AMOR DE PESO 3 - O CASAMENTO - CAP 1: FUDEU

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 1966 palavras
Data: 30/01/2022 11:08:53
Última revisão: 10/07/2022 21:06:16

Olá! Só vim fazer uma observação aqui. Por motivos criativos, eu mudei o final de 'Amor de Peso 2'. Originalmente, o irmão do Zedu, José Lucas, morreria em uma troca de tiros com a polícia, mas para o andamento de 'Amor de Peso 3', eu o deixei vivo para ser um fio condutor da história do Zedu. Lembrando que amor de Peso foi uma história que comecei a escrever em 2015, então, durante esse processo muito de mim mudou e amadureceu. Espero que compreendam. Boa leitura.

*********

ZEDU

Eu estou tendo alguns pesadelos recorrentes. Na verdade, é mais uma lembrança. Algo que me tira o fôlego. Algo que, apesar dos anos, eu não soube lidar muito bem.

Para encurtar a história: depois que o meu pai morreu, o meu irmão surtou e tentou matar toda a família. Ele ainda conseguiu atirar no nosso irmão mais velho. Eu escapei apenas com algumas escoriações e um trauma para a vida. Obrigado, José Leandro.

Tudo bem. Eu não vou ser um dramático. Esse é o papel do meu noivo, Yuri Teixeira. Estamos juntos desde o ensino médio. Com o passar dos anos, tivemos os nossos altos e baixos, porém, continuamos firmes e fortes.

Depois de quase ser morto pelo meu irmão, decidi que não queria mais morar em Manaus. De início, o Yuri achou a ideia uma loucura, mas estudamos bastante para conseguirmos vagas em universidades públicas (o mais longe possível de Manaus).

O Yuri não fez nem esforço. Eu ainda ralei um pouco. Passei em Publicidade e Propaganda, na Universidade de São Paulo. Arrastado, mas consegui uma vaga. O meu noivo, que na época era namorado, foi aprovado em dois cursos e preferiu estudar Engenharia Civil.

Depois que noivamos, eu recebi uma oferta de emprego no Rio Grande do Sul. Não foi fácil me adaptar ao frio, porque nem se compara ao de São Paulo. Certa vez, a água do vaso sanitário congelou. Tivemos que levar o aquecedor para o banheiro.

Mesmo com as dificuldades, o meu noivo e eu conseguimos fazer as coisas funcionarem. Nem sempre é fácil. Costumamos brigar por coisas bobas, mas quando o assunto é sério, preferimos outra abordagem. Afinal, uma conversa franca não arranca pedaço de ninguém.

Naquela nublada manhã de junho, acordei atrasado. Teria uma importante reunião na agência. Estou trabalhando em uma campanha para aumentar o alcance de uma empresa nas redes sociais, ou seja, horas de sono perdido.

Levantei e nenhum sinal do Yuri no quarto. Geralmente, ele é o primeiro a acordar. De nós dois, o Yuri seria o único a sobreviver sozinho. Eu não tenho nenhuma vocação para ser um 'dono de casa'.

Bocejo. Coço a cabeça. Limpo os olhos. Invento uma infinidade de desculpas para não ir ao banheiro. Faço até uma série de exercícios, aquecer o corpo ajuda. O nosso chuveiro é elétrico, mas, você não tem ideia do frio que está essa cidade.

Logo após a sessão de tortura matutina, mais conhecida como banho, corri para vestir roupas quentinhas. Com o passar dos anos, desenvolvi um estilo que chamo de hipster criativo.

Gosto de usar camisas folgadas, jaquetas jeans, calças coloridas e botas. Para arrasar na reunião, escolhi um moletom preto com capuz (sempre ajuda), uma jaqueta jeans rajada e uma calça preta.

Olhei no espelho e me senti lindo. Um novo homem. Um cara que vai arrasar na reunião e conseguir encantar todos os clientes. Afinal, estou sendo o provedor da casa. O Yuri está tendo dificuldades para encontrar emprego. Eu não quero sobrecarregá-lo, afinal, a ideia de mudar para o Sul partiu de mim.

YURI

Estou recebendo milhares de ofertas de emprego. Infelizmente, nenhuma para cá. Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e, até mesmo, no Amazonas. As propostas não param de chegar. Só que eu tenho um compromisso com o José Eduardo, também conhecido como Zedu. Somos noivos. Eu não posso voltar atrás, né?

Brincadeira. Eu jamais deixaria este homem. Ainda mais agora que ele descobriu como se vestir bem. Um look mais lindo que o outro. Nunca pensei em falar isso, mas eu não me canso do Zedu.

Também não vou romantizar o relacionamento ursino. Durante os últimos nove anos, passamos por várias situações complicadas. Tivemos até a fase da relação aberta. Não vou mentir, foi interessante ficar com outros homens. O único problema? Eles não eram o Zedu.

Na época da faculdade, decidimos baixar um aplicativo destinado para ursos e gordinhos. Alguns caras eram interessantes, outros dispensáveis. A cada novo encontro, eu tinha que fazer uma recapitulação de todas as coisas que eu gostava no sexo. É exaustivo.

Com o Zedu, tudo rolava de forma orgânica. Ele conhece todas as zonas erógenas do meu corpo. Era como se eu fosse um violino e o Zedu o único capaz de transitar com os dedos pelas minhas cordas.

Droga. Senti um cheiro de queimado e saí do devaneio. O Zedu entrou com pressa na cozinha. Nos últimos meses tem sido assim. Eu não achei um emprego decente na cidade, então, focava nos afazeres domésticos.

— Bom dia, bebê. — Zedu desejou, deixando a mochila sob a mesa e pegando uma caneca.

— Bom dia. Atrasado de novo, né? Eu tentei te chamar, mas...

— Eu sei. Sonho ruim. Foi mal. — ele respondeu. Como se ter pesadelos com o irmão psicopata fosse a coisa mais normal do universo.

— Zedu. — respirei fundo. — Eu acho que...

— Amor. Eu estou bem. Nós estamos bem. Isso que importa. O que você fez? — desconversou o meu noivo, servindo uma generosa xícara de café e sentando à mesa.

— Tapioca com queijo. Ainda sobrou da última viagem que fizemos ao Amazonas. — contei, mexendo a massa de tapioca na frigideira.

— Amo. — Zedu disse, porque, realmente, amava tapioca. — O que eu faria sem você?

— Estaria casado com a Alicia. Provavelmente, pai de quatro filhos. Trabalhando no distrito, não. Estaria trabalhando no bate palma.

— Eita. — soltou Zedu, fazendo uma careta engraçada. — Touché. — ele me fez rir, mas queria voltar ao assunto dos pesadelos.

— Amor. Você deveria conversar com um profissional sobre esses pesadelos com o JL.

— Yuri, estou bem. São só sonhos bobos. Eu juro. Prometo ajuda se eles persistirem, juro.

O Zedu odeia falar sobre sentimentos. Ele sempre foi assim. Acho que nunca será diferente. Eu sou o contrário. Eu gosto de falar. Ainda mais quando descobri a terapia na infância. Tudo bem, que algumas coisas aconteceram por eu não ser sincero e/ou conversar sobre determinado assunto, mas sou mais aberto que o meu noivo.

Observo cada movimento dele. O que o Zedu não tem de sentimental, ele tem de confiante, apesar de todos os traumas. É muito difícil vê-lo cabisbaixo ou emburrado. Talvez na adolescência, porém, o Zedu se tornou um homem. E isso me assusta um pouco. Eu não sinto tanta mudança vindo de mim.

— O que foi amor? — ele indagou.

— Nada. Estava analisando o teu grau de confiança. Bebê, você serve uma xícara de café com uma confiança de causar inveja. — comentei.

— Isso é bom. Né?

— Claro. Só queria que isso valesse para o teu lado sentimental. — joguei, esperando uma resposta negativa.

— Amor. Eu estou ótimo. Não quero discutir. Eu sei que você fica preocupado com os pesadelos, mas eles são passageiros. — Zedu garantiu, comendo um pedaço de tapioca com queijo.

Os termômetros de Canela, a cidade em que estamos vivendo, marcam 3 graus. Eu não imaginava que o interior do Rio Grande do Sul fosse tão congelante. O frio é tão intenso que desisto de argumentar com o Zedu. Eu sei que em algum momento, espero que breve, ele busque a ajuda que precisa.

— Bem, eu preciso ir. Você quer alguma coisa do mercado? — questionou Zedu pegando a mochila e dando uma última olhada no visual através da tela do celular.

— Não, bebê. Hoje à noite vou pedir comida. — me aproximei e o beijei. — Te amo.

— Também.

Os meus dias eram tediosos. Graças a Deus descobri os dramas asiáticos. Só na última semana, eu assisti a 40 produções, a maioria tailandesa. Infelizmente, o mosquito do dorama não pegou o Zedu, ou seja, preciso assistir sozinho e comento em fóruns voltados para o tema.

— Hum. — suspirei ao pegar o notebook. — Qual vai ser o dorama de hoje?

De repente, o meu celular começou a tocar. O DDD é 92, o de Manaus. Ao atender tenho uma surpresa. Do outro lado da linha, quem fala é o José Leandro, irmão de Zedu. No início, fiquei mudo, realmente, não sabia o que conversar com ele.

— Yuri, você está aí? — JL perguntou pela quarta vez, antes de obter uma resposta minha.

— Claro, claro. Oi, JL. Você tá bem?

— Sim. Cara, eu preciso conversar com você. — a voz do JL está trêmula.

ZEDU

Eu me sinto imbatível no trabalho. Nada pode abalar minha confiança. Confesso que levei a faculdade muito a sério. Inclusive, arrasei no meu TCC. Fiz uma análise sobre a criação de marcos na publicidade. Essas pequenas coisas salvaram a minha vida. Essas oportunidades me fizeram o homem que sou hoje. Sim, eu tenho diversos problemas internos, mas, hoje, nada pode me deter.

Trabalho em uma das maiores agências de publicidade do Brasil. Temos filiais distribuídas em todas as cidades do país, quer dizer, graças aos céus a cidade de Manaus não está inclusa nesta seleta lista. Atualmente, eu sou o gestor de mercado em Canela. O salário é bom. As oportunidades de aumentar os clientes são enormes. E, cara, sou muito estiloso no frio.

A agência está mais movimentada do que o normal. Há meses que bombamos de trabalhos. Nem preciso dizer que Julho é um deles. Só a minha base tem 18 contratos. Ao chegar no prédio, a primeira coisa que faço é pegar todas as ligações com a minha assistente, a Camille.

— Bom dia, Zedu. — Camille me cumprimenta e entrega uma dúzia de recados.

— Dia agitado? — pergunto sorrindo.

— Demais. — Camille responde. — Ah, eu deixei um chá na sua mesa. O seu Hernando está daquele jeito.

— Tudo bem, Camille. Obrigado. Você faz tudo.

O seu Hernando é o gerente geral da agência. Ele é um homem alto e engraçado. Porém, o chefe não consegue trabalhar sob pressão, por isso, os problemas sobram para os funcionários. Depois de um tempo, a Camille e eu aprendemos a lidar com o seu jeito desesperado.

Na realidade, eu não faço ideia do que faria sem a Camille. Ela foi contratada exclusivamente para trabalhar comigo. Aos poucos, a nossa relação cresceu e viramos amigos. Até almoçamos na casa um do outro. Ela e o Yuri acabaram se tornando amigos também. Eu amo a Camille e sou grato pela vida dela.

De acordo com os recados, eu teria uma reunião com o seu Hernando às 8h30. Agora entendi o chá. Certeza que é de camomila. Abro o computador e preparo todas as planilhas dos últimos meses. Quando se trata do chefe, gosto de estar preparado e o chá me dá uma grande vantagem.

— Zedu, o seu Hernando está lhe esperando na sala de reuniões. Ele está de bom humor. — avisou Camille, fazendo uma careta engraçada.

— Estranho. Devo me preocupar?

— Sim. Demais.

No escritório, a maioria dos funcionários estão na faixa dos 30. Às vezes, fico acanhado por dar ordens para alguns colegas, afinal, eles são mais velhos que eu. Caminho no corredor e cumprimento os companheiros de trabalho. Ao entrar na sala, vejo o seu Hernando com dificuldades para mandar um áudio pelo WhatsApp. Controlo o riso e sento ao lado dele.

— Bom dia, José Eduardo. — ele me cumprimenta, mas sem tirar os olhos do celular.

— Bom dia, Seu Hernando. — o cumprimento de volta e aproveito para colocar os documentos sob a mesa.

— Não, Nadine! — seu Hernando gritou, provavelmente, conseguindo enviar o áudio. — Estou com ele aqui. Vou falar agora que ele será transferido para a nova filial em Manaus.

— Fudeu. — pensei, deixando a minha caneta cair no chão.

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