Caralho. Eu sou muito burro. William e Felipe mostram uma gama de documentos para nós. A Izzy desistiu de entender há muito tempo. A Nicky acompanha atentamente, até descubro que ela fez faculdade de administração, então, compreendia um termo ou outro.
Eu quero ajudar mais o Miguel, porém, isso está além do meu conhecimento. Sou um jumento que largou o ensino médio e passou a se prostituir. Droga! O meu celular apita e chama a atenção de todos. É uma mensagem de um cliente.
***
Roberto:
Quero muito você hoje. Dou 300.
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— Inferno! — grito, chamando a atenção de todos. — Opa, desculpa. Tenho uma reunião de trabalho.
— Reunião, esse horário? — questionou William, prendendo os cabelos com uma liga da Izzy.
— Sim, eu...
— O Stefano trabalha em uma startup. — Miguel me corta e mente para os amigos. Eu nem fico chateado, porque faria a mesma coisa.
— Sim. Vocês podem ficar à vontade. Vou me arrumar. — levantei e deixei o grupo.
Tomo um banho rápido. Coloco as minhas melhores roupas para a reunião da startup. Pensando bem, eu sou um empresário, mas vendo o meu corpo, ou seja, o Miguel não mentiu, porém, sentiu vergonha da minha profissão.
Pego o vidro de "Kaik", o perfume que uso à noite. Passo no pescoço e pulsos. O Miguel entra no quarto. Por um minuto, eu paro o que estou fazendo e olha para o meu colega de quarto.
Como ele não diz nada, eu coloco o relógio e um chapéu branco para combinar com o meu look.
— Desculpa, Stef. — lamentou Miguel.
Droga. Aqueles olhinhos verdes são penetrantes. O Miguel é um cara franzino. Parece aqueles cachorros que caem do caminhão de mudança. Ele está usando um moletom verde pastel, uma roupa que realça o seu cabelo rosa.
— Desculpa? Você não me ofendeu. — tentei desconversar.
— Eu menti para os meus amigos. Só não quero que ninguém te julgue. você tem sido tão bom comigo.
— Você se importa, você se importa se eu sou um garoto de programa?
— Eu não tenho porque me importar, Stefano. Você é um cara turrão, mas no fundo é doce e tem um ótimo coração. Essas qualidades são mais importantes que um trabalho. — Miguel argumenta, me deixando sem palavras. — Esses últimos dias só provam a minha teoria.
— Tudo bem. — disse. — Está desculpado.
Eu dou três passos e abraço o Miguel. Os meus braços conseguem dar a volta nele. O Miguel é um cara delicado. Eu não coloco muita força no abraço. O perfume dele é doce e embriagante.
— Eu só me importo com o que você pensa. — digo no ouvido dele, então, saio do quarto e sigo para mais uma noite de trabalho.
Eu estou louco. Não existe outra explicação para a confusão mental que se instaura dentro de mim. Podem me mandar para a porra do hospício. Nunca deixei ninguém driblar os meus sentimentos, quer dizer, o Miguel não é ninguém, né? Ele é especial. Ele é único. Ele me deixa louco de tesão.
Ok. Eis que vai me questionar: "mas, Stefano, você é garoto de programa, logo, deve viver com tesão?". Eu não fico com o pau duro 24 horas por dia. Eu não penso em sexo 24 horas por dia. Na maioria das vezes, preciso tomar um remédio para enrijecer o meu pênis. Nas outras, ele apenas obedece, como se fosse um ator preparado para subir ao palco. Enfim, o meu trabalho.
Mais uma noite de sexo. Pelo menos, consegui um bom dinheiro. Retornei para casa e não havia mais ninguém. Sentei no sofá. Os sentimentos conflitantes ainda batiam dentro do meu coração. Puta que pariu, Miguel, está me fazendo pensar em sentimentos. Maldita hora em que te ajudei.
Suspiro fundo e sigo para o quarto. O Miguel está na cama. Desde a madrugada em que ele me abraçou, o Miguel pegou para si a missão de cuidar do meu sono. Vou para o banheiro e tomo um banho demorado, enrolo tudo o que posso para não ter que encará-lo.
Nas pontas dos pés. Eu ando no quarto nas pontas dos pés. Não quero acordar o Miguel. Ele dorme encolhido, parecendo um sushi humano. Deito na cama, porém, a missão fracassa. Sinto um braço me envolver. O cheiro dele é doce. Um cheiro que vou sentir falta.
— Você demorou mais que o normal. — comentou Miguel com uma voz sonolenta, sem abrir os olhos.
— Tive que tomar um banho reforçado. — menti, quer dizer, em partes.
— Eu durmo melhor com você aqui. — ele diz, antes de apagar.
O Miguel se alinha em meu peito. A respiração dele faz cócegas. A respiração dele é lenta e compassada. A respiração dele me faz dormir. Apago. Mais uma noite sem pesadelos. Será que o Miguel é um curandeiro? O Q.I dele é alto. Não duvido de nada.
No dia seguinte, acordamos com um calor intenso. Levanto e pego o celular. 33º graus. Caralho! 33º graus em pleno inverno. Eu não acredito. Um sorriso se forma em meu rosto. Corro no meu guarda-roupa e escolho uma sunga bem estilosa. A peça em questão é uma slip curta azul, ou seja, um modelo mais cavado e com laterais bem estreitas. Ela deixa o meu pacote mais em evidência.
O Miguel senta na cama e coça os olhos. Ele não entende muito bem, mas caralho o clima está perfeito. Não tem o que entender, apenas sentir. Vou para o banheiro e troco de roupa. Quero aproveitar o sol matutino, segundo os especialistas é o melhor para a saúde.
No apartamento, existe uma parte descoberta. Acho que o proprietário amava o sol também. Da cozinha, o Miguel conversa com as meninas que explicam a minha paixão por climas quentes.
— No Pará, na terra do Stefano, o Sol é tipo um habitante. — conta Izzy, passando um café na frente do fogão.
— O Pará é quente. — destaca Miguel.
— A região Norte do país, né? — questiona Nicky, tomando uma xícara de chá.
O sol me abraça. Ele é forte, amarelo e imponente. Não existe uma estrela mais brilhante que o sol. Uso o último bronzeador do estoque, sempre renovo no verão, mas ainda temos alguns meses. O cliente de hoje vai ter uma grata surpresa. Por algum motivo, os clientes preferem os GP's bronzeados. Eu já tenho um tom de pele moreno, mas fico mais gostoso bronzeado.
Gosto tanto de me bronzear que esqueço do problema "Miguel". Ok, o meu amigo não é um problema. Eu só preciso administrar melhor os meus sentimentos por ele. Ainda mais agora que os amigos dele apareceram na jogada.
Cozinho por duas horas, só que o calor se torna intenso demais. Tomo uma ducha rápida e encontro os meus amigos na cozinha. O Miguel está comandando o fogão. A receita da vez é uma salada fria com peixe. Ele sempre surpreende na cozinha. Vou sentir falta disso.
— Olha só, o novo moreno do Tchan. — comenta Nicky, aplaudindo e assobiando.
— Moreno de quem? — indaga Miguel, sem tirar os olhos da panela.
— Ah. — suspira Nicky. — Esqueci que você tem 20 anos. — lamenta. — Vamos assistir algo de interessante. — pegando o controle e zappeando pelos canais da TV da cozinha.
O peixe está lindo. Eu tiro várias fotos para postar nas redes sociais. O Miguel não consegue olhar para mim. Concentra a sua atenção na Izzy e Nicky. O que está acontecendo? Será que eu fiz alguma coisa? Os meus questionamentos são esmagados pela TV.
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REPÓRTER:
Em 24 horas, a cidade de São Paulo passou pelo dia mais frio deste inverno com 5ºC nesta quinta-feira para o mais quente com 33ºC na manhã desta sexta-feira. De acordo com informações do Instituto Nacional de Metereologia, a onda de calor vai estacionar neste final de semana, ou seja, usem protetor solar.
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— Isso é coisa da mudança climática. — afirma Nicky, servindo o prato com um pedaço de peixe.
— Verdade. O homem está destruindo tudo. No caso, os heteros. — brinca Izzy dando uma risada sarcástica.
— Vamos pegar uma praia? — sugiro chamando a atenção de todos.
— Praia? — questiona Izzy com a boca cheia de salada.
— Sim. Precisamos descansar. Agora que os amigos do Miguel estão aqui, o plano vai seguir com sucesso. Pode ser a última vez que faremos algo juntos. — explico, na intenção de conseguir a aprovação de todos.
— Eu não vou sumir. — afirma Miguel, parando de servir o seu prato e levando uma das sobrancelhas.
— Qual é, garoto zumbi. Você vai ter que assumir os negócios da sua família. — digo com uma dor no meu peito, mas disfarçando.
— Vamos para a praia! — grita Nicky nos assustando.
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KLAUS (PALHAÇO):
Ei, bebê. Esqueceu de mim? Estou indo para Santos no final de semana. Acho que os deuses climáticos estão ao meu favor. Manda uma mensagem.
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— Puta que pariu. — solto ao ler a mensagem, então, pego o celular e mostro para os outros.
— Bem, Stefano. Pegue todas as tuas melhores sungas. Vamos para a praia. — Miguel diz, olhando para a mensagem na tela do celular.
