Oi, eu sou o Jonas, 39 anos, casado, bissexual não assumido e antes era praticante de crossdressing, prática que eu deixei de lado devido a infortúnios da vida e meu corpo de sapo. O relato de hoje não é uma história erótica e sim, um desabafo e explico o motivo pelo qual deixei de praticar o crossdressing. É um relato curto, não sei se consigo manter o foco nele, pois pra mim é um assunto difícil de lidar até hoje. Entendam que apesar de tudo, ainda tem mais e espero que entendam, como disse no primeiro conto, estou usando esses relatos para ajudar a combater a depressão que hoje tenho e segundo meu analista, expressar isso em palavras ajuda no processo de cura, agradeço de coração a todos que leram todos os contos e escrevam nos comentários o que acharam dos meus relatos até agora. Ajuda muito a saber se está bom ou se devo continuar ok, obrigado a todos que leram até aqui.
Continuando...
Jamais vou me esquecer daquele feriadão, foi um evento que mudou muito a minha cabeça a cerca da minha sexualidade, me deu mais segurança para fazer o que eu queria e me mostrou que eu realmente podia contar com outra pessoa, nesse caso André.
Passou pouco mais de um ano em que eu e André começamos a namorar e nesse período já havia abandonado totalmente o meu Ego de Juliana, André sempre preferiu Jonas a ela e as poucas vezes que cedeu a minha vontade de me montar, notei que o tesão não era o mesmo o que também acabou me desanimando, a verdade é que eu achava que para poder me sentir mulher de alguém eu precisava de roupas, bijuterias e lingeries. Fato que eu sentia um tesão enorme pelas roupas e todo o resto, mas o meu relacionamento com André me mostrou que eu não precisava daquilo realmente. Com exceção de uma calcinha aqui e ali, disso nunca abri mão pois realmente amo sentir a maneira como ela me faz sentir poderosa na frente de um macho, do resto abri mão de tudo. Nesse período apesar de ainda ter a casa que Tia Isaura havia me cedido, eu passava mais tempo indo para o apartamento de André, não chegamos a morar juntos, mas realmente passava boa parte do meu tempo livre lá. Quando não estávamos no trabalho, estávamos na casa dele, afinal de contas, era mais confortável e mais perto do trabalho. Em algumas oportunidades, meus pais vieram do RJ para São Paulo, mas nunca falei para eles a respeito de André, o medo que eu sentia e ainda sinto hoje em dia, de eles descobrirem a minha sexualidade, nunca me permitiu que eu me abrisse completamente. André não gostava disso, fato que toda vez que eles vieram a São Paulo, isso foi objeto de discussão entre nós dois, mas de toda forma, apesar de não gostar, sempre respeitou o meu desejo por manter isso quieto. Ele sabia que eu não tinha vergonha dele nem nada, era e é apenas um medo que eu não consigo expressar em palavras. De toda forma, isso nunca foi empecilho para que eu e André pudéssemos ficar juntos.
Bem, era janeiro, estávamos na reta final de um projeto que envolveria quatro grandes empreiteiras para a construção de um anexo de uma plataforma de petróleo em Macaé no RJ. Estávamos a todo o vapor e precisávamos entregar alguns projetos o quanto antes para que pudéssemos conseguir as devidas aprovações e ter a liberação final para dar inicio ao processo de construção.
Essa semana estava muito tensa, tanto que por varias noites, André ficava acordado revisando projetos e contratos a fim de agilizar o processo, isso estava me deixando preocupado com ele, a preocupação estava afetando ele de forma bem visível, nunca havia visto André cansado e estressado daquele jeito. Por vezes André e eu acabávamos voltando pra casa separados, eu estava em fase de prestar vestibular e além do trabalho ainda estava estudando muito e com isso, eu acabava indo pra minha casa ou a de André para estudar enquanto ele ficava na empresa revisando contratos, projetos ou em intermináveis reuniões.
Em uma noite falei com André.
- Amor, o que você acha da gente descansar um pouco nesse fim de semana? Não acha que estamos exagerando?
- Gostaria muito de poder fazer isso – falou ele – mas infelizmente, ou abro mão disso agora e aproveitamos depois ou acabamos por perder o prazo do projeto e aí arrumamos um problema ainda maior.
Estava preocupado com ele. A pressão estava afetando nossa vida pessoal, sexual e principalmente a mente de André que a cada dia que passava estava mais e mais estressado e tenso. Esse processo ficou assim até o dia 18/01, era uma sexta-feira quando finalmente entregamos o projeto e André finalmente se livrou desse suplicio. O pessoal da firma resolveu tomar umas cervejas para comemorar a entrega do projeto, eu declinei, iria para casa pois ainda precisava estudar e como nunca fui chegado a bebida, não gostava muito de ir nessas rodas de cerveja. André disse que ficaria um pouco com o pessoal e que depois iria pra casa. Não gostei muito, queria que ele fosse pra casa comigo descansar, mas entendi que naquele momento ele precisava comemorar e não fiquei enchendo o saco dele.
Era madrugada de sexta-feira para sábado. André ainda não tinha voltado para casa e eu comecei a ficar preocupado. Havíamos combinado de ficar na minha casa nesse fim de semana. Eu ligava para o celular dele mas estava dando desligado e eu ligava para a casa dele e ninguém atendia. Algo me dizia que tinha acontecido algo ruim.
Era pouco mais de 3 da manhã quando meu celular toca, era André.
- Alô! André, aonde você esta cara? – falei apreensivo.
Não foi André que respondeu a ligação. Um homem, se identificando como Sargento do corpo de bombeiros militar de São Paulo, havia ligado pelo celular de André. Meu número estava como Amor o que fez com que o bombeiro me ligasse tendo a esperança de que fosse algum familiar. André havia falecido num acidente de carro. Naquele momento meu chão sumiu, o ar faltou e a única coisa que eu conseguia fazer era chorar. A pessoa que me completava naquele momento havia sido tirada de mim.
O bombeiro me informou que André estava num taxi que havia pegado para voltar pra casa. O taxista estava passando por um cruzamento quando outro motorista avançou o sinal e acertou o taxi bem em cheio no lado em que André estava. Ele foi resgatado ainda com sinais vitais, mas não resistiu e faleceu. O sargento me deu as orientações a respeito de onde eu poderia ir para fazer a identificação do corpo e desligou o telefone dizendo que sentia muito a minha perda.
Fiquei quase uma hora sem saber o que fazer. Liguei para minha tia, ela prontamente foi para minha casa e me levou até o hospital para onde o corpo de André havia sido levado. Peguei os pertences de André junto com uma enfermeira que me levou até a área administrativa do hospital. Depois o calvário. Entrei em contato com a mãe de André, ela morava em minas e nunca tive contato com ela maior do que uma ligação de telefone, expliquei a ela a situação do ocorrido tentando minimizar o máximo à dor dela, eu sabia que doía. Se pra mim era insuportável eu imaginava a dor da mãe dele.
Desculpem, está difícil continuar, vou tentar resumir.
André morreu. Perdi todo o interesse no meu trabalho, pedi demissão e voltei para o Rio de Janeiro, estava muito difícil ficar em São Paulo. Fiquei quase 3 anos em depressão devido a morte dele e era difícil pra mim pois eu simplesmente não conseguia dizer pra ninguém que o meu namorado, a pessoa que mais me conhecia, mais me completava e que eu era totalmente entregue havia morrido e eu não podia fazer nada a respeito daquilo.
Fiquei totalmente rebelde ao ponto de abandonar a faculdade, fiz tatuagens no meu corpo, engordei um pouco e até mesmo o sexo deixou de ser algo que me fizesse querer algo. Em um determinado momento eu tentei me montar novamente, tentei ser Juliana, quem sabe sendo ela eu não conseguiria deixar a minha vida de lado. Meu corpo, minhas tatuagens, os pelos que haviam crescido, eu não era mais uma cross, eu era um homem desleixado e irritado que tentava usar roupas de mulher, naquele momento eu vi que Juliana também havia morrido em parte. Eu estava sem André e isso mexeu muito comigo. Fiquei um bom tempo recluso na casa de meus pais, só queria saber de jogar no computador e não ser importunado por ninguém.
Depois de 4 anos da morte dele, conheci a minha atual esposa. Começamos uma amizade e eu comecei a ter um interesse maior por ela. Depois de 1 ano, começamos a namorar e 2 anos depois nos casamos. O meu casamento com ela foi mais por amizade e parceria do que por sexo. Nunca nos baseamos nisso, tanto que até hoje transamos muito pouco, mas somos felizes pois contamos com a amizade um do outro.
Depois que nos casamos, a saudade por André foi diminuindo, ela nunca sumiu. Ele ainda é parte viva dos meus pensamentos, mas pelo menos a dor foi amenizada. O tempo cura tudo e eu consegui me reerguer. Meu outro eu ficou de lado por um bom tempo. Hoje aprendi a ter cuidado e equilíbrio para manter os dois funcionando. Fico triste por ter relacionamentos extraconjugais. Fico mesmo, acho que minha esposa não merece isso, ainda mais ela que me ajudou tanto. Mas eu precisava e preciso dar vazão as minhas outras necessidades, senão eu vou acabar tendo um colapso. Minha esposa não sabe que sou bissexual. Acho que ninguém do meu circulo de amigos e famílias vai jamais saber. Mas, depois de casado, pude ter minhas pequenas aventuras, mas isso deixo pra contar uma outra hora se vocês quiserem saber a respeito ok.
De toda forma, obrigado a todos que leram até aqui.
Abraço do Jonas.