Eu poderia escolher diversas palavras, uma mais rebuscada que a outra, pra descrever essa história. A verdade é que a mais correta seria: normal. Isso mesmo, essa é uma historia que já deve ter acontecido em milhares de famílias mundo afora. Descobertas, tesão, traição, revolta... Quantos de nós não conhecemos casos semelhantes?
Aos mais afoitos, já aviso que essa não é uma história com sexo a cada 3 parágrafos. E essa parte, inclusive, não tem nenhuma cena de sexo. Aos que tiverem paciência e gostam de um bom enredo, a espera será bem recompensada.
Vamos lá:
Carlos e sandra se conheceram ainda no comecinho da adolescência. Moravam perto e frequentavam a mesma escola. Sempre se olhavam, mas ambos eram muito tímidos. Se cruzavam no parque, no mercado, pelas ruas do antigo bairro e até frequentavam o mesmo clube. O primeiro cara a cara de verdade aconteceu no começo dos anos 90 em uma matinê de carnaval. Empurrados por uma amiga em comum, foi a primeira vez que seus corpos se encostaram. Recém entrado na puberdade, Carlos não conseguiu segurar a ereção e a única forma de esconder sua vergonha, foi sair dali em disparada. Sandra que mal tinha notado o acontecido, não entendeu nada. Aquele momento foi simbólico para os dois, e também contribuiu pra aumentar ainda mais a timidez de Carlos.
Cada um foi viver sua vida despreocupada de adolescentes sempre lembrando do outro e daquela situação inusitada. Se encontravam direto e sempre terminava da mesma forma: Carlos sem encontrar palavras, de cabeça baixa e Sandra sempre achando fofo sua timidez. Ela sempre preferiu nao forçar a barra, medo de assustar o pobre rapaz por quem ela nutria uma paixonite. Sempre ficava no quase.
Passada a adolescência, Carlos entrou pra faculdade de telecomunicações e sandra em línguas. Mudaram de cidade e passaram bons anos sem se encontrar.
Sandra sempre foi precoce. Mulherão ainda novinha, era agora aos 23 anos uma verdadeira beldade. Morena clara, olhos cor de mel, longos cabelos negros e lisos, seios médios e uma bunda que parecia esculpida pelo melhor cirurgião, só que essa era original de fábrica. Carlos também havia virado um jovem muito atraente. Não era o homem mais lindo do mundo, mas sua descendência árabe, lhe dava um ar imponente e misterioso. Longe de ser feio, tinha porte másculo e presença imponente. Cabelos grossos e encaracolados, profundos olhos azuis, barba rente e bem cuidada. Corpo atlético e natural sem músculos exagerados. As meninas diziam que só de olhar, já se encharcavam. Mas, sua timidez sempre o fazia recuar. As poucas que conseguiram é por que sempre deram o primeiro passo.
Estamos na época da revolução dos celulares e da entrada das novas empresas telefônicas no Brasil. O ambiente era propício pra o nosso amigo crescer profissionalmente. Tanto que mal se formou e já foi chamado pela antiga telefônica ( hoje vivo) para um trabalho de 2 anos na Espanha com cargo grande na volta ao Brasil se tudo correse bem. Sandra passou em um concurso estadual e logo foi chamada pra assumir uma vaga de professora em sua cidade natal.
A vida ia bem para os dois no lado profissional. Carlos nunca foi um homem de farrear por causa de sua timidez, por isso sofria a cada término de relação com as frias mulheres espanholas. Sandra sofria também, só que mais por causa dos canalhas que só queriam comer aquela delícia e tirar o time de campo.
Começo dos anos 2000 e os dois haviam decidido dar um tempo na busca de um parceiro e se focar na carreira. Sandra se preparava pra passar para cargos de direção e Carlos aguardava ansioso os ultimos 6 meses de contrato.
Em uma noite fria de julho no interior paulista, sandra navegava sem muita atenção pelo saudoso orkut, quando recebeu um link de perfil de sua amiga vanda.
- Amiga, olha o que eu achei pra você. Dizia o título da mensagem.
Sandra despretenciosamente clicou. Ao abrir o link, uma sensação de alegria e nostalgia lhe invadiu a alma. Há anos que não tinha notícias de Carlos. Abriu o msn e chamou vanda.
- Como você achou ele? Enviou a pergunta e ficou dando toques desesperados e ininterruptos no botão de chamar a atenção do antigo programa de mensagens.
- Calma, mulher. Não foi eu quem achou. Foi um amigo da época de escola que me mostrou. Respondeu Vanda.
- Acha que eu devo mandar mensagem pra ele? Será que ele ainda lembra de mim? Sandra estava tensa e empolgada ao mesmo tempo.
- O principal está aí, agora é com você. Não aguento mais ouvir você falar desse cara. Resolve isso logo. Respondeu a amiga e terminou a conversa.
A aflição de sandra era evidente. Não queria se passar por desesperada ou oferecida. Tão pouco queria perder a oportunidade. Ainda esperou algumas horas, criando coragem, e por fim, antes de ir dormir enviou a solicitação de amizade acompanhada de um "oi, sumido!" Bem sem criatividade.
Acordou no dia seguinte já procurando o notebook e indo direto ver se obteve resposta.
Pra sua enorme decepção, continuava na mesma. Saiu brava e estressada para o trabalho. Decepcionada seria a palavra que mais definia os sentimentos de sandra durante aquela semana inteira sem nenhuma resposta por parte de Carlos. Várias teorias criaram vida em sua mente. E todas levavam a mesma conclusão: ele que se foda. Não quer falar comigo, azar o dele. Ao final da segunda semana de espera perdeu a linha:
- Mal educado. Se não queria falar, era só dizer. Desculpa o incômodo. Viva bem. E cancelou a solicitação de amizade.
Há mais de 8000 km dali, no ensolarado verão espanhol, Carlos estava havia 1 mês no interior instalando novas antenas com sua equipe e tinha deixado o notebook em casa. A verdade é que nem mexia muito nessas coisas de internet, um amigo havia criado seu perfil pra facilitar a busca de uma namorada e ele mal mexia naquilo. Estava focado em terminar bem seus últimos 6 meses e garantir a tão sonhada vaga na volta ao Brasil.
Terminado o serviço, voltou pra pensão que dividia com o amigo e enquanto tomava um banho ouvia as brincadeiras do companheiro de quarto.
- Rapaz, tem uma mulher muito brava com você no Brasil. O que você fez pra irritar tanto alguém que não vê há mais de um ano e meio? Divertia-se o amigo.
- Tá fuçando no meu computador de novo? Você é muito cara de pau. Respondeu Carlos do banheiro sem se preocupar muito com a situação. Sabia que o amigo era assim.
- Se eu não olhar suas mensagens e der uma de cúpido, você vai acabar com o saco inchado pela falta de uso da ferramenta. Os dois caíram no riso.
- Qual o nome da dita cuja? Perguntou Carlos.
- Espera aí. Deixa eu ver direito aqui. Falou ele, enquanto entrava no perfil pra dar uma olhada mais completa.
- Caralho, Carlos! Que potranca, meu brother! Sandra. Quem é essa Deusa? Professora, da sua cidade, meu irmão, que bunda é essa? Falou o atônito amigo.
Aquele nome estalou imediatamente na cabeça de carlos.
- Será? Depois de tanto tempo? Acho que não... Pensou carlos enquanto sua mente tentava buscar a imagem da ainda adolescente sandra.
Desligou o chuveiro, mal se enxugou e foi ao encontro do notebook empurrando o amigo da cama sem nenhuma cerimônia. Leu as mensagens. Estranhou um pouco a última e até ficou um pouco ofendido. Mas, sabia que era um mal entendido. Como mal sabia mexer naquilo, pediu ao amigo que o ensinasse e pouco depois já tinha domínio do que fazer.
- Me desculpe se a ofendi de alguma forma. Passei um mês fora de casa a trabalho. Não entendo muito dessa tecnologia e gostaria muito que fôssemos amigos. Segue solicitação. E enviou.
Mesmo sendo zoado pelo amigo por causa da formalidade na mensagem, esse era Carlos. Homem à moda antiga.
Pela diferença de fuso e por ter escrito essa mensagem por volta das 6 da manhã, ainda era madrugada no Brasil. Sandra dormia sem saber que novidades lhe aguardavam.
Era sábado e ela saiu em caminhada pelo bairro. Passou pela feira, almoçou com os pais e ainda conversou com alguns familiares e amigos de infância no caminho de casa. Já era começo de tarde quando passou em frente a antiga casa da família de Carlos a caminho da sua. Vários palavrões lhe vinham a cabeça nessa hora. Muita frustração pela atitude dele no orkut.
Chegou em casa chateada pela lembrança da situação com Carlos. Passou um café e se sentou em frente ao notebook pra preparar o plano de aulas da próxima semana. Começou a trabalhar e durante o processo se sentia muito insatisfeita com a lentidão de seu aparelho, solitária pela falta de vida amorosa e social e principalmente muita triste pela situação com Carlos e sua esnobada. Num desses enormes clichês da vida, socou o teclado com as duas mãos, uma forma de canalizar tudo de ruim que vinha sentindo, e sem querer abriu o orkut, em que não entrava já havia alguns dias.
Ficou pasma ao ver no meio daquele monte de mensagens não lidas, uma de Carlos se desculpando. Todo rancor que sentia, sumiu instantâneamente ao terminar de ler o que ele havia enviado. Aceitou a solicitação de amizade e tratou de pensar em uma forma de se desculpar pela sua atitude impensada, movida pela frustração. Escreveu:
- Quem tem que pedir desculpas sou eu. Achei que você estava me esnobando e perdi a razão. Podemos começar do zero? Enviou a mensagem e a esperança do começo retornava com mais força.
Dessa vez, não precisou esperar muito. 15 minutos depois, carlos respondia:
- Ótima ideia recomeçar. Prazer! Eu sou o Carlos. Bom falar com você depois de todos esses anos...
Daí em diante, as conversas se tornaram quase que diárias. O fim do expediente de Sandra encaixava perfeitamente com as noites de Carlos. A cada dia, a cada conversa, as afinidades iam se atraindo. Um descobria no outro, tudo aquilo que desejavam em um parceiro de vida. Não demorou muito pras coisas ficarem um pouco mais picantes e o desejo começar a se tornar o assunto principal entre os dois. Carlos e Sandra já estavam muito apaixonados. Ou talvez, a chama sempre esteve ali. Mesmo a distância, sabiam que era inevitável.
Os 6 meses passaram voando, Carlos estava há apenas algumas horas de aterrisar no Brasil e Sandra se preparava pra buscá-lo no aeroporto. A ansiedade era gigante. Ela não conseguia se lembrar de um dia tão feliz como esse, e Carlos tinha preparado uma surpresa inesquecível pra ela. Era tudo ou nada.
O avião pousou, Sandra estava visivelmente nervosa com toda a situação. Tanto que Vanda preocupada com as duas horas de viagem veio junto dirigindo. Os auto falantes anunciaram o desembarque do vôo e sandra tremia pela expectativa. O corredor era longo, mas ela já via ao longe seu novo amor. Não se aguentou, pulou o demarcador de fila e foi correndo ao seu encontro. Ainda estava há uns 30 metros dele, quando o viu se ajoelhar e tirar alguma coisa do bolso do paletó.
- Não acredito. Será verdade? Isso é demais. É claro que eu aceito. Pensou já comecando a chorar.
Carlos estava no meio do corredor de desembarque, ajoelhado com um anel de noivado nas mãos, sendo aplaudido por todos que passavam. Sandra se jogou em seus braços e pela falta de apoio os dois rolaram pelo chão do aeroporto.
- É claro que sim, meu amor! Eu te amo. Sou toda sua.
Continua....
Espero que tenham gostado. Da próxima parte em diante, as coisas irão esquentar e muitas situações irão comecar a acontecer. Obrigado a todos.