A xícara de café foi levada a boca, enquanto ouvia Abner falar sobre o preço que cobrava pelos seus serviços. O café não era dos melhores, estava frio e ralo, no entanto Angela não havia tomado nada de manhã, devido a tensão de estar cara a cara com o amante do seu filho.
_Vejo que você cobra muito bem, Dimitri.
_ Sim. Na minha profissão, temos que nos valorizarmos. Mas, eu garanto prazer e discrição total.
_ Hum!_ Angela exclamou bebendo mais um gole de café._ Você costuma receber os clientes no seu apartamento?
_ De jeito nenhum. Eu prefiro manter o profissionalismo. Os encontros acontecem onde os clientes marcam: Flats, hotéis, motéis e etc. Ah, são os clientes que arcam com os custos do local.
_ Entendi.
_ Então, a senhora vai agendar algum horário?
_ Na verdade, eu quero te fazer uma proposta...e muito lucrativa para você.
_ Hum! Estou começando a gostar do assunto.
_ Eu vou ir direto ao ponto. Quanto você quer para se afastar do meu filho Leandro?
A expressão de espanto foi inevitável. Os olhos arregalados e o rosto contraído. Abner ficou paralisado por alguns segundos. Não era nada bom para ele ser visto por alguém da família de Leandro. Isso poderia o trazer graves problemas.
_ Peraí...eu não tô entendendo.
_ Você está entendendo sim, Dimitri. Não adianta fingir que não sabe do que estou falando. Eu sei muito bem que está tendo um caso com o meu filho. E ao contrário do que me disse, está o levando para o seu apartamento. Se o Leandro está tendo essa regalia, que os outros clientes não têm, imagino que ele deva estar pagando muito bem. Cliente rico, você deve ter cobrado o dobro.
_ Escute aqui...
_ Eu ainda não terminei! Você não tem noção de quem seja o marido do meu filho e das graves consequências que se esse caso possa trazer a vocês dois. A proposta é: eu te dou uma boa quantia em dinheiro, cubro tudo que o meu filho te paga e você se afasta dele para sempre.
_ O seu filho não é o meu cliente. É o amor da minha vida.
Angela deu uma gargalhada.
_ Então, o golpe é bem mais articulado do que eu imaginava.
_ Não tem golpe nenhum! Você não sabe o que está dizendo.
_ Se tem alguém que não sabe de alguma coisa, esse alguém é você. Se pensa que vai conseguir muito dinheiro se aproveitando do meu filho está muito enganado. Ao contrário, do que você pensa, Leandro não é rico. Antes de se casar com o Júlio, o meu marido o fez assinar com um contrato pré-nupcial em que nenhum dos dois terão direito aos bens do outro, em caso de divórcio. Você não vai conseguir dar o grande golpe no meu filho. Mas, pode muito bem se ferrar muito feio caso o marido dele descubra. Você não o conhece.
_ Eu tô ligado sim de quem é o doutor Júlio Medeiros. E também estou ligado de quem é você e o seu marido. O tipo de pais que são. Você não está preocupada que Júlio faça algo ruim com o Leandro. Você está com medo de perder as regalias que o Júlio te dar, caso um divórcio aconteça.
_ Que insolente! Você não sabe o que está dizendo!
_ Sei sim. Ao contrário de você e do seu marido, eu não uso o Leandro para lucrar financeiramente. Eu nunca cobrei um real dele. O que tenho com o Leandro envolve sentimentos. Já vocês, o atiram nos braços de um homem abusivo por dinheiro. Vocês estão levando o Leandro ao desespero. Ele pode ficar doente! Mas, eu não vou permitir! Eu vou salvar o Leandro das garras de todos vocês.
_ Você não sabe de nada! É só um putinho barato que acha que pode me ofender.
_ Eu sou um putinho barato e você é uma cafetina mau caráter que vende o próprio filho para um monstro.
_ Seu desgraçado! Eu vou...
_ Não se atreva a me insultar! A minha mãe me ensinou a ser gentil com as mulheres, mas também me ensinou a não abaixar a cabeça para qualquer pobretona que se acha rica. "Quanto você quer para se afastar do meu filho?"_ Abner debochou imitando uma voz feminina._ Com que dinheiro você achou que poderia me comprar? Você não passa de uma classe mediazinha que precisa bajular o genro rico para poder se metidar com essas roupas de grife.
_ É por isso que você recusou a minha proposta? Acha que não tenho dinheiro para te pagar e quer tirar muito mais do meu filho.
_ Eu não quero o dinheiro do seu filho.
_ O Leandro se refere a você como Dimitri, logo ele não sabe o seu nome verdadeiro não é?
Nessa hora Abner gelou de medo, temendo que Angela soubesse da sua verdadeira identidade. Lembrou que tanto a sua mãe, quanto o seu padrastro trabalhavam no sítio de Júlio. E se algum dos dois mostrou a sua foto para ela? Contou que o seu nome era Abner e ela ligou ao fato, concluindo que ele foi amante de Júlio? Lorena era discreta. Com certeza não abriu a boca para ninguém.
_ Como você realmente se chama, Dimitri?
_ O que te faz pensar que Dimitri não é o meu verdadeiro nome?_ Abner teve medo da resposta, mas decidiu arriscar assim mesmo. Era melhor receber a pancada de uma vez.
_ Ora, eu não sou idiota. Sei muito bem que vocês putinhos têm nomes falsos para usarem na luxúria. É isso! Eureca!_ Angela exclamou batendo de leve na testa._ Leandro não sabe que você é um garoto de programa! É claro! O meu filho é muito certinho. Nunca se envolveria com gentinha tipo você. Na certa foi contratado pela Valéria, e aí você viu um lindo homem rico e carente e quis se aproveitar para se dar bem.
Abner respirou aliviado, descartando a possibilidade de ela saber o seu verdadeiro nome. Caso soubesse, teria jogado a verdade ali mesmo.
_ Engano seu. Não há segredos entre mim e o homem que eu amo.
_ Eu não vou mais perder o meu tempo com você. Já soube tudo o que precisava saber. Eu só te digo uma coisa, moço: eu não vou permitir que você destrua a vida do meu filho. Você não sabe do que sou capaz para defender o meu menino.
_ Uau! Parabéns pela preocupação, mamãe do ano._ Abner debochou batendo palmas.
_ Com licença.
Angela levantou da mesa.
_Que feio, Angela! Dando calotes! Pague a conta, conforme você prometeu.
_ Pague você com o dinheiro que está roubando do meu filho.
Ela ajustou a alça da bolsa no ombro e saiu nos seus saltos sonoros. Abner a observava partir sentindo ódio pela nova pedra que surgiu no seu caminho. Não basta ter que se preocupar com o Franklin, agora tem mais essa?!
_ Vaca...porra!_ gritou, socando a mesa.
....
Leandro dava a última garfada no bolo mesclado, quando recebeu a ligação de Abner. Aquela manhã não podia ser mais perfeita. Não vira Júlio desde que se levantou. Na certa, foi trabalhar mais cedo. Poderia tomar o seu café da manhã na mesa sossegado, sem sentir o incômodo, que sentia ultimamente perto do marido. A ligação de Dimitri somou a sua felicidade.
_ Bom dia, meu amor! Que bom que você me ligou. Amo ouvir a sua voz de manhã.
_ Meu amor, eu preciso falar contigo. É sobre um assunto muito importante.
_ Aconteceu alguma coisa?_ Leandro perguntou preocupado.
_ Querido, não precisa ficar tenso. Não é nada demais. Mas, precisamos conversar agora. Você pode vir ao meu apartamento?
_ Claro! Claro!
_ Pode vir agora.
_ Sim. Eu só vou trocar de roupa, em alguns instantes, eu estarei aí.
_ Tudo bem. Eu te amo ... Te amo muito.
_ Eu também te amo. Até daqui a pouco. Beijos.
Leandro desligou o telefone sorrindo. Os olhos brilhavam e um sentimento bom o dominava. Tomaria um banho, vestiria a melhor de suas roupas e se jogaria nos braços do amando, desfrutando do melhor que aquele belo corpo poderia o oferecer.
Levantou da mesa animado.
Contudo, o seu sorriso se desfez e o medo gelou o seu corpo, ao ver Júlio parado na soleira da porta com os braços cruzados. O marido o olhava por cima expressando desconfiança.
_ Que susto, Júlio! Eu não sabia que você estava em casa._ Leandro disse ofegante, pondo a mão no peito, querendo recuperar o fôlego.
_ Com quem você estava falando com um jeito tão carinhoso?
Os olhos de Júlio os assustavam. Eram como as profundezas de um abismo, que não se conseguia ver o fim, mas tinha certeza que não sairia vivo dele. A garganta seca e o coração batendo veloz. Para não demonstrar os tremores das mãos, Leandro as pôs para trás. Tentou manter a calma, ou pelo fingir.
_ Com a minha mãe. Por quê?_ Leandro tentou ser mais descontraído possível no tom de voz.
_ Você e a sua mãe estão brigados.
_ Não estamos mais. Ela é o que é, mas eu a amo. Eu vou almoçar com ela hoje. Acabou de me convidar. Tenho que me arrumar.
Leandro disse saindo, para não prolongar o assunto. Assustou-se quando Júlio segurou com força o seu braço, o impedindo de sair do lugar.
_ Você foi convidado para almoçar. Para que sair tão cedo?_ Júlio perguntava o olhando no fundo dos olhos, tentando extrair deles alguma informação.
_ Eu quero passar o dia com ela. Algum problema?
Leandro o encarava sem demonstrar medo. Era a forma que encontrou para se proteger.
Júlio ainda o encarou por alguns segundos. Fazendo Leandro temer a desconfiança que o marido tinha no olhar.
_ Não. De maneira alguma.
_ Pois, bem. Tenho que ir.
Leandro se afastou, soltando o próprio braço e correndo para subir as escadas_ Então, Júlio, a audiência da Burguer' Melo será no próximo mês. Mas, eu vou logo te adiantando que será um caso complicado, pois essa empresa não pagava os salários dos funcionários há meses, sem contar nos assédios morais que o gerente fazia com os funcionários. Eu me arrisco a dizer que é causa perdida. Posso marcar uma reunião com esse cliente na sexta-feira?
Lorena não obteve uma resposta de imediato, pois Júlio fitava o próprio celular, parecendo está desconfiado de alguma coisa.
_ Júlio! Júlio!_ a secretária gritou para chamar a sua atenção.
_ Eu ouvi tudo. Marque essa droga de reunião na sexta, depois do almoço.
_ Como você não me respondeu, pensei que não tivesse me ouvido. Eu não sei se foi uma boa ideia pegar esse caso. Você não gosta de perder.
_ Não gosto e nem vou.
_ Diante de todas essas reclamações. Até menor de idade contratado sem assinar a carteira a empresa vacilou. Eu não sei como você vai fazer para resolver esse pepino.
_ Simples, vou fazer o máximo que puder para adiar a audiência. Pobres sempre estão sempre na merda. Vai precisar de dinheiro mesmo e aí aceitam qualquer acordo.
_ Nossa! Quanta frieza! Mas, você hoje tá meio aéreo, aconteceu alguma coisa?
Júlio a olhou sem dizer uma palavra. Estava sério. Ela entendeu que ele queria privacidade e não estava disposto a desabafar os seus problemas pessoais com a secretária.
_ Tudo bem! Estou saindo_ Lorena disse erguendo as mãos.
A imagem de Leandro ao telefone não o deixava em paz naquela manhã. Dentro de si, algo não o deixava acreditar que Leandro estava falando com a mãe.
"Que bobagem, Júlio! Leandro sempre foi carinhoso com a mãe." Era o que se dizia para tentar ter algum tipo de consolo. No entanto, algo o perturbava. Há tempos, o casal não tinha relações sexuais. Leandro estava cada vez mais afastado. "Não é possível que ele tenha coragem de me trair. E ainda falar com outro debaixo do meu teto. Não! Isso não pode acontecer! Leandro me ama. Apesar de está com raiva, eu sei que ele me ama."
Por mais que tentasse ser o marido equilibrado, que confia totalmente no companheiro, Júlio estava aflito demais. O ódio pela possibilidade de Leandro ter outro homem o consumia. Era inadmissível que um outro tocasse no corpo do homem que era dele.
_ Eu nem sei o que eu faço...eu mato os dois.
Pegou o celular. Aquela angústia deveria ter um fim. Ligou para a sogra, para ter certeza que Leandro estava em sua casa.
Angela atendeu sem a mínima vontade de falar com o genro. Como ele ligou para o seu celular, ela não teria uma desculpa decente para não atendê-lo, por isso, cedeu.
_ Fala, Júlio.
_ O meu marido está aí?
Angela ficou paralisada por alguns segundos. Concluiu que Leandro saira e mentiu que estaria com ela. "Só pode ter ido se encontrar com o tal de Dimitri. Puta que pariu!"
_ Está sim, Júlio._ Angela mentiu, tentando manter a calma na voz para que Júlio não desconfiasse._ Por quê?
_ Ele me disse que iria á sua casa hoje. Eu só queria ter certeza.
_ Ele está aqui sim. Está na sala assistindo TV.
Júlio sorriu aliviado, descartando a possibilidade de está sendo traído.
_ Eu liguei para ele e o celular está dando caixa postal. Você poderia passar para ele?
Angela pôs a mão na boca aflita. Precisava encontrar uma solução rápida para se livrar daquela situação constrangedora.
_ Júlio, acho melhor não. Leandro não quer falar com você. Ele me disse que está chateado e por isso desligou o celular.
_ Eu sou o marido dele! Ele deve falar comigo. Se você não passar o telefone para ele, eu vou até aí.
"Merda! Leandro só me mete em furada!"
_ Júlio, não atrapalha o meu trabalho? Se você quer que eu convença o Leandro a te perdoar, você precisa me deixar recuperar a confiança do meu filho. O fato de ele vir até aqui e passar o dia comigo já é um grande avanço. Esqueceu que por sua culpa, Leandro nem queria olhar na minha cara? Se você vier até aqui, o Leandro vai ficar chateado e o seu filme vai ficar ainda mais queimado.
"Confie em mim. Me deixe reconquistar o meu filho, só assim vou poder te ajudar."
_ Você tem razão... você tá certa. Está tudo bem aí?
_ Claro. Leandro está tranquilo lá na sala. Estou aqui preparando o almoço. Agora tenho que desligar. Tchau.
Ela desligou antes que Júlio dissesse alguma coisa. O advogado permaneceu em silêncio, aliviado por saber que o marido falou a verdade.
....
va Abner observava pela janela do apartamento ansioso pela chegada de Leandro. A chuva caia com força, deixando a cidade alagada e o dia cinzento. Talvez esse seja o motivo do atrasado de Leandro. Tempestades sempre congestionam o trânsito.
Tentava conseguir ter calmaria no cigarro. Nos dedos estava o quarto já no finalzinho.
Andava de um lado para o outro, nervoso. Maldita hora em que Angela o descobriu. "Leandro deveria ser mais cuidadoso! Como pode dar mole de ser descoberto pela mãe. Assim como foi ela poderia ser Júlio."
Temeu que Angela tivesse revelado a verdade antes dele. O seu maior medo naquele momento era perder Leandro, o amor da sua vida. E se Leandro não o aceitasse por causa da sua profissão? Não! Não era justo! Eles se amavam tanto. Porém, Leandro era correto, quase moralista. Poderia sentir raiva e partir para nunca mais voltar! Isso seria doloroso demais.
No pátio do prédio, um casal de mulheres corria abraçadas para fugir da chuva. Mesmo ensopadas, elas sorriam e se beijavam apaixonadas. Abner pensou o quão maravilhoso seria a vida se um dia pudesse estar com Leandro feliz, sem ter medo, sem se preocupar com nada, andar de cabeça erguida e mãos dadas como se não devesse nada a ninguém. Sem Júlio, sem segredos, somente amor e companheirismo.
Abner o amava. Estava disposto a tudo para fazê-lo feliz! A dar a ele o valor que sempre mereceu e Júlio nunca foi capaz de dar.
As luzes das lanternas da BMW preta piscavam na portaria. Abner sabia que era o seu amado...como ele sabia? Nem ele sabia responder. Somente sentia.
Correu para perto do interfone, que foi tocado logo em seguida. Atendeu as pressas, autorizando a entrada do seu amado.
Leandro nem precisou tocar a campainha. Abner o aguardava na soleira da porta com um sorriso no rosto. Abraçou-o, permanecendo em seus braços por alguns segundos. Com os olhos umedecidos, tentando conter o choro.
_ Eu preciso tanto de você.
_ O que houve, meu amor?_ Leandro imaginava que foi convocado naquela manhã para viver um momento caloroso nos braços de Abner. No entanto, encontra-lo triste o deixou preocupado.
_ Entre.
Ao fechar a porta, Abner o pôs contra a porta e o beijou com tanta intensidade como se fosse a última vez. Temia que isso acontecesse.
_ O que aconteceu, Dimitri? Estou preocupado.
_ Venha! Sente-se aqui.
Leandro foi conduzido pela mão a sentar ao lado de Abner no sofá da sala.
_ Eu não vou fazer rodeios. Mas preciso te confessar que o que eu sinto por você nunca senti por ninguém. É algo diferente de tudo que senti na vida. Eu já me relacionei com muitas pessoas, para mim, sexo era algo prazeroso e até lucrativo, mas era só isso. Mas, quando eu te conheci e te toquei pela primeira vez, eu pude viver a melhor experiência da minha vida: o sexo com amor. Não era mais só prazer por prazer. Era um prazer diferente, uma conexão de almas e de corpos. É aconchego, é calmaria, é felicidade, é carinho... Enfim, eu não quero que o que temos seja só o que é agora, encontros casuais. Eu quero mais! Quero partilhar a vida com você. Quero ser o seu companheiro, seu amante, seu amigo...quero te fazer feliz e quero também ser feliz ao seu lado.
_ Aonde você quer chegar com tudo isso?_ Leandro perguntou assustado.
_ Quero que entre nós não aja mais segredos.
Os olhos serenos de Leandro e a sua expressão tranquila os assustavam. Mesmo com o coração batendo a mil, resolveu falar de uma vez:
_ Eu não nasci numa família rica. Muito pelo contrário, sempre vivemos com as dificuldades financeiras. Eu tenho uma família maravilhosa, que faz de tudo para realizar o meu sonho e o eu os deles. Somos muito unidos. Quando eu disse que queria cursar gastronomia, eles se prontificaram a me ajudar a pagar. Mas, a fábrica em que a minha mãe e o meu padrasto trabalhavam declarou falência. De uma hora para outra, as coisas apertaram lá em casa. E a minha irmã estava arcando com tudo. Não achei justo. E eu estava devendo algumas mensalidades da faculdade.
"Enfim, eu tinha que fazer alguma coisa. Foi então, que surgiu uma oportunidade que poderia me ajudar e a minha família. Eu acabei aceitando e assim, consegui ajudar a manter a casa e a pagar o meu curso. Eu comecei a fazer programas."
Leandro arregalou os olhos. Ficou paralisado numa expressão de espanto, o que deixou Abner ainda mais tenso. Pôs as duas mãos em seu ombro e suplicava por perdão com o olhar.
_ Meu amor, eu precisava desse dinheiro para viver. Você não sabe o quão difícil foi pra mim fazer esse tipo de coisa. Me deitar com pessoas desconhecidas, ser usado por elas.
"Mas eu não quero mais fazer isso. Eu juro para você que vou parar. Eu até consegui um trabalho no restaurante há uns meses. Eu gostava do ofício, mas não me remunerava tanto quanto..._ Abner teve vergonha de falar a palavra prostituição._ Eu acabei perdendo o emprego porque fazia programa até tarde e perdia a hora. Mas, eu prometo que vou parar. Eu tenho uma reserva no banco. Não é muita coisa, mas dá para segurar até conseguir algum emprego honesto. Meu amor, eu sinto muito por isso. Mas não é justo me relacionar contigo na base da mentira. Você merece a mesma honestidade que tem comigo."
Leandro permaneceu num torturante silêncio.
_ Leandro, diga alguma coisa._ Abner implorou com lágrimas. Estava tão assustado, que não conseguiu conter o choro. Desabou, com as mãos no rosto.
Preocupado, Leandro o abraçou.
_ Calma, Dimitri! Calma!
Abner deitou em seu colo, soluçando.
_ Eu não quero te perder! Você é muito importante pra mim!
_ Calma! Você não vai me perder.
_ Sério?
_ Sim. Eu estou aqui contigo.
_ E o meu passado?
_ Vai ficar no passado. Eu não vou te julgar. Nunca passei dificuldades financeiras. Sempre fui um privilegiado e isso me dá a obrigação de não julgar nem a você e nem a outras pessoas menos favorecidas. Eu sinto muito por você ter passado por isso. Confesso que estou com um pouco de ciúmes. Mas não vou te julgar. O importante é o que vai acontecer daqui pra frente.
_ Ah, meu amor!
Abner o abraçou com força. Estava encantado pelo homem maravilhoso que Leandro era com ele. Sentiu-se péssimo por mentir para ele. Leandro não merecia as suas enganações. Quis contar a verdade. Dizer o seu verdadeiro nome e que teve um caso com Júlio. Que ele era o outro. Atira-se em seus pés implorando por perdão.
Contudo, o medo o paralisava. Com certeza, Leandro não o perdoaria e isso seria terrível. Optou pelo silêncio, mesmo que ele pesasse em sua consciência.
_ Dimitri, você vai parar mesmo?
_ Claro, meu amor. Acabou. Agora serei só seu.
Abner o segurou pela face e o beijou.
_ Eu te amo. Te amo muito. Espero que nunca duvide disso, Leandro.
Seus dedos se entrelaçaram.
_ Você precisa de ajuda? Eu não tenho como te dar muita coisa, porque o dinheiro é todo do Júlio. Mas eu tenho este relógio. Você pode vender e usar o dinheiro para...
Abner o interrompeu, tocando com o dedo indicador entre os seus lábios.
_ Eu não vou permitir que me dê dinheiro.
_ Mas eu quero te ajudar!
_ Você já me ajudou muito me aceitando. É só ficar do meu lado, que estará fazendo muito por mim. Eu vou conseguir um emprego, vou ficar bem e sou eu quem vou te tirar daquela casa.
_ Não. Eu não vou sair da dependência do Júlio para ficar na sua. Eu vou trabalhar também. Nós vamos conseguir juntos.
_ Você é tão perfeito! Como eu te amo, meu deus! Como eu te amo!
Abner sorriu, se jogando em seus braços, o fazendo cair deitado no sofá. Por cima, o enchia de beijos pelo rosto e pescoço. Leandro gargalhava, sentindo as cócegas.
_ Eu também te amo! Te amo muito! Mas, e a sua família? Como eles estão?
_ Bem. Eles já conseguiram um emprego. Não ganham rios de dinheiro, mas dá para viver.
Leandro acariciava os seus cabelos negros.
_ Obrigado por confiar em mim._ disse com um sorriso tão meigo, que Abner não resistiu e o beijou.
_ Eu tenho mais uma coisa a dizer.
_ O que houve, vida?_ Leandro perguntou preocupado.
_ A sua mãe esteve aqui.
_ Aqui no apartamento?!
_ Não. Aqui na rua. Ela procurou por mim. Não sei como, mas descobriu sobre nós e sobre o fato de eu fazer programa. Ela me ofereceu dinheiro para me afastar de você.
_ Ah, eu não acredito que ela teve essa coragem!
_ Sim. Ela acha que sou um golpista. Que vou te usar para conseguir o dinheiro do Júlio e te abandonar.
_ Ela não tinha o direito de fazer isso! É a minha vida! Isso não é asunto dela! Caralho!
"Ah, que vergonha! Desculpa, Dimitri? Desculpe a arrogância da minha mãe?"
_ Você não tem do que se desculpar. A arrogância foi dela e não sua. Só tenho medo que ela dê com a língua nos dentes e te prejudique. Além do mais, você não tem mais motivo para manter aquele casamento. Pode vir viver comigo. Para que Júlio não nos perturbe, eu vendo este apartamento e compramos uma casinha em outro lugar mais afastado do merda do Júlio. Eu não quero mais ter que te dividir com ele.
_ Você não me dividi com ele. Eu e o Júlio não temos nada há um bom tempo. Até dormimos em quartos separados.
_ Verdade?! Sério mesmo?_ Abner perguntou sorrindo.
_ Eu vou me separar do Júlio. Eu prometo. Só peço que me dê um tempinho para ajustar as coisas e preparar a cabecinha da minha filha. Eu pretendo lutar pela guarda dela e preciso me preparar para isso.
_ Tudo bem. Eu não vou te pressionar. Mas vou te ajudar.
_ Obrigado._
Leandro o beijou. Abraçaram-se, com as mãos explorando os seus corpos em carícias, que provocavam arrepios.
O som do interfone interrompeu o fogo que se acendia entre o casal.
Abner se perguntou quem poderia ser. Já que Lorena era a única que frequentava o apartamento e tinha as chaves. Ela não precisava ser anunciada.
_ Fala, seu Jorge.
_ Bom dia, seu Dimitri. Tem uma dama aqui querendo falar com o senhor. Ela se apresentou como dona Angela.
_ É a sua mãe.
_ Eu não acredito! Puta que pariu! Que vergonha!
_ Pode deixar que ela suba, seu Jorge.
_ Não! Dimitri, por favor! Ela não pode vir até aqui.
_ Tudo bem, seu Dimitri.
_ É melhor resolver logo esse assunto de uma vez._ Abner disse desligando o interfone.
Alguns segundos depois, Angela tocava a campainha. Abner abriu a porta sorrindo com sarcasmo. Angela o olhava com furor. Entrou como um furacão em cima dos seus saltos e com o seu ar de superioridade.
_ Eu vim buscar o meu filho.
_ Ei! Como assim "vim buscar o meu filho"? Por caso, você acha que está se referindo a uma criança? Que abuso é esse, mãe?
_ Assim que você está se comportando, como uma criança inconsequente. Você tem noção da besteira que está fazendo?! Sabe quem me ligou para confirmar se você estava na minha casa? O seu marido. Você mentiu que estaria comigo para poder se encontrar com esse golpista.
_ Golpista não! Acho melhor mudar o tom para falar comigo. Você está na minha casa.
_ Infelizmente estou nesse antro de luxúria. Não me agrada nada este fato. Agora vamos embora, Leandro antes que o Júlio vá até lá atrás de você.
_ Eu não vou a lugar nenhum! Cadê toda aquela educação que você me deu? Por caso isso são modos de entrar na casa de alguém? Você deveria respeitar as pessoas.
_ Respeito quem é digno de respeito. E não é o caso desse michêzinho. Leandro, olha a loucura que você está cometendo. E se o Júlio fosse até a minha casa e não te encontrasse? Você não tem noção do perigo que está correndo.
_ Deixe que com o Júlio eu me entendo. Aliás, o fato de você ser a minha mãe não te dá o direito de se meter na minha vida amorosa. Mãe, olha o vergonha que você está me fazendo passar.
_ Vergonha de quê? Foi você quem mentiu para o seu marido, dizendo que estaria na minha casa para se encontrar com esse aí.
_ "Esse aí não." Eu tenho nome.
_ Ah, é? E qual é o seu nome então? Dimitri é que não é o seu nome verdadeiro. Você não seria burro de usar o seu nome verdadeiro para fazer programa. Aliás, Leandro, tá sabendo que o seu amante vendo o corpo?
_ Sim! Eu estou sabendo, mãe.
_ Eu não acredito que justo você tá aceitando essa pouca vergonha. Não...eu me recuso a acreditar! Leandro, você é um rapaz bonito, inteligente e jovem, não precisa pagar para ter homem.
_ Eu não pago. Nunca paguei! Eu gosto do dele e ele de mim!
_ Como você é ingênuo. Será que não vê que esse aí é um golpista?
_ Olha você não tem o direito de me ofender dentro da minha própria casa!
_ Mãe, você acha que eu sou tão incapaz que um homem como ele não pode se apaixonar por mim?
_ Não é isso, meu filho! Entenda, esse tipo de gente não gosta de ninguém! Ele tá se aproveitando de você para te dar um golpe! Ele vai vai te machucar.
Abner sorriu de raiva, balançando a cabeça negativamente.
__ Engraçado é que Júlio sempre me machuca muito e você não se importa com isso. Qual é o seu medo? Que eu deixe o Júlio e venha viver com o Dimitri e assim você perca as mordomias?
_ Não é isso, Leandro! O Júlio, quando quer, pode ser perigoso. Será que você não consegue entender?
_ Acho melhor você perder o medo, mãe, e aceitar, porque é isso que vai acontecer. Mais cedo ou mais tarde, eu vou me separar do Júlio e vou ficar com o homem que eu amo.
Abner o olhou sorrindo e o abraçou por trás, o beijando no rosto.
_ Ama?! Você perdeu completamente a sanidade mental. Caiu direitinho na sedução desse aí. É o que eles fazem. Afinal trabalham com isso. Quer saber? Eu não vou permitir que isso aconteça.
_ Você não pode fazer nada, sogrinha. Aliás, até pode, que tal começar a formular o cardápio dos almoços de domingo para me receber na sua casa como o seu novo genro.
_ Que petulância! Eu não sou a sua sogra e se depender de mim, nunca serei.
_ Mãe, isso não depende de você. O engraçado é que você vive me dizendo que devo fazer vista grossa para a existência do Abner, mas está fazendo todo esse cavalo de batalha por causa do Dimitri?! Mãe, você não tem o direito de se meter na minha vida do jeito que está se metendo. Você vasculhou tudo até chegar no endereço do Dimitri, teve a cara de pau de oferecer dinheiro para ele se afastar de mim e não satisfeita, vem até aqui para nos desacatar! Mãe, você não me respeita mesmo! Nem um pouquinho que seja! São absurdos atrás de absurdos! Eu te peço para que saia daqui. Eu não aguento mais tanta humilhação.
_ É isso mesmo, sogrinha. Foi um prazer recebê-la em minha casa, mas sabe como é, né. Eu estou com uma delicinha dessas e não posso desperdiçar o meu tempo sem dar uma namorada. Acho que você não vai se sentir confortável assistindo a nossa intimidade.
_ Olha o tipinho baixo com quem você está se metendo, Leandro! Sinceramente, quando quiser mentir para o seu marido para se encontrar com esse aí, não me use como álibi.
_ Tudo bem.
Angela saiu decepcionada. Caminhava às pressas e com ódio.
_ Feche a porta!_ Abner gritou. Tremeu com o susto que levou pela brutalidade que Angela fechou a porta.
....
Leandro se jogou no sofá, sentando. Cobria o rosto com as mãos por tamanha vergonha.
Quando olhou para Abner, esse pode ver que tinha lágrimas.
_ Me desculpe, Dimitri? Eu não sabia que ela havia descoberto tudo, inclusive o seu endereço. Eu sinto muito pelo escândalo horroroso que ocorreu aqui...ai que vergonha! Se você não quiser mais ficar comigo, eu vou entender.
_ Não! De jeito nenhum, meu amor! Eu não vou desistir de você por nada. _ Abner sentou ao seu lado e pôs as mãos em seu ombro._ A sua mãe pode fazer o que for, e mesmo assim vou ficar contigo. Você é precioso demais. Eu não sou burro como o Júlio de dar mole de te perder.
Leandro se atirou em seus braços, aliviado por não perder o seu amante. No entanto, permaneceu envergonhado.
_ Eu sinto muito.
_ Você não tem do que se desculpar. Não fez nada de errado.
Num instante, Abner mudou o seu jeito de olhar. Sorria com o canto dos lábios e irradiava malícia nos seus belos olhos escuros. Leandro sabia o que isso significava e corou tímido, pulsando entre as pernas.
Sem rodeios, Abner avançou em seu pescoço branco, de pele macia, perfeito para ser devorado com beijos e chupões.
A principio, os gemidos de Leandro eram contidos, quase sussurrantes, até que foram elevando o tom, quando a mão de Abner penetrou por dentro da sua calça, massageando o seu sexo.
_ Que delícia!_ sussurrou Leandro antes de ter a boca invadida pela língua do amante. Fincou as unhas nas costas nua do morena, penetrando e arranhando-a.
Abner gemia entre os dentes, o tesão aflorava gritante.
Com beijos e gemidos, despiram-se, jogando com violência as roupas pelo chão. Seus corpos estavam sedentos um pelo outro. Exploravam-se com línguas e carícias.
_ Eu quero o seu leitinho, meu homem._ Abner foi ao delírio, ouvindo essas palavras da boca gostosa do seu amante. Para aumentar o nível da provocação, Leandro mordeu o lábio, e lançando um olhar de uma meretriz a conquistar o seu cliente.
Sentiu ser empurrado com força até ser forçado a sentar em uma das poltronas. Leandro ajoelhou-se, abrindo as suas pernas e ficando entre elas.
_ Aaaaaa! Caralho! Que delícia! Boca gostosa do caralho!
Quanto mais Abner gemia, mais Leandro chupava com gosto. Proporcionar prazer ao macho o excitava muito. Engolia o máximo que podia, subindo e descendo com a boca, deixando o pau ereto de Abner todo molhado. Às vezes, parava de chupar para levar a boca até os testículos e saborear as bolas, beijando as coxas peludas e as virilhas, voltando ao pau.
_ Mama tudinho, meu bebê putinho. Vou encher essa boquinha gostosa de leite e depois vou leitar esse cuzinho gostoso, safada.
As putarias ditas por Abner o deixavam ainda mais excitado. Era tão gostoso ser uma devassa entre quatro paredes! Adorava está naquela posição serviu, de joelhos dando prazer ao seu homem.
Da poltrona, Abner pode avistar Leandro o chupando e a sua bunda branca empinada. Tudo isso fez com que o seu apetite sexual aumentasse. "Eu quero esse homem só pra mim", pensou antes de gozar. Proporcionando a sua essência na boca do seu amor. Leandro engolia tudo sorrindo, com malícia.
Teve a nuca puxada para frente até que a sua boca estivesse colada com a de Abner num beijo quente.
Abner o pegou no colo, segurando nas nádegas, o jogou no outro sofá com as pernas abertas e engoliu o seu pau de uma vez.
Leandro gemia alto, se contorcia de prazer, desfrutando da boca deliciosa de Abner. Sentiu-se livre, atingindo a plenitude. Já não pensava em mais nada, esqueceu totalmente da existência dos seus problemas. Só curtia o momento prazeroso, proporcionado por Abner. Gozou muito.
_ Aaaaaaa! Aaaaaaa!
Ainda com as pernas abertas, não conseguia se mexer, sentindo tremores nelas. Num rompante, foi posto de bruços e teve os quadris erguidos, ficando de quatro, com o ânus bem aberto. Abner não resistiu ao buraquinho pequeno e rosado, que piscava para ele. Caiu de boca, penetrando a língua e chupando as beiradas. Terminava com beijinhos e mais penetração com a língua.
Parou por um segundo, indo para o quarto e voltando com o lubrificante. Molhou ainda mais e meteu devagar, para que Leandro pudesse curtir cada centímetro entrando dentro dele.
Rebolava com intensidade, sentindo as mãos grossas de Abner segurando as suas ancas, recebendo tapas sonoros que marcavam a sua pele, as deixando avermelhada. Os cabelos foram puxados para trás, ficando entre os dedos de Abner.
_ Mete tudo vai! Me destrói, delícia! Gostoso!
Numa virada de jogo, mudaram a posição. Abner voltou a sentar na poltrona e Leandro sentou em seu colo, encaixando no pau ereto do moreno. Cavalgava, sentindo as coxas e o bumbum serem acariciados.
Dentro de Leandro, Abner o beijava a boca e mordia o pescoço. Saboreando o máximo que pudesse daquele momento.
Ambos respiravam ofegantes, com peles molhadas em suor. Abner gemeu alto, liberando todo o orgasmo que atingira, deixando Leandro feliz por sentir aquele líquido quente em suas entranhasLeandro despertou assustado. Percebeu, pela janela, que já havia anoitecido. Abner adormecia, se encaixando nas suas costas, na posição conchinha.
_ Meu deus! Perdi a hora!
Leandro levantou num rompante, quase acordando Abner, que gemeu de sono.
_ Eu tenho que ir! Deve ter muitas ligações perdidas no meu celular._disse de pé, se vestindo o mais rápido possível.
_ Ah, não! Odeio quando você tem que ir embora!
Depois de vestido, Leandro pegou o celular e o ligou. Percebeu que havia várias ligações perdidas de Júlio e Angela.
Em uma das mensagens, a mãe o disse "Vá para a casa. Como você demorou a chegar em casa, Júlio esteve aqui a sua procura."
_ Puta que pariu! Fodeu!
_ Hum! O que houve, meu anjo?
_ Nada. Eu tenho que ir.
Abner esticou as pernas para frente, puxou as de Leandro por elas e encaixou os seus quadris.
_ Fique. Já que está atrasado e na merda, durma aqui.
_ Você ficou maluco, né?_ Leandro disse se afastando.
Abner correu atrás e o beijou.
_ Eu ainda vou te libertar daquele homem. Você ainda vai ser só meu.
_ Eu preciso ir, gostoso._ Leandro se despediu com um selinho.
Perto da porta, Abner o puxou, abraçou com as duas mãos na sua bunda e o beijou novamente.
Quando Leandro entrou na sala da cobertura, Júlio o aguardava com um olhar sério. Sentava com as pernas cruzadas numa das poltronas, com um copo de whisky na mão.
_ Onde você esteve?_ perguntou áspero.
_ Boa noite para você também, Júlio.
Furioso, Júlio atirou o copo na parede, desperdiçando o líquido e os estilhaços de espalhando pela sala.
_ Onde é que você estava?_ gritava roco._ Tá pensando que sou idiota? Eu te vi falando de um jeito todo carinhoso ao telefone! Depois você mentiu na cara dura que estava na casa da sua mãe e aquela vadia confirmou a sua mentira! Você perdeu a hora e eu fui até lá te buscar. E advinha só. Você não estava lá!
Júlio se aproximou, apontando o dedo indicador para o marido. Em nenhum momento, Leandro o deixava de o encarar. Estava sério, sem demonstrar medo.
_ Leandro! Leandro! Eu te amo pra caralho! Te amo muito mesmo! Não me faça te odiar na mesma proporção do meu amor. Isso não vai ser nada bom pra você.
_ Em primeiro lugar, nunca mais se refira a minha mãe desse jeito. Eu exijo que a respeite!
_ Você não está em condições de exigir nada.
_ Abaixe o tom de voz! Você não está falando com o imbecil do Abner! Eu não sou um putinho qualquer que você paga para comer e fala como bem entender.
Do alto da escada, Vanessa ouvia assustada os gritos dos pais . Tremia dos pés a cabeça, temendo o resultado daquele conflito.
_ Pare de enrolar e me diga onde estava! É melhor me dizer onde estava e com quem estava. Se eu souber pela sua linda boquinha, prometo que vou pegar leve no seu castigo. Já o dele...eu mato o desgraçado que se atreveu a tocar no que é meu!
_ Calma, doutor Júlio Medeiros. Não se preocupe que o senhor não é o corno da casa. Esse papel é só destinado a mim. O senhor nem ficaria bem com um par de chifres. Estragaria os seus lindos cachos castanhos.
_ Não deboche de mim!
Leandro fechou os olhos e conteve os lábios para prender o riso. Estava amando se sentir vingado por todas as vezes que o Júlio o deixou em estado de nervo por causa das suas traições.
_ Tudo bem! Tudo bem! Eu menti. Me desculpe, mas eu menti para a vossa magestade. Eu não fui á casa da minha mãe.
_ Aonde você foi?!
_ Sem gritar! Não sou surdo... aliás nem com um surdo se fala gritando e sim em Libras. Eu passei o dia com a Valéria. Se quiser, pode lugar para ela e confirmar.
_ Teu cu, que você esteve com aquela vagabunda!
_ Mais respeito com as mulheres, doutor.
_ Eu garanto que se eu ligar, ela vai mentir só para te acobertar.
_ Se você não acredita na Val o problema não é meu. Já terminou o showzinho, Xuxa? Posso ir tomar um banho?
_ Eu vou descobrir. Nem que eu tenha que ir até o inferno, mas eu vou descobrir quem é o seu amante._ nervoso Júlio socou atirou uma cadeira na parede.
Leandro olhou para as escadas e viu Vanessa, chorando, cobrindo as orelhas e fechando os olhos. Foi até ela correndo, a abraçando.
_ Calma, meu amor. Está tudo bem.
_ Essas brigas de vocês estão me fazendo muito mal. Eu não aguento mais.
_ Eu sinto muito, meu amor. Sinto muito._ Leandro a abraçava olhando com ódio para Júlio. Acreditava que não precisava de toda aquela briga. Ele se atrasou sim, mas não era nem dez horas da noite. Quantas vezes, esperou o marido chegar altas horas da madrugada ou com o dia amanhecendo? Não era justo ser tratado daquela forma.
_ Vá para o seu quarto. Eu vou já vou lá falar com você.
_ Eu preciso de ajuda para fazer a redação em inglês. É para o colégio.
_ Tudo bem, princesa. Eu só vou tomar um banho e vou te ajudar. Agora vá para o seu quarto. Você já jantou?
Vanessa respondeu que sim com a cabeça.
_ Muito bem. Vá.
Ela saiu tristonha.
Júlio subiu as escadas, se aproximando de Leandro.
_ Precisava de todo esse carnaval? Olha como você deixou a menina! Você acha que essas suas atitudes não a assustam?
_ Eu não vou permitir que me faça de idiota.
_ Eu vou tomar um banho para cuidar da minha filha, antes que você me acuse de ser um pai incompetente como você sempre faz. A convivência contigo nesta casa está cada vez mais insuportável. Não vejo a hora de sair daqui.
_ Você só sai daqui morto. Nunca vai me deixar.
_ Doente.
Leandro se afastou, indo para o seu quarto.
_ Você nunca vai me deixar...nunca.
....
Além dos momentos em família, na faculdade era um dos únicos lugares que Abner poderia assumir a verdadeira identidade. Na instituição ele não era Dimitri. Nenhum dos seus professores, amigos e colegas sabiam como Abner fazia para ganhar um bom dinheiro extra.
A única coisa que sabiam era sobre a sua sexualidade, coisa que Abner nunca fez questão de esconder em lugar nenhum. O que foi bom para muitos garotos, que ficaram felizes por ter uma chance de dormir com ele. Não só os alunos gostaram, como também a coordenadora do curso de gastronomia, que pode desfrutar de uma tarde tórrida de sexo com um homem mais jovem a fodendo no banheiro do seu escritório.
Foram dois anos de alegrias para Abner. Ele adorava o curso e os amigos, aprendera muito e carregaria as boas lembranças com muito carinho para o resto da vida.
No entanto, apesar de amar o que fazia, Abner estava muito aliviado por ter cumprido todas as suas obrigações como entrega de monografia e TCC, planilhas de estágios e atividades exte-curriculares. Dali a poucos dias, colaria grau, o que deixou a sua mãe muito orgulhosa. Já empolgada para encomendar o próprio vestido e o terno do marido para ir a cerimônia de formatura e a festa.
Entregar as pastas na coordenação era como tirar um peso dos ombros. Finalmente, poderia descansar, já que o último semestre foi muito cansativo.
Ao chegar no portão da faculdade, encontrou Carina, uma de suas amigas. A moça o abraçou.
_ Estamos livres, Abner! Livres!
_ Dá vontade de sair pulando e cantando nesse compus. E aí? Como tá a vida?
_ Difícil, né. Tô atolada com a estreia do meu restaurante. São tantos pepinos para resolver.
_ Relaxa, que vai dar tudo certo. Vamos tomar um shop, gata?_ Abner perguntou pondo o braço nos ombros da amiga.
_ Claro.
Eles foram a um bar, que ficava em frente ao campus. Lugar onde os universitários e professores costumavam se reunirem. As três da tarde, o movimento do local costumava ser vazio.
Os dois conversavam, gargalhando, relembrando dos momentos hilários que viveram durante os anos do curso. O garçom trazia a terceira rodada de shop, quando Carina anunciou que iria ao banheiro.
Enquanto aguardava a chegada da amiga, Abner acessou o seu Twitter para se enterar dos últimos acontecimentos.
O seu coração bateu mais forte quando o celular tocou. Era um número desconhecido. Decidiu não atender. Temia ser Franklin com mais uma das ameaças.
Insistente, Franklin mandou um áudio via whatsapp.
_ Tá gostoso o shopinho, desgraçado?
Nessa hora, Abner sentiu as pernas tremerem. Sua respiração estava ofegante. O homem estava ali, o observando. Apavorado, sentiu o cheiro podre da morte.
Olhou para os lados nervoso, a procura de Franklin. Um novo áudio chegou em seu celular.
_ Pela aliança da gostosinha que está contigo, ela também é casada. Tá dando o golpe nela também, filho da puta? Eu vou te pegar desgraçado. Vai doer pra caralho. A sua hora chegou.
Revoltado e amedrontado, Abner, num impulso, respondeu o áudio.
_ Me deixa em paz, seu maluco! Como que você conseguiu o meu telefone?
Ao olhar para frente, seu coração bateu forte, a sua respiração era tão escassa que o seu peito subia e descia de medo. Avistou um homem moreno, de mais ou menos uns quarenta anos vindo em sua direção, com os olhos coléricos, contorcendo um pouco os lábios. Ele vestia uma calça jeans escura, com a blusa social cinza posta por dentro da calça e um cinto. Os cabelos de Franklin não estavam totalmente pretos como da última vez que Abner o vira. Devido ao sofrimento pelo luto da morte da esposa, envelheceu um pouco nas feições, criando um pouco de rugas em torno dos olhos e vários fios de seus cabelos se converteram para grisalhos.
Ao se aproximar um pouco da mesa, mirou a arma em direção a Abner.
_ Fim da linha, Dimitri. Que o diabo te receba.
Assustado, Abner levantou e correu para o lado oposto, se agachando.
O som das balas disparadas assustaram todos em volta, que corriam e gritavam.
Abner correu o mais depressa que pode. E Franklin ia em sua direção, determinado a tirar a vida do responsável pela morte da sua amada esposa. Disparava sem pensar em nada.