Página Virada

Um conto erótico de Gabriel
Categoria: Gay
Contém 4146 palavras
Data: 30/12/2021 09:48:44

Olá, esse não é um conto erótico, mas um desabafo. Preciso compartilhar minha história, pois acredito que é a forma de eu virar essa página que já está muito mais longa do que deveria. Sendo assim, não espere muito romantismo nem nenhuma forma de erotismo.

Me chamo Gabriel e o que vou relatar aconteceu no início de minha adolescência. Eu já tinha percebido que não era igual aos outros garotos da minha idade, todos eles corriam atrás das meninas querendo beijos e eu não sentia essa necessidade. Uma amiga até me perguntou uma vez o porquê de eu ser diferente, mas eu não sabia responder.

Um dia, resolvi procurar pornografia na internet. Eu não tinha computador, mas meu irmão mais velho sim. Só fiz isso pois estava sozinho em casa. Entrei num site de busca e não lembro exatamente o teor da pesquisa. Saiba que isso foi no início dos anos 2000, e como só tínhamos internet discada em casa, não tinha como eu pesquisar por vídeos. Apenas imagens. Comecei pesquisando por fotos eróticas de mulheres, depois fotos de mulheres nuas até imagens de sexo. As duas primeiras pesquisas não me causaram reações, mas a terceira sim. Comecei pensando que era pelo fato de ver cenas de sexo, mas me peguei olhando para os homens nús e seus pênis eretos. Na hora eu me desesperei. Fechei tudo e lembro que estava respirando rápido, como se tivesse feito uma corrida.

Eu tinha acabado de perceber que sentia tesão por homens. Nunca tinha me dado conta daquele fato até aquele momento. Isso só podia significar que eu era gay. Entrei em negação, eu não podia ser gay. As únicas referencias que eu tinha de homens gays era o que a televisão mostrava, geralmente homens que se vestiam de mulher, e isso não poderia acontecer comigo. Eu sou de uma família tradicional católica, e logicamente, preconceituosa. E eu também era muito preconceituoso, não sabia na época, mas era muito. Foi desesperador. Em meio a esse turbilhão de pensamentos, que perduraram por dias, eu acabei tomando uma decisão definitiva. Eu não poderia jamais me expor, ninguém nunca poderia saber que eu era gay. De outra forma, minha vida estaria acabada. Cheguei à conclusão de que meus pais me poriam para fora de casa, pois já tinha ouvido relatos de outros casos em que pais fizeram isso. Não poderia nem contar com meus amigos, pois nenhum deles me aceitaria. Pelo menos era isso o que o jovem adolescente Gabriel acreditava.

Tentei levar minha vida dessa maneira, negando meus sentimentos e me escondendo de todos. Cheguei até a tentar ficar com uma garota, mas só rolou um beijo e nem eu nem ela curtimos. Os dias viraram semanas, que viraram meses e anos. Aos poucos eu fui aceitando o que eu era, ou melhor, sou. Mas continuava fechado no meu mundo. Por conta disso, nunca tive um namorado, nunca tive sequer uma relação sexual, com penetração. Só havia tido uma breve experiência com um vizinho, na qual ele me chupou, mas isso havia sido antes ainda de eu ter descoberto minha sexualidade. Na época, acreditava que só ele era gay por estar me chupando. Logicamente hoje penso bem diferente disso.

Por volta dos anos de 2010, já estava com uns 20 anos, começou a trabalhar na mesma loja que eu um rapaz, chamado Igor. Ele havia sido um colega da época da escola, mas que não tinha muito contato comigo. Nós nos tornamos amigos e começamos a assistir séries junto, Sobrenatural e Smallville principalmente.

Houve um dia que Igor me confessou que acreditava ser bissexual, ele me pediu segredo, que nem tinha certeza, mas disse que sentia tesão por um outro cara. Na hora eu pensei, "é a minha chance, talvez seja a única pessoa que possa me entender." Contei a ele que eu também era (eu já sabia que era gay e não bi, meio que já tinha aceitado, mas o preconceito ainda reinava dentro de mim), na esperança de conseguir alguma coisa com ele. O problema é que Igor namorava uma garota, e não tinha nenhuma intenção de traí-la. Todas as vezes quando ele vinha a minha casa para vermos as séries ou algum filme, eu pedia para fazermos algo, mas ele sempre negava. Igor apenas permitia que eu o abraçasse e o apalpasse. E, sem nenhuma outra opção, eu fazia isso. Igor me pedia para agir de forma mais máscula, quando outras pessoas estavam próximas a nós, pois segundo ele, era perceptível que eu era gay. Ninguém nunca havia notado, talvez apenas um primo meu, mas ele me perguntou e eu neguei e a história morreu por ali.

A relação de Igor com a namorada acabou terminando, com ele se machucando feio fisicamente inclusive. Nessa época, Igor já não trabalhava mais comigo. Eu o auxiliei na recuperação e, acredito que como forma de recompensa, ele acabou permitindo que fizéssemos uma mão amiga. Eu estava adorando, mas era visível o desconforto de Igor. Ele segurava meu pau com certo nojo, a qualquer gemido que eu dava, Igor afastava a mão pensando que eu estivesse para gozar. Ele gozou na minha mão, mas tive que terminar minha punheta sozinho, pois ele não queria sujar sua mão com minha porra.

Mais algumas vezes eu o questionei para fazermos uma mão amiga novamente, ou que pelo menos ele me deixasse masturbá-lo ou até chupá-lo. Mas ele não queria mais. Então decidi que deveria me afastar dele. Comecei a inventar desculpas para ele não vir mais aqui em casa. Inventei um namorado falso, e aos poucos nós perdemos o contato. Infelizmente, essa interação com Igor, não me ajudou em nada. Não me ajudou a lidar com meus sentimentos, nem sequer aliviou meus desejos. Acabei voltando para a situação de antes. Preso ao mundo das séries, filmes e jogos eletrônicos, para enterrar meus sentimentos.

Alguns anos se passaram e em 2015 as coisas começaram a mudar pouco a pouco. No início do ano, meu primo Jonas, seus dois amigos, Claudio e Bruno, e eu começamos a jogar RPG. Eu já tinha ouvido falar, mas nunca tinha jogado. Foi uma das melhores coisas que aconteceram na vida. Eu podia interpretar um personagem, ser quem eu quisesse, mas obviamente, com medo de deixar transparecer a minha sexualidade, optei por não dar bandeira. Meu primo e Claudio fizeram uma viagem para fora do país, um intercâmbio. No mês de março eles partiram e estava previsto para retornarem apenas no ano seguinte. Eu, Bruno e o irmão mais novo dele, Rafael, continuamos jogando RPG. Tentamos até jogar com os dois lá fora do país, mas apenas Cláudio que ficou jogando conosco. Antes do previsto, Cláudio acabou retornando para o Brasil, pois não havia conseguido emprego por lá e não tinha dinheiro suficiente para se manter. Nesse meio tempo eu me mudei de casa, pois onde morávamos seria construído um prédio.

Desde antes da viajem do meu primo e de Claudio, eu vinha reparando em Cláudio, ele não era lindo, mas não era de se jogar fora. Entretanto, nada indicava que Cláudio pudesse ser gay ou bi. Com o retorno dele, eu passei a prestar mais atenção nele, mas com medo de acontecer algo como foi com Igor ou pior, nunca tentei nada. Meu primo retornou um mês após Cláudio, pelos mesmos motivos e nós 4 seguimos jogando RPG.

Em certo ponto, houve um desentendimento de meu primo com Cláudio, não me lembro o que ocorreu, mas sei que acabamos "expulsando" meu primo do grupo. Acabei evitando conversar muito com Jonas, pois lembro que as atitudes dele não estavam sendo legais.

2016 chegou e acredito que nessa fase eu estava à beira de uma depressão, comecei a assistir filmes de drama, principalmente adolescente. "Hoje eu quero voltar sozinho" foi um dos que me marcou profundamente. Chorei horrores ao assistir esse e outros filmes. Um deles chamado "4th men out", que conta a história de um homem que faz 24 anos, e conta para seus 3 melhores amigos que é gay, me fez tomar uma decisão. Eu não poderia continuar vivendo daquela forma, escondido de tudo e todos. Alguém precisava saber. Decidi contar para Cláudio. Acredito que a decisão de contar a ele primeiro, veio pelo fato de que, se eu o perdesse como amigo, nada mudaria na minha vida. Se ele fosse gay também, algo que eu não tinha completa certeza, acreditava que ele pudesse ser ao menos Bi, quem sabe não rolaria algo. Ou ele poderia simplesmente me aceitar. Meu primo Jonas, teria sido a escolha mais óbvia para essa conversa, porém como não estávamos nos falando, optei pelo Cláudio.

Fui à casa dele num domingo à tarde decidido que não sairia de lá sem antes contar a ele que sou gay. Foi difícil, precisava que ele estivesse me olhando na cara, até ele estava desconfortável, mas consegui. Falei "Cláudio, eu sou gay", e a resposta dele foi a melhor resposta que eu poderia ter recebido: "E daí?" Conversamos um pouco sobre isso, chorei emocionado por ter sido aceito. Ele me tranquilizou dizendo que isso não mudava nada na nossa amizade. Eu inicialmente pedi segredo, pois ainda não estava pronto para sair totalmente do armário. Na semana seguinte, voltando para casa após o Jogo de RPG, contei a Bruno, as palavras saíram mais fáceis, mas ainda era difícil admitir. O Preconceito, o Maldito preconceito sempre me travando.

Num sábado, logo após chegar na casa de Cláudio para mais uma sessão de RPG, eu recebi uma mensagem de uma pessoa inesperada. Matheus, um garoto bem mais novo que eu, mandou-me uma mensagem, apenas me cumprimentando. Inicialmente não entendi o motivo. Eu o seguia no Facebook, curti algumas fotos dele, mas nada que desse a entender meu interesse por ele, mesmo porque não havia. Ele tinha um namorado e as postagens dele me davam fé de que a geração dele seria menos implicante com homossexuais. Enfim, conversamos um pouco e cada vez mais conforme os dias foram passando. Em certo ponto ele me perguntou se eu era gay. Eu estava na luta para ser eu mesmo, ser quem eu deveria ter sido desde sempre, então fui sincero. A partir de então, eu e Matheus começamos a trocar mensagens mais picantes, fotos, e decidimos nos conhecer pessoalmente.

Eu estava super nervoso, havia dito para meus pais que estava saindo para jogar Pokémon Go, pois tinha acabado de ser lançado o jogo e eu realmente o estava jogando. Combinamos de nos encontrar na praça no centro da cidade. Caminhamos, conversamos, contei algumas das coisas que escrevi aqui, e no final nos beijamos.

Eu sentia sua língua na minha boca, me invadindo e eu fazia o mesmo na dele. O cheiro dele era inebriante, o calor do corpo dele colado no meu me deixava desnorteado. Foi um longo beijo, foi um dos mais incríveis beijos que já dei na vida. Voltamos de mãos dadas para casa, eu estava eufórico, só de senti-lo junto a mim, eu me sentia vivo, mais vivo do que tinha me sentido nos últimos anos. No caminho para casa, algumas pessoas passaram por nós e eu ouvi algum deles fazer alguma piada, não cheguei a ouvir o que foi dito, nem sei se foi algo realmente dirigido a nós, ou ao fato de estarmos de mãos dadas. Só que isso me abalou, tomei como um xingamento por ser gay. Na hora Matheus perguntou se eu estava bem, menti dizendo que sim, mas não estava.

Os dias se seguiram e toda quarta e domingo eu e Matheus íamos ao centro, dávamos uma volta e ficávamos aos beijos. Aos sábados eu jogava RPG com Bruno e Cláudio e eu lhes contei as novidades. Eles ficaram felizes por mim, mas pediram que eu tomasse cuidado pois o rapaz era muito novo. Eu queria ter todas as experiências com ele, mas alguma coisa sempre me travava. Certo dia ele ficou sozinho em casa e me chamou para lá. Eu fui, porém, meu pai pediu que não demorasse muito, pois precisaria do carro. Prontamente eu concordei. Chegando à sua casa começamos a nos beijar loucamente, foi intenso foi gostoso, o cheiro dele me deixava maluco. Nesse dia quase chegamos aos finalmente, mas como não tínhamos camisinha nem lubrificante, e eu precisava retornar cedo, me segurei e não transamos. Ficamos apenas nos acariciando e terminamos numa mão amiga. Fui muito burro, se eu tivesse parado numa farmácia logo antes de ir à sua casa, teria resolvido esse problema. Perdi essa oportunidade. Porém eu tinha certeza que haveriam outras, e se elas não surgissem naturalmente, eu as faria acontecer. Eu estava apaixonado por ele, mas sempre havia algo dentro de mim que me travava, que não me deixava dar prosseguimento a nossa relação.

Retornando à casa depois de um breve encontro com Matheus eu decidi que estava na hora de contar para minha família sobre minha sexualidade. Era dia 24 de novembro de 2016, jamais esquecerei esse dia. Eu já não aguentava mais mentir, e eu queria viver plenamente o que estava vivendo, embora ainda houvesse uma parte de mim que olhava preconceituosamente para isso tudo. Contei à minha mãe e ela reagiu como esperado, negando, tentando barganhar e perguntando o que havia de errado com as mulheres para eu não gostar delas. Contei ao meu pai e ele não reagiu de imediato, ficou quieto e simplesmente não falou nada. Eu me assustei um pouco com a reação dele, porém mais tarde, ele veio me perguntar se estava tudo bem, mas depois saiu. Ele não sabia como falar comigo. Eles possuíam um ideal de um filho, que eu pisei em cima e destruí completamente, mas eu precisava fazer isso para viver a minha vida. Recomendei que eles buscassem outros pais que tivessem filhos gays para entenderem o que precisavam fazer. Aos poucos, meu pai aceitou e voltamos a interagir normalmente, mas minha mãe nunca aceitou completamente.

Por volta dessa mesma época Jonas e eu voltamos a nos comunicar mais frequentemente, e ele foi reintroduzido ao grupo de RPG. Também contei para ele minha sexualidade, agora estava bem mais fácil de falar. Acredito que àquela altura, apenas meus colegas de trabalho ainda não soubessem. Eu continuava levando meus encontros com Matheus da mesma forma, estávamos saindo a quase 2 meses e nada de ir para os finalmente. Além disso, mesmo depois de ter saído do armário, eu continuei mantendo a relação com ele em segredo dos meus familiares. Houve também um episódio em que o grupo de RPG iria ao cinema assistir um filme e eu acabei convidando o Matheus, mas o desconvidei, pois estava com vergonha de apresentá-lo aos meus amigos. Não tenho certeza do motivo da vergonha, talvez eu ainda não tivesse me aceitado completamente como um gay fora do armário. Afinal foram muitos anos escondendo, não seria fácil me aceitar assim completamente.

O fato é que chegou o Natal, passei com minha família, que depois viajou à praia e eu fiquei em casa sozinho. Convidei Matheus para vir à minha casa, ficar alguns dias comigo. Estava na hora de ir para os finalmente. Mas ele nunca respondeu a minha mensagem. Mandei mais algumas perguntando se estava tudo bem, mas fui completamente ignorado. Isso me machucou muito, pois eu finalmente estava disposto a fazer algo a mais com ele, mas ele não me deu mais atenção. Hoje eu vejo os erros que cometi, não fui capaz de me entregar a ele, demorei demais para tomar algumas atitudes.

Também havia o fato de que era tudo muito novo para mim, eu já não era mais um adolescente, e a insegurança que eu sempre tive, acabava sempre falando mais alto. Ficamos meses sem nos falarmos, até que ele me procurou e pediu desculpas. Eu ainda estava machucado pelo que houve, principalmente pelo fato dele simplesmente ter me ignorado, mas já reconhecia meus erros e resolvi aceitar suas desculpas. Porém não havia como nos relacionarmos novamente da mesma forma que antes. Decidimos manter a amizade, mas nunca foi mais a mesma coisa. Nos falamos por um tempo, porém aos poucos fomos deixando as conversas para trás.

O tempo foi passando e a sensação de que nada havia mudado pesava em meu peito. Eu havia saído do armário, meus amigos e familiares sabiam, mas nada mudou. Eu esperava que algo mudasse, não sei explicar o que eu queria de mudança, mas eu acreditava que não poderia ficar assim. Acontece que eu também não fui atrás de nenhuma mudança, continuei a fazer as mesmas coisas que fazia todos os dias. Trabalhar, jogar jogos eletrônicos, assistir filmes e séries, jogar RPG. Essa era minha vida, e era exatamente a mesma que antes de Matheus.

Em 2017, próximo ao fim do ano, tive minha primeira crise de ansiedade. Foi uma coisa louca, estava no trabalho e comecei a sentir falta de ar e palpitação, achei que teria um treco. Minha colega me levou ao pronto socorro, mas minha pressão estava boa e a oxigenação do sangue também. Voltei para casa e descansei o resto daquele dia, fiquei apreensivo por alguns dias, temendo que pudesse estar doente, mas nada aconteceu até fevereiro de 2018, quando tive a minha segunda crise. A mesma sensação novamente, terrível e ruim, e a incapacidade de se auto controlar nesses momentos é muito desconfortável. Pouco depois dessa crise, tive uma noite extremamente mal dormida, na qual eu estava com muita azia, não cheguei a sentir as mesmas coisas das crises anteriores, mas havia um aperto no peito de algo que não estava certo.

No dia seguinte procurei ajuda médica. Fui a um cardiologista e um gastroenterologista, ainda não sabia que eram crises de ansiedade, pensei que poderia ser algo no coração ou pulmão e talvez no sistema digestivo. Fiz vários exames e minha saúde estava perfeita, nada de errado com meus órgãos, mas o cardiologista sugeriu que talvez fosse stress, e que talvez uma terapia poderia ajudar.

Um pouco mais tranquilo por conta de não ter nada sério, não fui atrás de ajuda psicológica. Entretanto, continuava sentindo um aperto no peito, como se algo não estivesse certo. Por volta dessa época, Fabrício começou a trabalhar no mesmo escritório que eu. Fabricio é um cara bonito, carismático, daqueles que você gosta logo de cara. Não tinha como não reparar nele. Tentei me aproximar e descobri que ele é hétero, mas a forma como ele fala o jeito sedutor dele, me deixa louco (ainda me deixa, pois ainda trabalhamos juntos). Resolvi que era hora de a turma do trabalho saber minha sexualidade. Contei para minha melhor amiga lá, Amanda, de uma forma que eu achei muito boa, havia lido sobre ela na internet. Criei um grupo no WhatsApp comigo e com ela chamado armário, disse para ela: "espero que você entenda" e saí do armário. Ela compreendeu e ficou muito feliz que eu tivesse contado primeiro para ela. Depois contei para um dos meus chefes, que adora uma fofoca e para o restante nem precisei, esse chefe tratou de espalhar.

Passei o resto daquele ano e parte do próximo com aquele aperto no peito, e tendo pequenas crises que eu acabava de alguma forma controlando. Até que em agosto de 2019 fui atrás de terapia. Comecei algumas sessões com uma psicóloga, fui relatando essa história pouco a pouco e com mais detalhes em alguns pontos e ela foi me recomendando o que fazer. Consegui tirar o peso do peito que tinha já a algum tempo e aprendi técnicas para superar as crises. Me ajudou muito a ver os erros que eu estava cometendo e que nada mudaria se eu não fosse o autor das minhas mudanças.

Na virada do ano de 2019 para 2020, resolvi fazer algo diferente. Fui à casa de Fabricio, pois ele tem muitos amigos, alguns gays inclusive, e estava disposto a tentar coisas novas. Percebi nessa ida à sua casa que, ou eu realmente não gosto de eventos sociais desse tipo, ou eu fiquei tanto tempo longe de pessoas diferentes que não consegui me divertir bebendo e conversando aleatoriedades com aquele pessoal.

Estava me programando para em 2020 fazer uma reviravolta na minha vida. Começar a ter uma vida social além daquilo que eu já tinha, me aceitar mais como eu sou. Acredito que todos imaginam o que aconteceu.

Pandemia. O corona atrasou os meus planos. Eu fiquei tão nervoso e estressado com a situação que até tive alguns problemas de saúde. Aos poucos as coisas foram se acalmando e perto do fim do ano comecei a conversar com Danilo. Eu já havia trocado ideias por mensagens com Danilo tempos atrás, mas as coisas estavam indo rápido demais para meu gosto e cortei os laços. Isso não impediu que entrássemos em contato novamente. Depois de um corte de cabelo, que não fazia desde o início da pandemia, Danilo e eu trocamos fotos, ideias, gostos e marcamos de nos encontrar para tomar um açaí e depois fazer uma caminhada na praça. O dia estava meio feio, e acabou chovendo enquanto tomávamos açaí. Ele me convidou para seu apê, e eu já sabendo o que iria rolar, mas ainda com um pé atrás, resolvi ir.

Lá nos deitamos em sua cama para ver um filme, algum drama adolescente com garotas, não fazia o meu estilo, mas em poucos segundos estávamos nos beijando. O beijo dele era diferente, molhado, com pouca língua, não era ruim, mas era diferente. Nos despimos, mas eu não estava confortável, não consegui ter uma ereção. Algo me bloqueou, eu estava nervoso, pois seria minha primeira vez e o perfeccionismo me dizia que eu não estava limpo o suficiente, e também estava com a bexiga cheia. Danilo estava excitadíssimo, ele queria muito, mas eu não consegui, não me senti confortável. Estava muito nervoso. Cancelamos e ele me trouxe de volta. Meus pais, já suspeitando o que eu tinha ido fazer, me encheram de perguntas, nenhuma direta, mas mesmo assim, foi muito estranho. Poucos dias depois disso, Danilo e eu marcamos para mais um dia sair e fazer algo, mas assim que fizemos isso eu tive uma quase crise de ansiedade. Acabei cancelando o encontro com ele e depois fomos parando de nos falarmos.

2020 terminou e 2021 prometia ser mais um ano tenebroso, mas até que não foi. Não progredi nada na minha vida amorosa, mas estamos aí na luta. Mudei de setor no escritório em que trabalho e isso me deixou menos estressado. Voltamos a jogar RPG presencialmente após termos tomado as vacinas. Assisti a série love Victor e ela me abalou profundamente, me fazendo chorar e pensar nessa merda de história que vocês estão lendo. Por conta disso, fiz uma última consulta com minha terapeuta e contei sobre a série, embora eu já a tivesse superado, e sobre o fiasco do meu último encontro. Ela me fez pensar o que me travou na hora, e eu realmente espero que tenha sido só nervosismo.

Desde que a pandemia começou, para me ajudar a manter a concentração no trabalho, eu comecei a fazer outras coisas que não apenas trabalhar. Ouvir podcasts de RPG principalmente foi uma delas, mas também ler contos eróticos. Já li e reli tantos que não saberia dizer quantos foram.

Perto do fim de 2021, achei aqui na casa o que eu chamei de mina de ouro. Uma série de contos, que começou a ser escrita em 2020, teve uma pausa e recomeçou em 2021. Mais uma vez, um drama adolescente que me atingiu como uma flecha no peito, me fez chorar e me apegar tanto aos personagens, que eu tenho certeza que chorarei mais, pelo que eu acredito que está por vir. Um dos últimos contos publicados no ano, me trouxe algo que eu não esperava. Trouxe contatos, pessoas com as quais comecei a conversar e que, em apenas 4 dias, já me ajudaram tanto quanto outras pessoas me ajudaram em anos.

Escrevi essa história por mim, para quem sabe por um ponto final e definitivo no fiasco dessa parte da minha vida. Mas escrevo isso para todos aqueles que acreditam que não há luz no fim do túnel. Eu sei que eu mesmo não cheguei nessa luz ainda, mas eu agora a vejo e estou caminhando na direção dela. Espero que você, caro leitor, se ainda não estiver na luz, saiba que ela está lá e te espera, e quem sabe nós não possamos nos encontrar nessa caminhada e chegarmos juntos a essa luz?

Sei que não é o que vocês devem estar acostumados a ler aqui e peço perdão pelo longo e chato texto. Gostaria de ler seus comentários e saber o que vocês acharam dessa história. Acrescento ainda que ela é real, apenas troquei os nomes para não revelar a identidade de ninguém. E, se por acaso, você é um dos personagens dessa história e descobriu quem eu sou, me mande uma mensagem no privado para conversarmos melhor.

Obrigado!

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Comentários

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A vida é complicada, mas não desista, tem muita coisa por vir! Acredito que a verdadeira felicidade está na aceitação, independente de qual aceitação for, o resto é o resto. Feliz 2022, não desista querido!

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Olá. Meu caro! Nossa vida nem sempre é perfeita. Talvez vc idealize se mais um parceiro, e o tal momento especial que pode nunca chegar do modo como sonhou. Não se programe demais, apenas viva! Seguindo vc e sua história! Feliz 2022!

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Qual foi a série? Achei bem interessante o teu relato. Não tenhas medo de ser o que tu és. Um beijão e feliz vida nova. DEUS está contigo.

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