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Depois da minha inesquecível tarde de sexo com Leticia, fiquei com a autoestima bem elevada, por um momento, até me esqueci de que faltava ferrar com Mantovani, aquele que me chamava de “irmão generoso”, porém, apesar de querer pegá-lo há meses, a minha jogada só poderia ocorrer na renovação do contrato de sua empresa com a minha.
Uma pena que já no começo da semana, Leticia teve que viajar para a terra da família para passar as festas de fim de ano e o canalha que também tinha parentes lá, foi junto. Após uns dias sem sinal dela no meu Whats, no dia 24, recebo um áudio com um trecho de uma música cafona.
“Eu sei que foi só uma transa, mas sua lembrança me deixou assim, querendo ter você de novo, agarrada em mim. Desculpe se eu senti saudade, mas me deu vontade, eu não sei fingir.
Logo em seguida, ela mandou um áudio rindo e dizendo: “Música sertaneja é brega demais, mas de tanto que tocaram essa ontem no almoço aqui, acabei ficando com esse trecho na cabeça que tinha te mostrar, porque resume o que estou sentindo aqui esses dias em relação a você. Desculpa por não mandar mensagem antes, mas a internet tá zerada na fazenda e se eu ligar direto, sempre tem um bicão. Me conta como você está?”.
Apesar de realmente meu gosto musical passar longe música sertaneja, confesso que me senti feliz com a mensagem, só tinha medo de ir rápido demais e um dos dois sair chamuscado. Conversamos um pouco e Leticia disse que só voltaria no dia 4 ou 5 de janeiro.
Foi o Natal mais solitário que passei, mesmo tendo condições de viajar para diversos lugares, fiquei em São Paulo, mas sem Adriana, minha filha, e querendo distância dos amigos, pois para mim, essa palavra fazia cada vez menos sentindo. Decidi passar na casa de meus familiares, mas como todo ano, é insuportável e logo alguém bebe demais ou começa a sessão cutucadas. Fiquei pouco tempo, me irritei e fui embora, definitivamente, minha família era tóxica, bem diferente da que tentei criar com Adriana e Andressa e mesmo assim, deu no que deu. Só falei com minha filha pelo telefone. Foi difícil passar aquele noite e o próprio dia 25 sozinho no meu sofá, comendo uma ceia encomenda em um buffet.
Na virada de ano, levei Andressa para a praia, lá ele pôde brincar com amiguinhas no prédio em que ficamos e foi uma virada bem gostosa, apesar dela falar sempre que queria a mãe e eu juntos.
De volta a São Paulo, em pleno dia 3, Adriana me ligou e disse que havia um comprador para a nossa chácara, esse era o único bem que ainda tínhamos em comum, nenhum dos dois quis comprar a parte do outro e demorou um tempo para vendê-lo, porém eu teria que viajar no dia seguinte para o local para assinar a papelada. Claro que não aceitaria ir no mesmo carro com ela, então cada um foi no seu e nos encontramos lá.
Já na chegada, notei um clima diferente no ar, Adriana parecia chateada, mas eu nem quis parar pensar no que era, estava pouco me fodendo. Na frente do comprador e do pessoal do cartório, ela começou a tentar adiar a venda, inventando mil e uma desculpas, como dizer que ainda tinha algumas coisas para retirar, porém o comprador disse que ela poderia ficar com a chave e entregar depois, mas ela seguiu querendo adiar. Até que me irritei e disse que não tinha viajado duas horas para fechar o negócio e agora ela desistir, se queria ficar com a chácara, deveria ter me dito antes e comprado minha parte. Acabamos vendendo e o agora novo dono disse para minha ex que ela poderia ir lá pegar os objetos que quisesse. Fui junto, pois também tinha que explicar as mudanças para o senhor que cuidava da chácara.
Creio que Adriana foi ficando nostálgica ao olhar a chácara pela última vez, para mim, sinceramente, era um alívio, pois uma coisa que aprendi em comprar imóveis na praia ou no campo é que você tem duas alegrias, uma quando compra e outra quando vende. É bem melhor alugar um local bom quando quiser ir viajar do que ter que ficar pagando IPTU, condomínio, manutenção e mais um monte de coisas, sendo que acabamos usando tão pouco. Após uma longa sessão se despedindo e pegando alguns objetos, minha ex, visivelmente nervosa, se atrapalhou com uma porta de armário da cozinha e não conseguia fechá-la, notei que ela iria quebrar, então pedi licença, mas ela não aceitou. Adriana tentou, tentou até que explodiu, dando um grito e quebrando a porta, depois atirou um prato contra a parede espatifando-o. Não aguentei e perguntei espantado:
-O que é que está acontecendo com você, hoje? Pra que tudo isso?
- Não me enche! Você não sabe de nada! Vou embora daqui.
Vendo-a tão nervosa, preocupei-me que pegasse a estrada naquele estado e tentei brecá-la, dizendo para se acalmar antes, mas Adriana soltou um berro furioso e mostrou os dentes como se fosse uma fera tentando intimidar um inimigo. Definitivamente, ela não estava bem, achei que tivesse quebrado o pau com o “amor da sua vida” ou talvez estivesse me escondendo algo muito sério, pensei até em algum problema de saúde que tivesse descoberto. Por sorte, ela tinha deixado a chave do carro em cima da mesa e num gesto rápido, coloquei em meu bolso, dizendo que primeiro ela teria que se acalmar.
Adriana veio para cima de mim, mostrando os dentes e começou a dar socos em meu peito e braços, depois partiu para o bendito armário e começou a atacar o que via contra a parede, corri para segurá-la, pois nunca tinha visto ela agir assim, quando ela atirou uma travessa de porcelana, um pequeno estilhaço acabou, voltando e passou a centímetros do meu olho esquerdo e fronte, fazendo um corte na lateral da minha cabeça, um pouco acima da orelha, no momento nem senti, eu tinha que fazê-la parar, pois minha ex parecia estar em surto. Agarrei-a e levantei-a segurando-a pelas pernas e tratei de tirá-la da cozinha para a sala, no caminho, ela foi berrando e dando fortes socos em minhas costas. Eu a coloquei no sofá e comecei a berrar com todas as minhas forças, mandando-a parar, minha intenção é que ela voltasse à realidade. Adriana então olhou muito assustada para mim, apontando para a minha orelha:
--Sua orelha...É sangue!
Passei a mão e só aí notei que o estilhaço tinha feito um corte. Adriana se levantou desesperada atrás de um pano, chorando e voltou já tentando ver como estava o local e querendo me limpar. Puxei o pano da mão dela e me afastei. Ela entrou em choque com seu próprio surto e ficou estancada na sala com as mãos na boca, chorando e sem acreditar no que tinha feito. Fui ao banheiro e tentei lavar o local do corte que apesar de pequeno, teimava em continuar sangrando.
Voltei para a sala e Adriana estava deitada no sofá. Acho que a tensão do momento deve ter mexido comigo, senti dificuldades para respirar e me deitei no chão da sala. Acredito que ficamos ambos ali por meia hora sem falar nada, apenas estáticos. No começo da série, descrevi como era Adriana fisicamente, mas talvez um componente que ajude a criar uma melhor identificação verbal dela é o fato dela se parecer muito com uma atriz chamada Elizabeth Banks, mas isso quando atriz era mais nova, 2008 por aí. Muita gente comentava a semelhança especialmente de rosto, eu agora via ali, aquela mulher linda, aparentando ter ficado louca. O longo período de silêncio foi quebrado por ela que passou a falar deitada no sofá como se estivesse em um divã:
-Sabia que seria difícil, mas é infinitamente pior do que eu pensava. Sempre fui a perfeita, desde criança, a garota prodígio, a moça linda e inteligente, a profissional exemplar que se casou com o par ideal. Com todo esse currículo, largar um casamento feliz e ir morar com outro num estalo, com certeza, eu seria atacada. Ninguém aprovou e estão certos, como explicar que está tudo bem com você e de repente aparece um homem que te encanta de um jeito que te faz jogar tudo para cima como que se fosse uma hipnose? Não, não era sexo ruim o que eu tinha, ao contrário, não era falta de companheirismo também, então como explicar? Se eu não consigo entender, como outros entenderão? Não tá fácil, Paulo, esse final de ano, eu senti muito a sua falta, não só na hora da ceia ou dos fogos, mas na preparação, lembro como a gente gostava de preparar tudo, a Andressa ainda pequeninha encantada com os enfeites. Esse Natal foi péssimo, na casa dos meus pais, todos olhavam para mim e para o Alexandre como intrusos, conversavam, mas com uma frieza cortante. Mas o que mais me doía era pensar no que você estava fazendo, se estava sozinho, o que faria se estivéssemos juntos. O Alexandre não tem culpa de nada, ele está tentando de tudo para dar certo, mas acho que a conta do meu erro chegou.
O desabafo de Adriana ainda durou mais alguns minutos, eu só ouvia, olhando para o nada. Quando ela finalmente acabou e notando que eu não disse nada, perguntou:
-Não vai dizer o tradicional “eu te avisei”. Já chorando novamente.
Ao invés de responder o que ela pensou, foi minha vez de divagar:
-Sempre pensei que sendo um marido e um pai diferente do que foi o meu e me casando com uma boa esposa, as coisas fluiriam bem. Ser dedicado, bom e não bobo, companheiro, transar legal, não ser agressivo, etc., etc., etc., segui tudo o que um manual do bom marido pregaria se existisse e como acabei? Na varanda do meu prédio, olhando para o chão e imaginando se doeria muito pular dali. E agora venho tendo atitudes vingativas que não sei se estão servindo para punir que merece ou apenas ferrando mais com tudo. Eu só sei que há quase um ano, eu não tenho paz...
Adriana notou que o meu corte continuava sangrando e se deitou ao meu lado no chão, enxugando o sangue:
-Tem sangue até na sua camisa. Deve ter umas no guarda-roupa, tira essa.
Adriana começou a desabotoar a minha camisa, meio que choramingando. Inesperadamente, ela mudou de feição, ficou séria e acabou puxando com força os botões que faltavam, fazendo a camisa se rasgar. Num átimo de segundo começou a querer tirar meu cinto. Eu fiquei estático, sem entender aquilo. Com pressa, ela abaixou minhas calças só até as coxas. Mesmo sendo surreal, tive uma ereção instantânea com esse gesto e ela vendo-o já ereto, se levantou e de maneira atabalhoada arrancou a calça preta que estava usando com calcinha e tudo, segurou meu pau e o direcionou para a entrada de sua boceta e começou a descer, dando início a uma cavalgada alucinante, nem ela nem eu dizíamos uma palavra, mas num dado momento, eu quis parar aquilo, segurei-a pela cintura e me levantei, confuso. Adriana ficou de joelhos no chão apoiando os cotovelos no sofá e me olhou e apenas disse “vem”. Vendo aquela pose e aquela bunda linda, ela não tinha tirado a blusinha preta, então só a parte de baixo estava desnuda, acabei não aguentando e sem dizer nada, deixei-me cair de joelhos atrás dela, puxei-a com força para ajeitá-la melhor, ela deu uma leve arrebitada e a penetrei com fúria. Não trocamos um beijo nem fizemos sexo oral, a coisa toda era tão animalesca que queríamos apenas gozar. Soquei forte, ela gemeu alto e em pouco tempo, ambos desabaram em um orgasmo com urros, numa mistura de sentimentos, ódio, amor, arrependimento e sabe-se lá mais o quê.
Fiquei uns instantes ainda dentro dela e aí me dei conta do que acabara de fazer. Voltamos a ficar em silêncio, nos vestindo, sem coragem de olhar um para o outro. Acabei pegando uma camiseta que tinha deixado lá e troquei. O sangramento, felizmente tinha parado.
Após um tempo de silêncio, Adriana insistiu que fôssemos a um hospital de lá mesmo, pois estava com medo de ter ficado algum caquinho, eu disse que estava bem e não precisava. Com muito custo, consegui convencê-la a voltar no meu carro, pois depois de tantas loucuras que ela tinha aprontado, seria uma temeridade deixá-la voltar sozinha. Sabia que minha ex era uma excelente motorista, mas aquele dia tinha sido estranho demais. Depois, ela iria com mais alguém e pegar o seu carro.
O silêncio dentro do carro durou quase toda a viagem, só perto de São Paulo, Adriana resolveu falar:
-O que aconteceu hoje foi um erro, Paulo, mas fui eu quem quis. Eu amo o Alexandre...Essa história de ex-mulher e ex-marido transarem é comum de ocorrer, é comum.
Tive a mesma sensação que da conversa que tivemos pouco tempo antes, que Adriana estava tentando mais convencer a ela do que a mim, mesmo assim, tratei de deixar claro as coisas:
-Por hoje chega de briga, mas acho bom combinarmos de não ficarmos mais a sós, isso evitará problemas de toda sorte como vimos. Espero que você se acalme e siga sua vida, eu estou tentando e apesar dos pesares, tenho a impressão de que este ano será bom para mim, estou começando com uma pessoa...
-Você falou, aquela garota do prédio, a Giulia...
-Não, outra, mas não é nada certo.
-Tá rapidinho, hein?
Ela tentou brincar para quebrar o clima e chegamos em paz, após um dia de impactantes fatos.
Apesar de brigar com minha mente, tentando esquecer esse dia. Adriana ainda exercia um forte poder sobre meus pensamentos e não me refiro só à transa inesperada, fiquei muito preocupado com sua saúde mental temendo que ela piorasse. Internamente, eu me punia por me importar com a adúltera que me chifrou em nossa cama, mas quisera nossa mente obedecer a razão. Dormi mal e tentei focar em Leticia que estava chegando.
Assim que voltou, Leticia me procurou, me trouxe um belo presente e eu com cara de paisagem pedi desculpas, pois nem tinha pensado em presente naquele Natal, com exceção dos que comprei para Andressa. Foi mais uma tarde de sexo intenso em meu apartamento. Nos dias seguintes, como eu tinha que trabalhar, arrumamos um jeito de nos encontrarmos na parte da tarde, sempre depois das 16h30 e em um motel, pois apesar do condomínio ser grande, gente com tempo para bisbilhotar não falta. Transamos por mais de uma semana seguida, parecíamos casal em lua de mel, mas que só tinha aquelas poucas horas para matar a vontade. Já mais íntimo pedi e ela topou fazer anal, o que foi deveras luxurioso, já que eu idolatrava aquela bunda mesmo nos tempos de casado. Como alguns homens, sempre fui viciado em cheiro e adorava sentir os dela, a loucura foi tanta que um dia pedi sua calcinha para cheirar depois. A cada encontro eram duas ou três transas muito intensas. Eu realmente estava me sentindo muito bem.
Mas além de muita putaria, também começou a surgir entre nós um rápido sentimento de carinho, não sei se dizer que estava gostando dela seria a palavra exata, mas era algo diferente. Confesso, que uma mulher com um corpão daqueles, nós, homens, tendemos a objetificá-la, mas Leticia era surpreendente, tinha um lado nerd de gostar de filmes cult, séries e até games e era extremamente carinhosa, selvagem mesmo só na hora do sexo.
Em uma dessas tardes/começo de noite, alisando meus cabelos, Leticia passou a mão no local em que acabei recebendo aquele estilhaço de porcelana que me cortou, ela se assustou e olhou de perto. Sentindo-me seguro, abri o jogo e contei o que ocorreu na chácara, apenas omiti a parte do sexo, talvez por medo de que ela não gostasse. O resto, contei exatamente como foi. Claro que ela ficou espantada e na hora concluiu que Adriana estava arrependida e um tanto preocupada perguntou:
-E se ela quiser voltar, pedir uma reconciliação? Você aceitaria?
-Nunca! Sofri horrores e agora que estou melhor não vou voltar 50 casas no tabuleiro. Adriana é página virada.
Leticia ficou reticente com a resposta, mas aproveitou a deixa para contar algo muito grave.
-Até nisso a gente é um pouco parecido... O Mauro( primeiro nome do Mantovani) adora me bater na cabeça.
Surpreso, eu disse:
-Como é que é?
Leticia abaixou a cabeça, um tanto envergonhada e disse:
-Faz anos que ele tem essa mania. Quando fica com raiva de algo que fiz, me bate, mas para não deixar marcas, ele fecha a mão assim e dá um cascudo ( ela fez um gesto mostrando a mão fechada e com o dedo médio dobrado, mas um pouco mais para frente exatamente para que o impacto seja maior). Foram várias vezes, mas a pior, foi uma vez no Rio de Janeiro que ele estava com tanta raiva que para doer mais ele, deu um salto para cima e desceu com o cascudo na minha cabeça, eu estava sentada e acordei no hospital. Lá, ele fez eu dizer que tinha me levantado rapidamente e batido na quina de um armário. A lesão apareceu até no raio X, a médica que nos atendeu ficou desconfiada, mas acabou engolindo. Eu nunca contei para as minha amigas, vergonha de saberem, só minha família sabe e agora você.
Leticia disse isso aos prantos. Fiquei perplexo, senti pena, uma dor forte no peito e muito ódio do Mantovani. Minhas atitudes estavam sendo exageradas desde a minha separação, eu, um cara centrado e com uma vida calma antes, agora agia com raiva, e na hora que ouvi aquilo tudo, fiquei com a ideia maluca de dar um tiro em Mantovani. O bom senso me faria afastá-la dele, independentemente do que ocorreria com nós depois, incentivá-la a denunciá-lo e se separar, mas a última coisa que eu queria naquele momento era agir com bom senso.
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