Lá estava eu, vestindo uma calcinha rosa fio-dental, com um vestido vermelho curto e cheio de decotes, uma sandália de salto médio, indo em direção ao carro para pegar as carnes e as cervejas. Na minha cabeça, as últimas palavras de Ângela não paravam de se repetir:
"E você deve fazer tudo isso, rebolando bem essa bundinha, como uma putinha bem safada".
Tentando me acostumar com aquela sandália de salto, eu deveria rebolar a bundinha e deixar-me observar por aquelas duas dominadoras. “Vem cá, meu amor, deixa eu ver o seu pacotinho. Olha que volume gostoso, o pauzinho ficou todo ereto de novo”.
As duas me tocavam, como se eu fosse propriedade delas. “Agora, vira, meu amor, deixa eu ver essa bundinha, tá gostoso sentir o tecido de algodão entrando no seu rabinho? Toda putinha tem que vestir uma tanguinha bem saliente para ficar mais viçosa”.
Posicionando o dedo no meu cuzinho e depois ajeitando bem a calcinha no meu rego, a Gê falou: “Aqui está a chave do carro, vai lá pegar as nossas cervejas e o nosso churrasco. Não esquece de rebolar bem essa bundinha”.
Eu fui em direção a porta do jardim, mas bastou que desse alguns passos para que a Gê me pedisse para voltar. “Volta, aqui meu amor, volta aqui”. Sem entender, resolvi retornar. “O que foi, esqueci alguma coisa?”, perguntei.
“Você não rebolou direito a bundinha, tem que dançar para gente e levantar um pouco esse vestido para gente poder ver melhor a sua bundinha”. Fiz o que elas me mandaram, até que me desequilibrei, por conta do salto, e precisei recomeçar tudo novamente. Na segunda tentativa, ao mexer as ancas, acabei por pisar em falso, e a Gê me chamou para perto dela e aconselhou: “Meu amor, você precisa se soltar mais, tem que acreditar que é uma putinha de verdade, incorporar o papel. Já sei, talvez seja mais fácil sem o vestido, você vai para o carro apenas de calcinha e salto, tudo bem?”
Antes de ir, falou a Lê, quero que você repita o seguinte: “Eu sou uma putinha e só preciso aprender a rebolar com um salto sem tropeçar”. Isso mesmo, disse a Gê, se você pensar apenas nisso vai ser mais fácil. Apenas repete o que a Lê falou. Repeti baixinho, mas elas fingiram não escutar. “Mais alto”, falaram as duas.
“Eu sou uma putinha e só preciso aprender a rebolar com um salto sem tropeçar”, falei em alto e bom som. E depois perguntei: “por qual motivo estou sendo castigado?”. O motivo, disse a Gê rindo, “é você ter resolvido namorar uma dominatrix, que gosta de mandar e humilhar os homens. Agora, anda e continua repetindo o que a gente mandou, alto para que possamos escutar, e sem mais perguntas”.
Fui, mas nunca fui bom de dança, ainda mais com um salto. Tropecei novamente. ”Vem cá, meu amor”, chamou a Gê novamente, “Todas as vezes que você errar, o seu castigo vai aumentar. Agora, você deve dizer o seguinte: “Eu sou uma putinha de calcinha fio-dental e só preciso aprender a rebolar com um salto sem tropeçar”.
Fui, e tropecei. A frase aumentou: “Eu sou uma putinha de calcinha fio-dental, que adora dar o cuzinho, e só preciso aprender a rebolar com um salto sem tropeçar”. Se eu continuasse tropeçando, a frase ficaria tão grande que eu já não mais conseguiria decorar. Então, procurei me concentrar ao máximo e, finalmente, atravessei a porta do jardim, ficando distante do olhar das duas.
Eram cinco horas da tarde, eu estava no final de uma rua sem saída que mal conhecia, com uma calcinha rosa atolada no rabo e repetindo uma frase indecente. Peguei as carnes, as cervejas, a bolsa com algumas mudas de roupa que eu e a Gê havíamos preparado, afinal dormiríamos na casa da Letícia naquele final de semana, e retornei.
Ao chegar no jardim, continuei a repetir a frase e a rebolar, com cuidado para não haver mais tropeços. “Eu sou uma putinha de calcinha fio-dental, que adora dar o cuzinho... aí, aí, aí”. Dessa vez, pisei realmente de mal jeito e acabei derrubando o saco com as carnes, e me sentando na grama. Retirei as sandálias e as meninas acudiram em minha direção
Gê veio, olhou o meu pé machucado e passou a massageá-lo. A dor passou e percebemos que havia sido apenas um susto. “Acho que não sirvo para sandalinha de salto”, exclamei. “Serve sim”, a Gê respondeu de imediato, “é só uma questão de treino”. Dando tapas na minha bunda, ela complementou: “Estou adorando te ver submisso, isso aumenta ainda mais a nossa conexão”.
Não aumentava. Na verdade, uma distância começava a surgir. No início, eu havia gostado. A perda de controle, o entregar-se por completo a uma outra pessoa, o jogo sexual, os tabus, mas agora sentia uma certa ressaca, queria juntar os cacos que sobravam da minha antiga identidade, recompor-me. Algo em mim tombava, tropeçava e desejava voltar a se erguer. Sem pensar duas vezes, tirei a calcinha e entreguei para Gê, dizendo: “Toma, não quero mais”.
Gê olhou para mim atônita, sem compreender. “Eu cansei, Gê, foi só isso”, falei, “cansei de ser o submisso”. Minha namorada protestou: “Mas você estava excitado com o nosso jogo, seu pau não parava de ficar duro, e você mesmo pediu para gente te comer”. “É verdade”, respondi, “mas toda festa termina, entendeu? E essa terminou para mim. Podemos nos divertir sem inversão, sem que eu seja a putinha de vocês, ou então é melhor eu ir para casa e acabarmos logo com isso”.
Segurando o saco com as carnes, de um lado, e as cervejas e minha bagagem, de outro, perguntei para Letícia onde ficava o refrigerador e a churrasqueira. “Pode deixar que eu guardo as cervejas”, ela respondeu, “vai para piscina, é só seguir esse caminho de pedras. A churrasqueira fica lá também”.
Chegando na piscina, a primeira coisa que fiz foi ligar o chuveiro, pegar um sabão e tomar um bom banho. Eu me esfregava com força, com raiva, querendo tirar qualquer coisa de ruim de dentro de mim. Eu era um homem ou não era? Era um homem ou um capacho? Coloquei as mãos no meu ânus, estava dolorido e contraído, tendo voltado para sua forma original. O que eu tinha feito? Qual era o limite do prazer?
De corpo lavado, mas me sentindo ainda estranho por dentro, fui até a churrasqueira e comecei a preparar as carnes, enquanto bebia uma cerveja. Gê apareceu junto com Letícia e tentou ser compreensiva: “A culpa foi minha. Eu acho que fiquei tão animada com a sua aceitação inicial que me empolguei demais. Acho que foram coisas demais para você digerir. Você me desculpa?”.
“Você precisa entender a Gê”, falou Letícia, “depois que a gente entra no mundo do sadomasoquismo, deixa de curtir o sexo baunilha. Ela só queria que você conhecesse um pouco do mundo dela. A gente não queria te humilhar de verdade, é parte do prazer, é um jogo, uma encenação”.
“É isso mesmo”, complemento a Gê, “com o tempo, o sexo comum fica sem graça. Que tal a gente inverter, você poderia ser o dominante, junto comigo, a Letícia curte ser submissa. Assim, você fica conhecendo o outro lado da dominação, o que acha?”
“Não sei”, respondi, “agora quero apenas beber umas cervejas e fazer o nosso churrasco”. Nesse momento, meu celular tocou, era a Bia, resolvi atender:
“Oi, pai, eu tomei minha decisão, não fala nada, apenas me escuta, tudo bem?”.
“Tá certo, filha”, respondi.
“Pensei muito na gente, em tudo de diferente que aconteceu com a gente, na chegada da Gê, nas nossas orgias, na viagem à praia de nudismo. E quer saber de uma coisa, pai, por mais loucuras que a gente tenha feito, o momento mais marcante para mim foi quando eu tive a coragem de me abrir para você, quando a gente se desnudou por completo, o nosso primeiro beijo, a nossa primeira transa, a vez que eu te encontrei na sala se masturbando, de olhos fechados, até ficar com as mãos sujas de porra e eu disse que estava tudo bem e até segurei nas suas mãos, fazendo com que você superasse a vergonha que sentia. Eu estou com saudades, pai. Eu te amo”.
Visivelmente emocionado, com lágrimas nos olhos, respondi: “Também te amo, eu te amo como filha, e como mulher”.
“Pai, eu posso ir para aí. Quero muito te ver, te beijar, sentir você junto de mim. Meu corpo está cheio de saudades”.
“Você não pode vir, minha filha, você deve vir”, respondi, “estou precisando de você, dos seus abraços, dos seus carinhos, dos seus beijos, das suas palavras de conforto”.
Com voz de preocupada, minha filha perguntou: “Aconteceu alguma coisa, pai, por que precisa do meu conforto?”
Fiz uma pequena pausa e respondi: “Sabe quando você me encontrou no sofá com as mãos sujas de porra e segurou nas minhas mãos e me fez não ter vergonha dos meus prazeres? Acho que está acontecendo algo parecido agora, vem cá, preciso de você.”
“O que você fez, pai? Olha, seja o que for, se não machucou ninguém, não precisa se sentir culpado. Estou indo para aí. Avisa a Ângela e a Letícia que eu estou chegando. E pode dizer para Lê que eu sou sua filha, meu amor por você é maior do que qualquer tabu ou preconceito”.
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