Mais uma noite quente de verão. Acordo às quatro da manhã e não consigo voltar a dormir. Entendiado, pego uma cerveja na geladeira e decido ir andar pela beira-mar. Sento em um banco, abro o Grindr e fico zapeando pelo aplicativo olhando todos os rostos e corpos bonitos que aparecem na tela, porém nenhum chama a minha atenção.
Dez minutos depois, chega a mensagem de um cara com o nickname de H. Maduro. Olho seu perfil e ignoro a mensagem. A essa hora já tem algumas pessoas caminhando e correndo por aqui. Fico sentado olhando para o horizonte quando chega outra notificação de mensagem no meu celular do H. Maduro e nela está escrito:
"Quer uma companhia para essa cerveja?".
Olho para todos os lados, procurando ver o cara, mas não o encontro e o ignoro mais uma vez. O celular bipa novamente com outra mensagem dele.
"Não consigo parar de pensar o que um gatinho como você faz sentado aí, sozinho, a essa hora da madrugada."
Penso duas vezes e resolvo responder.
"Insônia". Olho de novo seu perfil. Sua foto é de seu abdômen, como a da maioria dos outros perfis. Não possui muita informação e estamos a apenas 100 metros de distância.
"Posso sentar aí com você?". Indaga ele em resposta à minha mensagem. Penso duas vezes antes de responder e digo que sim.
Logo ele chega e senta ao meu lado. Enfim, vejo o seu rosto e é um cara bem mais velho que eu, porém bonito. E vejo que ele é uma das das pessoas que estavam correndo por aqui. Dou um gole em minha cerveja e espero ele falar alguma coisa.
"Que inveja dessa garrafa", diz ele.
Arqueio as sobrancelhas como se perguntasse "o quê?". Ele entende e logo fala: "Por ela estar tocando a sua boca e eu não". Não consigo controlar e logo solto uma risada.
"Olha ele sabe rir", comenta ele.
"Essas suas cantadas costumam dar certo?", pergunto. Não tem mais ninguém por perto e poucos carros passando na rua e, de repente, me sinto um louco por estar dando atenção para um desconhecido a essa hora da madrugada. E a sensação de perigo começa a me dar tesão.
"Geralmente, sim". Responde ele com um ar de convencido e isso chama a minha atenção. Dou outro gole em minha cerveja, terminando ela, e pergunto para ele:
"Ativo ou passivo?"
"Versátil, e você?". Diz ele.
Analiso sua resposta e devolvo, ignorando sua pergunta:
"Tem local?"
"Sim, tenho e bem perto daqui, por sinal". Responde ele me olhando.
"O que está esperando para me levar para lá?" Falo sem pensar.
Ele olha para a minha cara e dá um sorriso, então percebo que ele realmente é bem bonito e sorrio também. Deve ser a cerveja fazendo efeito.
"Então vamos?". Pergunta ele se levantando e estendendo a mão para mim.
Pego em sua mão e me levanto.
"Vamos". Respondo.