Era uma cidade a beira mar, nos trópicos, típica por seus habitantes tão libidinosos estarem a beira do pecado pela quase ausência de roupas, pelo calor que incendeia o desejo e pelo apelo maravilhoso do refrescar da água marinha em corpos deslumbrantes. Neste pedaço de paraíso, contam, ocorreu o seguinte fato: Um jovem e saudável rapaz nascido e criado nesta terra, matreiro pela escola da vida, estava namorando há tempos com uma garota muito linda e com um corpo fenomenal (tanto que era chamada de “gostosa” com todas as letras por todos os homens que cruzassem seu caminho), um perfeito “violão”, daquelas que sabem que o são.
Contudo, apesar da luxúria em alta ser fenômeno corrente nestas paragens por motivos já explanados, suas tentativas para levar a cabo suas intenções pecaminosas com o ente amado nunca obteve o sucesso desejado, ou seja, a tão acossada penetração, visto que a moral vigente, apesar da cidade ser a beira mar, era a da moral católica retrógrada. Praticar a mais maravilhosa das completudes carnais, na mais concludente plenitude que este tão magnífico ato com ela poderia permitir, era tudo o que ele almejava em sua juventude repleta de desejos lascivos e concupiscentes. Certo dia, fatigado por tanta frustração, ele tentou finalmente argumentar, além das carícias de praxe, agora totalmente ineficazes para o intento. Disse: “Nós nos amamos, não é? Estamos juntos há décadas”, exagerou ele. “Você não considera que já é passado da hora de consumarmos o que, pelo visto, nós dois tanto queremos?”
Entretanto, para seu desespero ela o recusou novamente repetindo a ladainha que proferia desde que ele empreendeu sua primeira abordagem libidinosa: “Eu te amo. Muito. Mas você sabe que sou virgem e de família tradicional. Portanto, sexo comigo será somente após o casamento”. E disse mais: “Contudo, se o casório ocorrer sou capaz até de praticar com você o 'CANDELABRO ITALIANO', o qual, diga-se de passagem”, acrescentou ela com um misto de excitação e vergonha, “adoraria com você realizar”. “Candelabro italiano?” Pensou consigo mesmo: “Mas que diabo seria isto? Tenho anos de putaria e nunca ouvi falar de tal nome tão sugestivo para alguma arte sexual...” Muito confuso, apesar de curioso com tal proposta, ele imediatamente chegou a conclusão que não deveria perguntar a uma dama virgem como sua namorada do que se tratava, mais do que pelo respeito, pelo temor em demonstrar ignorância em um assunto que, por obrigação de “putanheiro”, deveria ser escolado.
Resolveu então, após sair da casa de sua namorada, tentar esclarecer do que se tratava com uma pessoa de sua inteira confiança a quem depositava toda sua formação desde seu nascimento: seu pai. “Eu sabia que um dia meu tão estimado filho viria a mim com perguntas deste gênero”, respondeu seu genitor após saber de sua indagação. “Confessarei a você agora algo que nunca em minha vida havia dito. Eu e sua mãe fomos adeptos de tal 'delícia carnal' desde a primeira vez em que nos conhecemos. Digo-lhe mais... eu e ela fomos viciados em tal prática. Contudo sua mãe me fez prometer antes de morrer que jamais quebraríamos o pacto do silêncio sobre nossos atos de alcova em virtude do fato de que as demais pessoas que compõem a sociedade em que estamos imersos jamais nos perdoariam, mesmo pós-mortem. E o estou fazendo agora, em termos, apenas porque você é meu filho e tenho o dever de lhe informar sobre o quanto o ser humano na história da sexualidade humana desenvolveu tal ato para que ele chegasse a este ponto de máximo prazer. O nobre romano, que séculos atrás teve o privilégio de surgir como referência à tão maravilhosa invenção sexual, forneceu a humanidade talvez a maior contribuição possível à felicidade humana. O 'candelabro italiano' se constitui talvez na forma mais suprema que o ser humano encontrou para libertar a energia motriz dos instintos da vida e de toda a conduta voluptuosa e sensual humana. Não lhe direi mais além disto meu filho, pois a partir daqui a vida tratará de mostrar seu rumo, visto que, pelo que percebo, você já é um homem feito. Confie em você mesmo e apenas certifique-se, quando do ato, de que irá usar os equipamentos necessários de modo correto”, recomendou seu pai por último.
“Equipamentos?” exclamou mentalmente ele. “O que mais necessitará tal ato além de dois corpos em desejo? Sou um homem feito, mas pelo que vejo completamente ignorante neste assunto.” Ainda mais desconcertado pelas ternas, porém inconclusas palavras paternas, o jovem resolveu solucionar tal enigma com pessoas do “ramo”. Rumou até o bar que freqüentava com inúmeros amigos, dentre eles o companheiro de anos em farras e ocasiões do gênero, o parceiro-quase-irmão. Chamou-lhe para uma conversa em particular e lhe contou o ocorrido. A resposta veio rápida: “Ih, meu inestimável amigo. Desconfio que terá que casar. Não há saída”. “Mas como assim? Como é que é este tal ato sexual?”, retrucou aflito e ainda mais confuso. “Olha”, começou ele, “você sabe que entre nós nunca houve segredos, mas por mais que me esforçasse em lhe contar, por mais preciso e detalhista que fosse, jamais chegaria perto da maravilhosa sensação que lhe causaria realizar tal ato. Aconselho-o a fazer. Daí realmente saberá o que é. Tenha apenas cuidado com as inevitáveis cãibras e torcicolos”. E calou-se e voltou a farra no bar.
Maravilhado e mais curioso ainda o jovem rapaz resolvera sair imediatamente dali para buscar seguir o tão interessante conselho. Foi rapidamente a morada de uma de suas inúmeras “amigas da tarde”, pécoras casadas que na verdade deliciam-se com alguns parceiros dos quais elas obtém sexo e não amor. Ao entrar em sua casa, visto que já era íntimo, a encontrou quase nua na sala lendo alguns contos eróticos. E, carregado de excitante lascívia diante de tal visão e em virtude de seu tesão acumulado pelos acontecimentos que se sucederam, imediatamente pôs-se a copular com ela realizando um ardoroso, molhado e completo ato sexual sem dizer palavra. E, somente aí, no decorrer daquele estado de torpor pós sexo tão deliciosamente reconfortante, perguntou de bate-pronto a sua concubina: “Minha doce e tão sexy amiga: Você alguma vez em sua vida já praticou o 'candelabro italiano' com alguém "?
A reação dela também foi imediata. Após ter quebrado um vaso em sua cabeça, o chutou pelado da cama vociferando: “Você está pensando o quê de mim?” Inquiriu ela. “Apesar de transarmos a tempos sem meu marido saber, eu sou uma pessoa que merecia de você um pouco mais de consideração. Saiba que nunca passaria pela minha cabeça sequer a leve intenção de com alguém realizar tal 'coisa'. Fazer isto é deveras vulgar, digno de putas rameiras. Elas sim se sujeitam a isto por dinheiro. Acho até que algumas mais loucas gostam. Além do mais gosto do sexo de maneira privada. Caia fora daqui”.
Após ser expulso com a cueca nas mãos, ao se vestir no jardim, ele se pôs a pensar de maneira mais insidiosa sobre tal posição sexual, performance ou sabe-se lá o quê sexual, sem sequer se importar com a perda agora de uma das mais experientes de suas amantes. “Sexo de maneira não-privada?” A curiosidade o incendiava. Raciocinava, raciocinava e as peças do jogo não se encaixavam. Precisava mais do que nunca aplacar tal chama. Decerto seria algo tão deliciosamente pecaminoso cuja leve idéia afronta agressivamente a moral sexual feminina a ponto de ultraje. Resolveu então ir a um prostíbulo, local que, por decerto (conforme lhe sugerira sem saber, a ex-amante), haveria quem lhe desse explicações sobre ato tão carregado de baixas intenções.
Ao chegar lá escolheu a mais experiente (contudo ainda linda apesar de balzaquiana), a mais puta, a mais desejada, a ex-miss, a mais safada, enfim a melhor de todas as que existem num local como este. Escolheu a rameira que fazia sexo porque gostava mais do que pelo vil metal. Disposto a pagar uma verdadeira fortuna por uma noite com tal beldade a carregou para a cama. Contudo desta vez procedeu diferente. "Agi mal quando da última transa. Estava carente. Tal qual fui aconselhado, vou fazer com ela o tal do 'candelabro' ao invés de somente perguntar", pensou ele consigo mesmo. Enquanto ela sensualmente se despia entre afagos, beijos e deliciosas mágicas linguais, ele arriscou a perguntar: “Você é o tipo de pessoa que faz de tudo em termos sexuais, não?” Ela gargalhou gostosamente e respondeu: “Em minha vida não há o que não tenha feito, se não por prazer, por dinheiro. Tudinho mesmo”. Ele sorriu aliviado ao verificar que a escolha foi acertada. Foi então que ele suspirou e pediu sussurrando em seu ouvido: “Pois hoje eu quero ter com você o 'candelabro italiano'. Pago o que pedir”.
Ao ouvir isto ela empacou estática, seus músculos enrijeceram e num piscar de olhos não estava mais ali aquele vulcão, aquela mulher ardorosa e pecaminosa, que há minutos estava disposta a lhe entregar totalmente seu delicioso corpo. Restava apenas um semblante de desgosto e de decepção. Ele a atingira no âmago de sua sexualidade. Ela então abaixou a cabeça e silenciosamente foi vestindo a sua roupa quase a chorar. Ele atônito não sabia o que fazer. O que teria dito? O que significava tudo aquilo? A bela prostituta sentou-se na cama e desatou a chorar, chorar e chorar, tão alto que atraiu a atenção do gerente do estabelecimento, o qual, nestes casos, sempre está de prontidão para evitar qualquer violência, infelizmente as vezes comum neste tipo de lugar. Não precisou arrombar a porta. Ela mesmo abriu e como ela não conseguia pronunciar sequer uma palavra devido ao soluçar constante, ele concluiu que algo muito malvado o jovem tinha feito ou dito a mais bela das meretrizes. Antes que o gerente investisse contra ele, o assustado rapaz resolveu contar a verdade tentando esclarecer o que havia ocorrido. "Mas eu só pedi a ela para fazermos um 'candelabro italiano'... unzinho só..”
A emenda saiu pior que o soneto. O safanão que recebeu foi ensurdecedor. Sem dizer nada (e nem precisava visto que sua pesada mão dizia tudo), o gerente manifestava seu descontentamento com tal proposta tão cabeluda e indigna a uma pécora. Por fim, o jovem rapaz foi, a cada petardo que recebia, defenestrado do estabelecimento. Todo alquebrado e sem apresentar aquela inicial perseverança o esfolado rapaz resolveu, sem mais demora, tirar isto a limpo com a primeira pessoa que havia lhe inspirado tal desejo, a que tinha lhe falado de forma tão generosa sobre tal ato sexual: sua namorada.
Engoliu o orgulho e, agora mais do que movido pela maravilhosa curiosidade natural de início, a qual inicialmente o excitava sobremaneira, ele agora estava à beira da loucura ensandecida por descobrir qual o componente tão agressivo a moral que existia em tal ato sexual. Não poderia haver na face da terra algo tão sexualmente contra o conjunto de regras de conduta social vigente. Era impossível, tal como um complô, todos saberem de modo tão intenso sobre tal tema e ele não. Ao chegar encontrou-a assustada em vista de seu péssimo estado físico e lhe disse: "Deixe estar meu amor. Sofri um pequeno acidente movido por causas que modificaram minha vida. Agora, sob nova perspectiva, tudo o que eu quero é me casar com você.” Ela quase chorando de felicidade o abraçou apaixonadamente sussurrando em seu ouvido que esta notícia a estava fazendo a mulher mais feliz do mundo e que como recompensa faria com ele, após o casamento, muitos 'candelabros italianos', quantas vezes ele quisesse e conseguisse (em virtude de seu péssimo estado), e que fazer com ele lhe daria muita felicidade e prazer absoluto. Apenas solicitou a ele que lhe comprasse alguns remédios para lhe curar rapidamente o resfriado, pois, como é sobejamente conhecido, com resfriado é impossível realizar o candelabro. Ao escutar isto, silenciou-se a confusão mental que o ensurdecia. Não havia mais motivo para angústia e como um passe de mágica toda sua dor física desaparecera. Mais do que saber teoricamente sobre o que seria tal ato ele o sentiria na carne.
Desta forma, três dias depois, após ela estar apta fisicamente, de manhã bem cedinho eles fugiram para se casar em uma cidade vizinha. Após o rápido casamento eles rumaram a um motel, ele mais ansioso do que ela por finalmente sentir o que seria o 'candelabro italiano'. Seu cérebro despejava litros de adrenalina em seu corpo o preparando para a maratona sexual, a qual exigiria, por certo, um condicionamento físico de lutadores de boxe. E, armados com as disposições, cordas e tudo quanto havia fisicamente de necessitar, fizeram... e então... ele o soube! E durante toda a sua vida o fez incessantemente, duas, três, às vezes quatro vezes por dia. Jamais algo o tinha feito tão repleto de prazer e enquanto ele viveu cada momento era dedicado a relembrar o último “candelabro italiano”. Entendera agora as sábias palavras de seu pai e o valoroso conselho de seu melhor amigo. Contudo, como eles, em toda a sua longa vida, jamais, jamais, mas jamais mesmo contou a alguém exatamente o que era, porque aprendeu que o “candelabro” contado a alguém jamais teria o impacto estonteante e magistral do “candelabro” realizado por quem dele sabe se valer.
Nota da autora: Alguns afirmam que esse jovem protagonista do conto foi um escritor famoso. Outros dizem que foi um jornalista. Já alguns dizem que se trata de um simples homem desconhecido. Mas que importa? O que importa é tão somente: Você já teve o supremo prazer de realizar a plenitude do candelabro italiano?
Luíza Guimarães - libidoaoextremo45@gmail.com – Professora de Pedagogia – 54 anos