Acordei quase uma da tarde. Quando me mexi, meu corpo doeu, minha cabeça latejou. Fiquei imóvel por um tempo, mas devagar fui me espreguiçando, e consegui levantar. Minha casa demonstrava os resquícios da noitada anterior. No quarto a cama desarrumada, lingerie espalhada, uma lata de cerveja na mesa de cabeceira, duas camisinhas no lixo, as embalagens delas pelo chão. Na sala dois copos sujos, as latas em cima da mesa, meu vestido vermelho jogado no sofá. Me arrastei até a cozinha, fiz leite com chocolate, tomei devagar com uma aspirina, me sentia muito enjoada. Sentei na sala e liguei a televisão com volume baixo, deitei um pouco. Aos poucos fui me sentindo melhor, e resolvi arrumar a bagunça. Juntei as latas, joguei no lixo da cozinha, lavei os copos. Troquei a roupa de cama suada por uma limpa. Guardei os sapatos, as meias e a cinta liga. Lavei a calcinha e o sutiã na mão e coloquei pra secar. Ajeitei as minhas maquiagens. Ainda estava toda dolorida, então resolvi tomar um banho quente relaxante.
Quando tiro a camiseta e me olho no espelho fico assustada. Estou toda marcada. Meu braço está roxo, outras marcas roxas no meu pescoço, muitas marcas nos meus quadris, de apertos beliscões e unhadas. Minhas costas estão arranhadas, quatro linhas que vão da base do meu pescoço até o meio das costas. Gustavo não foi gentil, carrego no corpo as lembranças de seus arroubos mais brutos. Fico assustada. Não gostei nada disso. Tomo um banho bem quente, demorado. Nos lugares que o Gustavo cravou as unhas em mim a espuma do sabonete arde quando esfrego. Me seco com uma toalha macia. Passo uma pomada cicatrizante por todos os machucados, espero que sumam logo e que não fique nada permanente. Estou com raiva, como eu deixei ele fazer isso comigo? Teria sido a cerveja que me anestesiou? Esconder essas marcas no pescoço amanhã na faculdade vai ser complicado. Visto um shorts e uma a camiseta largos, passo o restante do dia deitada.
Penso muito sobre a noite que tive com Gustavo. Fico ao mesmo tempo com muita raiva e medo do que passei. Como eu deixei ele me tratar desse jeito? Eu também não gostei de ser chamada de vadia. Eu estava altinha, mas não acho que estivesse bêbada. Isso não podia e não iria se repetir. Não posso receber qualquer um em casa. Se fosse alguém realmente violento? Eu não tenho força suficiente para resistir. Estou sozinha nessa cidade, meus parentes estão a muitos quilômetros daqui. Alguém sentiria minha falta se algo acontecesse? Tenho que escolher muito bem a partir de agora, um rostinho bonito pode ter um outro lado que eu não goste.
Mas tive minha segunda experiência. Apesar de tudo eu gostei. Senti muito menos dor, fiquei muito mais a vontade comigo mesma. Não gozei, o que foi bom, não fez falta. Percebo que meu prazer está em ser desejada, ser submissa, em dar prazer, fazer um homem gozar. E ele gozou duas vezes. Dei de quatro, cavalguei. Dei duas vezes na mesma noite, e a segunda vez fluiu bem mais fácil. Sinto certo orgulho do meu desempenho, estou me desenvolvendo como mulher. Finalmente beijei um homem. Fui forçada no começo, o que eu não gostei, mas gostei da experiência de ser beijada e de beijar. Sexo fica muito mais gostoso com beijo, minha primeira regra acabou de cair. Só resta uma, mas essa nunca vai cair, não suportaria ser tocada lá por um homem. Eu nem gosto muito de me tocar lá pra falar a verdade, muito menos ainda durante o sexo. O que eu quero como mulher? Que tipo de homem realmente me atrai?
Começo a pensar o que eu quero em um homem. Meu tipo de homem ideal, é mais velho, paciente, experiente, educado. Tem que ser alto, totalmente ativo e realmente me tratar como mulher. Eu me dou conta que sou romântica... portanto quero um homem romântico, gentil... mas que também seja dominador. Não pode ser nada violento, tem que me tratar bem, como uma princesa. Não quero ficar saltando de homem em homem, além de perigoso, não faz realmente o meu estilo. Quero um caso fixo, um namorado. Ele pode ser solteiro ou divorciado, pode até ter filhos, mas quando estiver comigo tem que realmente estar comigo. Tem que respeitar minha faculdade e minha vida dupla, ainda dependo da minha família. Estou com dezoito anos, faço dezenove só no outro ano, então penso que meu homem ideal deve ter mais de trinta e menos de quarenta. Tenho um metro e setenta e adoro usar salto alto, então esse homem deve ter no mínimo um e oitenta e cinco, por aí , pois mesmo de salto quero ficar mais baixa que ele. Me dou conta que estas características são mais importantes pra mim que beleza. Sei que ele estaria aí a minha procura, bastava encontrá-lo.
E eu preciso cuidar melhor de mim. Levar a vida de menina a sério. Vou a internet e começo a pesquisar uma rotina de exercícios para coxa e bumbum. Decido também adicionar alongamento. Quero ter coxas e bunda maiores, e quero ser mais flexível. Decido que é hora de começar meu treinamento de tight lacing. Sem pensar duas vezes, tiro minhas medidas, encomendo meu corset de treino e faço o pagamento online. Faz algum tempo que venho juntando dinheiro pra isso, e faço sem remorsos. Decido cortar refrigerante, frituras, fast food do meu cardápio, a partir de hoje muita água mineral, saladas, comida com o mínimo de carboidrato possível, muita fruta. Quero estar mais feliz e a vontade com meu corpo.
A partir de então estabeleci uma rotina diária rígida. Acordava mais cedo, escovava os dentes, tomava um copo de água. Executava meus exercícios, começando pelos alongamentos, seguidos de abdominais, agachamentos, exercícios de coxa e bumbum. Ao terminar tomava outro copo de água, e entrava no banho. Me arrumava pra faculdade, tomava um café da manhã com um iogurte funcional, um copo de leite de soja, uma fruta. No intervalo da faculdade tomava um suco natural sem açúcar. Almoçava num restaurante por peso próximo a faculdade, muita salada e um pedaço de frango ou peixe grelhado. Em casa trocava de roupa, me apertava no corset pelas próximas seis horas, estudava, cuidava da casa, navegava na internet pesquisando tutoriais de maquiagem e moda, assistia televisão. No meio da tarde tomava outro copo de leite de soja, um pedaço de ricota ou fruta. De noite um chá com adoçante, três bolachas de água e sal e um pedaço de fruta. Eu ainda dava um jeito de passar a uma ou duas horas no bate papo a procura do meu futuro namorado, mas sem sucesso. As primeiras semanas dessa rotina foram difíceis, mas depois do primeiro mês tudo ficou mais fácil, quase natural.
Gustavo tentou me procurar. Eu o tinha bloqueado no Whatsapp, e ele ligou várias vezes. Deixava tocar e não atendia. Não queria falar com ele. Eventualmente as marcas daquela noite sumiram, mas as marcas na minha lembrança permaneciam. Era melhor assim, não nos falarmos mais. Tal como César, Gustavo era coisa do passado.
O tempo foi passando, chegou o recesso de meio de ano da faculdade e não fui pra casa da minha mãe, dei a desculpa que estava fazendo um estágio. Com o tempo comecei a notar algumas mudanças no meu corpo. Dois meses da minha rotina tinham começado a ficar aparentes. Eu sequei, fiquei um pouco mais magra, minha pele estava melhor também. Meus braços e minha cintura ficaram mais finos, minhas coxas e bumbum maiores e mais firmes, ao ponto de eu ter que comprar duas novas calças jeans, mais largas, pra ir a faculdade, minhas antigas marcavam demais minha bunda. Aos sábados linha adquirido o hábito de tomar uma hora de sol deitada na pequena área de serviço de casa, com a parte de baixo do biquíni , e dessa forma quando percebi eu já tinha uma leve marquinha. Meu cabelo já estava uns 4 dedos abaixo dos ombros. Pensava muito seriamente em tomar hormônios femininos mas tinha medo. Tinha comprado meu primeiro pênis de silicone e o usava de duas a três vezes por semana, e aprendi a me conhecer e me controlar muito melhor. Coloquei piercing no umbigo, algo que eu sempre sonhei em ter. Estava cada vez mais bonita, feminina... e solitária. Todos os dias procurava pelo meu futuro namorado nas salas de bate papo, mas sem nenhum sucesso.