[Eduardo, 12h]
– Que tipo de conversa você acha que vamos ter agora? – eu disse perplexo com o que meus ouvidos acabaram de ouvir. Felipe se virou para mim e nossos corpos estavam separados.
– Eduardo, não é fácil pra mim ver meu amigo se afastando por causa de nós dois – ele disse com bastante sinceridade – Eu amo você e quero continuar com você, mas me dói ver o Carlos triste.
– Você acha que isso é culpa minha? – perguntei
– Claro que não! – ele respondeu rapidamente – Mas ele vê um problema em você estar comigo nesse momento, mesmo que não tenha, entende?
– E o que você quer fazer? – perguntei cruzando os braços e simplesmente não acreditando que o maior problema que estou tendo na cidade é um cara que não aceita ver seu amigo namorando. Juntei minhas forças para terminar aquele momento e saí do banho pra me trocar e ir embora.
– O que você está fazendo? – perguntou Felipe vindo atrás de mim
– Eu não quero ter essa conversa – respondi
– Eduardo! - disse me puxando pelo braço – Não faz isso.
Posso dizer que já não era mais eu agindo naquele instante. Sinto que todas as minhas expectativas foram quebradas como um vaso de vidro arremessado contra a parede. O cara que eu mudei de estado pra viver pra sempre não sabia o que fazer em relação a nós dois porque com certeza ama mais seu amigo do que eu. Eu certamente amei o Felipe mais do que qualquer outra pessoa em toda minha vida, mas naquele dia, naquele momento, naquele segundo, eu não queria vê-lo nunca mais. Eu o deixei pra trás e sabia que não conseguiria me alcançar pois ainda estava nu; o bater da porta era um momento de pausa que precisava naquele momento.
[Felipe, 12h10]
Eduardo simplesmente saiu pela porta e sumiu. Ele não olhou para trás porque não queria sofrer mais. Eu me odeio por ter esse dilema para resolver, odeio não poder amar em paz a pessoa que mais me ama agora. Por que tem que ser assim? Por que tudo o que é bom é tão difícil de se conquistar? Quero amar mas não posso desprezar minha amizade de infância. Não posso ignorar meu melhor amigo. Preciso consertar isso. Preciso vê-lo. Por enquanto estarei sem a confiança de Eduardo, mas sei que vou tê-lo de volta.
Depois de algumas horas pensando no que fazer e sem notícias nenhuma do Edu, decidi me levantar e chamar a única pessoa que eu consigo conversar sobre tudo e todos.
[EU]
Natália!
Apareça por favor!
****
Natália era uma viciada em me dar vácuo mas nunca me deixava na mão quando eu precisava.
[NATOLA S2]
Oi amigo
Que foi???
[EU]
Eduardo sumiu
[NATOLA S2]
Como assim sumiu???
[EU]
Eu o magoei e ele saiu de casa
Estou há horas sem saber dele
Deve estar perambulando pela cidade
[NATOLA S2]
Felipe, que história é essa?
Você fez o quê?
[EU]
Amiga
Carlos está chateado com o nosso namoro
Ele está se sentindo em segundo plano
E eu disse pro Eduardo que ele estava sendo um problema
[NATOLA S2]
FELIPE
Você é um imbecil!
Caralho, você é muito idiota!
[EU]
Natalia!!
[NATOLA S2]
Natália o cacete!
Como que você vai falar isso pro cara que tá te amando velho!
[EU]
Amiga, eu abri o jogo pra ele saber que isso também me afeta
[NATOLA S2]
Eu sei
Mas se você falou pra ele desse jeito
Ele deve estar achando que você não quer mais ficar com ele
Porque ele é um problema
[EU]
MAS NÃO FOI ISSO QUE EU QUIS DIZER!
[NATOLA S2]
Sua anta!
Você deveria resolver o Carlos primeiro
Depois conversar com o Eduardo sobre isso
VOCÊ MAGOOU O HOMEM DA SUA VIDA FELIPE!
[EU]
E agora???
[NATOLA S2]
Olha
Eu entendo de verdade sua amizade com o Carlos
Ele também é meu amigo, muito meu amigo
Mas abre os olhos dele, Felipe
[EU]
Como assim?
Eu já tentei falar com ele
[NATOLA S2]
Felipe
Tá tão na cara que o Carlos gosta de você
*****
Eu fiquei em silêncio por alguns segundos no chat porque eu não queria acreditar naquilo. Carlos jamais poderia ter sentido atração por mim. Eu nunca tinha sentido nenhuma atração por ele pelo menos, sempre fomos muito próximos mas nunca tive desejos por ele.
[EU]
Natália
Não tem como isso
[NATOLA S2]
Amigo
Eu sei que deve ser estranho, mas a gente só fica mal assim quando sabe que perdeu alguma coisa, ou alguém…
[EU]
Devo perguntar pra ele então?
[NATOLA S2]
Você deve ser o amigo que sempre foi
Não esconda nada e seja compreensivo com tudo o que ele está passando
[EU]
Eu vou conversar com ele
[NATOLA S2]
Faz isso
Depois eu tenho certeza que o Eduardo vai voltar
E você vai ter que provar que ele é quem você ama
Para de magoar o cara
[EU]
Você acha que eu fiz de propósito?
[NATOLA S2]
Não!
Mas eu acho que você poderia ficar um pouco mais quieto
Aff você é um bocão
[EU]
KKKKKK
Natália, eu te amo
[NATOLA S2]
Vai atrás dos teus macho e resolve isso logo
Quem dom você tem de deixar as pessoas putas
Caralho, parabéns pra ti
KKKKKKKK
[EU]
Vai se foder kkkkk
Te amo, tchau
[NATOLA S2]
Tchau!!!
******
Desliguei meu celular e fui para a casa do Carlos, num fim de tarde bem alaranjado para ser bem sincero. Essa parecia uma cena vinda direto de um filme dramático, mas eu sei muito bem que filmes não retratam nada bem a vida real. Queria que tudo acabasse bem para todo mundo igual nas animações da Disney.
Como eu disse, a casa do Carlos era bem legalzinha, o bairro era muito bem protegido e poderia ser que eu tivesse problemas pra entrar sem o aviso prévio do meu amigo, mas a sorte estava comigo e o porteiro do condomínio era o Seu Gil. Ele acompanhou a minha infância e a do Carlos quase que desde sempre, meio que sempre estávamos pelas ruas andando pra lá e pra cá. Foram ótimos tempos.
– Opa! Felipe! – exclamou Gil – Quanto tempo não lhe vejo rapaz
– Pois é seu Gil, eu estive fora uns tempinhos aí
– Me lembro de tê-lo encontrado no evento na casa do Seu José Carlos meses atrás somente
– Isso! – concordei – O pai do Carlos
– É verdade, ele é pai do seu amigo – relembrou – Você veio vê-lo?
– Sim, seu Gil – consenti
– Não recebi nenhuma notificação mas acho que não precisamos disso né meu jovem – disse pois sabia da nossa amizade – Vocês dois são como carne e osso!
– Nada mudou.. – menti, mas queria logo entrar – Posso entrar?
– Claro que pode! – disse Gil e abriu o portão do condomínio para mim – Garoto, mande um abraço para seu amigo, hoje ele entrou aqui com uma cara bem abatida, mas sei que os tempos ruins precedem momentos de grande alegria – finalizou Gil e confesso que senti uma certa emoção pela simplicidade de um velho que não sabe o que se passa, mas descreve tão claro uma grande verdade.
– Seu Gil, pode deixar – confirmei sabendo que provavelmente veria uma versão bem apática de Carlos. Toquei a campainha da casa dele trezentas vezes e nada de alguém aparecer, e, comecei a pensar que ele estivesse me ignorando, afinal ele consegue ver quem está na porta pelas câmeras de segurança. Eu olhei para uma delas que estava no canto superior à minha direita e fiz a minha cara de deboche. Uma luzinha vermelha acendeu na câmera. Era o que acontecia quando ela é desligada por alguém.
Ele desligou na minha cara! Claro que eu não era idiota e toquei a camainha mais trezentas vezes e quando menos esperei, o barulho da porta eletrônica soou e finalmente consegui entrar. Carlos estava sentado, apoiado na árvore onde se assemelha a uma jardim no quintal, olhando para as nuvens alaranjadas. Eu calma e lentamente me aproximei dele, sentando ao seu lado naquela gigantesca árvore de fundo de quintal.
Olhei pra ele mas ele só observava o céu.
– Você acha bonito ignorar seu melhor amigo depois de ter visto ele chamar por 30 minutos? – perguntei
– Eu acho que fiquei surpreso de te ver aqui – respondeu seco.
– Ué, por que?
– Ah, porque você tem outra pessoa pra passar o tempo agora uai
– Carlos
– Felipe, não quero mais falar sobre nada disso, sério mesmo
– Foda-se! – insisti – Você não quer conversar mas aí você se afasta! Eu não quero que você se afaste, somos amigos, Cadu! Entendeu? Somos amigos!
Ele me olhou no mais profundo que consegui sentir e simplesmente levantou, deu de costas e saiu andando, mas eu não ia deixar ele fugir de novo. Corri para sua frente e o empurrei contra a árvore, mesmo resistindo, eu o pressionei tentando fazê-lo parar de vez. Aquele debate era de raiva mas também era de tristeza, até que houve um momento em que ele desistiu de lutar e eu segurei seu rosto.
– Olha pra mim – eu disse segurando seu rosto e senti seus cabelos suados nos meus dedos enquanto me aproximei mais ainda e tão suavemente meus lábios estavam colados nos dele. Ele estava rendido enquanto eu o abracei porque eu não queria vê-lo sozinho de novo. Nós dois éramos mais que amigos naqueles minutos, nós éramos muito mais que um instante no tempo....
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Olha quem voltoooooooooooou!!! Recuperei minha conta gente!! Ai que felicidade!! Espero que vocês gostem e se divirtam porque agora vai rolar muuuuita coisa!
Kimi