??? Por favor!

- Não, não contei nada. Ni, deixa eu te falar...

- Ai, que bom! Escuta, comprei o presente pro seu irmão. - comecei a falar, andando pelo quarto - Acha que ele vai achar ruim mais uma camisa do time do Lyon? Foi a única coisa que eu pensei mas essa camisa, o Henry conseguiu levar pro jogador brasileiro Lucas Paquetá autografar.

- O quê? Não, ele vai adorar... Amiga, então...

- Eu não entendo nada disso de futebol, mas o meu primo contou que o campeonato francês vai começar em Agosto e o time já está se reunindo para treinar. - eu falava tão acelerada que até me estranhei - Ele foi no lugar onde o clube treina e conseguiu o autógrafo na camisa pra mim. Não é demais?

- Super... Demais amiga... Nívea, me escuta...

- Vou dar uma ajeitadinha no presente dele, pentear o meu cabelo e...

- Nívea, me ouve!! - tomei um susto com a voz dela alterada.

- Ai calma, o que foi?

- Você tá sentada?

- Tô em pé, por quê?

- Então senta.

- Peraí - dei a volta pela mala aberta no chão e me sentei do lado do embrulho - Pronto, sentei. Pode falar.

- O Eric tá aqui.

- O QUÊ? - meu corpo inteiro tremeu e coloquei a mão no meu colo entre os meus seios para segurar o susto - Me diz que isso é brincadeira! É brincadeira sua? - e o sorriso surgiu no meu rosto.

- Como eu queria que fosse...

- O Felipe convidou mesmo ele?

- Convidou, mas olha só...

- Tentei enviar uma mensagem pra ele bem na hora que eu embarquei, mas não consegui porque o wifi do aeroporto em Paris estava uma droga! Meu Deus do céu, Meli... Amiga, você tá fazendo companhia a ele não é? Você sabe que o Eric é calado e reservado.

- Então, é isso que eu tenho que te fal...

- Por favor, faz uma coisa: não deixa ele se sentir deslocado! Ele não consegue ficar à vontade com os meus pais, principalmente com o meu pai! Faz companhia a ele, tá bom? Vou desligar agora, já tô demorando demais.

- Nívea, espera...

- Beijo, beijo!

Encerrei a ligação e deixei o aparelho na cama, indo correndo até a minha mala. Busquei a minha nécessaire de maquiagem e o meu perfume de frutas vermelhas. Fui até o espelho e passei rapidamente um rímel, lápis de olho preto e um batom cor de boca. Peguei uma pequena escova de cabelo na minha mesa e comecei a pentear os fios. Dei uma borrifada do perfume no meu colo, voltando no espelho para uma última olhada no visual.

Não estava vestida como gostaria mas se eu fosse tomar banho e me arrumar de modo decente, iria demorar.

Peguei o celular e pus na minha bolsinha de mão, ajeitei o papel branco e fino que embrulhava o presente do meu amigo e por sorte havia uma sacola preta de loja em formato oval debaixo da minha mesa que serviu perfeitamente pra colocar a lembrança.

Se o meu coração pudesse saltar pra fora do peito com certeza ele teria feito, tamanha era a aflição e ansiedade misturadas em saber que em poucos minutos, eu estaria perto do amor da minha vida matando a saudade, mesmo que de forma silenciosa. Mas naquele momento, a surpresa para o Felipe era a primeira coisa a se fazer assim que eu aparecesse na porta.

A cada passo pelo corredor, mais as minhas pernas tremiam como se eu fosse cair no chão. Antes de aparecer na porta do apartamento dos meus amigos, que eu percebi estar aberta, respirei fundo na tentativa de me acalmar.

Ao aparecer, vi na varanda o aniversariante em companhia dos amigos e fiquei quieta. Quando finalmente me viu, ele não acreditou.

- Nívea? - Felipe arregalou os seus lindos olhinhos puxados e ficou de boca aberta pois com certeza não estava acreditando em me ver ali.

- JOYEUX ANNIVERSAIRE, LIPEEE!!! - não consegui conter o grito para lhe dar os parabéns, chamando a atenção dos seus amigos e corri na sua direção mesmo com as duas mãos ocupadas, para dar um abraço apertado pelo pescoço - Muitas felicidades, pra você!!!!

- Eu tô... - ele correspondeu ao meu abraço, me levantando e senti o seu queixo no meu ombro - Sem palavras... - ficamos assim por mais alguns segundos até ele me colocar de volta no chão.

- Vai ficar chateado se você ganhar o mesmo presente do ano passado? - lhe entreguei a sacola olhando nos seus olhos - Mas desta vez, a camisa está autografada por um jogador brasileiro que o meu primo conseguiu!

- Claro que não, Nívea... - ele sorria pra mim, abrindo a sacola e olhando rapidamente - Com a terceira, já posso me considerar um colecionador.

- E não vale torcer para outro time de futebol francês que não seja o Lyon!

A música que tocava parecia estar em um volume maior na sala, pois eu percebi o silêncio que pairava no ambiente.

- Gostou da surpresa, meu querido? - senti o abraço por trás da minha mãe em volta dos meus ombros e o seu beijo no topo da minha cabeça.

- Conseguimos esconder de você muito bem escondido! - meu pai também se aproximou, lhe dando um tapinha no ombro.

- Foi uma surpresa e tanto! - Felipe estava feliz mas ao mesmo tempo me olhava sem saber como reagir - Está sendo pra mim até agora - e riu.

- Você tá de um jeito... Parece até que não gostou de me ver! - e cruzei os braços.

- Adorei, Nívea! - e trocamos um outro abraço - Claro que adorei.

- Vem comigo, filha. - minha mãe falou perto do meu ouvido - Tem uma pessoa aqui que quer muito te conhecer.

- Quem?

No exato momento em que nos viramos na direção da sala de estar, toda a alegria que eu sentia e o meu sorriso se tornaram o sapatinho de cristal da Cinderela se despedaçando em mil partes pelo chão.

Ela estava ali. Bem diante dos meus olhos e todas as lembranças da noite do jantar oferecido pelos pais dos meus amigos surgiram imediatamente, onde a minha mãe contava toda eufórica sobre o encontro que teve e o quanto ela era bonita. E realmente era.

Para mim não havia mais ninguém. Meus olhos não conseguiam desgrudar da direção de onde estava e do seu lado, com os braços levemente cruzados na altura do peitoral, a pessoa a qual eu entreguei o meu corpo e o meu coração.

Pareciam mesmo um casal.

Senti um aperto no peito e algo sufocar na minha garganta vendo os dois juntos. Meu corpo ficou paralisado e só comecei a dar os poucos passos na direção deles porque minha mãe estava do meu lado, me segurando carinhosamente pelos ombros. Meu coração continuava batendo acelerado mas não era de alegria e sim, de angústia. Cada vez que eu me aproximava, mais eu tinha vontade de desaparecer dali. Ou pelo menos voltar para dentro do avião chegando só no dia seguinte. Seria possível?

- Vocês nos enganaram direitinho! - não sabia dizer direito mas talvez era a voz do senhor Henrique - Que bom que está conosco, minha querida! - Ele veio me cumprimentar com um rápido abraço. Rapidamente fiz o mesmo, ainda que em choque, e ele voltou a ficar perto do meu pai, que saiu de perto de nós duas, continuando a conversa que estavam tendo.

Não consegui responder pois não tinha força para nenhuma reação. Eu apenas a observava em detalhes. Os cabelos curtos, loiros e penteados de lado em um tom dourado combinava com o seu rosto perfeito. Seus olhos castanhos claros eram lindos e igual a mim, ela me observava, sorrindo fechado.

- Não vai precisar esperar até segunda-feira para rever sua melhor aluna, professor Schneider! - precisei segurar por trás na cintura da minha mãe para não desabar - Você lembra, filha, quando eu e a Marina encontramos o seu professor com a amiga e te falei sobre ela?

Continuei muda. E enfim, ficamos frente à frente.

Senti um beijo apertado na minha bochecha esquerda e, sem dizer nada, junto de um abraço apertado também pelos ombros e o meu braço se cruzou com o dela. Melissa apareceu e virou a fada madrinha, me dando apoio. Sendo a minha melhor amiga, ela sim sabia que eu estava no meio de um furacão e a única coisa que podia fazer era ficar do meu lado.

- Que bom vê-la, senhorita Martin.

Apesar dele me cumprimentar do jeito formal, pois estava na presença dos meus pais, os olhos do Eric estavam tensos mas ele precisava disfarçar o quanto podia para que ninguém percebesse o campo minado que surgiu entre nós dois.

- Custo a acreditar que estou te conhecendo, Nívea. O Schneider me fala que o orgulho em dar aula para o Ensino Médio é te ter como melhor aluna.

"Schneider? Então era assim que ela se referia a ele?"

Eu não deveria sentir mas, ouvir a voz dela era uma pequena tortura, mesmo eu sendo elogiada.

- O-Obrigada... - não sei como consegui agradecer e não sei se ela ouviu, pois falei como se estivesse com dor na garganta e rouca. Meus lábios tremiam ou era impressão?

- Tá tudo bem, meu anjo? - as mãos da minha mãe esfregaram os meus braços - Você tá gelada!

- Quê? - senti o pé da Melissa encostar no meu de propósito e encarei minha mãe - Ah.. Eu... Eu liguei o ar do meu quarto quando fui deixar a minha bagagem, mãe. Deve ter sido isso.

- Vocês duas são idênticas. E lindas.

Ela estava me elogiando de verdade ou sendo falsa?

- Ah, isso eu já sei, mas ouvir de novo e de novo é sempre bom! - minha mãe sorriu - Principalmente quando pensam que somos irmãs! - As duas começaram a rir.

E ainda tinha um bonito sorriso. Eu estava em um pesadelo, não tinha outra explicação.

- Nívea, querida! - Dona Cecília apareceu ficando na minha frente - Que pena, não vi você chegar. Precisei atender uma ligação de trabalho no meu quarto. Você tá bem? Está pálida.

- É... Eu pus um pouquinho de maquiagem mas o cansaço da viagem é mais forte.

- Eu imagino. Quando a Helena me contou da surpresa eu precisei segurar a língua!

- Tá sendo uma surpresa pra mim também. Muita coisa.

- Pois bem. Minha amiga chegou e agora vou roubá-la um pouquinho de vocês.

- Melissa, a festa é aqui e não no seu quarto!

- Eu sei mãe. Eu salvei as fotos da viagem no meu note e vou mostrar algumas pra Nívea rapidinho! Não é amiga? - ela me olhou e passou o braço por cima do meu ombro - Também te trouxe presentes.

- Claro... - respondi e agradeci em pensamento por tê-la como amiga - Não vamos demorar.

- Nadinha. Vem! - me puxou pelo braço, usando um pouco de força pois minhas pernas ainda estavam fracas.

***

Escutei a porta do quarto se fechar atrás de mim para, enfim, desabar no chão com as lágrimas tomando conta do meu rosto. Melissa se sentou do meu lado, tirando minha bolsinha do meu pulso e a mesma cena de meses atrás na escadaria da saída de emergência se repetiu. Deitei no seu colo e suas mãos começaram a acariciar os meus cabelos.

- Pode chorar à vontade, amiga... Eu estou tão em choque quanto você. Nem precisei fazer companhia a ele. Só consegui ficar com a cara colada no meu celular esse tempo todo depois que a sua mãe contou da surpresa.

Era tudo o que eu conseguia fazer: chorar a ponto de soluçar até não ter mais nenhuma lágrima.

- Eu não quero sair desse quarto, Meli! Não me faz voltar pra sala! - eu implorava, sentindo o meu rosto úmido e o silêncio dela me fez entender que não conseguiria atender o meu pedido - É assim que ele sentia saudades de mim??? Me enviava mensagens quase todos os dias dizendo que sentia a minha falta e agora faz isso??? - e continuava a chorar sem parar.

- Foi o que eu tentei te contar pelo telefone amiga, mas você não me deixou falar!!!!

Ainda deitada, vi a porta se abrir novamente e apareceu um par de tênis.

- Eu só não parti pra cima de você por causa dos nossos pais e dos convidados!! - ouvi a Melissa falar - TU TEM MERDA NA CABEÇA, FELIPE???? ME FALA!!

- Você vai me deixar explicar ou dar o seu show histérico?

- Não tem porra de explicação nenhuma!!! Olha só como a Nívea está!!!! O que tu vai fazer agora é convencer a minha amiga de sair desse quarto, coisa que ela não quer de jeito nenhum! É ISSO QUE TU VAI FAZER!

- Nívea, deixa eu te explicar... - ele se abaixou e tentou me pegar pelos ombros para que eu o encarasse - Olha pra mim.

- Não quero, me solta! - me agarrei na Melissa em um abraço quase sufocante - Não quero ouvir nada!!! Me deixa aqui!

- Sai daqui e me deixa com ela! Volta pra sala!

- Eu não vou ser o filho da puta da história!

- Filho da puta é elogio. - com a cabeça deitada no seu ombro, ouvi ela rebater.

- Vocês vão me deixar explicar ou não?? - mais uma vez ele perguntou firme e me virei ainda encostada perto do colo aninhada, com o rosto banhado em lágrimas.

- A minha curiosidade é maior e sempre ganha, então desembucha! - a irmã caçula disparou, abraçada a mim.

- Você lembra do dia que eu postei uma foto de uma xícara de café e um misto quente no café da manhã?

- Lembro. Eu estava pelo wifi do hotel na Flórida me arrumando para passear quando vi o seu story.

- Pois então. Naquele dia, naquele mesmo dia eu saí daqui de casa depois de tomar café e fui para a faculdade me reunir com o meu orientador e discutir com ele o trabalho final do curso.

- Entendi e daí?

- Daí que quando a reunião acabou e passei pela cantina, encontrei o Eric e a Luciana. Eles estavam sentados tomando café, era por volta das dez e meia e eu fui falar com eles.

- E aí você teve a brilhante ideia de convidar os dois? - eu ouvia quieta a conversa entre os irmãos.

- Você concorda comigo que seria uma grosseria convidar apenas o Eric e deixar a amiga dele de lado?

- Caralho, Felipe, você tinha que ter me avisado, me enviado mensagem, qualquer coisa...

- Tá certo, eu posso ter vacilado nisso mas depois desse dia eu comecei a resolver um monte de coisa pra hoje, focar no meu trabalho final e acabei esquecendo. E também não vi problema nenhum porque na noite anterior, encontrei com o Jacques e a Helena aqui na saída do elevador.

E continuou:

- Conversamos algumas coisas e então eu perguntei sobre você, Nívea... Se você iria voltar a tempo do meu aniversário. E sua mãe me disse que não.

- Como que o Eric reagiu ao convite? - me afastei do abraço da Melissa e comecei a enxugar o meu rosto.

- De início, ele ficou sem jeito de aceitar principalmente na hora que eu falei que você não estaria na festa.

- Você falou da Nívea na frente dela????

- Falei por impulso.

- Ela sabe sobre eu e o Eric, Meli.

- Ah sabe? - ela perguntou confusa e eu balancei a cabeça em um sim, terminando de limpar os olhos. - Uau, então eles realmente são bem íntimos.

- Eu não podia imaginar que os seus pais fariam essa surpresa pra mim, Nívea. Quando eu vi você ali na porta, eu pensei que não fosse conseguir sair do lugar.

- Os meus pais só me avisaram da surpresa quando eu estava saindo da casa dos meus avós indo para a estação de trem - expliquei ainda soluçando. - Fizemos uma chamada em vídeo.

- Pois é. Mas olha, eu adorei a surpresa. De verdade. - e me deu um beijo na testa - Apesar do que está acontecendo.

- Eu não vou conseguir voltar pra lá. - balancei a cabeça negando.

- Eu sei, mas você vai ter que ser forte.

- Eu posso me jogar da varanda? - questionei e ele riu.

- Vem, levanta. - ele se levantou primeiro e me ofereceu a mão me puxando pra cima - Vamos ter que inventar uma boa desculpa pra esse seu rosto inchado.

- E vamos sustentar a mentira. - Melissa também se levantou e foi até a sua mesa de estudos, deslizando o dedo no touchpad do notebook - Deixa eu abrir a pasta de fotos.

- Eu vou indo na frente.

- Fala pra nossa mãe que a Nívea teve uma reação alérgica com um perfume que eu trouxe de viagem.

- Tá bom. - ele concordou e saiu do quarto, fechando a porta.

- Vem no banheiro amiga, limpar esse rosto.

Entramos no banheiro e fui direto na pia lavar o rosto o máximo que eu pude para disfarçar o inchaço dos olhos.

- Eu te empresto uma maquiagem. Pode parecer incrível mas eu tenho alguma coisa.

- Obrigada.

- Meninas!!! - ouvimos a voz da Dona Cecília nos chamando já dentro do quarto. Ela e a minha mãe apareceram na porta do banheiro preocupadas.

- Meu anjo, o que houve? - ela segurou o meu rosto com as mãos - Felipe apareceu lá na sala contando que você tá com crise alérgica.

- Foi aquele perfume, Melissa?

- Foi, mãe. Daquela marca que comprei pra nós duas e você gosta, o Carolina Herrera. A Nívea colocou um pouquinho no punho e começou a espirrar sem parar.

- Seus olhinhos estão inchados, meu amor...

- Eu sei mãe, mas vai passar.

- Dá um anti-alérgico pra ela.

- Dou sim, mãe. Vou pegar no quarto do Felipe porque o meu acabou.

- Estamos esperando vocês na sala. Tem certeza que não foi nada mais grave? - Ela continuava a me observar.

- Tenho sim, Dona Cecília.

- Então tá. - elas saíram do banheiro nos deixando sozinhas novamente.

- Vai se maquiando enquanto eu pego a água e o remédio. - Melissa abriu a porta do pequeno armário de madeira embaixo da pia, me entregando uma nécessaire preta e saiu.

Depois de secar o meu rosto com uma toalha pequena, peguei os mesmos itens que eu usei no meu quarto e maquiei bem os meus olhos o mais preto possível. Estavam vermelhos de tanto que eu havia chorado. Ainda tensa, respirei fundo e consegui fazer o contorno, pintando o redor dos olhos com lápis de olho e a máscara de cílios deu um bom volume neles. Sem batom desta vez. Usei um pente que estava em um pote prateado perto do espelho para ajeitar os cabelos e terminei, lavando e secando as mãos, guardando tudo e colocando de volta no pequeno armário. Saí do banheiro indo me sentar na cama, pensando em como iria enfrentar aquela situação.

Se tudo aconteceu como o Felipe tinha contado, ele realmente não teve culpa. Seria sim muito indelicado da parte dele convidar apenas o Eric na presença da amiga. Eu sabia que o dia em que eu e ela nos encontraríamos iria chegar mas não desse jeito inesperado. Eu não estava preparada.

Melissa entrou no quarto com um copo de água nas mãos e me entregou, se sentando do meu lado.

- Vai te acalmar - falou enquanto eu bebia - Anti-alérgico o cacete - e riu.

- Obrigada, amiga. - terminei de beber e fiquei com o copo nas mãos pensativa - Você viu como ela é bonita?

- Ni, não pensa nisso... Ela é bonita mas você também é.

- Ela tá toda elegante com salto alto e eu assim, igual uma bocó. - abri um pouco os braços, me olhando de cima a baixo.

- E é desse jeito que o Eric gosta de você! Usando tênis rosa e vestido.

- Ela é simpática?

- Depois que ele apresentou ela pra todo mundo eu fiquei no celular porque eu não tinha onde enfiar a cara. Aí depois que a sua mãe me chamou e a minha mãe pro quarto, jogando a bomba que você estava chegando, eu não consegui prestar atenção em mais nada. Você me ligou e eu corri aqui para o quarto. Mas ela parece ser legal.

Suspirei e me controlei o máximo para não chorar novamente.

- Vamos voltar ou não?

- Não tem outro jeito. Vou ficar sentada e grudada na minha mãe.

- Isso.

***

- Desculpem a demora - falei no instante em que apareci na sala de mãos dadas com a Melissa e o celular em mãos. Eles dois estavam sentados na companhia dos meus pais.

- Vem cá filha, senta aqui. - minha mãe pediu sorrindo, batendo com a mão no assento do sofá e me sentei do lado dela e ficamos abraçadas. A ruiva se sentou no chão em posição de borboleta - A Luciana estava nos contando como ela e o seu professor se conheceram.

- Ah, sim... - desviei o olhar para baixo sem jeito e quando olhei para o outro lado, vi os donos da casa na varanda conversando com os amigos do aniversariante. A minha vontade era me encolher o máximo naquele sofá.

- Quando eu entrei em contato com ele para uma entrevista, sugeri que poderia ser por vídeo conferência mesmo dez anos atrás sendo algo mais precário e também com um horário pra encaixar pois havia a questão do fuso. Aí o doido aqui me disse que poderia voltar ao Brasil mas que precisava de algumas semanas até embarcar pro Rio.

- Uma boa entrevista precisa ser cara a cara. - ele explicou e eu tentei ao máximo não encará-lo.

- Eu sei mas e se você não fosse aprovado durante as três entrevistas?

- Estou acostumado a correr todo tipo de risco. - falou firme e olhou pra mim com um meio sorriso, me fazendo ficar com o rosto e o pescoço fervendo de vergonha.

Então ia ser isso mesmo? Troca de indiretas?

- Mas felizmente deu tudo certo, não foi? - minha mãe perguntou.

- Sim, foi ótimo. Eu estava me iniciando como Coordenadora da grade do curso de Letras e foi um desafio enorme essa fase de contratações. O currículo do Schneider me impressionou muito. Vinte e cinco anos na época e já com o título de professor universitário? Não podia deixar escapar.

Mesmo ainda em choque, observava o seu jeito simpático e amigável enquanto contava sobre o seu trabalho. Quanto mais eu a olhava, mais eu percebia como Luciana tinha um rosto perfeito.

- Mas e você, Nívea? - ela me perguntou - Como foram as férias?

- Ah - saí do abraço com a minha mãe, me sentei de lado e pus uma mecha de cabelo atrás da orelha - Foram boas. Viajei, fiquei na companhia dos meus primos, passeando por Lyon, depois Paris... O mesmo de sempre.

- Que bom, aproveitou bastante.

- Sim.

- A única vez que estive em Paris foi em Lua-de-Mel e fiquei por dez dias. E o meu amigo aqui - disse apontando para o Eric que sorriu - foi quem montou todo o roteiro turístico.

- Ah, você é casada? - acabei não resistindo à pergunta. Mais surpresas naquela noite.

- Eu fui. Por seis anos.

- Filha, que feio! - minha mãe apertou a mão - Não seja indiscreta!

- Desculpe... - abaixei o olhar.

- Imagina! Não tem problema nenhum. Eu converso sobre isso naturalmente.

- Uma pena você não ter ido pra Londres encontrar os seus amigos, món chére - meu pai mesmo atento ao seu celular, mudou a conversa - O Simon e a Denise comentaram comigo e com a sua mãe naquela noite do jantar.

- É, papa. Realmente uma pena. Eu poderia ter ido mesmo. - disse a última palavra diretamente para atingi-lo.

Nossa rápida troca de olhares foi o suficiente para que eu sentisse o quanto o Eric não estava gostando nada do assunto.

- Você e o Frederik se falaram durante as férias, meu anjo?

- Ele me enviou umas fotos da viagem logo que chegou na Inglaterra e então enviei também as minhas fotos em Praga.

- Que ótimo. - minha mãe sorriu e me deu um beijo.

- Não contei pra vocês. - meu pai nos observava - Aliás, o Simon falou comigo ontem.

- Sobre o quê?

- Frederik faz aniversário em janeiro.

- Sim, mas vou estar em Lyon. Ou talvez nos Alpes esquiando.

- Isso não é problema - ele sorriu - O que você acha de comemorar com ele e os seus amigos?

Aquele seria o meu momento e a mesma ideia da minha mãe poderia ser usada para mim.

- Verdade, papa! - dei um sorriso vitorioso - Eu posso chegar de surpresa se ele comemorar com festa ou em algum outro lugar! Não é demais, mãe?

- Perfeito, minha vida! Tá vendo só Luciana? Nívea herdou a minha inteligência.

- É, tô percebendo. - ela deu um meio sorriso e pegou a sua taça com vinho branco, na mesa de centro, dando um gole - Não foi apenas a beleza.

O meu momento com doses de deboche foi o bastante para os olhos do Eric virarem duas fogueiras. Mas eu não ia me deixar abalar.

- O único problema vai ser a vovó.

- Deixa que com a sua avó eu me entendo. - meu pai falou enfático - Se você vier pro aniversário dele, serão no máximo três dias no Rio e depois você volta pra Lyon. Teremos tempo até lá e o Simon disse que envia a sua passagem.

- Então tá legal! - dei um novo sorriso e quando olhei pra tela do meu celular, vi uma mensagem da Melissa.

- Amiga, tu tá brincando com a morte!

- Você ainda não viu nada. - digitei de volta.

- Frederik também é um ótimo aluno não é, professor?

- Sim, Helena. - ele cruzou as pernas em forma de quatro e vi o esforço para tentar responder a minha mãe de forma de mais simpática possível - Pelo menos na minha disciplina.

- E além disso ele é o representante da turma. - completei a resposta empolgada - super disciplinado, os alunos fizeram questão de que esse ano ele continuasse na função.

- Olha, na minha época, o representante da turma era excluído dos grupinhos de amigos porque tinha a má fama em ser puxa saco dos professores - Luciana explicou - Por isso eu nunca quis ser.

- Mas no caso do Frederik, ele é bem popular. Deixa eu te mostrar o motivo.

Fui até o Instagram dele e busquei uma foto em que ele estivesse sozinho com o rosto bem de frente para a foto. Cliquei em cima de uma que abriu, me levantei do sofá e fui até ela mostrando a tela de frente.

- Esse é o Frederik. - falei segurando o aparelho.

- Ah, meu Deus! - ela pôs a mão na boca espantada - Ele é lindo! Parece um príncipe escandinavo - e olhou para mim.

- Definição perfeita: um príncipe - minha mãe confirmou.

- É, mas eu e ele somos só bons amigos. - dei de ombros, voltando a me sentar no sofá.

Aquele jogo de indiretas o qual eu me senti vencedora não combinava em nada comigo, mas era o único jeito de sobreviver àquela noite sem enlouquecer. E assim eu iria ficar afastada do Eric pelos próximos dias. Por mais que eu quisesse mudar isso em mim, eu não conseguia. Sempre nesses momentos eu preferia primeiro fugir dos problemas do que resolver.

- Melissa, levanta do chão! - Dona Cecília voltou até a sala chamando a atenção da filha - vai lá na cozinha ver se a sua torta de frango está pronta! E traga duas fatias para professor e a namorada dele!

- O Schneider e eu não somos namorados! - ela riu com aquele comentário tão inesperado.

Doía ouvir aquilo. Respirei fundo e precisava sair dali o mais rápido possível.

- Me desculpem, não foi de propósito.

- Tudo bem - Eric sorriu - Já estamos acostumados com isso. Lá no Campus pensam a mesma coisa de nós dois.

- Eu vou na cozinha com você, Meli.

- Então vem - saímos ligeiras e quando eu entrei, precisava segurar o choro encostada em um canto para que as pessoas do buffet não percebessem nada.

- Não fica assim... - ela passou a mão pelo meu rosto enquanto eu mordia o lábio com os braços cruzados - Se eles são tão amigos como a gente tá vendo essa confusão é normal.

- Tô me sentindo um lixo, mesmo falando todas aquelas piadinhas.

- Tu vai voltar mesmo em janeiro só pro aniversário do Frederik? O Eric não vai mais querer olhar na tua cara se fizer isso.

- Não sei... Falei aquelas coisas pra fazer ele ficar com raiva mesmo.

- Depois a louca sou eu. Mas tá engraçado demais essas provocações! - e riu.

Peguei dois pequenos pratos com fatia de torta pra mim e pra Melissa enquanto ela pegava mais dois para servi-los. E eu precisava manter a personagem debochada que eu criei. A convivência todos os dias durante esses meses, observando o jeito extrovertido da Gabriele de ser, teria que servir de alguma coisa.

Voltamos para sala e no momento em que a Melissa entregou o pequeno prato a eles dois, Eric recusou.

- Tem certeza, professor? Não se lembra? É aquela torta de frango.

- Eu lembro, mas eu passo.

- Então, eu posso ficar com as duas fatias?

- Vá em frente.

- Oba! - e deixou um prato na mesa enquanto comia o outro.

- Você pode oferecer para outra pessoa, minha filha. É mais educado.

- Ah, mãe. Todo mundo sabe que eu sou a fã número um dessa torta. Alguém se incomoda?

Meus pais não fizeram questão da torta que seria do Eric e então Melissa como sempre saía ganhando para desespero da Dona Cecília.

Observei o móvel que tinha uma garrafa de vinho branco e três taças com a bebida. Meu momento tirar o Eric do sério deveria continuar. Deixei o meu prato com a torta do meu lado e peguei uma taça que estava virada para baixo e comecei a me servir, tentando segurar a vontade de começar a rir.

- Nívea... - ignorei o modo como minha mãe chamou o meu nome em forma de repreensão e continuei a encher a taça devagar.

- Larga essa taça de vinho agora, Nívea! - tomei um pequeno susto com a voz do meu pai. Era raro ele chamar a minha atenção daquele jeito.

- Poxa pai, só uma tacinha pra acompanhar com a torta!

- Larga essa taça!

- Droga! - fiz o que ele me ordenou e comecei a comer com a típica cara emburrada que o Eric gostava - Se fosse o meu tio Jérôme, ele ia deixar! - olhei para o meu pai junto de uma garfada e comecei a mastigar.

- Pensa que eu não sei o que você e os seus primos aprontaram em Praga?

- Eu não aprontei nada!

- Tem certeza?

- Tenho. A única coisa que eu e a Madeleine fizemos e isso foi engraçado - comecei a contar para todos na sala - foi ficar até duas da manhã dançando funk no quarto do hotel que nós dividimos.

- E que tal uma foto de vocês quatro em um restaurante local e um monte de taças de vinho tinto do lado dos pratos? Com a Louise no seu colo?

- Eu não tô acreditando que o Henry vazou aquela foto no grupo da família! - fiz o gesto facepalm fingindo estar irritada.

- Você sabe muito bem que eu só te autorizo a beber no Natal e no Ano Novo!

- Eu sei. - continuei de cara amarrada.

- Vou ter uma conversa séria com o seu tio.

- Sério que você dança funk? - Luciana me questionou curiosa - Você me parece tímida, mesmo conversando agora tão desenvolta com a gente.

- Então... Eu sou tímida em boa parte do tempo. O professor Eric tá de prova, não é professor?

- É... - ele respirou profundamente totalmente incomodado - A voz da senhorita Martin é a que eu menos ouço em sala.

- Viu só? O orgulho de aluna. - e continuei a comer sorridente e olhando pra ele - Eu faço aulas de dança também mas é pra perder calorias.

- Isso é ótimo. - ela sorriu.

- Tem coquetel de frutas sendo servido, meu anjo. - minha mãe falou acariciando o meu rosto.

- Não tem outro jeito, vou ter que beber né. - falei conformada.

Enquanto comia e evitando ao máximo encará-lo pensei se podia estar exagerando nas doses de provocações. Talvez estaria e iria me sentir muito mal depois disso, mas eu não podia voltar atrás.

Todos continuaram a conversar sobre outros assuntos. Terminei de comer a torta e fiquei novamente abraçada junto da minha mãe observando melhor aquela que se tornou a minha rival, a vilã da história, a bruxa malvada dos contos de fadas. Pelo menos na minha cabeça.

Para minha frustração ela não era nada disso. Luciana era uma mulher realmente dona de uma simpatia natural, bem humorada e durante todo o tempo me tratou com muita gentileza pois deveria estar curiosa em me conhecer melhor como o Eric havia me falado. Ela também se divertia muito com o jeito realmente debochado da Melissa de ser, rindo com todas as bobeiras que a minha amiga dizia.

Mas eu ainda não conseguia apagar a possibilidade deles terem algo mais além da amizade. Era uma guerra interna dentro de mim.

- Conheço a Jacqueline há muito tempo e sei que ela comanda aquele colégio no estilo linha dura - ela explicava - Só liberou o uso da maquiagem entre as meninas depois de muita pressão de alguns pais.

- Isso é verdade. - minha mãe concordou - Eu pessoalmente não via nada demais mas sendo um colégio tradicional e estrangeiro, compreendi as regras.

- Mas os uniformes ela mantém de forma rígida - continuei a conversa - a saia na altura do joelho no máximo um dedo acima.

- Ela não afrouxou mesmo as regras do uniforme? Não me surpreende.

- Gente, com licença - Felipe veio até a sala - Nívea, vamos tirar uma foto na mesa do bolo? Só falta uma com você.

- Vamos! - me levantei do sofá, indo com ele pra mesa e uma amiga dele posicionou o celular, fazendo a foto - Me manda ela pelo zap agora, pode ser?

- Claro. - fez o que eu pedi e voltou para a companhia dos amigos.

Recebi a foto segundos depois e a postei no meus stories, marcando o @ do Felipe com tags em português e em francês.

Me sentei onde estava e enquanto a conversa continuava, o inesperado aconteceu. Frederik me enviou uma mensagem por DM por baixo da foto recente que eu postei.

"Já voltou de viagem?"

Comecei a rir mas era de nervoso, chamando a atenção de todo mundo ali.

- Qual a graça, meu anjo?

Não respondi a minha mãe pois tinha que me concentrar em dar o golpe final. Puxei o contato dele no zap e abri um áudio.

▶️

"Oi Frederik, voltei sim. Tô no aniversário do Felipe, o irmão da Melissa." - falei olhando pra minha mãe que sorria, acariciando minha bochecha. E continuei - "Meus pais estão te enviando um abraço."

- Ah, legal. Manda outro pra eles. - ele digitou de volta - Você quer fazer alguma coisa amanhã? Último dia de férias, vamos dar uma volta pelo shopping, que tal?

- Posso chamar a Meli, não é? Gabi e o Patrick também vão?

- Claro! Eles vão também.

- Então peraí - digitei e me virei para a Melissa - Shopping amanhã amiga?

- A gente vai parar pra comer? - soltou a pergunta mais óbvia da face da Terra pra ela, fazendo a Luciana cair na gargalhada.

- Mas essa menina é sensacional - elogiou, continuando a rir - Uma pena ela não ser sua aluna, Schneider!

- Eu não sei se teria psicológico o suficiente para isso - ele se limitou a dizer fazendo todos rirem.

- Se a gente sair e você não comer né... - falei e comecei um novo áudio pra ele:

▶️

Frederik olha só. Eu tô aqui no aniversário mas morta de cansaço por causa da viagem. Amanhã eu ainda vou desfazer minha mala e arrumar tudo pro colégio na segunda. A gente pode até ir mas o que você acha no fim da tarde? Lá pelas cinco horas, pode ser?

Ele ouviu e me respondeu em forma de texto.

- De boa. Se você não puder ir, me avisa.

- Tá bom então. - respondi e finalizei a conversa com um emoji de beijo.

- Mãe, posso ir com Nívea amanhã?

- Pode. - Dona Cecília olhou sério para a filha e suspirou - Vou deixar você ir porque é o seu último dia de férias. Mas nós duas vamos ter uma conversa muito séria na segunda-feira de noite.

- Ué, sobre o quê?

- Cecília! - o padrasto interrompeu - Pode ir sim, minha querida.

- Já é.

- Pessoal, o papo entre vocês com certeza está bom mas daqui a pouco vai dar onze horas e vou cantar o Parabéns - Felipe voltou na sala anunciando.

- Uhuulll, bolo de chocolate! - a ruiva ergueu os braços com os punhos fechados vibrando - Já estava na hora.

- Pois é, o aniversário é meu mas quem escolheu o bolo foi ela.

- Claro! Se fosse você escolher, ia ser um bolo com sabor de nada!

- Para de implicar com o seu irmão - a mãe chamou a atenção.

Cantamos o Parabéns e logo depois um dos amigos do Felipe foram embora. Fiquei com a Melissa na varanda comendo nossas fatias de bolo. O recheio era de sabor prestígio e estava muito bom.

- Acho melhor eu ir pra casa... - terminei a última fatia e deixei o prato no meu colo, soltando um longo suspiro.

- Tem certeza? - Melissa me observava enquanto comia a sua segunda fatia do bolo - Vou tentar convencer o Lipe a ir pra Ipanema depois que os outros amigos dele forem embora também. Aí vocêsNão tem mais nós dois, Meli.

- Amiga... - ela me olhava triste.

- Eu só quero a minha cama. Eu estou mesmo cansada da viagem e não vou aguentar ver o Eric ir embora com ela.

- Tá bom. Vou cortar outra fatia de bolo pra você levar pra casa.

Fomos até a mesa do bolo e ela cortou um pedaço maior que eu tinha comido e colocou em um daqueles potes de plástico transparentes e barulhentos da mesma forma da fatia.

- Eu já vou pra casa - cheguei na sala de estar me despedindo de todos.

- Tá bom, meu amor. - minha mãe me pegou na mão - Eu e o seu pai vamos daqui a pouco. Você precisa descansar.

- Verdade, minha querida. - o pai do aniversariante concordou - e de novo, adoramos a surpresa! - eu apenas sorri.

- Durma bastante, viu?

- Vou precisar, Dona Cecília. - engoli em seco quando os meus olhos se cruzaram com os dele - Até segunda, professor.

- Até, senhorita Martin.

Uma única frase mas foi o suficiente para que eu sentisse o quanto ele estava frio comigo e o seu olhar sem nenhuma expressão. Mas pra mim era melhor que as coisas ficassem assim. O abismo que eu coloquei entre nós dois junto das provocações foi a solução que encontrei para lidar com tudo aquilo.

Sem que eu esperasse, Luciana se levantou, veio até mim e me deu um beijo no rosto.

- Adorei ter conhecido você, Nívea. É realmente uma menina linda em todos os sentidos.

- Obrigada.

Eu não podia mais negar que ela era mesmo muito gentil e cheia de qualidades. O que me fazia ficar mais confusa porque sendo daquele jeito que era, Luciana ganhava pontos com ele.

- Está convidada para ir um dia visitar o campus. Aliás, vocês duas. - fez o convite à Melissa que estava do meu lado.

- Vamos sim. O meu irmão se forma no fim do ano e eu ainda não conheci onde ele estuda.

- Mais um motivo. - e sorriu, piscando para nós.

- Quem sabe um dia - achei melhor não dar certeza - Boa noite, gente. - me despedi uma última vez de todos e dei um abraço na minha amiga. Sem encará-lo uma última vez.

***

Com os cabelos molhados do banho, sentada no meio da cama e de pijama cor de rosa, eu observava com muita tristeza os dois presentes comprados para o Eric. Eu tinha certeza de uma coisa: que não era nada criativa na hora de presentear as pessoas que eu gostava. Mais uma vez, dois pequenos livros para dar de presente a ele. Mas ao invés de poesias, era um livro de crônicas sobre Lyon. Seria um jeito de mostrar para ele um pouco da cidade francesa que eu aprendi a amar desde sempre.

Peguei os dois livros, saí da cama e fui guardá-los no fundo da minha mochila do colégio para quem sabe um dia, dar o meu carinho e amor na forma que ele mais gostava: as letras.

Olhei na tela do celular que estava na cama e nada. Nem uma ligação perdida ou mensagem. Seu status no zap era online. Todo o teatro que eu montei com a intenção de irritá-lo deu certo mas e se fosse para sempre? E se o Eric terminasse o nosso namoro? Senti as lágrimas novamente tomarem conta dos meus olhos e escorrerem pelo meu rosto.

De repente, apareceu uma chamada na tela mas infelizmente não era ele. Deslizei o dedo para aceitar e pus na orelha.

- Oi, Meli.

- Amiga, então. Sei que tá um pouquinho tarde mas eu tô indo com o Fê pra Ipanema. Você não quer ir?

- Não, amiga. Eu já tô de pijama, vou dormir daqui a pouco.

- Tem certeza? A gente espera você trocar de roupa.

- Tenho.

- Tá bom.

- Eles foram embora juntos? - eu não podia ir dormir sem saber.

- Foram. Saíram daqui tem uns quinze minutos. Eu desci com eles e o Fê até a portaria. Aí ele aproveitou e convidou eles dois para assistirem a apresentação do trabalho final do curso e aceitaram. Ela até queria ir embora de uber mas ele fez questão de levar ela para casa.

Engoli em seco e todas as sensações ruins que me dominaram logo no instante em que eu a conheci tomaram conta do meio do meu peito.

Comecei a chorar no telefone, com a mão na boca tentando segurar o soluço.

- Ni, não chora, por favor. Não vai acontecer nada entre eles. Afasta esse gatilho da sua cabeça...

- Não consigo... - e secava as lágrimas com a mão - A única coisa que eu queria era dormir e não acordar nunca mais.

- O Eric te ama.

- Será que ainda ama?

- Tenho certeza. E vou torcer para você sonhar com ele.

- Obrigada amiga. Te adoro.

- Eu também. Um beijo e descansa.

- Vou precisar. Beijo.

Encerrei a ligação, deixando o aparelho no meu criado-mudo e fui até o interruptor apagar a luz para enfim, dormir e descansar o que eu precisava. Adoraria mesmo sonhar com o Eric, com os seus beijos, com todo o seu carinho comigo. Nos sonhos em que ele aparecia para mim, não havia espaço para a tristeza e para as dúvidas. Só havia amor.

***

- Filha... - ouvi a voz da minha mãe, baixinho no meu ouvido e seu abraço em forma de conchinha - Meu amor, já são dez horas...

Abri lentamente os olhos e senti o seu beijo no meu rosto. Me virei na sua direção e mesmo com os meus olhos inchados, tentei olhar naquele mar azul lindo que eram os seus.

- Dormi demais... - falei ainda sonolenta.

- Eu sei, mas foi bom pra você.

- Foi. - eu realmente me sentia melhor com o corpo menos cansado.

- Você e o papai já tomaram café?

- Sim... - ela me olhava como se estivesse me analisando.

- O que foi?

- Eu e o seu pai queríamos conversar com você, meu anjo.

- Aconteceu alguma coisa?

- Aconteceu, mas eu não fiz de propósito.

- Como assim? - aquela conversa fez a sonolência desaparecer.

- Vem comigo. - ela saiu da cama me puxando pela mão e eu imediatamente fiz o mesmo, calçando os chinelos.

- Mãe - olhei para ela já em pé - Tá tudo bem?

- Vamos conversar.

Saímos de mãos dadas do meu quarto até o escritório do papai e quando entramos, ele estava sentado no sofá de dois lugares nos esperando. Quando me viu, ele continuou sério.

- Bonjour, papa.

- Bonjour, mon chére.

- Senta. - minha mãe pediu e eu me sentei do lado dele. Ela foi até a gaveta da mesa do computador onde abriu e segurou algo nas mãos, colocando no bolso do seu hobby de seda preta, me impedindo de ver o que era.

O silêncio que se fez, começou a me incomodar e eu não fazia ideia do motivo daquela conversa que eles queriam ter comigo no meio da manhã. Minha mãe puxou a cadeira e se sentou de frente para mim continuando séria.

- Hoje de manhã, um pouco mais cedo, eu entrei no seu quarto e vi que você estava dormindo profundamente e então fiquei com pena de te acordar.

- Podia ter me acordado.

- Sim, mas achei melhor deixar você dormindo. Eu olhei a sua bagagem aberta e vi suas roupas e outras coisas por alto, não mexendo em nada. Mas uma coisa me chamou a atenção. Estava em uma bolsinha anexada em forma de rede com um zíper. - ela colocou a mão no bolso e me mostrou - Uma cartela de anticoncepcional.

Olhava para a sua mão aberta e não encontrei as palavras para explicar.

- Repito meu anjo, eu não fiz de propósito, não bisbilhotei nada. Eu apenas vi.

- Há quanto tempo você está tomando isso, Nívea? - o tom de voz sério do meu pai me assustou.

- Pai, eu posso...

- Meu amor, fica calmo! - minha mãe pediu - Somos os pais dela e precisamos entender o que está havendo.

- Por favor, não fiquem com raiva de mim!

- Não estamos com raiva. Só queremos saber. Conta para nós... Há quanto tempo?

- Um pouco mais de um ano - abaixei a cabeça e engoli em seco.

- Filha... - a voz da minha mãe era um misto de indignação e espanto - Por que não conversou comigo e com o seu pai?

- Eu fiquei com vergonha. - e mais uma vez as lágrimas rolaram pelo meu rosto.

- Você está tomando isso por conta própria?

- Não, papa. Eu fui na Doutora Márcia, a que cuida de mim desde sempre.

- Quando foi isso?

- Foi no ano passado, um pouco antes das férias de julho. Eu fui com a Melissa em um dia de sábado que ela estava atendendo.

- Devia ter me contado, meu anjo. Eu sou a sua mãe.

- Desculpa. Mas não sabia como contar e eu já estava com idade para começar a me cuidar.

- Eu sei que estava.

- Você está namorando alguém, filha? - meu pai me perguntou pegando na minha mão - Algum rapaz do colégio? Ou ele é de Lyon e vocês se encontram nas férias?

- Não, eu não estou namorando, eu juro! Mas é que...

- O quê?

- Eu comecei a tomar apenas pra me proteger. Se eu conhecer algum menino e começar a namorar. - expliquei a mentira e eles apenas me observavam - Vão me deixar de castigo?

- Claro que não, minha vida. Apenas queríamos saber por você e se tem mais alguma coisa que queira nos contar.

- Não.

- Mesmo?

- Sim.

- Então precisa ir este ano se consultar de novo.

- Vocês se importam se eu ir com a Melissa?

- Não quer que eu te acompanhe? Acha que pode assumir essa responsabilidade?

- Obrigada, mãe. Mas eu posso sim.

Eu não podia deixar que ela pudesse descobrir que não era mais virgem e principalmente querer saber o responsável por ter me feito mulher.

Mas eu estava aliviada por tirar o peso deste segredo que estava em cima de mim há mais de um ano.

- Notre princesse está crescendo, Helena - meu pai me puxou para mais perto dele e me beijou nos cabelos - Parece que foi ontem que eu a levei para esquiar a primeira vez quando era criança.

- Crescendo e se tornando mais responsável como sempre foi. - minha mãe sorria e me entregou a cartela das pílulas - Eu apenas fico triste porque esse é o preço que eu pago por trabalhar tanto. Não saber o que se passa com a minha própria filha.

- Você não precisa ficar triste. Eu estou bem e vou marcar a consulta quem sabe para o próximo sábado.

- Ótimo.

- Ficamos um pouco chocados quando descobrimos mon chére, por isso o motivo dessa conversa.

- Entendi, não tem problema. E aproveitando, eu queria pedir uma coisa à vocês, posso?

- O quê você quiser.

- No dia que eu começar a namorar, eu quero que vocês o respeitem e o aceitem, seja ele quem for.

- Nívea, então...

- Ela tá certa, meu amor. - minha mãe se sentou do meu lado, me fazendo ficar entre eles dois e me deu um abraço, no que eu encostei minha cabeça no seu colo - Temos que respeitar o coração dela.

- Certo. - ele suspirou não muito conformado - Mas que ele seja um bom rapaz, que te ame e te respeite.

''Mesmo sendo vinte anos mais velho?'' - pensei enquanto o abraço dos dois me sentia ficar acolhida. Achei melhor não me torturar com aquilo.

- A mesa do café ainda está posta pra você.

- Obrigada mãe, vou comer alguma coisa.

Dei um beijo no rosto de cada um e saí do escritório, fechando a porta de propósito e fiquei encostada perto dela apenas esperando.

- Por que concordou com ela, Helena?

- Porque a Nívea é a minha, a nossa filha e devemos respeitar quem o coração dela escolher! Você viu o que acabou de acontecer? Não sabíamos o que se passava com ela esse tempo todo!

- Vai aceitar que ela namore outro rapaz que não seja o menino Frederik?

Eu ouvia a confirmação do óbvio.

- Devemos aceitar quem ela escolher! Não estamos mais na Idade Média, Jacques, por Deus!

- Pois eu vou continuar com a esperança de ver os dois juntos!

- Não vou te tirar isso, eu também vou torcer pelo mesmo mas devemos nos preparar caso o contrário aconteça.

Suspirei, balancei a cabeça em um não e saí da porta, indo até a mesa de jantar para tomar café. Depois daquela conversa que tinha tudo para ser tensa mas felizmente não foi, o meu dia de domingo e último das férias estava começando.

Terminei de desfazer a minha mala logo depois de almoçar e depois comecei a arrumar o meu uniforme do colégio e a minha mochila. Separei os presentes que trouxe para os meus pais e para a Melissa. Passei todas as minhas fotos de viagem para o meu notebook e assim o meu celular nunca ficava com a memória sobrecarregada, além de enviar para os emails pessoais dos meus pais. Eram fotos em Praga, fotos e vídeos curtos que eu fiz por Lyon, momentos de rotina com toda a família do meu pai, o passeio por Paris e a Disney da cidade... Perdi a noção do tempo enquanto visualizava cada registro. As fotos serviram muito para me distrair e não me fazer pensar em coisas que me entristeciam.

Ouvi a batida na porta e ao ver quem era, Melissa entrou, me dando um beijo e se sentou na minha poltrona do lado da mesa de estudos onde eu estava sentada.

- Conseguiu dormir?

- Bastante.

- Que bom. E vocês se falaram?

- Não. - minimizei uma foto e me encostei na cadeira, relaxando o meu corpo, pensativa. - Acha que eu exagerei ontem? Com as provocações?

- Um pouco. Nem parecia que era você. Mas como eu te disse, foi engraçado! - Melissa continuava a me olhar - Posso te falar uma coisa, Ni, você não vai ficar brava comigo?

- O quê?

- Eu achei a Luciana legal.

- É, eu sei, eu também. E estou me sentindo uma idiota. Agora já era, eu sou a última pessoa que o Eric deve querer ver na frente dele.

- E como você vai encarar ele amanhã na aula?

- Normal, ué, como sempre foi. Eu fico muda durante a aula inteira.

- Entendi. Nós vamos ao shopping hoje ou não?

- Não sei, que horas são? - perguntei e quando fui olhar a tela do celular na mesa levei um pequeno susto - Caramba, três e meia! Você quer ir?

- Eu só vou se você for.

- Eu queria continuar de bobeira em casa, sem fazer nada.

- Então a gente fica.

Peguei o celular e enviei uma mensagem para o Frederik dizendo que não iria encontrar com ele, o Patrick e a Gabi no shopping pois queria continuar passando o domingo descansando. Minutos depois ele me enviou um áudio e nós duas ouvimos.

▶️

"Tranquilo Nívea, eu sei como é. Como eu cheguei de viagem uns dias antes, eu tô mais de boa. Eu tô indo daqui a pouco pra lá e vamos ficar na loja de games. Na verdade vai um grupinho aqui do condomínio, o pessoal de sempre. Mas se você mudar de ideia, encontra com a gente lá, beleza? Vamos ficar até a hora do shopping fechar."

- Cara, o Frederik não existe. - a ruiva comentou - Se fosse outro, iria ficar enchendo a droga do seu saco pra você ir.

- É... - fiquei com o celular na mão após ouvir o áudio - O príncipe escandinavo como ouvimos ontem.

- Bom, já que o seu jogo de provocações perdeu a graça, vou para casa.

- Você e o Fê, voltaram cedo?

- Não, meu padrasto ligou pra gente e combinou de sairmos pra almoçar fora, passeio em família e tal. Saímos de lá, direto pro restaurante e aí voltamos pra casa.

- Legal - sorri, me virei para cama e fui pegar a pequena caixa de cor bege com um laço vermelho de enfeite lhe entregando - Toma, é pra você. Uma caneca desenhada com a Notre Dame de Fourvière, o cartão postal de Lyon.

- Ah, amiga, obrigada. Vou colocar para decorar o meu quarto - ela me olhou com doçura - e boa sorte amanhã.

- Merci, vou precisar.

***

Sentada na mesa do refeitório eu olhava o meu prato na mesa e mal tinha tocado na comida. Comi apenas algumas batatas fritas e pedaços pequenos de bife. Em pouco menos de uma hora eu e ele ficaríamos frente à frente como em todas as segundas-feiras. Era motivo suficiente para que eu não sentisse fome, mesmo quando era um dos meus pratos favoritos. Depois da noite de sábado em que tudo se resumiu a um turbilhão, eu não tinha vontade de nada. Somente a minha concentração nas primeiras aulas da manhã que eram o meu refúgio.

- Tá tudo bem, Nívea? - Frederik me olhava e me perguntou preocupado - Você não comeu quase nada...

- O quê? - voltei pra terra firme - Ah, eu não estou com muita fome.

- Tá triste com alguma coisa?

- É aquela tristeza que bate sempre que as férias acabam - era uma desculpa que colava.

- Ah, amiga eu sei como é! - Gabriele dava garfadas na sua salada colorida e mastigava - Eu fico deprimida assim também mas só quando eu volto de Paris - dizia com a mão cobrindo a boca - Londres foi legal mas nada se compara à Cidade Luz.

- Sim, principalmente quando você acha que a cidade é apenas a Champs-Élysées - o irmão não perdia a chance de fazer uma piada que me fez rir e ela lhe mostrou a língua - Nívea, posso então comer as suas batatas?

- Pode. - empurrei o meu prato para perto do dele no que ele colocou as batatas perto das almôndegas de carne que tinha pego para almoçar.

- Sabia que nós três viramos notícia na Internet?

- Como assim, Frederik?

- Vou te enviar o link.

Peguei o meu celular e a mensagem dele era o link de mais um site de famosos. Quando eu abri, era a seguinte notícia:

Gabriele e Patrick Medeiros são flagrados no aeroporto Internacional desembarcando no Rio após viagem de férias em Londres.

Os filhos do casal mais famoso do jornalismo nacional, Gabriele e Patrick Medeiros (16) desembarcaram no aeroporto internacional do Rio de Janeiro na última quinta-feira após passarem as férias escolares na terra da Rainha. Ao lado da avó Raquel Medeiros, mãe de William e do amigo Frederik Bertrand (16), filho da Diretora Editorial da Literação, Denise Bertrand, os irmãos foram flagrados saindo pelo saguão do aeroporto no meio da tarde.

Gabriele usava uma calça jeans rasgada, sandália rasteira de cor marrom e blusa vermelha tomara que caia. De óculos escuros, com os seus inconfundíveis cachos e exibindo um visual despojado, ela é considerada uma das maiores influencers da atualidade entre as adolescentes. Seu perfil no Instagram conta com quase 100 mil seguidores. Já o seu irmão, estava de chinelos, bermuda jeans, blusa branca. Mais avesso à fama, ele estava ao lado da avó e do amigo. Os três amigos de infância são vistos juntos com frequência. E isso inclui viagens durante as férias.

- Nossa, que legal. Vocês ficaram bem nas fotos. - comentei enquanto olhava as imagens.

- São um bando de urubus, isso sim! Não tem nada de relevante para fotografarem e ficam fazendo esses flagras inúteis em aeroporto.

- São paparazzis Pat, é o trabalho deles! - a irmã tentou explicar e ele bufou enquanto comia as batatas.

- Vocês vão pro jardim depois que terminarem de almoçar? - perguntei.

- Podemos ir, se você quiser. - a doçura nos olhos do Frederik era encantadora.

- Eu vou até o banheiro e fazer uma ligação mas aí eu encontro com vocês.

- Vamos ficar por aí Nívea, o Lugar Secreto meio que já perdeu a graça.

- Tá bom, Gabi.

Saí da mesa e fui até o banheiro escovar os dentes e ajeitar os cabelos. Como eu iria precisar de papel e caneta para o tal telefonema, fui para a biblioteca e entrei em uma das salas reservadas que continham o que eu precisava.

Busquei o contato da Doutora e fiz a ligação. A secretária que atendeu:

- Boa tarde, a Doutora Márcia possui horário para o próximo sábado?

- Temos uma desistência no horário das onze da manhã, posso te encaixar?

- Ah, pode sim. Horário perfeito!

- Mas você precisa chegar na hora, certo?

- Certo. Irei sem falta.

- Qual o seu nome?

- Nívea Caroline - e com o nome passei os dados do meu plano de saúde.

- Está certo, Nívea. Marcado então.

- Obrigada.

Anotei o dia e a hora no papel em branco, guardando na minha bolsa e deixei a caneta de volta no pote no meio da mesa. Pensei de estar sozinha na sala mas me enganei no instante que me virei e o vi parado na porta. Aqueles olhos, o rosto perfeito... E todo vestido de preto... A blusa social marcava os seus braços fortes e a calça marcava a parte do corpo de onde eu fiz de tudo para desviar os meus olhos.

- Eric? - engoli em seco - Quero dizer...

Bonjour professeur.

Ele sorriu de canto e deu um passo à frente, fechando a porta da pequena sala.

- Posso saber para quem você estava ligando? Marcação de consulta, acertei?

- É coisa particular minha... Por quê?

- Porque eu ainda sou idiota o bastante para me preocupar com você.

- Idiotice é ouvir a conversa dos outros.

- Eu estava sentado ali fora e vi você entrar, não tenho culpa se deixou a porta da sala aberta.

- Dá licença, eu preciso voltar. Meus amigos estão me esperando e não podemos ser vistos aqui. - tentei me aproximar da porta mas ele me impediu. O toque das suas mãos nos meus braços me fizeram arrepiar por inteira e o seu perfume delicioso me causou as mais deliciosas reações entre as pernas que há mais de um mês eu não sentia.

- Só quero saber se está tudo bem...

- Está! - falei firme - Não precisa se preocupar comigo.

- Vamos ficar assim então? Com essa geleira entre nós dois?

- Vamos! Você já tem companhia para todos os sábados pelo resto da sua vida!

- Eu não vou discutir isso com você.

- Ótimo. Então me deixa passar.

- Se prefere as coisas do seu jeito de sempre que é fugindo, que seja.

Nos olhamos uma última vez e finalmente ele saiu da minha frente me deixando sair. Felizmente a recepção estava vazia e não havia ninguém na biblioteca.

Seríamos apenas professor e aluna e não saberia dizer por quanto tempo ficaríamos nesta situação, distantes um do outro. Por mais que a Luciana demonstrasse não ser uma pessoa perigosa na nossa relação, eu ainda não estava pronta para lidar com a presença dela.

Continua...

Nota da autora: Então, gente. Teremos momentos delicados pela frente. Como será que nossa princesa vai lidar com essa voadora de dois pés chamada Luciana Monteiro? Para uma adolescente da idade dela não deve ser fácil.

Maaaas em todo momento eu sinalizei que não seria. Os meus seguidores do Instagram que o digam 😉

*Notre Dame de Fourvière = Basílica localizada em Lyon com toda vista para a cidade.

Contato: a_escritora@outlook.com

Instagram: /aescritora_

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Foto de perfil de Ana_EscritoraAna_EscritoraContos: 63Seguidores: 174Seguindo: 34Mensagem "Se há um livro que você quer ler, mas não foi escrito ainda, então você deve escrevê-lo." Toni Morrison

Comentários

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Nossa! Que capítulo maravilhoso! Aguardo ansiosa o desenrolar do drama que está rolando entre os dois amantes. Marcela Alencar

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Muito tenso esse capítulo. Agora o coisa da cartela de pílulas, dentro da bolsinha. Como a mãe achou se não mexeu? No mínimo estranho né. A cada dia gosto mais da Melissa.

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Achei tensa a parte que os pais descobriram as pílulas da Nívea.👀

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Uau, esse encontro foi um verdadeiro tiro, porrada e bomba hein? Amei ❤

Vamos ver como será daqui pra frente.

Melissa, sério... Sem comentários hahahahahahahahaha. Tudo na vida dela se resume em comida. Não julgo, faço o mesmo.

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