Era muito, muito gostosa. Enfiada numa microssaia, que revelava volumosas coxas brancas, ao caminhar notava-se as reentrâncias inferiores das nádegas a lhe escapar da sumária veste. A blusa, generosamente decotada, tanto na frente quanto de lado, deixava aos olhos gulosos e disfarçados o deleite de imaginar os pequenos seios soltos. Era loira e linda – mas não vulgar –, de olhos fixos no celular; só levantava para pegar alguma fruta, conferir algum preço.
Eu fazia compras rápidas, no setor de frutas e verduras do supermercado, quando percebi, do outro lado da gôndola, aquela deusa. Contive-me e procurei me concentrar no que eu estava fazendo. Minutos depois, ela passava ao meu lado, deixando atrás de si um delicioso aroma de mulher cuidada. Acompanhei, o quanto me permitiu a dissimulação, o requebro de seus quadris, respirei fundo e voltei à escolha das batatas.
– Que mulher gostosa, não?!
O comentário vinha de um homem jovem, ao meu lado. Decerto conseguira flagrar meus olhares gulosos. Emiti alguns grunhidos ininteligíveis (até mesmo pra mim), e continuei escolhendo agora tomates. Se alguém percebera meu olhar, era melhor eu ficar quieto, pois não estava conseguindo ser discreto o bastante. E não estou mais em idade de encarar constrangimentos dessa natureza.
Circulando entre as frutas, eu analisava agora as bananas, já esquecido do lúbrico episódio, quando, ao colocar uma palma no carrinho, vi, duas gôndolas adiante, o homem ao lado da gostosa. Pareceu-me que lhe dizia alguma coisa, disfarçadamente. Com certeza ele era mais ousado e menos tímido do que eu e estava dando em cima da gata. Bom pra ele. Aquilo reforçou minha decisão de ficar na minha.
No setor de frios, eu aguardava a vez para solicitar minha muçarela, quando ela passou ao meu lado e se dirigiu para o final da fila. Estou ficando maluco ou ela deu uma secada básica em mim? Ah, é maluquice, só pode! Onde se viu uma mulher dessa composição olhar para um coroa sem graça e introspectivo feito eu – principalmente quando tinha um homem mais jovem e ousado no seu encalço?!
Liguei no modo aleatório, saquei o celular e comecei a navegar, sem, no entanto, atinar com nada que aparecia na tela. Uma ou duas vezes lancei olhares disfarçados em visão geral, e ela também navegava, circunspecta. Mas teve uma vez que nossos olhares se cruzaram. Devo ter avermelhado, e desviei imediatamente os olhos para o vendedor que perguntava o que eu desejava (eu já estava desejando era comer aquela mulher, mas era mais fácil e sensato falar ao atendente do meu desejo pela mercadoria).
Após ser atendido, peguei mais um ou outro item, e, quando me dirigia ao caixa, vi, de longe o carinha novamente falando pra ela; ela interagia e aquiescia com a cabeça. Concluí que eles teriam farta refeição logo mais – ele também era bem gostosinho – e me voltei para o celular, procurando disfarçar o volume que se pronunciava sob minha bermuda.
Eu me dirigia para meu carro, no estacionamento, ainda pensando no inusitado daquela situação. Pensamento rápido, que se esvaiu quando sentei ao volante e liguei o som – Roupa Nova abafa qualquer outro interesse que vagueia em nosso juízo. Por isso sobressaltei-me ao ouvir leves pancadas no vidro; era o rapaz, pedindo, por gestos, para descer o vidro. Meio ressabiado, mas já pronto para qualquer reação, atendi seu pedido.
Na verdade, ele conhecia a gostosa. Chama-se Flávia. Dividem o apartamento. São estudantes de Geologia da Federal. Disse-me que hoje era o aniversário dela e que ela queria comemorar de forma diferente e inesquecível; ficara interessada em mim, mas achava que eu não queria nada. Ele estava dando uma de cupido, mas se eu não estivesse a fim, que desculpasse o incômodo e tal. Eu estava completamente sem ação, sem saber o que dizer.
– Vocês são um casal? – perguntei, para falar alguma coisa.
– Ah, não... Somos apenas amigos... Eu sou gay...
Ele deve ter se tocado o quanto confuso eu estava.
– Olha, a gente está indo pra casa agora. Se você estiver a fim, está convidado para nossa festinha íntima; pode nos seguir, se desejar. Se não, tudo bem. Desculpe pelo incômodo.
E foi se afastando devagar; parou, deu meia volta e chegou perto de mim novamente:
– Mas era muito massa se você quisesse, viu?
Dirigiu-se, agora em definitivo, para um carro parado logo adiante.
Enquanto ele manobrava para sair, minha cabeça fervia. O que era aquilo? Estaria realmente acontecendo? Mil coisas me passaram pelo juízo, desde uma pegadinha até um sequestro. Mas resolvi segui-los – pareceu-me seguro. Qualquer coisa que se revelasse suspeito, eu simplesmente me desviaria e seguiria meu caminho.
Não andamos muito; logo seu carro parou na frente de um condomínio de luxo. Ah, era uma dondoquinha que queria se divertir um pouco, no dia do seu aniversário. Por que não? Minha pica ereta parecia já aprovar a loucura que se prenunciava. Eles pararam na portaria, falaram alguma coisa com o porteiro e ele apontou para meu carro, naturalmente autorizando-me a entrada. Seguindo-os, passei pelo porteiro, que me cumprimentou sorrindo, e pelas belas alamedas, bem cuidadas e floridas.
Parando na frente de um bloco, ele me indicou uma vaga ao lado. Descemos quase ao mesmo tempo e nos encontramos numa espécie de hall. O “cupido” tratou de fazer as apresentações. Chamava-se Danilo e ela era Flávia Renata. Murmurei que me chamava Cláudio. Ele estendeu-me a mão e, com ela entre as suas, abraçou-me, sorridente. Ela, que não tirava os olhos verdes de cima de mim nem um discreto sorriso dos lábios, deu-me um cordial abraço, estalando um beijo no meu rosto. Seu perfume envolvente mexia com meus hormônios – ela provavelmente sentiu minha rigidez. A alegria e o espalhafato de Dan (como preferia ser chamado) nos conduziram ao elevador.
Confesso que eu não sabia exatamente o que dizer, e, pelo jeito, nem Flávia. Mas Danilo se encarregava de preencher todos os espaços, falando pelos três. Ao desembarcarmos no seu andar, dirigimo-nos à porta do ap, aberto através de senha digitada em teclado fixo à porta. Era aconchegante, discretamente decorado, pufes pela ampla sala, felpudos tapetes, sofás macios. Gente turbinada, imaginei.
A voz de Flávia era deliciosa, ela parecia falar gozando, meio sussurrando – mas sem forçar nada. Perguntou se cabia um vinho, enquanto se dirigia à cozinha, seguida por Danilo com as compras, que depositou sobre a mesa. Voltaram à sala minutos depois, ele já bebericando seu vinho; ela, com uma taça em cada mão, ofereceu-me uma – ao estender seu braço, a blusa mostrou-me os mais belos seios que já vi na minha vida, mas ela não pareceu se importar com o lance; apenas sentou-se na minha frente – e não pude evitar de acompanhar o branco de sua calcinha sob a curtíssima saia.
Eu e minha pica nos perguntávamos, intimamente, o que rolaria naquele ambiente que se prenunciava tão inebriante...
E se você está tão curioso quanto eu, precisará esperar um pouco até a segunda parte deste conto, que não dá pra contar tudo de uma vez...