Um cuzinho para três espadas

Um conto erótico de Kherr
Categoria: Homossexual
Contém 33011 palavras
Data: 26/02/2022 08:03:10

Um cuzinho para três espadas*

(*) Livremente inspirado na obra Os Três Mosqueteiros de Alexandre Dumas, père

Paris, França, 1625, chego finalmente a Paris após uma tumultuada viagem, especialmente pelos fatos ocorridos a cerca de 150 quilômetros da corte, onde fui publicamente humilhado por um homem quem vim a descobrir se chama Rochefort, um emissário do cardeal Richelieu, e tive a carta de recomendação roubada, escrita pelo meu pai, amigo pessoal de Monsieur Tréville, capitão da guarda oficial do rei Luiz XIII, constituída por fidalgos e, havia três anos, armada com mosquetes, donde surgiu a designação de mosqueteiros do rei.

Para ser sincero, ninguém nunca me levou à sério quando decidi me engajar nas tropas leais ao rei. Talvez pela intrepidez dos meus dezoito anos, talvez pelo meu jeito atrapalhado de ser, ou ainda, segundo uma das minhas amigas de infância, bonito demais para perder a vida transpassado por uma espada.

- Está maluca! Eu, hein! Agourenta! – exclamei, quando Catherine tentava me dissuadir da ideia de deixar Auch, na Gasgone, e seguir para Paris para me juntar à guarda real.

- Não estou sendo agourenta, apenas realista! Como é que você acha que os membros da guarda real morrem? Deitados numa cama trepando? – retrucou ela.

- Você não diz coisa com coisa! Sempre foi meio maluca e ultimamente só pensa em trepar. Parece uma fixação! – ralhei.

- É que você é tão gostosinho que seria um desperdício ser perfurado por uma espada enquanto podia, muito bem, apagar o fogo que muitas garotas da cidade sentem por baixo das saias. – afirmou com uma expressão libertina saindo daquele risinho que tentava fazer tímido.

- Fogo que você sente, você quer dizer! Duvido que haja outra garota na cidade tão assanhada como você. – afirmei inconformado daquela garotinha inocente que cresceu minha vizinha se tornar uma safada que não perdia a oportunidade de examinar o volume que havia nas calças dos rapazes.

- Bem se vê que você é um bobão, d’Artagnan! Na nossa idade o que garotas mais fazem é jogar charme para cima dos rapazes, e estes ficam com aqueles olhares babões concentrados nos nossos seios, já nos imaginando nuas para seu desfrute. – revidou ela, sempre com aquela língua afiada.

- Me recuso a discutir esse tipo de besteira com você! Até porque, minha decisão já está tomada. E, não vai ser uma maluca como você que vai me convencer do contrário. – asseverei.

- Puto! Então vou torcer para que você se lasque! O Henry é que está certo, você deve querer entrar para os mosqueteiros porque lá está cheio de homens parrudos com os hormônios fervendo, prontos para foder o primeiro buraquinho que encontram pela frente e, que vão fazer a festa nessa sua bundona arrebitada e virgem. – vociferou, ao ver seus argumentos ignorados.

- Quero que você e o Henry se fodam! – exclamei furioso, pelo rumo que a conversa tomou.

Como um típico gascão, logo pensei em procurar o Henry para cobrar satisfações sobre o que andava espalhando a meu respeito. Já dizia meu pai, nunca leve um desaforo para casa, antes disso, atravesse o desgraçado com a sua espada. O Henry se dizia meu amigo, mas já havia pisado na bola algumas vezes comigo. A primeira, aconteceu numa tarde quente de verão às margens do Le Talouch quando impulsionado pela testosterona que lhe atormentava a pica, resolveu partir para cima da minha bunda carnuda e nua que aflorava à superfície à medida que eu nadava, alguns metros à sua frente, apostando quem era o mais rápido a alcançar a margem oposta. Quando percebi que seu objetivo não era alcançar a margem, mas sim, a minha bunda, pela qual havia algum tempo vinha se masturbando nas noites em que acordava com o pinto duro e babando, já era tarde. Muito ágil, mesmo dentro da água e, mais forte do que eu, me colocar sob sua vontade não foi difícil. Assim que senti sua rola comprimida contra as minhas nádegas, começamos a lutar dentro da água, eu para salvaguardar minha honra e virgindade, e ele para me enrabar. Graças a aparição de dois pescadores que vieram tentar a sorte para o jantar, e nos flagraram naquela bizarra agitação dentro d’água, consegui me safar dele e resgatar minhas roupas deixadas sobre um arbusto junto à margem. Com a nudez coberta, tivemos uma briga feia, não só em impropérios, mas numa farta troca de socos. A partir daí, nossa amizade, formada lá na infância, nunca mais foi a mesma. Eu ia partir dali a alguns dias e não podia deixar para trás um sujeito espalhando boatos a meu respeito. Fui ter com ele para acertar nossas diferenças. Ele nem confirmou nem desmentiu o que a Catherine havia me dito, ao invés disso, fez um jogo de palavras que só serviu para me deixar ainda mais furioso.

- Seja homem! Admita o que disse e desembainhe sua espada. – provoquei, desembainhando a minha.

- Não vou me dar ao trabalho de ouvir as provocações de um galinho de briga! Eis aqui o meu peito, perfure-o se quiser e se isso o deixar mais aliviado! – exclamou, abrindo a camisa e exposto seu tórax másculo que havia adquirido muitos pelos desde aquela tarde no Le Tabouch.

- Não vou abater um homem indefeso! Vamos, ande, desembainhe a espada, estou ordenando! – continuei, disposto a extravasar toda a minha fúria naquele sujeito arrogante.

- Veja por si mesmo se sou um homem indefeso! Eis aqui a minha espada, pronta para encarar sua bundinha rechonchuda e gostosa! – devolveu ele, tirando acintosamente da braguilha o cacetão enorme que ficou balançando com uma das mãos enquanto me dirigia uma risada sarcástica.

Imediatamente soltei a espada e parti aos socos para cima dele. Era muito descaramento fazer tão pouco de minha pessoa. Rolamos pelo chão. Eu disposto a defender a minha honra, ele se esquivando dos meus punhos e me poupando dos dele. Estava claro que não queria me machucar. O embate acabou em nada. Minha raiva não tinha passado quando o deixei afirmando que gostava de mim, não mais como amigo, mas como alguém por quem estava apaixonado havia algum tempo.

- Se você não fosse tão cabeça dura, já teria notado minhas intenções! Se quiser duelar comigo, é com essa espada que terá que se contentar! – continuou debochado.

Deixei-o sacudindo aquela coisa monstruosa, pois sua atitude e suas palavras haviam me nocauteado mais certeiramente do que se o tivesse feito com um florete. Que raios estava acontecendo comigo? Será que estava escrito na minha testa que ultimamente não conseguia deixar de olhar para os homens e, que alguns pareciam acender um fogo nas minhas entranhas? Ainda bem que eu estava partindo para longe onde ninguém me conhecia, e onde eu não daria chance para que pensassem que eu não era homem suficiente para encarar qualquer outro no mesmo pé de igualdade. Afinal, eu era um gascão, marrento, impetuoso e destemido, disposto a manter a reputação dos d’Artagnan ilibada como sempre foi.

Parti com as bênçãos do meu pai, um abraço, um cavalo baixo de treze anos e quinze escudos que ele enfiou no meu bolso durante o abraço no qual tentou disfarçar os olhos marejados.

- Se lhe for concedida a honra de comparecer à corte, mantenha sua dignidade de fidalgo, cuja nobreza remonta a mais de quinhentos anos e, jamais tolere alguma coisa que não do rei ou do cardeal, pois sua estirpe e seu sangue gascão não admitem menos do que isso. – aconselhou meu pai.

Ao se despedir de mim, as preocupações de minha mãe eram outras. Semanas antes de eu me embrenhar na estrada ela já começara a confeccionar roupas novas condizentes com quem está na corte, segundo suas palavras. Também fez questão de me ensinar a preparar e colocar na minha bagagem um bálsamo que uma cigana velha havia lhe ensinado a preparar e que, segundo ela, servia para curar qualquer ferida do corpo, não as da alma, pois essas não tinham cura e era preciso aprender a conviver com elas. Ao contrário do meu pai, minha mãe não se furtou a chorar profusamente enquanto acariciava meu rosto e me chamava de meu filhinho amado. Foi impossível não deixar as lágrimas descerem copiosas sobre minhas faces. Nas primeiras léguas, obriguei-as a secar, pois não pegava bem a um homem choramingar por uma simples despedida da casa dos pais, mesmo que esse homem contasse com apenas dezoito anos.

Pensar na guarda real logo me fez esquecer a despedida. Eu faria parte dela em breve, assim que o Sr. Tréville lesse a carta de recomendação do meu pai, certamente eu seria admitido naquele seleto grupo de homens que defendiam os interesses do rei com sua própria vida e, em troca, gozavam de imenso prestígio onde quer que adentrassem.

O rei e o cardeal Richelieu tinham um relacionamento peculiar. Aparentemente, defendiam os mesmos pontos de interesse. Mas, subliminarmente, travavam uma luta pessoal pelo poder, que se estendia até suas guardas pessoais. Motivo pelo qual os mosqueteiros reais e os soldados do cardeal cultivavam uma rixa que os levava constantemente a embates e duelos que acabaram por ser proibidos por um édito real, mas que na verdade, nunca cessou de fato. Cada um a seu modo, estimulava seus comandados a não aceitarem provocações da outra parte, enquanto eles apenas duelavam sobre um tabuleiro de xadrez e trocas sutis, mas irônicas, de palavras que exprimiam seus pontos de vista conflitantes. A corte era cheia de conspirações, lutas pelo poder, traições e conflitos que eram camuflados sob festas suntuosas e interesses disfarçados. Os soldados do cardeal pareciam mais disciplinados, se trajavam com mais esmero, querendo parecer uma tropa mais bem preparada para os conflitos. Enquanto isso, os mosqueteiros, embora fidalgos, levavam uma vida digamos menos regrada, o que os fazia parceiros constantes de mulheres menos castas nas hospedarias e tabernas e, vivamente desejados pelas aparentemente mais recatadas, muitas das quais casadas com velhos da nobreza, que apenas ouviam as estórias que se espalhavam sobre aqueles homens corajosos e belos, enquanto nutriam por eles uma paixão platônica, sempre procurando encontrar nalgum deles um que lhes preenchesse os devaneios da cama e a inquietude das vaginas.

Depois que Rochefort me roubou a carta de recomendação ao Sr. Tréville e, o estalageiro em Meung tratou de me espoliar dois escudos, rumei para Paris adentrando à cidade pela porta de Saint Antoine. Na Rue des Fossoyeurs, perto do Luxembourg, encontrei uma água-furtada compatível com meus exíguos recursos. Depois de instalado no meu novo endereço, tratei de descobrir onde ficava o palácio do Sr. Tréville, o terceiro homem mais influente do reino, depois do rei e do cardeal, pois tencionava procura-lo logo pela manhã do dia seguinte, e onde certamente conseguiria um lugar entre os mosqueteiros depois de lhe contar sobre o incidente no qual tive minha carta de recomendação roubada. Descobri que ele morava na Rue Vieux-Colombier, portanto, não distante do quarto que havia alugado.

Na manhã seguinte, impaciente e ansioso, me vesti com esmero e escovei minha farta e ondulante cabeleira mais demoradamente que de costume. Ao contrário de muitos jovens na minha idade, eu não tinha sequer um pelo do rosto, o que me poupava de ter que me barbear, mas não de comentários afirmando que meu rosto era muito mais belo do que o de muitas raparigas. Aliás, eles eram exíguos em todo meu corpo, à exceção de alguns, cor de caramelo, nas partes pudendas. Eu já havia me conformado com o fato de nunca os ter convencido de que herdara da família da minha mãe essa escassez de características másculas secundárias. Acho até que parte do meu gênio arredio se devia a uma tentativa de compensar essa falta de atributos masculinos que já dominavam o corpo de muitos rapazes na minha idade. Cheguei ao palácio do Sr. De Treville com o sol tentando atravessar as nuvens densas daquela manhã um pouco fria. Enquanto cruzava o pátio para chegar à construção imponente de dois andares e um sótão donde sobressaiam janelas sob águas-furtadas, precisei atravessar um corredor de mosqueteiros que se espalhavam pelo jardim bem cuidado, pelos degraus da escada que levava à porta de entrada e pelo salão que estava depois dela. Como eu supunha, eram homens de tirar o fôlego de qualquer um que, como eu, admirava um macho bem constituído de músculos e rostos nos quais nunca se conseguia interpretar direito o que tinham em mente. Nas rodinhas em que se encontravam, rolava uma conversa animada e ruidosa. Ouvia-se um se gabando aqui, outro relatando suas peripécias no leito de uma dama sem nome acolá, um terceiro extraindo gargalhadas ao contar como tinha trapaceado nas cartas com dois soldados do cardeal na taberna enquanto os embebedava até se esquecerem dos próprios nomes. No entanto, o que foi mais constrangedor durante essa minha travessia, foi o fato de as conversas cessarem por alguns minutos enquanto olhares curiosos percorriam cada centímetro do meu corpo, à medida que eu passava por eles. No patamar diante da porta, perguntei pelo Sr. De Treville a um grupo de quatro mosqueteiros que já vinham me acompanhando com o olhar desde que me notaram e perceberam que eu era um peixe fora d’água naquele local.

- Ele está em audiência! Mas, adentre e se faça anunciar ao ajudante de ordens que ele o conduzirá até ele. – respondeu um dos mosqueteiros, que não pude deixar de reparar, era um macho muito do sedutor.

- Obrigado! – respondi com a voz mais grave que consegui imprimir, para que achassem que eu era mais velho do que aparentava o meu rosto imberbe.

Contudo, não era no meu rosto que estavam focados, e sim, na minha bunda, que rendeu um comentário sussurrado de algum deles que extraiu risinhos dos demais. Meu primeiro impulso foi retornar e exigir satisfações do engraçadinho que se atreveu a me provocar, mas meu objetivo naquele momento era mais importante do que uma briga que só me traria problemas aos olhos do Sr. De Treville de quem eu precisava uma atenção especial e um favor. Portanto, não era hora e nem lugar para me fazer de valente e persona non grata.

O ajudante de ordens do Sr. De Treville, mesmo eu tendo sido curto e dito que se tratava de um assunto particular, me anunciou assim que a audiência terminou com um grupo de mosqueteiros que saiu de seu escritório. Ao mesmo tempo em que o Sr. De Treville acenou para que eu entrasse, dirigiu-se ao ajudante de ordens e mandou que os senhores Athos, Portos e Aramis lhe fossem trazidos à sua presença imediatamente. Eu mal havia me sentado na cadeira que ele me apontou quando dois dos mosqueteiros que estavam no grupinho para o qual perguntei pelo Sr. De Treville no patamar da escada, entraram apressados e a passos firmes.

- Onde está o Sr. Athos? – perguntou o capitão da guarda real, com uma expressão contrariada. – Podem me explicar o que se sucedeu ontem numa taberna na Rua Férou? O rei me disse que passaria e recrutar seus mosqueteiros entre os homens do cardeal, uma vez que os mosqueteiros fazem uma triste figura na corte, classificando-os de verdadeiros diabos e baderneiros, o que os senhores podem adivinhar, me deixou muito contrafeito. O rei citou nominalmente cada um dos senhores, justamente os que eu trato com a maior devoção. Portanto, gostaria que me explicassem no que andam se metendo. – continuou, cobrando de seus comandados uma resposta que o satisfizesse.

Eu, por meu lado, permanecia invisível e calado no canto do escritório, não me atrevendo a me fazer presente, nem mesmo respirando mais ruidosamente.

- Athos está muito doente! Receia-se que seja varicela! – disse Porthos, respondendo à pergunta do capitão.

- Varicela! Bonita história! Com essa idade? Ora, não me subestime! Talvez, um grave ferimento, ou até morto, seria mais assertivo. Conhecendo-os como os conheço, é o mais provável. – pela inflexão na voz do Sr. De Treville reconheceram logo que ele estava extremamente irritado, sabendo que lhe omitiam os fatos verdadeiros. – Pelo que me contou o rei no Louvre, os guardas do cardeal precisaram prender mosqueteiros desordeiros que perambulavam pela Rua Férou. – sentenciou o capitão.

- Fomos provocados! – admitiu finalmente Porthos. – Éramos seis contra seis. Fomos surpreendidos traiçoeiramente, e antes que tivéssemos tempo de desembainhar as espadas, dois dos nossos haviam caído mortos, e Athos ferido gravemente, pouco mais valia. O senhor conhece Athos, ele tentou se levantar por duas vezes, mas caiu. Mesmo assim, não nos rendemos, e enquanto éramos arrastados à força, nos evadimos. Essa é a história, meu capitão.

- Não sabia disso. – retrucou o capitão num tom mais ameno. – Pelo visto, o senhor cardeal exagerou mais uma vez ao relatar sua versão ao rei.

- Peço-lhe um favor, capitão! Não comente que Athos está ferido. Ele ficaria agoniado se soubesse que esse fato chegou aos ouvidos do rei. E, como o ferimento é dos mais graves, porque a espada, depois de lhe atravessar o ombro, penetrou seu peito, é para recear que não se possa mais contar com ele por muito mais tempo. – suplicou Aramis, diante do infortúnio do companheiro.

De repente, correu a cortina e, apesar da palidez quase cadavérica, surgiu por trás dela o mais lindo e altivo homem que eu já havia visto.

- Athos! – gritaram os dois mosqueteiros, surpresos com aquela aparição.

- Athos! – repetiu o capitão.

- O senhor me chamou – disse Athos, com uma voz fraca, porém perfeitamente calma, o que deixou o Sr. De Treville emocionado e feliz ao mesmo tempo, por não ter perdido um de seus valorosos homens.

Eu não conseguia deixar de olhar para aquele homem imenso, viril dentro daquele uniforme impecável que o fazia parecer mais atraente. Dei graças a Deus por ninguém naquela sala dar pela minha presença, pois devia estar escrito na minha cara o quanto estava me sentindo atraído por aquele homem, quanto meu peito palpitava de emoção, quanto meu cuzinho se contorcia de tesão. Nem nos meus mais impudicos sonhos eu vislumbrara um macho como aquele e, sem ainda saber como, meu objetivo dali em diante era me fazer notar por ele, tornar-me seu amigo e, se o destino assim o quisesse, me tornar seu amante.

Antes de encerrar aquela audiência com seus mosqueteiros, pude notar que o Sr. De Treville tinha uma admiração e consideração especiais por aqueles três, embora não soubesse o porquê. Ele até se assustou ao voltar a notar a minha presença, que não se fez notar em nenhum momento de seu interlóquio com aqueles homens interessantes. Apesar do Athos ter praticamente monopolizado minha atenção com sua masculinidade latente, não se podia ignorar o porte sensual e ligeiramente conquistador de Porthos, nem a energia que brotava dos músculos e do olhar sagaz de Aramis que, nem sua pouca idade, era capaz de ocultar. Meu tesão era por homens maduros, não propriamente em idade, mas em atitudes e, Aramis me parecia jovem demais para meus desejos reprimidos. Ao voltar sua atenção para mim, o Sr. De Treville se fez todo ouvidos. Identifiquei-me e mencionei sua amizade com meu pai, de quem ele logo traçou inúmeros elogios lembrando-se de alguns fatos do passado. Contei-lhe sobre a carta e sobre seu infortunado destino, bem como de seu conteúdo. Ele me ouvia concentrado, mas pude notar que tinha suas dúvidas sobre minha narrativa. Sua posição antagônica ao do cardeal Richelieu o tornara um homem desconfiado e precavido, sabedor das artimanhas do cardeal para conseguir infiltrar agentes por toda a corte e suas ramificações. Sem a carta, só lhe restava acreditar no que eu dizia, e isso era pouco para aquele homem cuja missão era defender o rei de toda e qualquer ameaça, mesmo daquelas que vinham de pessoas que o cercavam diretamente. O Sr. De Treville não se abriu diretamente, mas pude notar que tinha suas reservas em me colocar tão facilmente no corpo de mosqueteiros.

- Meus homens passam por um rigoroso treinamento antes de se tornar mosqueteiros. Nem todos alcançam seu objetivo. São pelo menos dois anos em um regimento menos importante que o nosso. Não recebemos ninguém sem uma prova preliminar de alguma campanha, de alguma grande ação. Contudo, em nome da amizade com seu pai e, em consideração a sua origem, a mesma que a minha, escreverei, ainda hoje, uma carta ao diretor da Academia Real, e amanhã mesmo ele o receberá sem lhe cobrar nada. Não recuse essa pequena gentileza. Os fidalgos mais nobres e mais ricos solicitam sua entrada para a Academia, algumas vezes, sem a conseguir. O senhor aprenderá o manejo do cavalo, a esgrima e a dança. Travará bons conhecimentos e, de tempos em tempos, virá visitar-me para dizer o estágio em que se encontra e, se posso lhe ser útil em alguma coisa.

Mesmo sem estar familiarizado com as maneiras e sutilezas da corte, percebi a frieza com que ele me tratava.

- Ah, senhor! Vejo a falta que me faz a carta de meu pai.

- Certamente! – devolveu o capitão

Enquanto escrevia a carta para o diretor da Academia, aproximei-me das janelas para deixa-lo mais à vontade. Ao conclui-la e prestes a coloca-la em minhas mãos, tive um sobressalto ao ver o homem alto do outro lado da rua, com a cicatriz na têmpora e a mesma capa que usara em Meug quando me roubou a carta e foi ter com uma mulher loira, que só cheguei a ver de relance, dentro de uma carruagem.

- Com os diabos! Desta vez ele não me escapa! – exclamei

- Quem? – questionou Treville, sem que eu lhe desse atenção.

- Ele, o ladrão da carta! Ah...há de se ver comigo agora! Terá a carta em breve em suas mãos Sr. Treville, eu lhe garanto. – asseverei, enquanto deixava o gabinete às pressas.

- Que maluco! – ouvi o Sr. De Treville murmurar às minhas costas. – Quem sabe não foi a solução sagaz que encontrou para safar-se, vendo que não caí na sua conversa. – mas, eu estava ardendo de ódio e não dei importância às suas palavras. Eu queria aquele ladrão, só isso.

Precipitei-me degraus abaixo na entrada do palácio quando topei violentamente com um mosqueteiro que soltou um urro e levou apressadamente a mão ao ombro. Era Athos. Reconhecendo-o, logo tratei de pedir desculpas alegando estar com pressa.

- Pressa! – gritou o mosqueteiro pálido como um lençol. – Me machuca e julga que esse pretexto é suficiente? Não é não. Acha que porque viu o Sr. De Treville falar-nos rispidamente pode tratar-me como ele me tratou? Engana-se, companheiro!

- Creia-me, não o fiz de propósito, e por isso peço desculpas, mais uma vez! – repliquei sincero.

- Percebe-se que o senhor não é muito polido! – exclamou Athos, segurando-me pela roupa com aquela mão que mesmo ele estando enfraquecido pelo ferimento mais parecia a pata de um leão.

- Apesar de vir de longe, não há de ser você a querer me ensinar boas maneiras! – retruquei, exasperado com sua petulância, que estava me levando a adiar meu objetivo. – Se não estivesse com tanta pressa, eu lhe mostraria .... – emendei furioso, antes de me arrepender de ameaçar um homem ferido.

- Senhor apressado, podemos resolver isso sem correr, me entende? – vociferou ele.

- E onde? – questionei, pois já estava zangado demais para aguentar toda aquela arrogância, por mais lindo que aquele homem fosse.

- Perto dos Carmes-Deschaux, por volta do meio-dia! – sugeriu ele

- Estarei lá! – respondi secamente

- Trate de não me deixar esperar! Pois, depois de um quarto de hora, serei eu a correr atrás do senhor, e lhe cortarei as orelhas. – sentenciou ameaçador.

- É o que veremos! – respondi, voltando a correr atrás do homem da capa.

Mal dei alguns passos e um grupo de mosqueteiros impedia meu caminho. Mesmo tentando me desviar deles, fui parar diretamente no meio da capa de veludo de um deles, enrolando-me nela. O mosqueteiro a puxou para si, e meu rosto foi parar exatamente sobre o talabarte que ele usava. A peça era ornada em ouro na frente, mas a falta de recursos para bordá-la toda, fizera com que fosse mal-ajambrada na parte de trás, o que o mosqueteiro queria disfarçar com a capa de veludo que o cobria. Descoberto seu segredo, ele ficou furioso e começou a praguejar.

- Com todos os diabos! O senhor é um endemoninhado que se atira sobre os outros sem prestar atenção por onde anda!

- Queira me desculpar! – exclamei, percebendo que aquele não era o meu dia.

- Experimente abrir os olhos quando corre! – revidou Porthos irritado.

- Tanto estou de olhos abertos que notei que seu talabarte só é ricamente ornado na frente e, simplesmente costurado na parte de trás! – retruquei furioso.

- Senhor, eu lhe aviso que acabará por levar uma surra se continuar a dar encontrões em mosqueteiros. – ameaçou Porthos, que se viu envergonhado diante dos colegas devido a sua precária condição financeira.

- Eu, levar uma sova? – questionei debochado.

Espumando de raiva, Porthos precipitou-se sobre mim. Não tive medo, mas tinha algo mais importante a resolver.

- Mais tarde, senhor! Mais tarde, agora não posso. – berrei, ao voltar a correr em direção à rua.

- Muito que bem! A uma hora, atrás do Luxemburgo. – ouvi-o gritar.

- Combinado! Estarei lá! – exclamei sem receio.

Fiquei ainda mais furioso quando o homem da capa me escapou. Não o vi em nenhum lugar. Provavelmente havia entrado nalguma casa. Perguntei aos transeuntes, mas ninguém o vira. Perdi-o, mais uma vez. Entregar a carta do meu pai ao Sr. Treville voltava a ser um problema. Perambulei sem um rumo definido, meditando sobre aquelas poucas horas em que me encontrava em Paris e, sobre os acontecimentos funestos daquela manhã. O Sr. De Treville não havia acreditado em mim, e devia estar me achando um doido por ter deixado seu gabinete daquela maneira. Para completar, arranjara dois duelos com dois homens capazes de matar, cada um, três D’Artagnans; justamente mosqueteiros, que eu tanto admirava e estavam no meu coração acima de todos os homens. A situação era triste. Como sou estouvado e doido, pensei com meus botões. O pobre e valente Athos estava ferido, e foi exatamente no ombro machucado que eu fui trombar, me espanta ele não ter me dado uma lição ali mesmo. Quanto a Porthos, bem, chegava a ser cômico. Talvez até me desculparia por ter descoberto que seu talabarte era uma peça feita à meia-boca, só para impressionar. Mas, ter respondido a seus argumentos com aquela ironia tinha posto tudo a perder. Uma coisa é certa, se eu escapar desses dois, ainda vivo, o que é pouco provável, para o futuro é necessário que eu seja mais cortês e educado. Mesmo estando a poucas horas na corte, já havia percebido que ser cortês e educado não implicava em ser covarde. Um exemplo era Aramis, a doçura e a afabilidade em pessoa. Ninguém seria capaz de afirmar que ele era um covarde, apenas por ter essas características. Foi justamente com ele que acabei topando ao chegar ao palácio de d’Aguillon conversando alegremente com cavalheiros da guarda do rei. Ele fingiu não me ver, devia estar envergonhado de ter recebido a carraspana do Sr. De Treville na minha frente, o que não era muito agradável. Tentando estabelecer uma amizade, aproximei-me deles cumprimentando-os gentilmente. Eles interromperam a conversa e Aramis, com ar sombrio, desviou o olhar para o grupo. Eu estava sobrando ali, era óbvio. Tinha que encontrar uma maneira elegante de sair dessa e, pela primeira vez naquele dia, os acontecimentos conspiraram a meu favor. Quando tirava algo do bolso, Aramis deixou cair um lenço ricamente bordado com uma coroa e um brasão em um dos cantos. Curvei-me para apanhá-lo do chão e entrega-lo ao dono, achando que estava fazendo uma boa ação. Ele praticamente o arrancou das minhas mãos.

- Ah! Ah! – exclamou um dos guardas – Negará ainda, discreto Aramis, que não tem nenhum relacionamento furtivo com a Sra.de Bois-Tracy, quando essa graciosa dama lhe empresta seu lenço?

Aramis lançou-me um olhar daqueles que fazem um homem compreender que acaba de adquirir um inimigo mortal. Para manter a compostura, negou que o lenço fosse dele, e me perguntou porque eu o estava entregando a ele.

- Ora! Porque o vi caindo do seu bolso. – afirmei.

Ele então tirou de outro bolso seu próprio lenço, também ricamente bordado e o apresentou aos cavalheiros. Logo saquei do que se tratava, eu tinha acabado de pisar na bola.

- Como estava a seus pés, julguei que fosse seu! – exclamei, tentando consertar meu erro.

- Engana-se, meu senhor! – respondeu Aramis friamente, me fazendo parecer um mentiroso. – Seu comportamento foi pouco galante! Mesmo tendo chegado a pouco da Gasgonha, devia saber ser mais discreto e não se meter em conversas alheias sem ser convidado. – emendou.

- Não há razão para me humilhar, por conta disso, senhor! – devolvi.

- Preste atenção no que vou lhe dizer! Só costumo me bater como espadachim quando necessário, e o faço com muita repugnância. Desta vez, porém, o fato é muito grave, há uma dama cuja honra o senhor comprometeu com sua indiscrição. – disse ele, com um ar pomposo, querendo me passar uma descompostura, como se tivesse idade para tanto. A meu ver, ele devia ter uns vinte e dois, vinte e três anos, portanto, pouco mais velho do que eu, e longe de estar na condição de me dar lições de moral.

- Não preciso ouvir isso de um sujeito que saiu dos cueiros pouco depois de mim! Sei muito bem o que vi. – afirmei encarando-o nos olhos.

- Já disse que o lenço não é meu, e não caiu do meu bolso! – repetiu ele

- Nesse caso, digo-lhe que mente duas vezes! – retruquei

- Pois é assim que o quer, meu jovem gascão! Eu lhe ensinarei a ter modos!

- E eu o mandarei à missa, já que disse que só era mosqueteiro temporariamente e que seu objetivo é ser um clérigo! – revidei

- Só não puxo minha espada aqui na frente do palácio d’Aguillon porque estamos cercados de amigos do cardeal. Quero dar-lhe uma lição com todo o sossego, onde não possa gabar-se de sua morte a ninguém. – sentenciou ele.

- Não se fie nisso! E, leve o lenço, provavelmente lhe será útil. – provoquei.

- Às duas horas terei a honra de esperá-lo no palácio do Sr. De Treville e lhe indicarei um local próprio para acertarmos nossas contas. – retorquiu Aramis.

Separamo-nos ali, ele seguiu em direção ao Luxemburgo e eu, vendo o adiantado da hora, tomei o caminho dos Carmes-Deschaux. Resmungando comigo mesmo, refleti que decididamente tudo tinha dado errado. Tinha arrumado uma tremenda confusão com três mosqueteiros numa única manhã, não tinha como escapar, mas, se morrer, ao menos morro pelas mãos e espada de um mosqueteiro, concluí. Que destino irônico para quem queria ser um deles.

Como não conhecia ninguém em Paris, fui ao encontro de Athos sem um padrinho e, com a seguinte preocupação em mente – moço e vigoroso, duelando com um adversário ferido e debilitado, se vencido, redobraria o feito do meu adversário, se vencedor, seria acusado de perversidade e covardia. Talvez se insistisse nas desculpas sinceras, ele relevaria a situação e, quem sabe, até nos tornaríamos amigos, uma vez que a austeridade de sua fisionomia máscula, o tesão que sentia por seu corpão viril e o brilho de seus olhos verdes me agradavam como jamais alguém havia me seduzido. Valia a pena tentar, diferentemente do que com Porthos, caso não me matasse, poderia me vangloriar de tê-lo exposto ao ridículo na questão do talabarte, sem maiores consequências. Quanto ao embate com Aramis, não o temia muito, achava-o um arrogante que precisava de uma lição e, estava disposto a feri-lo no rosto danificando-lhe a beleza da qual tanto se orgulhava e a empáfia estampada nele.

Athos me esperava no terreno deserto perto do mosteiro, mas o relógio da torre badalava meio-dia, portanto, eu não estava atrasado. Encontrei-o sentado sobre as ruínas de uma mureta, altivo e com aquele ar de dignidade que parecia ser sua característica pessoal. Era evidente que sofria com aquele ferimento que lhe roubava as energias.

- Senhor – disse ele – pedi que dois amigos me servissem de padrinhos, mas eles ainda não chegaram, o que não é de seu feitio, por isso peço minhas desculpas.

- Não tenho padrinhos, senhor! Não conheço ninguém em Paris. – respondi. – Sinto-me honrado que se digne a desembainhar a espada contra mim, estando tão ferido e sentindo tanta dor. – emendei, procurando conquistar sua simpatia.

- Garanto-lhe que dói terrivelmente! O Senhor, com sua imprudência, me fez um mal dos diabos, piorando o que já estava ruim. Meu ombro parece um ferro em brasa! – exclamou ele, fazendo-me sentir mais culpado do que já estava.

- Não acho justo bater-me com o senhor nesse estado! – afirmei

- Não pense que vou lhe facilitar a vida! Ainda tenho minha mão esquerda e garanto-lhe que terá que ser muito hábil para não sentir o peso dela. – apesar das palavras ameaçadoras, eu senti pena daquele homem tentando não parecer fraco, mesmo isso não tendo a menor importância para mim, que o via como um herói a servir de exemplo e, um homem por quem se apaixonar.

- Se me permite, senhor! Tenho um bálsamo para ferimentos que me deu minha mãe ao deixar minha casa e, que já tive a ocasião de experimentar em mim mesmo, com excelente resultado. – sentenciei

- E daí?

- Daí que se o aplicasse sobre seu ferimento por alguns dias, logo estaria curado e o duelo seria mais justo e equilibrado. – afirmei.

- Está tentando se safar da minha espada? – questionou empertigado.

- De forma alguma! Estou tentando deixar as coisas equilibradas.

- O senhor se acha muito capaz, não é? Partindo de um garoto como você não deixa de ser hilário! – fiquei puto com sua resposta, mas me controlei o quanto pude.

- Quando estiver plenamente restabelecido, será uma honra para mim duelar com o senhor. Não tenciono me safar, pode ter certeza disso! – pronunciei minha resposta com simplicidade e singeleza, o que o impressionou e baixou sua agressividade.

- Devo confessar que sua proposta me agrada! Não que eu a aceite, mas porque mostra muita nobreza de sua parte! Ocorre que se adiarmos esse duelo, que é proibido por decreto real, em alguns dias todos logo saberiam e não poderíamos mais leva-lo adiante. – que cara teimoso, pensei comigo.

- Pois bem, se tem pressa em acabar comigo, que seja nos seus termos! – eu não ia dar uma de covarde só porque ele estava sendo turrão.

- Esta é outra proposta que me agrada! Já não precisamos esperar mais, aí vem um dos meus padrinhos! – exclamou ele.

Da Rua Vauguinard, aparecia o gigantesco Porthos.

- Então seu primeiro padrinho é o Sr. Porthos! – exclamei surpreso.

- Sim! Alguma objeção? E lá vem o segundo também!

- Nenhuma! Senhor Aramis, o segundo padrinho, por que não imaginei isso antes? – questionei admirado

- O que vem a ser isso? – perguntou surpreso, Porthos

- É com esse senhor que devo duelar. – revelou Athos

- Eu também devo bater-me com ele – disse Porthos – estamos combinados para a uma hora.

- E eu para às duas horas! – exclamou Aramis, que acabara de se juntar a nós.

- Para quem acaba de chegar a Paris o senhor conseguiu um grande feito, indispor-se com três mosqueteiros do rei de uma só vez! Que tipo de maluco é o senhor? – questinou Porthos.

- Bem! Já que estamos todos reunidos aqui, quero reiterar meus pedidos de desculpas aos senhores. Fui mal compreendido pelos senhores – retruquei com a cabeça erguida, onde um raio de sol que atravessou as copas das árvores dourou minhas feições finas e ousadas.

- Mal compreendido? O senhor foi atrevido! – revidou Aramis, novamente com aquele ar de sabichão que usava para camuflar sua pouca idade. E que, diga-se de passagem, era o que mais me irritava nele.

- Peço-lhes desculpas por não poder pagar minha dívida com todos, uma vez que o senhor Athos tem o direito de matar-me em primeiro lugar, o que diminui muito as suas chances, senhor Porthos, e torna as suas, senhor Aramis, quase nulas. Agora que fiz o que julgava ser de direito, em guarda! – exclamei irritado, pois aqueles três estavam fazendo pouco de mim, o que eu não ia admitir jamais.

- Quando quiser, senhor! Em guarda! – exclamou Athos, erguendo sua espada com a mão esquerda e tendo dificuldade para mantê-la em posição. Teimoso safado, é assim que você quer, então que seja. Vou te furar o outro ombro para deixar de pensar que sou um moleque que não sabe o que está fazendo.

Mal nossas espadas haviam tinido, uma patrulha dos guardas de Sua Eminência, comandada pelo senhor de Jussac, apareceu na esquina do convento.

- Os guardas do cardeal! – berraram Porthos e Aramis ao mesmo tempo. – Espadas nas bainhas, rápido!

Já era tarde. Athos e eu havíamos sido vistos numa atitude que não deixava dúvidas sobre nossas intenções.

- Então é aqui que acontecem os duelos? Pelo que vejo, os éditos reais são completamente afrontados pelos mosqueteiros. Tratem de embainhar as espadas e façam todos o favor de nos acompanhar, os senhores estão presos! – exclamou Jussac, feliz pelo acaso ter lhe jogado nas mãos uma contravenção dos mosqueteiros do rei o que, certamente, lhe valeria bons pontos junto ao cardeal, cujo maior prazer era desmoralizar os homens do senhor de Treville.

- Lamentamos não poder acompanhá-lo e ter de declinar de seu gentil convite, senhor Jussac! – revidou Aramis, debochado e petulante. A zombaria deixou Jussac exasperado.

- Se não acatarem minha ordem, serão carregados, garanto-lhes! – berrou Jussac

- Eles são cinco, nós apenas três, ou melhor, dois e meio, pois com esse ombro não valho mais que isso. Seremos derrotados novamente. Portanto, é melhor morrermos aqui do que aparecer vencidos diante do Sr. De Treville novamente para outra bronca. – murmurou Athos, para que apenas nós que estávamos mais perto dele ouvíssemos.

- Somos quatro, se me permitem! – exclamei intuitivamente.

- Mas, o senhor não é um dos nossos! – redarguiu Porthos.

- É verdade! Não tenho uniforme, mas creio ter a alma de um mosqueteiro, e isso me basta para tomar uma posição. – respondi.

- Desvie-se meu jovem! Consinto que se vá! Salve sua pele! – bradou Jussac

Fiquei onde estava, encarando-o com desafio. Os guardas apearam dos cavalos sob a ordem do senhor Jussac e vieram para cima de nós com a certeza da vitória. Vinte minutos depois, Aramis havia matado um de seus adversários e lutava ferozmente com o outro. Porthos recebera uma estocada no braço e dera uma na coxa de seu oponente, inutilizando-o para a batalha. O segundo oponente de Aramis caiu minutos depois, e não se atreveu a levantar, pois sabia que encararia a morte. Athos, ferido mais uma vez, empalidecia a olhos vistos, mas não recuava um palmo lutando com a mão esquerda. Vê-lo naquele estado me deixou com tanta raiva que num assalto furioso minha espada perfurou o peito do sujeito com o qual eu duelava. Aquela luta fez o senhor Jussac perder a paciência. Furioso por se ver subjugado por aquele que considerava uma criança, no caso eu, alucionou-se de tal maneira que principiou a cometer erros. Faltava-me a prática, mas não a teoria. Redobrei minha atenção nela quando o senhor Jussac partiu com o olhar vermelho de raiva para cima de mim, lançando uma cutilada profunda que precisei aparar com habilidade para não ser a derradeira sobre a minha vida. Porém, ele se desequilibrou ao me dar o golpe e, antes que pudesse se levantar, enfiei-lhe a espada através do corpo, fazendo-o cair como um enorme peso. Porthos acabava de obter a rendição de seu segundo oponente que, ofegante, pedia misericórdia. No limiar de suas forças, Athos nocauteou seu adversário. A luta terminou ali. Jussac ordenou que o último guarda que ainda lutava com Porthos se rendesse.

De repente, vi-me abraçado com os três homens que haviam me desafiado. Athos, Porthos e Aramis, me sorriam triunfantes. Caminhamos ocupando toda a largura da rua em direção ao palácio do Sr. De Treville e, aos poucos, outros mosqueteiros se juntavam a nós à medida que os três contavam o que tinha acabado de acontecer. Parecia que meu coração ia sair pela boca abraçado ternamente aqueles homens que eu tanto admirava.

- Se ainda não sou um mosqueteiro – afirmei aos meus novos amigos, enquanto adentrávamos ao palácio do Sr. De Treville – ao menos sou um aprendiz, não é? – o sorriso estampado no rosto deles me dizia que eu estava certo.

Assim, o Sr. De Treville logo soube da minha determinação em me tornar um mosqueteiro. Naquele encontro, ele me entregou a carta para o diretor da Academia que não tive a chance de pegar na primeira visita que lhe fiz. Ele ainda não confiava plenamente em mim, suas desconfianças com a ardileza do cardeal não o fizeram baixar a guarda completamente. Mas, ele já me via com outros olhos e, pelo menos para mim, saber que se mantinha focado na minha pessoa já era grande coisa. Eu haveria de provar meu valor. Contudo, no momento, eu estava mais interessado em estreitar laços de companheirismo e amizade com meus ex-adversários. Já não era incomum ver-nos juntos pelas ruas de Paris.

O primeiro a quem fui procurar em sua casa foi Athos. Eu justificava a mim mesmo aquela visita com o pretexto de lhe entregar o bálsamo que minha mãe me dera e do qual ele tanto precisava, embora meu subconsciente não tivesse se deixado enganar, eu o procurei porque o achava um tesão de homem e estava completamente encantado por ele. Havia me sido revelado que embora ele não tivesse mais do que trinta anos e fosse de notável beleza, tanto física quanto espiritual, o que eu mesmo constatei da primeira vez que vi, ninguém lhe conhecia uma única amante. Porthos e Aramis, seus melhores amigos, já o conheciam há uns cinco anos e nunca o ouviram falar de mulheres. O assunto parecia desagradá-lo de alguma maneira. Ao ficar sabendo disso, achei que minhas chances de conquistar aquele homem eram reais, e que meu poder de sedução talvez o fizesse se interessar por mim. Éramos muito diferentes, ele sorria, mas não ria, era reservado, faltava-lhe sociabilidade, suas palavras eram breves e expressivas e sempre diziam o que queriam dizer; nada de bordado, nada de arabescos. Eu falava muito, contudo, falava com propriedade e sinceridade, era expansivo, ria com gosto e facilidade. Essas diferenças pareciam não nos afastar, pelo contrário, eu gostava de seu jeito taciturno e ele da minha jovialidade e alegria.

Encontrei-o numa hora inapropriada. Ele estava no banho, como me afirmara seu criado, Grimaud, que veio atender a porta e me mandou entrar depois que Athos gritou do cômodo contíguo que me fizesse entrar e me servisse uma taça de vinho, que prontamente recusei.

- Peço-lhe desculpas pela aparição inapropriada. Posso voltar outro dia. – afirmei assim que meus olhos varreram a saleta na qual fui introduzido.

- Deixe de rapapés! Pode não ser a visão mais encantadora, mas se não se sentir constrangido, venha até mim, pois não gosto de entabular uma conversa com quem não possa olhar diretamente nos olhos. – disse ele, me convidando a entrar no aposento que lhe servia de quarto, e onde a mobília se restringia a uma cama grande e confortável com um dossel, um armário de portas ornadas com afrescos, uma mesa sobre a qual se espalhavam livros e papéis, que também lhe servia, às vezes, até de local de refeições, pelo que constatei ao ver um prato com pedaços de queijo, pão e fatias de presunto defumado ao lado de uma garrafa de vinho e uma taça. – Acomode-se! – ordenou, apontando-me uma poltrona que só então, vi junto a porta. E, dirigindo-se a Grimaud – Trate de se apressar, não vê que estou com visitas, e me parece que você tem ainda outros inúmeros afazeres por terminar!

O criado estava a lhe esfregar as costas com uma esponja ensaboada, o que me pareceu fazia com extremo gosto. Grimaud era um jovem quase tão tímido e retraído como o patrão. Minha visita o desagradou, como logo pude perceber, por estar interrompendo aquele momento íntimo que estava tendo com seu senhor.

- Permita-me que faça isso! Pode ir cuidar de seus outros afazeres. – disse eu ao criado, vendo ali a oportunidade de me aproximar de Athos, cujo corpo nu e parcialmente imerso na banheira estava acendendo um fogo nas minhas entranhas. Grimaud me fuzilou com o olhar. Além de me intrometer e acabar com o encanto daquele momento, ainda me atrevia a tocar em seu patrão.

- Não é preciso que se sujeite a isso! – exclamou Athos. – Esse molenga parece que tirou o dia para me aborrecer! – emendou, fazendo os olhos de Grimaud marejarem. Dirigi-lhe um sorriso de compaixão quando ele deixou o quarto.

Os ombros de Athos me pareceram ainda mais largos e vigorosos àquela pouca distância e ao toque da minha mão. Deslizar a esponja sobre aquele torso musculoso quase me provocou um orgasmo. O nível da água cobria suas partes pudendas e a espuma boiando na superfície não me deixava ver seu sexo. Suas pernas estavam dobradas expondo os joelhos, do que se podia ver, eram musculosas e peludas. Tive receio de machucá-lo no extenso ferimento que tinha no ombro direito, por isso levava a esponja até suas bordas com extremo cuidado e delicadeza.

- Você tem uma mão leve e macia! – exclamou ele, repentinamente, me tirando do devaneio no qual estava imerso com aquela situação tão íntima.

- Não quero de te machucar novamente! – retruquei. – Fui tão desastrado ontem que me penitencio até agora. – confessei.

- Esqueça! O que está fazendo agora compensa qualquer dor! – devolveu ele.

- Trouxe-lhe o bálsamo de que lhe falei, essa é a razão da minha visita. – disse eu, para não parecer um enxerido.

- Ah! – retrucou ele. Talvez fosse apenas minha imaginação, mas ele me pareceu desapontado com a minha afirmação. O que mais esse homem podia estar esperando de mim? Havia apenas dois dias que nos conhecemos e, diga-se de passagem, as circunstâncias e acontecimentos que se seguiram a isso não foram dos melhores. – Fico feliz que tenha vindo! – emendou, ao perceber que sua resposta me deixara sem saber o que pensar.

- Faço questão de vir todos os dias eu mesmo a aplicar o bálsamo. Sinto que sou responsável por parte do que está sofrendo. – afirmei

- Sua presença já é o suficiente para eu me esquecer desse ombro. Vou torcer para que demore a se curar. – ouvir essas palavras me deixou em êxtase. Estaria ele sentindo o mesmo por mim que eu por ele? Era felicidade demais para alguém que nunca esteve tão próximo de outro homem como eu naquele momento.

O que ele exatamente estava sentindo eu não sabia, mas que estava mexendo com os brios daquele macho eu estava. A prova cabal disso era aquela cabeçorra arroxeada que subitamente emergiu por entre a espuma que flutuava na superfície da água. O Athos estava tendo uma ereção. Pelo tanto que o nível da água cobria de suas coxas, tratava-se de uma ereção gigantesca. Meus olhos hipnotizados pelo formato e tamanho da cabeçorra não viam mais nada além daquela maravilha, e meu cuzinho se contorcia alucinadamente como nunca havia se contorcido antes. Ele notou meu olhar hipnotizado, não disse nada, apenas me dirigiu um sorriso libidinoso.

- A água está ficando fria. Em breve terei que sair daqui e talvez você não goste do que vai ver. Mas, apesar de estar me esforçando para me controlar, com suas mãos deslizando sobre a minha pele fica impossível ignorar o que estou sentindo. – sentenciou ele

- Tenho quase certeza de que vou gostar! – exclamei ousado. Eram meus hormônios circulando nas veias.

- Então faça-me o favor de alcançar a toalha, essa água está mesmo de arrepiar.

Ao se colocar de pé dentro da banheira, pude ver o tamanho colossal daquele caralhão e daquele sacão pendurado flacidamente abaixo dele. Fazia jus ao tamanho do Athos, um titã prodigioso. Enquanto eu engolia em seco, meu cu piscava desenfreadamente entre as bandas carnudas da minha bunda. Ele não se retraiu, não tentou disfarçar o tesão explícito que sua pica experimentava, apenas me encarou com um sorriso cúmplice. Por instantes fiquei paralisado, sem saber como agir. Mas, então, como a toalha estava nas minhas mãos, comecei a enxugar aquele corpanzil peludo, viril e musculoso, começando pelos cabelos que ele trazia curtos, ao contrário dos meus e, da moda da época.

- Posso facilmente me viciar no toque dessas mãos! – murmurou ele, como se estivesse falando para si mesmo. Eu corei.

- Estarão sempre ao seu dispor quando precisar! – minha resposta soou dúbia, o que, de certa forma, foi providencial naquele momento, pois eu não queria parecer um leviano e, muito menos, um pederasta assanhado e vadio.

- Esteja certo de que vou lhe cobrar por isso! – exclamou, exibindo seus lindos dentes e um brilho que vi pela primeira vez naqueles olhos verdes.

Grimaud entrou no quarto trazendo algumas roupas dobradas, e interrompeu a magia do que estava acontecendo, da mesma maneira como eu havia interrompido o momento dele. Pareceu feliz com a vingança. Repentinamente me passou pela cabeça que talvez eu precisasse disputar o Athos com ele, ou pior, dividi-lo com aquele criado que, positivamente, não tinha ido com a minha cara. Ao receber a ordem de nos providenciar um jantar, ele saiu tão furioso como quando tinha entrado, mas obedeceu servilmente, o que me deixou desconfortável.

- Talvez seja hora de eu me ir! – exclamei.

- Nem pense nisso! Ainda temos muito a conversar! Você fica! – revidou o Athos.

O que de tão importante teríamos a conversar, havíamos nos conhecido há pouco mais de 48 horas? Aquele olhar pousado sobre mim já me dizia que ele me queria junto dele pelo maior tempo possível, e que havia algo escuso e voluptuoso camuflado por trás dele. Ao invés de me sentir inseguro, eu estava mais interessado do que nunca em descobrir do que um macho excitado era capaz. Mais uma vez, quem me guiava eram aqueles efervescentes hormônios que abundam na juventude cega e curiosa.

Eu havia chegado a um ponto crucial, o enorme membro estava distendido em todo seu vigor e potencial. Não sabia se continuava a passar a toalha no sexo do Athos ou se interrompia ali mesmo aquilo que já me parecia uma orgia deslavada.

- Ainda não alcanço essa parte do corpo e nem daí para baixo! – disse o Athos, mostrando seu braço direito temporariamente aleijado. – Terá que continuar! – emendou libidinoso.

Não é hora de ter pudores, pensei comigo. Aproveite essa chance que o destino lhe ofereceu, vá até onde as coisas o levarem. Toquei sensualmente a toalha entre suas coxas grossas e peludas garantindo que secasse tudo em que tocava. Ele não desviava o olhar das minhas mãos, bem como não se importava de o caralhão continuar empinado e rijo. Ao me abaixar para secar suas pernas e pés, a pica ficou a centímetros do meu rosto. A glande de um vermelho cereja brilhava com um tênue corrimento translúcido que passou a cobri-la. O ar do quarto se encheu de um aroma almiscarado. Subitamente senti a mão esquerda do Athos penetrando nos meus cabelos, apertando-os entre seus dedos e levando minha boca diretamente para seu falo, até senti-lo tocar meus lábios. O muco viscoso que saía da pica dele se espalhou pelos meus lábios. Eu os abri cautelosamente e sorvi aquele líquido ligeiramente salgado. Ergui meu olhar para o rosto do Athos e vi o sorriso esperançoso que estava nele. Coloquei o quanto coube daquela cabeçorra na minha boca e comecei a movimentar a língua, lambendo e massageando aquela carne quente e latejante. O Athos soltou um gemido que lhe escapou como um sibilo entre os dentes cerrados. Nem em sonho eu pude imaginar que a pica de um macho tinha tantos sabores deliciosos a oferecer. Não era apenas o sabor, mas o tato, o cheiro, o calor que inebriavam. Será que isso também faz parte das atribuições do Grimaud, pensei comigo? Uma pontinha de ciúmes brotou no meu peito. Se fizesse, eu estaria em desvantagem, pois ele convivia com o patrão enquanto eu, por mais amiúde que fossem os nossos encontros, sempre estaria privado daquele convívio e daquela intimidade. Levei um tempo para afastar esses fantasmas da mente. Precisava me concentrar em saborear aquela jeba e dar a ela todo o carinho que aquele homem parecia estar precisando.

- Ah D’Artagnan! Estou descobrindo mais uma de suas habilidades, e já me pergunto, quantas mais você haverá de ter. – grunhiu ele, procurando enfiar mais profundamente aquela rola na minha garganta.

As pontas dos meus dedos vagavam extasiadas por entre aquele emaranhado denso de pelos pubianos, acariciavam e exploravam a textura daquele sacão pesado dentro do qual dois enormes testículos consistentes se moviam graciosa e sensualmente. Ele afastou ligeiramente as pernas para que eu tivesse acesso pleno a todo seu sexo, para que minhas carícias chegassem até os pontos mais sensíveis, para que o prazer que eu estava lhe proporcionando alcançasse o cerne de seus genitais. Eu não parava de chupar, lamber e mordiscar aquele cacetão distendido em toda sua extensão, enquanto ele grunhia e pisoteava o chão como um touro ensandecido. Quando ouvi seu urro, minha boca se encheu de porra, um creme denso, esbranquiçado, quente e pegajoso que eclodiu como a lava de um vulcão. Eu engoli jato após jato daquele sumo viril e amendoado, enquanto meus olhos erguidos na direção dele brilhavam na mesma intensidade do jubilo que eu estava sentindo.

- Agora não! – exclamou o Athos num berro, ao ouvir os passos do Grimaud trazendo uma bandeja com o nosso jantar, junto à porta.

De soslaio vi o criado parado pouco antes do umbral sem saber o que fazer. Não sei se ele me viu com aquele caralhão na boca, mas certamente ele sabia o que estava acontecendo ali dentro. Terminei de chupar e engolir toda a porra que o Athos ejaculou na minha boca. Limpei a rola com minhas lambidas e me pus em pé. Ele sorria para mim, passou as costas dos dedos pelo contorno do meu rosto e sussurrou meu nome. Pensei que fosse explodir de tanta felicidade quando pus um beijo tímido no canto de sua boca.

- Está esperando esta janta esfriar, estrupício? Ande com isso, e traga-me roupas limpas! Não vê que estou nu? – berrou mais alto para o pobre coitado do Grimaud, que havia se afastado da porta do quarto quase a correr.

- Não seja tão severo com ele! O coitado deve sofrer um bocado em suas mãos. – ralhei

- É preciso trazê-lo à rédea curta! Você não sabe o quanto ele pode ser inconveniente. – retrucou Athos. O que ele queria dizer exatamente com esse ‘você não sabe o quanto ele poder ser inconveniente’ é que me deixou com a pulga atrás da orelha. Um motivo a mais para eu me preocupar com aquele relacionamento que, para mim, era uma completa incógnita.

Quando Grimaud voltou com o jantar, pratos e talheres tilintavam sobre a bandeja de tanto que o infeliz tremia. Contudo, seu olhar voltou a me fulminar. Ele sabia o que havia acontecido entre mim e o Athos, e certamente me culpava por ser tão íntimo de seu patrão, ou talvez eu devesse dizer, seu amante.

Após refazer o curativo do ombro aplicando o bálsamo, coloquei o braço do Athos na tipóia e ajudei-o a vestir um robe, ele dispensou qualquer outra vestimenta. Os dois pratos sobre a bandeja tinham conteúdos distintos, o dele uma gorda sopa caldosa com pedaços de galinha, o meu, algumas batatas coradas, vegetais cozidos e uma sobrecoxa de galinha assada.

- Quer me ver morto, servindo essa lavagem insossa? Como hei de recuperar minhas forças comendo essa gororoba? Preciso de uma gorda e suculenta ave assada e vinho, muito vinho, que é o suco dos deuses. Baco que o diga! – vociferou contra o pobre serviçal.

- Deixe de ser ranheta, Athos! Até parece uma criança mimada! Está cercado de razão o Grimaud ao lhe servir essa sopa substanciosa. Se algo vai lhe devolver as forças é essa sopa e nada mais! – retruquei, em defesa do coitado, que tratou de sumir das vistas do patrão para não lhe servir de alvo de suas frustrações.

Jantamos tendo uma conversa agradável. O Athos era um gentleman quando não estava irritado, e procurava me fazer apreciá-lo, especialmente depois do que tinha acabado de acontecer. Seu olhar me estudava, ou melhor dizendo, estudava as expressões do meu rosto, a sensualidade oculta do meu corpo, o movimento excitante dos meus lábios tão rubros quanto o vinho que estava na taça que eu levava à boca, onde há pouco seu falo recebia toda sorte de afagos.

- Fique! É cedo. – disse ele, quando fiz menção de me despedir, enquanto o Grimaud tirava os pratos e taças na última vez que adentrou ao aposento.

- Você precisa descansar! Está pálido como um defunto. Voltarei amanhã para refazermos esse curativo e reaplicarmos o bálsamo. – devolvi.

- O bálsamo do qual preciso é você! Cuide de mim, d’Artagnan. – pediu ele, abrindo as pernas, o que fez parte do robe deslizar para o lado e expor sua enorme ereção, que me hipnotizou como uma droga viciante.

- Não é à toa que está tão pálido, o pouco sangue que lhe resta parece não conhecer outro caminho que não essa estrovenga gigantesca. Trate de ser um bom paciente e recolher-se à cama, que é onde vai se curar. – retroqui.

- É justamente nela e com você que vou me curar. Fique! – sussurrou ele junto ao meu ouvido, quando se aproximou de mim envolvendo-me pela cintura e me puxando contra seu corpo.

Eu voltei a sentir os espasmos contraindo todo meu corpo. O calor que emanava do dele me enchia de tesão, uma vez que a curiosidade do meu cuzinho ainda não tinha sido satisfeita por aquela pica carente. Franqueei-lhe o pescoço, ele colocou um beijo úmido sobre a pele e depois a mordiscou.

- Quero te saborear por inteiro! – exclamou num sussurro longo, antes de me dar um chupão na pele alva e quente da nuca e, ao mesmo tempo em que esfregava sua ereção na minha bunda.

O fato de eu demorar a responder, sentindo minhas calças sendo arriadas, o encorajou a prosseguir na investida. Nem mais uma menção a sua falta de energia e sua lividez o fizeram desistir. Eu não tinha mais argumentos ao sentir suas mãos amassando minhas nádegas e devassando meu reguinho liso onde jamais antes alguém havia tocado. Subitamente o ar do quarto me pareceu denso, como se meus pulmões não conseguissem o suficiente dele para manter minha lucidez. Em meu peito o coração palpitava descontrolado. Entre as minhas coxas o cuzinho se contorcia de desejo. Ele parecia saber de cada uma dessas sensações que meu corpo experimentava, e me abraçava cada vez mais intensamente. Sua respiração também havia acelerado, e eu sentia no cangote o hálito morno que ele exalava. As pinceladas que ele dava com o caralhão duro numa das mãos, ao longo do meu rego, iam deixando um rastro úmido do pré-gozo que minava dele. Eu quase convulsionei quando os espasmos se tornaram tão fortes ao sentir a cabeçorra dele forçando a fenda estreita do meu cu. Foram duas investidas abruptas antes de ele me penetrar.

Eu não era do tipo melindroso, covarde, ou propenso a chiliques, mas não pude sufocar o grito que me escapou da boca quando a cabeçorra daquele cacetão imenso atravessou meus esfíncteres, simplesmente rasgando-os como se fossem finas folhas de papel. A dor foi tamanha e tão profunda que o grito se fez inevitável. Nunca nada havia atravessado meu cuzinho fazendo o caminho inverso ao natural, nem exigido que ele se abrisse tanto para dar passagem aquele colosso. Tornou-se óbvio para o Athos que era a primeira vez que eu estava sendo enrabado por um homem. Embora mal pudesse controlar o tesão que estava sentindo, sabia que tinha que agir de modo cuidadoso e gentil para com a minha inexperiência.

- ANH, ANH, ANH, ANH! Ai, devagar, Athos! Por favor, devagar! – gani quando aquela dor implacável ia se distribuindo pela minha pelve.

- Relaxe, d’Artagnan! Você está muito tenso, se travando, não vou ter outra opção a não ser forçar até que seu cuzinho se abra na marra! Não quero te machucar, então relaxe essa musculatura! – disse ele, soltando o ar entre os dentes travados num som grave e carregado de excitação.

- Dói muito, Athos! Não é frescura, juro! – devolvi, temendo até respirar para não sentir mais uma vez aquela dor aguda e lancinante.

- É por isso que estou pedindo que relaxe. Você precisa se abrir para mim, me deixar entrar em você. – disse ele, enquanto dava uma forçada contra os esfíncteres que eu mantinha tão travados que nem o ar podia atravessá-los.

- ANH, ANH, ANH, Athos! Eu não vou aguentar! – gani, sentindo quão fraco eu era em relação a ele naquela situação.

- Me beija, d’Artagnan! Vem cá, beija a minha boca! Nós dois queremos a mesma coisa, você só precisa focar naquilo que está desejando, e não na dor. Confie em mim, d’Artagnan, eu não vou te machucar, prometo! – asseverou ele, sem conseguir segurar sua impetuosidade de entrar com todo seu falo naquele cuzinho úmido e quente que havia aprisionado generosamente sua cabeçorra estufada.

Eu me virei na direção dele, nossas bocas se uniram num beijo quente, com direito a uma dança suave de línguas que se estudavam, se entrelaçavam sem pressa. Mesmo assim, soltei outro grito quando ele forçou a pica mais profundamente, enfiando metade do caralho grosso no meu cu. Ele foi ao êxtase, eu quase desfaleci. Minhas entranhas estavam sendo dilaceradas por aquele cacetão determinado e voluntarioso, que nem ele podia controlar mais. Eu sabia que só dependia de mim para aquele coito se transformar em algo significativo para nós dois. Eu precisava ceder, precisava me entregar, precisava me submeter, o que era deveras difícil para um gascão não acostumado a ser dominado por quem quer que fosse. No entanto, com o Athos aquilo parecia não ter a mesma importância. Desde a primeira vez que pus os olhos nele, algo reverberou dentro do meu peito. Aquele era um homem diferente, aquele era o homem com quem eu sempre havia sonhado. Portanto, não seria nenhuma humilhação me submeter aos desejos carnais dele, seria, isso sim, uma prova cabal do quanto eu o admirava e de quão intensos e verdadeiros eram meus sentimentos para com ele. Aquele beijo que já se demorava havia algum tempo era a prova disso. Ambos estavam estarrecidos e embevecidos com ele. Já não me importava quanta dor eu ia sentir para ter todo aquele cacete e todo aquele macho dentro de mim.

- Empina a bundinha contra a minha virilha e se abra para mim, d’Artagnan! Eu te quero tanto, te quero por inteiro! – sussurrou ele. Eu obedeci e o restante da rola deslizou para o fundo do meu cu. – Ah d’Artagnan, como você é gostoso minha criança! Nunca entrei num cuzinho tão apertado, d’Artagnan, nunca! E nada do que já senti se compara ao que estou sentindo com você. – emendou ele, num delírio de prazer incomensurável.

Agora era eu quem precisava me sentar ou me deitar, pois mal tinha forças para continuar em pé levando aquele caralhão no cuzinho. O Athos sacou a pica do meu rabo e me levou até a cama, recostou-se na cabeceira e ainda mantendo as pernas bem abertas, me chamou para cavalgar sua pica rija como um bastião. Nem o ardor no meu cuzinho me demoveu de sentar sobre aquele tronco de carne pulsando de tesão. Fui baixando vagarosamente a bunda sobre aquela estaca até ela estar completamente alojada no meu cu, enquanto gania um misto de dor e prazer. Um sorriso libidinoso deu contorno aos lábios do Athos quando comecei a rebolar e a subir e descer fazendo sua jeba deslizar apertada entre meus esfíncteres anais. Ele me parecia cada vez mais lívido.

- Você está mais branco do que essas velas! Não devia estar fazendo todo esse esforço. – censurei.

- Ainda tenho energias o suficiente para te satisfazer. É de você que vem a minha força! Quero todos os beijos ardentes que você tem nessa boca. – gemeu ele, enquanto minha musculatura anal mastigava sua rola profundamente atolada no meu cu.

Eu estava feliz como nunca havia me sentido, beijava-o com volúpia e carinho, inebriado pelo tesão. Durante um desses beijos, ele agarrou minha cintura e me impediu de soerguer a bunda, mantendo o cacetão completamente imerso na minha carne dilacerada. Me encarando fundo nos olhos, começou a ejacular. Eu podia sentir cada um daqueles jatos mornos atingindo minha mucosa anal como se fossem a lava expelida por um vulcão. Em meio ao êxtase, meu pinto também começou a liberar toda a porra que estava me comprimindo o saco. Havíamos chegado juntos ao clímax. Eu o envolvi em meus braços e afaguei seu rosto hirsuto, até sentir que o cacetão havia amolecido completamente. O Athos virou de lado e adormeceu como uma criança, estava completamente exaurido. Porém, sua boca exibia um sorriso de felicidade que preencheu todo meu coração da mais sublime alegria. Eu havia perdido minha virgindade, mas fora recompensado por aquela satisfação que resplandecia no rosto daquele macho.

Tentei sair de fininho na manhã seguinte, mas o Grimaud me flagrou já junto à porta de saída. A cara dele estava mais enfezada do que nunca. Encarei-o com soberba, não tinha porque me sentir culpado de alguma coisa. Desejei-lhe um – bom dia – e recomendei que cuidasse bem do patrão, fazendo questão de usar essa palavra para me referir ao Athos, o que também serviria para colocá-lo em seu exato lugar. A umidade pegajosa presente no meu ânus me dava o direito de agir assim, pois eu me sentia vinculado ao Athos, e não ia abrir mão dele por quem quer que fosse. Ganhei a rua quando um arremedo de sol de inverno projetava seus tímidos raios sobre as edificações, criando sombras que se encurtavam à medida que o dia raiava. O campanário da igreja de Saint Barthélemy batia seis horas, eu precisava me apressar para não chegar atrasado ao meu primeiro dia na Academia. Embora o ardor no meu cu ganhasse força a cada um dos meus passos largos, eu sentia uma liberdade inusitada, como se fosse um pássaro flanando no céu.

O diretor da Academia, de cabeça baixa enquanto lia a carta de recomendação do Sr. De Treville, revezava os olhos entre mim e o papel que tinha nas mãos com a impassibilidade de um jogador de pôquer.

- Muito bem, minha criança! O senhor começa hoje mesmo, será um prazer prepará-lo para ser futuramente mais um mosqueteiro. Contudo, advirto-o, não serão tempos fáceis os que viverá entre nós. – sentenciou ele, com um sorriso contido.

- Darei o melhor de mim, senhor! Pode estar certo disso. – devolvi agradecido e contente.

Não sei se foi a noite de amor e sexo que tive com o Athos, mas ao me juntar aos demais alunos da Academia e me ver cercado de homens transbordando energia, meu cuzinho arregaçado voltou a se contorcer como se estivesse pedindo por um macho engatado entre os esfíncteres. Ao final da tarde estava exausto com os exercícios e não pensava noutra coisa que não regressar para casa e tomar um belo banho antes de seguir para a casa do Athos e cuidar de seu ferimento conforme havia lhe prometido. Antes de pisar na água tépida da banheira, constatei que minhas ceroulas estavam manchadas de sangue justamente onde as bandas da minha bunda aprisionavam o tecido dentro do rego, intuitivamente fui remetido à visão da imensa e calibrosa rola do Athos, fora ela a fazer minhas preguinhas sangrarem ao serem dilaceradas, reforçando em mim a imagem de homem viril e vigoroso que eu fazia dele.

Ao constatar que era eu à porta, a cara do Grimaud se fechou, e ele me fez entrar sem dizer uma palavra. Eu o cumprimentei e perguntei por seu patrão, ao que ele respondeu apontando a sala onde o Athos lia diante da luz do entardecer que entrava por uma janela.

- Achei que tinha se esquecido de mim! – disse ele sorridente assim que me viu.

- Eu prometi cuidar desse ombro até ele estar novinho em folha, não prometi? Até lá terá que aguentar a minha presença. – retorqui.

- Somente do ombro? Pensei que fosse cuidar do restante também. – questionou com um risinho safado.

- O senhor devia evitar estripulias, mais parece um cadáver ambulante. – devolvi

- Depois do que aconteceu ontem não tenho como não pensar em você 24 horas por dia. Nunca fui tão feliz! – afirmou ele, pegando na minha mão assim que cheguei ao seu alcance.

Repetimos o mesmo ritual da véspera, banho, curativo, uma mamada carinhosa na benga suculenta, um jantar ainda mais caprichado do que o da noite anterior, servido por um Grimaud de cara amarrada e, uma entalada demorada daquele caralhão no meu cuzinho até abundância de porra começar a vazar e cairmos no sono engatados em conchinha. Isso se repetiu nas semanas seguintes. O Athos melhorava a olhos vistos, recobrava suas energias e sua pele voltou a ter uma coloração mais saudável. Dizia que eram as horas que eu passava em seus braços, mais do que o bálsamo, que o estava devolvendo à vida. Eu já o amava tanto que concordava com tudo que ele dizia.

Os mosqueteiros fizeram uma festa no palácio do Sr. De Treville quando o Athos voltou, pronto e curado, a reassumir suas funções. Fui convidado a me juntar a eles pelo próprio Sr. De Treville, através de um bilhete que me foi entregue na Academia, o que muito me honrou, pois isso significava que ele talvez já estivesse me vendo como um dos seus.

Eu estava feliz com a total recuperação do Athos, embora estranhasse o comportamento que ele vinha tendo nas últimas semanas, radicalmente oposto àquele que apresentava enquanto eu cuidava de seus ferimentos e de suas carências sexuais. Quanto mais suas energias se renovavam, mais distante e frio ele parecia. Era como se eu já não lhe fosse mais necessário e, até indesejado quando o visitava. Como já estivesse em condições de fazer tudo por si mesmo e até sair como se nunca estivesse enfermo, dava sempre a desculpa de que tinha assuntos a resolver abreviando minhas visitas, ou mesmo, ordenando que o Grimaud me dispensasse à porta sem nem me receber.

Era madrugada quando Porthos e eu caminhávamos em direção às nossas casas, pois residíamos relativamente próximos um do outro. Ele estava falante como sempre. Falava alto e cantarolava sob o efeito do vinho sem se preocupar em acordar as pessoas dentro das casas por onde passávamos.

- Entre, vamos à saideira! – exclamou, depois de acordar seu serviçal, Mousqueton, com as ruidosas pancadas que desferiu contra a porta.

- Deixemos para outra ocasião, é tarde e estou cansado! – devolvi, pronto a declinar do convite.

- Ora deixe de bobagens! Uma criança como você nunca está cansada! – retrucou ele, me puxando para dentro do aposento escuro que o criado se apressou a iluminar acendendo algumas velas.

- Não sou uma criança! – devolvi exasperado, pois estava farto de me chamarem e me tratarem como se fosse uma. – Dentro de alguns meses já faço dezenove anos, portanto, sou um homem feito! – emendei irritado. Ele se virou na minha direção enquanto vertia o líquido rosado de uma garrafa em duas taças e esboçou um sorriso sarcástico.

- Claro que é! Dezenove anos. Claro que é um homem feito! – sentenciou irônico. Deixei passar, pois estava cansado demais para discutir com um homem parcialmente alcoolizado àquela hora.

Depois de sorver duas taças de vinho ele cambaleava pelo aposento. Veio sentar-se no braço da poltrona em que eu estava sentado e passou o braço sobre meus ombros.

- Você é uma criança muito valente, D’Artagnan! Digo, um jovem muito valente! – exclamou, corrigindo-se ao notar que eu me preparava para dar uma resposta enviesada à sua menção de eu ser uma criança. – E, muito bonito também! – emendou ligeiro.

- Creio que você não está em condições de conversar sobre mais nada nessa noite, é melhor que vá para a cama. – respondi, me preparando para seguir em direção à porta.

- Espere D’Artagnan! Não tenho um ombro ferido, mas estou tão carente quanto o Athos. Cuide da minha solidão, D’Artagnan, como cuidou da do Athos. – balbuciou ele, com a língua pesada pelo álcool que circulava em suas veias.

- Que absurdo é esse? Come se atreve? Não fossemos amigos e você nesse estado lastimável, eu lhe faria atravessar com a minha espada. – berrei furioso.

Então era assim que o Athos me retribuía o carinho, afeto e até a paixão que ainda não havia lhe confessado sentir por ele? Contando aos mosqueteiros os momentos de intimidade que tivemos juntos. Agora todos já devem estar sabendo da minha inclinação por homens, do que sou capaz de fazer para dar prazer a um macho. Também devem estar caçoando às minhas costas ou até tendo ideias libidinosas a meu respeito, achando que sou um desfrutável, tal qual uma meretriz em versão masculina, um pederasta encantado pelo bando de machos que o cerca. Como ele pode ser tão vil comigo? Como pode dar tão pouca importância ao amor que nutro por ele? Minha desilusão com os homens já começou com o primeiro com o qual fui para a cama.

- Gosto desses seus arroubos, te deixam ainda mais sexy e aumentam meu tesão. Mas, não se engane. Não estou tão prejudicado que não consiga revidar à sua espada com a mesma determinação, nem tão abatido que não consiga te dar prazer enfiando isso aqui na sua bundinha carnuda e arrebitada. Sonho com ela desde a primeira vez que te vi. Não me negue seu carinho, meu amigo. – foi demais para mim ver aquela pica sendo balançada por sua mão trêmula.

Lancei-me contra a porta na tentativa de deixa-lo, mas ele foi mais ágil e se interpôs entre mim e a saída. Como resultado, fui parar diretamente contra seu tronco largo e caí em seus braços, que ele tratou, rapidamente, de enlaçar no meu corpo. Me debati, socando seus ombros, enquanto ele procurava me roubar um beijo colando sua boca à minha. Os golpes dos meus punhos cerrados pareciam não ter efeito algum sobre aqueles ombros musculosos, e quando dei por mim, a língua dele vasculhava ávida e libidinosamente a minha boca, movendo-se hábil e saborosa ao redor da minha. Meu cuzinho começou a piscar e eu parei de soca-lo. Suas mãos deslizavam pelo meu corpo e acentuavam o efeito daquelas duas últimas taças de vinho que eu havia ingerido.

- Deixe-me ir, Porthos, por favor! – balbuciei, enfeitiçado por aquele par de olhos castanhos vívidos, onde o álcool que circulava em suas veias não tinha conseguido consumar seu efeito, que me fitavam cheios de lascívia.

- Não me peça o impossível! Sinto em minhas mãos que seu corpo também me deseja, não negue – afirmou ele, certo do que dizia.

- Não nego! Contudo, não é por isso que vou me deixar levar por essa insanidade.

- Que insanidade pode haver em dois corpos que se desejam, que querem se unir em cumplicidade? Seja meu por essa noite, D’Artagnan, é tudo que lhe peço, apesar de nossa breve e recente amizade.

Instantes depois, eu estava nu. Meu corpo estava sendo esquadrinhado por aquelas mãos sedentas e potentes, e o tesão fluía através dele, desde a raiz dos cabelos até a ponta dos pés. Deixei de resistir quando ele tirou as calças e me fez encarar seu membro calibroso e aliciante, que se avolumava bem diante do meu olhar estarrecido.

- É todo seu! – exclamou ele, ao me ver ali olhando embasbacado para aquela caceta prodigiosa.

Me tomavam por um pederasta leviano, pois então eu seria um. E, começaria agora mesmo, usando todos meus atributos físicos e persuasivos para deixar os machos malucos, babando de desejo para terem os favores do meu cuzinho tenro e aconchegante.

Assim que fechei meus lábios ao redor daquela rola suculenta e pulsátil, vi que o álcool se dissipava nas veias do Porthos como que por magia. O brilho em seus olhos não se devia mais ao vinho, mas ao tesão que minha boca sugando e mordiscando toda extensão de seu falo causava. Ele grunhia, arfava feito um touro, pisoteava o chão sem sair do lugar extasiado com o prazer que vinha de sua rola e se espalhava por todo seu corpo. A suculência da carne intrépida que eu tinha na boca também me excitava através de seu cheiro almiscarado e seu sabor másculo. Meu cuzinho piscava ensandecido pelo tesão e eu sabia que ele seria, mais uma vez, lanhado por um caralhão cuja cabeçorra eu mal conseguia abocanhar. Nem mesmo o hálito do Porthos guardava algum resquício das taças de vinho que havia ingerido quando me tomou em seus braços e me beijou numa sofreguidão desatada, como se quisesse invadir meu corpo por ali mesmo. A língua dele roçava minha garganta e se esfregava com a minha numa coreografia quase obscena. Suas mãos apertavam minhas nádegas carnudas, abriam meu rego e procuravam ávidas pela minha fenda anal. Eu gemia lascivamente rente à orelha dele, provocando-o, instigando-o a me possuir, pois os espasmos no meu cu estavam me enlouquecendo. Puxei-o em direção à cama e me deixei cair sobre ela com ele por cima de mim. Ele rotacionou meu corpo até eu ficar de bruços, abriu minhas pernas e mandou que eu empinasse a bunda, o que o fez vislumbrar meu cuzinho rosado quando apartou as bandas da minha bunda.

- Que cuzinho tentador, D’Artagnan! Tão rosadinho, tão impaciente, tão tesudo! – murmurou ele em êxtase, pouco antes de começar a lamber minhas preguinhas.

Eu gemia feito uma cadela no cio, anunciando estar pronto para ser coberto por aquele macho que ficava cada vez mais tarado à medida que meu cuzinho piscava lascivo chamando-o para o coito. Ele montou em mim, agarrando-se ao meu tronco onde logo suas mãos sentiram os biquinhos das minhas tetas, completamente rijos de tesão. Eu rebolava fazendo sua jeba pincelar meu rego, sentia os pentelhos dele diretamente sobre a entrada do meu cu e gemia, gemia tão alucinadamente que quase implorava para ser penetrado pelo cacetão que deslizava dentro do meu rego. Guiando a pica com uma das mãos, ele a enfiou na fenda apertada do meu cuzinho. Eu gritei quando senti a dor das pregas se dilacerando, e só parei para continuar gemendo baixinho e cadenciadamente, no mesmo ritmo das estocadas dele, quando a verga estava totalmente entalada nas minhas carnes. Porthos estava sendo meu segundo macho, mas eu já havia descoberto que aquela sensação de se sentir fundido com outro corpo era única. Bem como, sabia que era em meio à dor que lentamente começava a surgir o prazer, à medida que o macho fazia seu membro se movimentar num vaivém sensual até que essa fusão e esse movimento cadenciado levasse ambos ao clímax. O bater sonoro e constante do sacão pesado e ingurgitado do Porthos no meu reguinho, junto com o deslizar da carne rija dele no meu cu me fizeram gozar enquanto eu ainda estava ajoelhado de quatro sobre a cama, e meu pinto balançava de um lado para o outro a cada estocada que ele me dava. Minha porra espirrava para todo lado enquanto eu gania num misto de dor e prazer, deixando aquele macho fogoso arregaçar meu cu. Eu contraia meus esfíncteres mastigando a rola do Porthos, o que o fazia grunhir cada vez mais alto e excitadamente. As estocadas se transformaram num movimento curto, quase estático, a pica estava toda dentro de mim querendo ir mais fundo, mais para o íntimo do meu ser, quando o urro que o Porthos emitiu brotou forte de seu peito. No mesmo instante, comecei a sentir os jatos de porra quente e pegajosa escorrendo entre a minha mucosa esfolada. Gemi pronunciando o nome dele. Ele me apertou com mais força em seus braços e foi ejaculando até estar completamente saciado e, só então, deixando o peso de seu corpo nos afundar sobre o colchão, sussurrou meu nome enquanto lambia minha orelha e chupava meu pescoço.

Depois daquela primeira vez com o Porthos, houve outras nas semanas que se seguiram, e mais uma ligação com um macho se estabeleceu. Contudo, eu já não era mais o mesmo iludido de antes que, entregava seu coração ao mesmo tempo em que entregava o cuzinho. Talvez a relação com outro homem fosse assim, havia sexo, mas não havia amor. Eu acabara de entrar nessa seara, sabia pouco da vida, não sabia quase nada sobre relacionamentos, não sabia absolutamente nada sobre o amor. Aquilo que eu ainda sentia em meu peito com relação ao Athos devia ter outro nome, devia ser outra coisa qualquer que me caberia descobrir com o tempo.

Transar com o Porthos era maravilhoso, apesar de ele ser reconhecidamente um amante infiel e espalhafatoso. Ele jamais escondeu seus envolvimentos com as mulheres. Era discreto ao falar sobre eles, mas não fiel a ponto de resguardar a honra das damas que levava para a cama. O que se sabia de mais concreto era que havia uma que gozava de um lugar reservado no fundo daquele seu coração gigante. Tratava-se de uma dama de certa importância na corte, esposa do ministro das finanças de Luis XIII, um velho rico que a tinha conquistado como se fosse parte de sua fortuna, uma mulher para exibir nos eventos da corte e para atestar seu prestígio, nada mais. Não era vergonha ou demérito algum ser sustentado por uma mulher de posses, muitos mosqueteiros e mesmo outros jovens solteiros tinham nelas suas fontes de renda. Porthos era um deles. Em troca de juras de amor que nunca se cumpriam, sempre sob o pretexto de ela ser casada, e de noites tórridas entre os lençóis, Porthos vivia a lhe pedir o dinheiro que lhe garantia a vida boêmia e folgada que desfrutava. Ela sempre temerosa de perder aquele homem que lhe preenchia a vagina solitária e carente, fazia de tudo para arrancar os escudos do marido e entrega-los ao amante como prova de seu amor incondicional. Porém, não foi por esse caráter volátil que não senti pelo Porthos a mesma coisa que sentia pelo Athos. Eu gostava dele, sem dúvida, mas gostava porque me levava ao delírio no leito quando se aconchegava a mim e entrava no meu cuzinho com seu caralhão insaciável. Afora essa intimidade não proclamada, éramos bons e verdadeiros amigos, capazes de fazer de um tudo um pelo outro.

Eu não saberia avaliar até onde havia se espalhado o fato de eu me deitar com homens deixando que se realizassem as mais insólitas fantasias sexuais. Dei para reparar que os homens tinham o hábito, antes nunca percebido, de admirar meu corpo esguio e simultaneamente atlético. Era isso que me levava a crer que boatos sobre a minha sexualidade corriam de boca em boca, fazendo com que muitos machos, especialmente na Academia e entre os mosqueteiros do Sr. De Tréville, me escrutinassem a bunda proeminente e carnuda, com a voracidade de lobos famintos. Ninguém se atrevia a falar abertamente sobre o desejo de me enrabar conhecendo minha índole arisca e pouco dada a aceitar impunemente gracejos desse tipo. No entanto, eu podia notar as indiretas nas falas de muitos deles, inclusive os assédios mais disfarçados de alguns deles. A culpa por esse estado de coisas eu reputava ao Athos. Foi a partir dos cuidados que lhe dediquei, do amor juvenil e inocente que lhe entreguei que tudo tomou o rumo que tomou. Como Porthos poderia ter sabido da minha homossexualidade senão pelo Athos? Como os demais estudantes da Academia e os mosqueteiros começaram a esboçar aqueles olhares vorazes e libidinosos? Como Aramis, o mosqueteiro mais jovem do Sr. De Tréville, com aquela sua pica em constante estado priápico sob as calças, por qualquer motivo, começava a se achar no direito de também usufruir da carne quente e acolhedora das minhas nádegas? Ele flagrara ao Porthos e a mim numa manhã em que apareceu pouco depois do raiar do sol na casa do Porthos, e Mousqueton o fez entrar sem consultar seu amo sobre a conveniência de fazê-lo àquela hora e, especialmente, quando ele e eu acabávamos de compartilhar uma tórrida noite de prazeres carnais. Aramis não precisou mais do que alguns segundos para se certificar do que tinha acontecido na casa do amigo, à qual sempre teve acesso livre a qualquer hora do dia ou da noite, mas que agora lhe dava a impressão de ter chegado num momento inoportuno. Porthos o recebeu com o entusiasmo de sempre, tentando disfarçar, sem sucesso, a minha presença em sua casa em hora tão matutina. Eu certamente corei, podia sentir minhas faces em brasa quando Aramis me encarou desafiadora e voluptuosamente, mais do que já costumava fazer nos últimos tempos.

- Bem senhores, eu preciso ir! O recado já está dado Porthos, e já estou me atrasando para as atividades na Academia. – disse eu, praticamente gaguejando, uma vez que meu nervosismo com o flagrante, havia me desestruturado por completo.

- Obrigado, D’Artagnan! Estou encantado com sua solicitude! – devolveu Porthos, entendendo meu subterfúgio para escapar à situação.

- Tenham um bom dia, senhores! – exclamei, deixando o mais apressadamente possível aquele lugar, e ainda sentindo o cuzinho lanhado a arder.

- Nos vemos em breve! – retrucou Porthos. O safado também já havia se acostumado a ter meus favores saciando as necessidades, que lhe impunham os testículos sempre abarrotados.

- Espero revê-lo com menos pressa. – sentenciou Aramis, levando uma das mãos ao caralhão em riste, o que só então notei sob suas calças.

Sabedor de que ele não demoraria a me procurar para falar sobre o que havia descoberto, eu o evitei o quanto pude, pois a partir dessa conversa, eu certamente teria que lhe proporcionar as mesmas gentilezas que estava prestando ao Athos e ao Porthos. Passei o dia distraído por esse pensamento, o que me levou a ser chamado à atenção pelo Sr. Des Essarts, o capitão dos guardas da Academia, por algumas vezes. Dos três mosqueteiros, era justamente com Aramis que eu tinha menos intimidade. Ele era o mais jovem mosqueteiro do Sr. De Tréville e, a deferência que seu comandante tinha para comigo o fazia se sentir como um filho, até então o caçula, que repentinamente se vê substituído pela chegada de um irmão menor. Os demais mosqueteiros tinham muito a me ensinar, por isso eu não me privava de sua companhia e, como eu aprendia rápido e lhes dedicava a maior atenção, logo virei uma espécie de mascote que era recebido com toda a euforia quando ia ao palácio do Sr. De Tréville, mesmo ainda sendo um discípulo do Sr. Des Essarts. Aramis também queria me dar lições, embora ele mesmo ainda estivesse aprendendo como ser um mosqueteiro. Era isso que me irritava nele, aquela atitude pomposa como se ele fosse muito mais hábil e conhecedor das habilidades de um mosqueteiro do que eu. Era a empáfia dele que me mantinha sempre na defensiva, respondendo-lhe muitas vezes seca e atrevidamente às observações que fazia. Não chegávamos a ser inimigos, mas tínhamos as nossas diferenças. Nem mesmo o fato de ele ter um corpo bem estruturado, musculoso e sedutor, me faziam ceder ao seu gênio difícil. A única coisa que me inquietava nele era a facilidade com que ficava com o pintão duro e que, na maioria das vezes, não se dava ao trabalho de disfarçar, especialmente quando haviam moças presentes. Ele então se comportava como um pavão, fazendo-se de dissimulado diante dos risinhos assanhados delas. Esse comportamento me levou a pensar, muitas vezes, que ele ainda era virgem; ou então, tinha deixado de sê-lo há pouco, como eu, pois parecia não saber bem como agir diante do fogo que ardia entre as coxas das raparigas agastadas. No mais, eu ficava imaginando como seria delicioso sentir aquele corpão se enroscando no meu, como seria maravilhoso desvendar os segredos daquele cacetão que ele trazia intrépido sob as calças, como seria desfrutar dos beijos daqueles lábios bem contornados e sensualmente vermelhos. E, foi distraído por essas imagens libidinosas que fiquei desatento às instruções do Sr. Des Essarts o dia inteiro.

Eu tinha seguido o conselho do Porthos e arranjado um criado, embora para a minha condição financeira aquilo fosse uma extravagância difícil de manter. Mas, Planchet, o picardo que Porthos encontrara sem eira nem beira vagando pelas ruas de Paris, se contentou com pouco mais de alguns pistoles, uma cama aquecida onde pousar sua carcaça atlética ao final do dia, e algumas refeições para as quais tinha uma habilidade extraordinária de preparar. Ele era um homem com muitos mistérios, de poucas palavras, que percebi logo se afeiçoou a mim como um irmão mais velho. Sagaz, não demorou a compreender o que me fazia passar algumas noites na casa do Athos ou do Porthos, mesmo porquê, no dia seguinte eu costumava ter uma inexplicável dificuldade para caminhar aprumado, sentar sem soltar um gemido, ou carecer de banhos quentes nos quais emergia minha bundona em água na qual havia sido diluído permanganato de potássio. Planchet os preparava para mim sem dizer absolutamente nada, eu o agradecia com um aceno discreto de cabeça e isso lhe bastava.

Não esperávamos por ninguém naquela noite chuvosa de outono quando bateram à porta e Planchet avivava as brasas na lareira da pequena sala da minha habitação.

- Devo atender, senhor? – perguntou ele, também surpreso pelo adiantado da hora.

- Quem haverá de ser? Não espero a visita de nenhum dos meus companheiros. – afirmei, hesitando se o mandava abrir a porta ou deixar que a pessoa se fosse.

- Pode ser algum recado da Academia! – exclamou ele, embora intimamente estivesse inclinado a acreditar que se tratava de Athos ou Porthos carentes do meu casulo úmido e apertado.

- Então vá ver de quem se trata! – devolvi.

- Espero não estar importunando! – era a voz um tanto quanto arrastada do Aramis de cuja capa encharcada pingavam gotas que se infiltravam no piso de tábuas.

Planchet o encarava irritado, pois teria que secar o piso, pôr aquela capa próximo ao calor da lareira e se mostrar solícito, mesmo querendo degolar aquele sujeito que parecia não conhecer um relógio. Enquanto isso, eu estava surpreso, Aramis tinha estado em minha casa uma ou duas vezes, no máximo, segundo me lembrava e sempre acompanhado pelo Porthos ou pelo Athos, nunca sozinho. Notei que seu olhar brilhava mais que o habitual, e que isso se devia provavelmente a algumas taças de vinho que ele, particularmente, não estava acostumado a tragar.

- A que devo a honra da sua visita? – questionei, por educação mais do que por estar feliz com aquela aparição inesperada.

- Você é irônico assim com todos que o visitam? – devolveu ele, percebendo que minha gentileza era aparente.

- Só com aqueles que não tem noção do que seja um horário de visitas adequado! – retruquei de imediato, pois sabia que ele estava novamente a me provocar.

- Ao que parece você também não conhece regras de etiqueta, uma vez que chega a passar noites inteiras na cama dos amigos. – revidou ele.

- Não me parece que eu lhe deva satisfações! Onde vou e a que horas não é um problema seu!

- Mas eu gostaria de ter sabido que você tem por hábito dedicar algumas de suas noites aos amigos, fazendo-se presente em suas camas!

- Com os demônios, Aramis! Qual é a sua? Vá para casa e trate de curar essa bebedeira e me deixe em paz! – exclamei furioso.

- Você não passa de uma criança mimada! Gosta que todos lhe deem atenção e lhe cerquem de elogios. Eu, por não fazer o mesmo, sou deixado de lado. – sentenciou ele, deixando-se cair na poltrona junto à lareira, ignorando meu pedido para que fosse embora.

- E você é o quê? Não se esqueça de que quando eu nasci você ainda cagava nas fraldas, portanto, não queira bancar o homem maduro do qual você está longe de ser. – devolvi irritado

- Pelo menos sou um mosqueteiro e não um aspirante a o ser, como você! Tenho muito a lhe ensinar, apesar de você desdenhar das minhas habilidades. – afirmou ele, querendo se impor.

- Nunca desdenhei de suas habilidades, só não gosto como fica querendo me impingi-las, com esse ar de mestre experiente, coisa que eu sei que você não é. – revidei.

- Baseado no que você pode afirmar isso? Você é um garoto, eu já sou um homem. – disse ele

- Torno a repetir, dois ou três anos de idade a mais do que eu, não fazem de você um homem.

- E é de homens que você gosta, não é? Pois saiba que eu tenho o que você gosta bem aqui! Se você acha que com a minha espada não tenho nada a lhe ensinar, vai mudar de ideia quando souber o quanto posso lhe ensinar com essa aqui. – propalou fechando a mão sobre a benga que já estava, outra vez, gigantescamente priápica.

- Será? Tenho para mim que você continua tão virgem quanto no dia em que nasceu. – ousei atrevido. Ele soltou uma gargalhada forçada.

- Veja quem fala, o mestre em sexo! A quantos mosqueteiros e acadêmicos você já ensinou sobre os meandros dos prazeres sexuais? Dezenas, suponho, pela fama que tem entre eles. – despejou irado.

- Isso está passando dos limites! Desembainhe sua espada, Aramis, e defenda-se, pois não vou tolerar esse desaforo em minha própria casa e a essa hora da noite! – ameacei, lançando mão sobre a minha espada e apontando-a para a cara debochada dele. – Vá embora, ou eu furo seu peito nesse mesmo instante! Ele riu e se levantou, estava mais zonzo do que quando chegou.

- Eis minha espada para você se digladiar! Vamos ver do que é capaz, seu moleque safado! – exclamou ele, tirando o cacetão para fora e girando-o acintosamente na minha direção. – foi a minha vez de cair na gargalhada, ele fazia uma figura patética, cambaleando sobre as próprias pernas sob o efeito do vinho ao qual não estava acostumado.

- Vem cá meu mosqueteiro destemido. – disse, soltando minha espada e apoiando-o nos braços enquanto o levava para o quarto e o despejava feito um saco de farinha sobre a cama.

- Não zombe de mim! Já viu a espada que estou segurando? Não tente bancar o esperto comigo.

- Não estou zombando! – respondi, mal conseguindo segurar o riso. – Já, já vi a espada enorme que você está empunhando, é uma pena que ela esteja tão flácida quanto uma fruta madura pronta para cair do pé. Trate de descansar que amanhã é outro dia! E, algo me diz que você vai sentir muita vergonha do que aprontou essa noite. – sentenciei, enquanto o despia e ajeitava aquele corpão musculoso sob o cobertor. Ele era realmente tentador, cheguei a sentir a fisgada que meu cuzinho deu quando me deparei com aquelas coxas vigorosas e peludas de onde pendia aquela pica grossa e cabeçuda.

Para meu espanto, estava se tornando um hábito eu me encontrar numa alcova com um homem nu ou seminu deitado na mesma cama que eu. Justifiquei minha atitude afirmando a mim mesmo que não podia ser tão mau caráter a ponto de jogar porta afora um mosqueteiro bêbado numa noite chuvosa, ainda mais por se tratar de um amigo; muito embora, Aramis e eu não pudéssemos ser chamados de amigos, quando muito de colegas, por estarmos, de maneiras distintas, a serviço do mesmo rei. Essa justificativa não convencia nem a mim mesmo em meu íntimo, quanto mais a quem viesse a saber que compartilhamos a mesma cama por toda uma noite. Ao menos foi essa a impressão que tive ao pedir que Planchet trouxesse mais um travesseiro e um cobertor para o quarto, enquanto ele tirava suas próprias conclusões a respeito do que se daria nas horas seguintes naquele quarto exíguo. Discreto como sempre, ele fez o que pedi e nos deixou, fechando a porta atrás de si. A luz das velas no candelabro bruxuleava pelas paredes caiadas do quarto tornando a visão daquele macho nu ainda mais sedutora e atraente. Como que por magia, meu cansaço anterior à sua visita havia desaparecido por completo. Eu estava mais alerta do que nunca, meu corpo clamava pelo toque de uma mão, em meu peito algo se agitava e, no meu cuzinho, as preguinhas se contorciam alucinadamente. Aramis era um macho lindo, só agora me dava conta disso.

Minha condição de cadete na Academia não me permitia luxos, muito menos um espaço que pudesse abrigar hóspedes, tudo era muito apertado e previsto para um único ocupante. Não me restava outra alternativa que não a de me deitar ao lado dele. Sabia que teria dificuldade de conciliar o sono tendo aquele macho instigante resvalando na minha nudez, mas não tinha outra opção. Por sorte, o Aramis foi vencido pelo álcool minutos depois de seu corpo se ajeitar entre os lençóis. Um ressoar tranquilo e entorpecido de sua respiração, trazendo uma aragem morna na minha nuca, também me fez cair no sono.

Sonhei que um belo garanhão Percheron de crinas longas galopava livre entre colinas cobertas por uma relva muito verde numa tarde abafada de verão, perseguindo duas éguas assustadas no cio. A primeira que ele alcançou soltou um relincho agoniado quando a benga gigantesca do garanhão entrou em sua vulva, atravessou o vestíbulo e foi distender sua vagina. Ela estancou e se deixou foder, virando de quando em vez a cabeça para trás para ver quem a inseminava. O garanhão a estocava selvagemente, indiferente aos relinchos que ela soltava, até cumprir sua função de cobertura. Quando a deixou, o cacetão que mais parecia uma tromba de elefante ainda cuspia porra para todo lado. Ele deu alguns passos colina abaixo esperando o cacete se acalmar, mas a outra égua que assistira a tudo, a certa distância, se aproximou e esfregou a cabeça no pescoço dele como que pedindo pelo mesmo privilégio de senti-lo em suas entranhas. A pica cavalar do garanhão voltou a empinar, ele subiu na potranca e meteu, fazendo o caralho desaparecer entre as ancas dela. Olhando para a companheira, ela relinchou, um longo relincho de felicidade seguido por outros que só cessaram quando o garanhão sacou aquela monstruosidade de dentro dela já desinteressado da presença de ambas.

Eu estava empapado de suor quando acordei sentindo um calor exagerado que vinha de um corpo nu engatado no meu cuzinho. Soltei um grito que foi abafado pela mão vigorosa do Aramis sobre a minha boca, enquanto ele terminava de enfiar seu cacetão no meu cuzinho disponível e vulnerável. Eu estava sentindo muita dor, mas sua mão cobrindo minha boca não deixava meu queixume ser ouvido. Tentei, em vão, me desvencilhar dos braços dele, o que só o levou a atirar ainda mais seu peso sobre mim a fim de me conter. Ele foi bruto, impaciente, afoito, como era típico de um jovem tendo seu primeiro coito, o que só reforçou minha tese de que era virgem. Precisei ser forte e sensato, apesar da dor me entreguei por inteiro, deixando o Aramis ensandecido pela luxúria. Percebendo que eu o aceitava, ele afrouxou um pouco a pegada, metia no meu cu num vaivém mais moderado, deixava que meus gemidos alimentassem seu êxtase.

- Não vou fugir, não precisa enfiar esse pintão com tanta força em mim. – gani num sussurro que quase o deixou maluco.

- Não era você que desfazia do poder da minha espada? – questionou, bufando feito um touro.

- Para sua primeira vez até que você sabe fazer bom uso dela! – devolvi petulante

- Não é a minha primeira vez, minha criança! Não pense que sou tão inexperiente quanto você nesse assunto. Já levei muitas garotas ao delírio, como estou fazendo com você agora! – revidou ele, não querendo deixar transparecer sua pouca familiaridade com o sexo.

- Não me chame de criança, seu moleque aprendiz de macho! Sei muito bem como um verdadeiro homem se comporta quando coloca seu falo em mim. Não é esse seu amadorismo que vai me convencer do contrário. – retruquei exasperado por ele me tratar como se eu fosse uma criança.

- Amadorismo? Chama a isso de amadorismo? – questionou, dando-me uma estocada tão bruta e firme que tive de ganir de dor.

- Estúpido! Bruto! Só um virgem inexperiente é capaz de pensar só no seu prazer pessoal durante o sexo, como você está fazendo agora. – respondi para deixa-lo furioso.

- Não sei o que faço com você, tesudo do caralho? Eu devia te dar umas boas porradas para você não tripudiar sobre a minha masculinidade. – disse ele, momentaneamente perdido com a minha afirmação.

- Faça isso! – exclamei de pronto, virando meu rosto na direção do dele e colando minha boca à dele num beijo molhado e sensual. O pinto dele deu um pinote dentro do meu cuzinho no mesmo instante. Ele me envolveu em seus braços e enfiou a língua na minha boca, usufruindo da satisfação inusitada de me ter por inteiro.

Minutos depois, eu estava deitado de costas, ele encaixado entre as minhas coxas abertas, enquanto eu deslizava ambas as mãos espalmadas sobre os pelos do peito dele. Havia um sorriso bobo contornando seus lábios e me encarando. As estocadas, suaves e lentas, faziam com que aquele caralhão socasse meu púbis em toda sua profundeza. Eu gemia de prazer, ao mesmo tempo em que erguia minha pelve contra a virilha dele, ajudando aquela jeba a explorar minhas entranhas receptivas. Aramis era só prazer, seu rosto resplandecia o que estava sentindo, aquela sensação única que só agora sabia existir.

Não me surpreendi quando, no dia seguinte, ele estava de volta, mal eu tendo regressado da Academia e ele do palácio do Sr. De Tréville. A experiência da noite anterior ainda estava a lhe causar frisson na genitália. Habituado a sentir o caralhão priápico a lhe engomar as ceroulas com os eflúvios que soltava, ele agora sabia que prazeres infinitamente mais satisfatórios podiam advir da pica resvalando num casulo apertado e úmido. Ele que já se sentia atraído pela minha bunda, agora experimentava um verdadeiro fascínio pelo meu cuzinho. Viciara-se nele após uma única penetração.

- O que faz aqui, Aramis? Duas visitas tão seguidas nunca foram do seu feitio. – questionei quando ele me dirigiu um sorriso lascivo assim que abri a porta.

- Não está feliz em me ver? Pensei que depois de ontem pudéssemos estreitar nossa amizade. Trouxe até o jantar e uma garrafa de vinho de Bordeaux, o vendedor me garantiu que a safra foi excepcional. – despejou ele, enquanto passava por mim antes mesmo de eu o fazer entrar.

- Não se trata disso! Estou apenas estranhando esse seu repentino empenho em me agradar. Jantar, vinho, esse sorriso licencioso, quanto isso tudo vai me custar? – devolvi

- Ora, ora D’Artagnan! Vejo que tem um péssimo julgamento a meu respeito.

- Eu precisava ser muito mais ingênuo para não saber quais são suas reais intenções. – afirmei. Ele riu, deixou o embrulho que tinha mãos sobre a mesa e veio enlaçar minha cintura dando-me uma expressiva encoxada.

- Sentiu saudades minhas? – questionou libertino

Não respondi. Confirmar que passei o dia todo imaginando aquele corpão enlaçado no meu me poria em desvantagem naquele entrevero dissimulado que mantínhamos desde que nos conhecemos, e eu não me exporia a essa fragilidade. Negar talvez o deixasse contrariado, desestimulando-o a dar vazão ao que tinha vindo fazer, e eu bem que queria colocar aquela rola babona e insaciável na boca e sentir sua suculência, bem como a queria pulsando vigorosa nas minhas entranhas. Afinal, Aramis mesmo tão jovem e inexperiente, era um macho deliciosamente fogoso e atraente.

Planchet dispôs a mesa com o que Aramis havia trazido e, como um nevoeiro baixo que se dispersa com o sol da manhã, desapareceu sem que se ouvisse nem mesmo sua respiração. Fiquei por uns instantes a imaginar que ideia ele fazia de mim, um rapaz dado a frequentar alcovas de machos ou recebê-los em sua própria. Não era da conta dele o que eu fazia da minha vida, mas naquele momento resolvi que precisava, num futuro próximo, ter uma conversa com meu criado. Durante o jantar, Aramis e eu conversamos sobre a intenção dele de virar um clérigo. Me parecia uma ideia fixa que nalgum momento lhe invadira o juízo, mais do que uma vocação para tal. Admirador da filosofia de Santo Agostinho, ele parecia conhecer a fundo a obra do sujeito. Citava-a em detalhes, baseava nela muito dos seus pensamentos e afirmações e, quase chegava a convencer que tinha nascido para uma vida reclusa num monastério.

- Do que está rindo? Falei alguma coisa engraçada? – questionou ele, após mencionar sua conversa com o vigário de Montdidier e o superior dos jesuítas de Amiens que o convenceram que o melhor que tinha a fazer de sua vida era ordenar-se e, para isso, cada um despejava um verdadeiro dilúvio de teses eclesiásticas sobre o pobre coitado, que já se sentia praticamente apto a conceder aos simples mortais as bênçãos divinas. “Severus sit clericorum sermo” proferiu ele, ao mesmo tempo em que sorvia o último gole do Bordeaux de sua taça.

- Não me leve a mal. Eu não diria uma, mas tudo o que mencionou até aqui! – respondi. – Jamais vi algo tão antagônico; com essa cabeça você se deixa levar pelas ideias estapafúrdias de sacerdotes à cata de incautos a ingressarem em seus mosteiros e, com essa outra, você se entrega às volúpias carnais, agora que saboreou esses prazeres. – emendei, primeiro tocando em sua testa, e depois, apontando para o que trazia entre as pernas. Ele fechou a cara.

- Você ainda continua achando que eu era completamente virgem antes de ontem à noite, não é? Também acha que eu não sou capaz de ter minhas próprias convicções a respeito de quem quero ser na vida. Não é à toa que estamos sempre em conflito! – sentenciou carrancudo.

- Seja sincero, não para comigo, mas para consigo mesmo. Com todo esse tesão que mantem essa sua pica gigantesca praticamente sempre dura por qualquer estímulo, como é que você acha que será a sua vida enclausurado atrás das paredes de um mosteiro? De duas uma, ou você vai se tornar o terror dos cuzinhos dos diáconos, ou vai afinar seu cacetão de tanto bater punheta na clausura. – asseverei.

- Você é o próprio capeta a me atentar! Quer me desviar do caminho eclesiástico com seus discursos e essa bunda tentadora. – disse ele, mais perdido em suas ideias do que um barco à deriva em alto mar.

- Uma vez que é assim que me vê, vou te provar que você não tem a menor inclinação para a vida monástica. – afirmei, indo sentar-me em seu colo e começando a acariciar aquele rosto hirsuto antes de colar minha boca à dele.

Bastaram minhas nádegas se encaixarem entre suas pernas para eu começar a sentir a piroca crescendo e cutucando minha bunda.

- Tem certeza que quer abrir mão disso pelo resto da vida? – perguntei sussurrando, ao mesmo tempo que lambia seus lábios quentes.

- D’Artagnan, seu devasso, tesudo do caralho! – grunhiu ele, fervendo de tesão.

Sem perder mais tempo, ele me carregou até o quarto, me beijando numa sofreguidão incontrolável foi me despindo até ter meu corpo nu em suas mãos. Elas passeavam sobre a minha pele e me deixavam louco de tesão, gemendo feito uma cadela no cio. Ajudei-o a puxar a camisa pela cabeça e comecei a beijar aquele tórax largo e peludo, induzido pelas contrações do meu cuzinho. Minhas mãos deslizavam sobre todos aqueles músculos, seguiam excitadas para o cós da calça que ele começava a desabotoar apressadamente. Mesmo antes de aberto, minha mão já se fechava ao redor da rola grossa e enrijecida dele. Ele soltou o ar entre os dentes num gemido rouco. A pica latejava na minha mão quando eu a tirei completamente para fora da calça. Ao mesmo tempo em que ele a descerrava, eu ia me ajoelhando a seus pés, cheirando sua genitália com o rosto enfiado naquela pentelhada densa, lambendo o sacão pesado e fazendo os colhões deslizarem dentro dele à mediada que os abocanhava e chupava. Aramis soltou um grunhido gutural ao sentir suas bolas sendo chupadas com afinco. Eu estava tão inebriado com aquele perfume almiscarado de macho que só pensava em engolir aquela jeba e seus sucos. Na noite anterior eu não tinha visto o tamanho colossal daquela pica, pois ele a meteu em mim quando se aconchegou às minhas costas. Agora eu me dava conta de que ela não cabia na minha boca. Era um tronco massudo e reto de carne intrépida que parecia ter vida própria, alimentada por aquelas grossas veias que a circundavam num emaranhado pulsante, abaixo do qual pendia indecentemente um sacão viril. Engolir a cabeçorra era o máximo que eu conseguia, por isso me concentrei nela, lambendo-a, chupando-a e sugando o pré-gozo farto que minava abundante. Entre ronronares e gemidos roucos, Aramis se deixava chupar, segurando firmemente minha cabeça entre suas mãos para que minha boca não se afastasse de sua rola. Eu ergui meu olhar na direção do dele. Havia um sorriso de jubilo em seu rosto, uma esperança de que eu continuasse a lhe proporcionar aquele prazer. Apalpando e acariciando seus testículos, pude perceber como estavam ingurgitados e consistentes. Eu pensava na minha devassidão, na falta de freios quando tinha um macho e, principalmente, um caralhão diante de mim e ao alcance dos meus desejos. Questionava-me como tinha chegado a esse ponto, o que havia sido feito aquele rapaz tímido, porém destemido, que deixara há poucos meses a casa paterna na mais pura ingenuidade e virgindade. Não encontrava respostas, só um frêmito que me levava a querer copular, a deixar que machos viris como o Aramis, o Porthos e, em especial, o Athos enfiassem suas jebas no meu cuzinho onde eu as podia acalentar com carinho e, no caso do Athos, com uma paixão avassaladora.

Percebendo que ia gozar, o Aramis sacava abruptamente a pica da minha boca. No entanto, a falta dos meus lábios ávidos a lhe circundar a glande logo o fazia metê-la na minha boca novamente. Pela expressão de sua face dava para perceber que não sabia se lhe era permito gozar numa boca que o presenteava com todo aquele tesão.

- D’Artagnan, seu putinho da porra! Sabe o que vai acontecer se continuar a chupar meu cacete desse jeito, não sabe? – advertiu

- Sei! – exclamei encarando-o desejoso.

Tanta sujeição de minha parte o fez agarrar meus cabelos, dar uma socada profunda na minha garganta e, junto com um urro começar a despejar uma infinidade de jatos de porra cremosa na minha boca. Minhas mãos estavam espalmadas sobre as coxas peludas dele e, no sufoco daquela porra enchendo minha goela, quase arranquei os pelos delas. O urro dele se transformou num grito, mas ele continuava me agarrando e ejaculando na minha boca. Lagrimejando eu ia engolindo aqueles jatos de líquido esbranquiçado, mornos e espessos. Ele me encarava incrédulo e quase explodindo de tanto tesão, era a primeira vez que alguém engolia sem nenhuma reserva o sumo viril que abarrotava seus colhões.

- D’Artagnan! D’Artagnan! – gemeu ele. Depois de gozar na minha boca, me fazer engolir até a última gota de seu esperma e limpar seu caralhão com minhas lambidas carinhosas, ele esfregou a cabeçorra da pica ainda melada de porra ao redor de um dos meus mamilos, fazendo com que meu biquinho rijo adentrasse ao seu largo orifício uretral, quando mais uma última golfada de sêmen eclodiu lambuzando minha tetinha.

Antes do amanhecer ele tinha gozado mais duas vezes no meu cuzinho, depois de esfolá-lo com sua intrepidez e voracidade animalesca. Coloquei-o para fora assim que os primeiros raios de sol entraram pela veneziana do quarto e se espalharam sobre o leito em que nossos corpos comungaram devaneios lascivos. Planchet estava a postos atrás de mim assim que empurrei Aramis pelo umbral, ele segurava minhas vestes da Academia e minha espada, me prevenindo de que eu já estava atrasado para meus compromissos. Apesar do frescor da manhã outonal, a corrida pelos quarteirões que me separavam da Academia me fez chegar suado e exaurido. O Sr. Des Essarts se perguntava o que me levava a já chegar tão esbaforido todas as manhãs à Academia, não me censurava por eu não chegar atrasado apesar de ter tido visivelmente uma noite mal dormida. Enquanto isso, eu torcia para que ele nunca descobrisse as facetas desse mistério, pois estaria perdido e jamais me tornaria um mosqueteiro.

Embora meu corpo e, provavelmente, a minha libido recém despertada fizessem com que alguns alunos da Academia sentissem o tesão aflorado, e os encorajassem a me assediar, eu me fazia de desentendido, pois já me bastavam os coitos criativos e profanos do Porthos, a perseguição voraz ao meu cuzinho pelo Aramis e, as noites de carinho e amor passadas nos braços do Athos que, segundo meu desejo, poderiam ser mais frequentes e, principalmente, as únicas que eu gostaria de passar com um macho. Eu o amava, me certificava disso a cada um de nossos encontros amorosos. Queria-o com exclusividade, mas ele dava parcas demonstrações de desejar o mesmo, ao menos era essa a minha impressão. Ele era o mais carinhoso deles, o único a me fazer estremecer por dentro toda vez que estava com aquele cacetão enfiado em mim e aquele olhar doce procurando nem sei o que no fundo dos meus olhos. Se me amasse, pensava eu, não permitiria que outros homens me tocassem, e entrassem na minha fendinha quente que deveria ser monopólio dele. Ele parecia não se importar, e era isso que me doía.

Porthos era um amante criativo que parecia não ter limites e me levava a descobrir que meu corpo era uma fonte inesgotável de prazeres. Para um uranista inexperiente como eu, ele era um professor inigualável, e era isso que me levava a manter intercursos com ele. Quanto ao Aramis, eu gostava de me sentir na posição de mentor, ensinando-lhe, entre aquela sofreguidão desmedida pelo prazer sexual, o pouco que sabia. Ele fornicava feito um coelho, quantidade vinha antes de qualidade. Meu cuzinho apertado se apresentava como uma utopia prazerosa que havia se tornado realidade e, fodê-lo com toda a energia que a testosterona correndo em suas veias lhe exigia, havia se tornado sua fonte de vida. Havia momentos, especialmente quando eu mal conseguia caminhar e fazer minhas necessidades fisiológicas de tão lanhado que minhas preguinhas estavam, em que me sentia uma rameira cujo único objetivo era dar e sentir prazer aos corpões viris dos machos.

Porém, para minha felicidade, nem tudo se resumia a isso. O Sr. Des Essarts não se cansava de me elogiar para o Sr. De Tréville, o que me fazia estar constantemente em seu palácio entre os mosqueteiros e seus convidados, privilégio esse que os demais alunos da Academia não tinham. Foi durante uma dessas minhas visitas que ele me chamou em particular ao seu gabinete. Deu ordens ao seu criado pessoal que trancasse a porta e que ninguém nos perturbasse. A expressão de seu rosto, já sempre pensativa e taciturna, parecia ainda mais abalada.

- Que o que vou lhe contar fique apenas entre nós, D’Artagnan. Creio que posso confiar em sua discrição, não é mesmo? – começou ele, após me oferecer uma taça de vinho que recusei com delicadeza.

- Certamente senhor! Conhecendo meu pai como conhece, deve saber que fui educado sabendo resguardar até com a vida os segredos alheios. – afirmei, ao que ele me respondeu com um discreto sorriso.

- Trata-se justamente de um segredo. Não meu, mas da rainha, a quem devo inúmeros favores. E ela está precisando desesperadamente de ajuda para manter esse segredo longe do conhecimento do rei e, especialmente, do cardeal Richelieu, seu grande e contumaz inimigo, o homem que a quer ver cair em desgraça para assim ter maior ascendência sobre Luiz XIII. É notório que esse casamento feito por interesse só trouxe a infelicidade para os dias dela. Contudo, ela é uma lutadora pelos interesses da França e seu povo, embora o cardeal queira provar exatamente o contrário, para aumentar seu próprio poder. Na tentativa de sublimar sua infelicidade, a rainha deixou-se levar por uma paixão proibida pelo Duque de Buckingham que, no entanto, é generosamente retribuída por ele. Ocorre que o rei deu à rainha por ocasião de seu aniversário um colar com agulhetas de diamantes diante de inúmeros convidados, entre eles evidentemente o cardeal. Este por sua vez, soube através de uma de suas concubinas, a quem boa parte da corte conhecia por Milady e a detestavam por seu caráter perverso, que Ana da Áustria deu ao duque algumas dessas agulhetas como prova de seu afeto. Richelieu insistiu com o rei que fizesse a rainha usar a preciosa joia durante o balé de Merlaison, um evento que prometia movimentar toda a Paris dentro de algumas semanas. Era, portanto, preciso resgatar essas agulhetas de diamantes o quanto antes para que o segredo da traição da rainha não fosse revelado. Ela depositara sua vida e suas esperanças à minha pessoa, a quem entregou uma carta ao duque pedindo que ele lhe devolvesse as agulhetas para que suas vidas não corressem perigo. É preciso que alguém de confiança vá a Londres o quanto antes para entregar essa carta ao duque, mas se eu enviar um dos meus mosqueteiros, todos conhecidos do cardeal, é certo que esse mensageiro jamais chegará vivo ao seu destino. Portanto, preciso de alguém destemido e corajoso como você, que ainda não está na mira do cardeal para cumprir essa missão. O que me diz, D’Artagnan? – revelou o senhor De Tréville, num tom de voz que mal se podia ouvir dentro do gabinete.

- Será uma honra servir a rainha e ao senhor, Sr. De Tréville! É certo que aceito a missão, e confie que levarei essa carta ao seu destinatário mesmo que tenha que dar minha vida para isso. – respondi satisfeito por ele ter tanta consideração para comigo, um jovem aspirante.

- O senhor partirá esta noite mesmo. É vital que essas agulhetas estejam nas mãos da rainha antes do balé, pois será preciso reconstituir a joia como era originalmente. – retrucou ele, ao mesmo tempo em que me passava um pequeno saco de couro repleto de pistoles. – Aqui tem o suficiente para a viagem e para alguns subornos se for necessário. – emendou, ao me abraçar com a confiança de um pai que incumbe o filho de uma missão perigosa.

- Terá respostas minhas tão logo esteja de regresso. – afirmei confiante e resoluto

- Ah! Mais um porém. Eu determinei que Athos, Porthos e Aramis, meus mais fieis mosqueteiros, o acompanhem a certa distância com toda discrição e o protejam caso venha a ter problemas com sua missão. Eles estarão cada um em etapas distintas do seu percurso, caso precise de ajuda, eles lhe darão cobertura sem serem notados como seus acompanhantes. – completou ele, antes de se despedir.

Eram justamente missões bem-sucedidas como essa que levavam um aspirante a se tornar mosqueteiro. Eu sabia que só dependia de mim cumprir minha tarefa da melhor maneira possível para cair nas graças do Sr. De Tréville e da própria rainha. Parti com Planchet assim que a noite caiu. Ele estava feliz por me acompanhar. Eu já havia notado nele esse desejo por aventuras, mesmo que elas fossem arriscadas, e uma certa inclinação para testar suas habilidades como exímio lutador. Viajar à noite levantava menos suspeitas, embora eu estivesse correndo mais perigos por aquelas estradas desertas onde não faltavam oportunistas para abordar viajantes com pouca proteção. Eu teria ao menos três noites pela frente antes de chegar ao ponto onde cruzaria o canal até o porto de Dover na Inglaterra. Como o Sr. De Tréville havia previsto, a viagem foi cheia de percalços. Encontrei homens dispostos a darem cabo da minha vida e impedir que eu chegasse ao meu destino. Mas, em cada episódio, lá estava um dos meus amigos, cada um com seu criado, a me dar cobertura. A viagem serviu mais do que tudo para nos unir ainda mais. Era durante os períodos de descanso nas hospedarias do caminho que eu vim a conhecer mais a fundo cada um deles, seus segredos, suas aspirações. Ao cabo de pouco mais de uma semana, as agulhetas estavam nas mãos do joalheiro que o Sr. De Tréville havia contratado em segredo para reconstruir a joia, enquanto ele me cobria de elogios pelo bom êxito da empreitada.

Quando a rainha entrou no palácio da prefeitura de Paris ostentando a valiosa joia no colo eu ainda não sabia que pairava sobre a minha cabeça uma sentença de morte que havia sido ordenada com a maior urgência possível. Ao ver que a esposa trazia a joia tal qual o rei a havia lhe presenteado, a credibilidade e as intenções do cardeal Richelieu foram postas em xeque por Vossa Majestade. Qual seria o interesse oculto por trás da insinuação do cardeal de que a rainha havia presenteado o duque de Buckingham com a peça? Luiz XIII não era um grande fã de seu conselheiro, mas tolerava-o por questões maiores. Sabia que seu ministro tinha um caráter duvidoso e estava cercado de informantes, concubinas e asseclas da mesma índole, todos ávidos pelo poder. Entre eles estava Milady, a responsável por ter lhe trazido a notícia de que a rainha já não detinha mais a joia. Com a aparição da peça, sua informação perdeu o valor que o cardeal lhe havia atribuído e, a própria informante agora se via numa situação perigosa. Havia exposto seu cupincha ao descrédito, à infâmia, ao posto de um reles fofoqueiro. Tanto o cardeal quanto Milady fervilhavam de ódio quando viram que seu estratagema havia caído por terra devido ao empenho fiel de um jovem da Academia chamado D’Artagnan. Portanto, eliminá-lo havia se tornado seu alvo principal, até porque, era uma testemunha que podia, a qualquer momento, revelar a traição do ministro.

Por uma dessas circunstâncias da vida, que aqui não caberiam ser reveladas, tanto por sua extensão quanto por expor minhas fraquezas diante de um belo e portentoso macho, vi-me convidado certa noite para um jantar na casa de Milady. O anfitrião que me convidara era, sem eu o saber, seu irmão. Eu não a conhecia, mas reconheci aquela bela mulher que fugira na carruagem após um breve diálogo com o homem misterioso da capa escura que me roubara a carta que meu pai havia escrito ao Sr. De Tréville. Ela, felizmente, não sabia quem eu era até seu irmão me apresentar.

- Este é D’Artagnan, um futuro mosqueteiro do rei. – apresentou-me o irmão dela.

Ao ouvir meu nome, seu rosto se contraiu, bem como a mão onde ela cravou as próprias unhas, tanta era a gana que tinha de me ver morto. Ela tentou parecer gentil durante o jantar, mas nem seu hercúleo esforço nesse sentido escondia o que ia dentro dela. O irmão, focado em mim, não percebia absolutamente nada e tentava compensar a frieza da irmã me cobrindo de atenções. Ele só pensava no que estava por vir quando estivéssemos a sós em seu quarto, usufruindo dos mais inimagináveis prazeres carnais, pois minha bunda o deixara alucinado desde a primeira vez que nos vimos, justamente no baile de Merlaison. No dia seguinte, o cardeal soube do meu paradeiro e, no final daquela tarde, ao voltar da Academia e, passando pelos jardins do Luxemburgo quase desertos àquela hora, fui abordado por quatro homens encapuçados que tinham ordens para dar cabo da minha vida e livrarem-se do corpo nas águas turvas do Sena. Não eram guardas do cardeal como pensei a princípio, pois, mesmo só, não tive dificuldades para vencer o amadorismo de suas espadas. Nos primeiros tilintares de nossas espadas já consegui cravar a minha no peito de dois deles, inutilizando-os para o combate. Os outros dois deram um pouco mais de trabalho, mas quando minha espada atravessou a coxa de um deles e fez jorrar sangue dela como se fosse um chafariz, o último achou por bem fugir para salvar a própria pele, deixando os comparsas para trás. O tumulto atraiu a atenção de alguns passantes e logo me vi cercado por cinco mosqueteiros que haviam sido chamados às pressas pelos transeuntes.

- De agora em diante você fica proibido de transitar sozinho pela cidade, sempre deve se precaver e estar acompanhado de um ou dois dos meus homens. – disse o Sr. De Tréville, tão logo a notícia chegou aos seus ouvidos e ele me chamar para uma conversa.

- Posso me defender sozinho, senhor! Não é preciso que desloque seus homens para alguém tão insignificante. – retruquei, ao que ele revidou mais enfático e sem admitir objeções.

Athos, Porthos e Aramis ficaram estarrecidos quando souberam do ocorrido e desde então praticamente viraram meus pajens em tempo integral, principalmente Athos. Ele afagou meu rosto, me examinou da cabeça aos pés como se estivesse conferindo se não me faltava nenhuma parte. Seu olhar tinha aquele sempre ar paternal, de protetor. Embora eu me arrepiasse todo toda vez que ele me encarava com aqueles olhos incrivelmente verdes, não era assim que queria que ele me olhasse. Eu queria ver no fundo daqueles seus olhares, o ardor de uma chama libidinosa, o fogo de um desejo carnal, a lascívia de um amante.

- Você não pode se expor mais dessa maneira! Pode não dar tanta sorte da próxima vez. Quero que me jure que não vai andar mais sozinho por aí, estamos entendidos? – parecia meu pai me dando uma bronca, era demais para mim ver que o homem que eu tanto amava me tratava como se eu fosse um garotinho inconsequente.

- Pare de bancar meu pai! Sou bem crescidinho para cuidar de mim mesmo! – retruquei exasperado

- Não é o que está parecendo! Será que não se deu conta ainda de que sua cabeça está a prêmio depois da missão que cumpriu? Portanto, não banque a criança mimada! Você faça o que ordenei ou vai se haver comigo! – devolveu ele, mais autoritário do que nunca.

- Athos está coberto de razão! Não te deixaremos a sós nem por um momento, trate de se acostumar a isso. – acrescentou Porthos.

- Até porque bastou descuidarmos um pouco para que você tenha se metido em confusão. Outra coisa que também ainda não ficou bem esclarecida é essa sua amizade repentina com o irmão de Milady. De onde o conhece? Por que ele te convidou para a casa dele? Pelo pouco que ouvi a respeito desse sujeito, trata-se de um ninfomaníaco que não pode ver um corpo recém-chegado à puberdade para que suas partes pudendas se assanhem todas. – completou Aramis. Meu sangue ferveu.

- Parem de me tratar como se eu fosse um moleque! Principalmente você Aramis, se eu sou um recém-chegado à puberdade você também o é! Não queira bancar o maduro, o senhor da verdade, conheço muito bem o seu telhado de vidro, lembra-se? – devolvi furioso. Ele se calou e procurou disfarçar o embaraço que minhas palavras provocaram, ninguém mais precisava saber que ele havia perdido recentemente a virgindade comigo, especialmente Athos e Porthos, para quem ele sempre se mostrou como um homem experiente e conhecedor dos meandros amorosos e sexuais.

Apesar dos meus protestos, desde então me vi cercado ora dos colegas da Academia, ora de algum mosqueteiro. Não era uma situação de todo ruim, havia um bônus nessas companhias masculinas transbordando testosterona e corpos sarados ávidos por um tão sedutor como o meu. Foi quando aderi a filosofia de que, enquanto o homem certo não aparecia, muito embora eu tivesse certeza de que esse homem era o Athos, ia me divertir com os que estavam disponíveis. Descobri que esse era um mundo fascinante, cheio de possibilidades e, principalmente, de machos que pareciam desconhecer os limites da criatividade. Minha única preocupação era manter a vulgaridade dissociada da minha pessoa, já me bastava eu me sentir uma verdadeira prostituta cada vez que um macho galava meu cuzinho com seu sêmen dadivoso. Também me sentia injuriado pelo Athos parecer não se importar com isso. Se me amasse, pensava eu, não permitiria que outro homem colocasse seu falo sedento nas minhas preguinhas estreitas. Mas, nem tudo é como se sonha, eu já devia saber disso.

Luiz XIII enfrentou, com sucesso, diversas conspirações que envolveram diretamente membros de sua família, a principiar pela rainha-mãe, como também seu irmão Gastão D’Orleans, seu meio-irmão Duque de Vendôme e sua própria esposa a rainha Ana D’Áustria. A misoginia do rei fez com que algumas pessoas o considerassem um bissexual reprimido, entre elas, o cardeal Richelieu que procurava avidamente provas desse desvio para desbanca-lo. Luiz XIII teve ao longo de sua vida um certo número de favoritos, um deles, o Marquês de Cinq-Mars, contava com um prestígio não dedicado a nenhum outro. Ambos se amavam e o amor que o rei tinha por seu parceiro não encontrou paralelo com ninguém mais.

Mais uma vez, quis o destino que essa história de amor caísse no meu conhecimento, no dia em que flagrei ambos em pleno coito num dos aposentos do Louvre. Pensei que Vossa Majestade fosse me mandar executar naquele mesmo dia sob um pretexto qualquer. Mas, o choro desolado do monarca ao ter sua vida íntima revelada e, a minha promessa de que me manteria calado por toda a vida e ainda, que faria todo o possível ao meu alcance para que eles pudessem viver essa paixão resguardados de qualquer bisbilhoteiro, fez com que eu caísse nas graças do rei. Cumpri minha promessa como tinha feito com relação ao segredo da rainha. Agora ambos confiavam em mim e me viam como um aliado. Por seu lado, o marquês de Cinq-Mars, um macho lindo que não escondia seu dote avantajado sob as calças sempre justas que usava e que, por diversas vezes, já havia me lançado olhares de cobiça quando eu estava de guarda nos corredores palacianos, passou a saber que podia contar com meu apoio para que aqueles encontros se realizassem com mais frequência e mais segurança. Com um pouco de sorte, quem sabe até viesse a usufruir das curvas generosas da minha bunda que preenchiam tão tentadoramente a calça do meu uniforme, pensava ele. Quem, mais uma vez, não gostou nada disso foi o cardeal que sabia que eu guardava um segredo daquele marquês que ele tanto queria ver longe dos corredores do palácio real, e do rei que não escondia sua satisfação com a minha presença.

- D’Artagnan não para de ganhar espaço na corte. Tornou-se um perigo para os planos e eu só me vejo cercado de incompetentes que não conseguem aniquilar o prestígio e a vida dele. – ouvi certa tarde o cardeal se queixar a um de seus assessores quando Milady também estava presente em seu gabinete.

- Vamos mandar que o matem! Não é porque os primeiros falharam que todos falharão, disse Milady. Até já tenho um plano para tal. – afirmou a voz maligna dela.

- A essas alturas a morte dele vai me trazer mais problemas do que soluções. Esqueça seus planos, são arriscados e quase nunca dão certo. Estou farto de sua incompetência. Eu mesmo cuido desse assunto de agora em diante, ao meu modo. – disse o cardeal, fazendo com que cada osso do meu corpo sentisse como se estivesse sendo esmagado. Qual seria esse modo dele de resolver a questão? Fiquei dias inquieto pensando que, em breve, antes mesmo de viver minha vida, eu podia me transformar num cadáver.

Milady, no entanto, precisava recuperar a confiança do ministro, pois disso dependia sua própria sobrevivência e regalias dentro da corte. Portanto, não se deu por vencida e, à revelia das ordens do cardeal, continuou a se empenhar em servir minha cabeça numa bandeja assim que seus planos resultassem positivos.

Contei aos meus amigos mosqueteiros e ao Sr. De Tréville a conversa que ouvi do cardeal. Era um meio de não carregar isso sozinho. Eles reforçaram a apreensão que sentiam em relação a minha segurança.

- Talvez fosse melhor você sair da Paris por um tempo. Quem sabe voltar para a casa de seu pai. – sugeriu Porthos.

- De forma alguma! Eu vim para cá com um único objetivo e é isso que vou fazer. Vou ser um mosqueteiro como vocês, algum dia. Desistir não faz parte das minhas intenções. – afirmei categórico.

- Também acho melhor que D’Artagnan fique em Paris, debaixo dos nossos olhos, assim temos como protegê-lo. – disse o Sr. De Tréville, eu quase o abracei de tanta felicidade.

- Não é uma tarefa fácil! Esse garoto tem uma tendência nata para se meter em confusão. Como alguém pode proteger um maluco desses? – disse Athos.

- Pare de me chamar de garoto! Sou um homem feito! Odeio quando me trata assim. – repliquei zangado. Será que ele nunca vai me enxergar como um homem apaixonado por ele? Cretino!

- Claro que é! – exclamou ele, dando uma piscadela em direção aos demais e disfarçando o sorriso que crescia em seus lábios. Tive vontade de esganá-lo.

Naquela noite fui à casa dele com a intensão de colocar um ponto final naquela postura insuportável. Nem que precisasse me bater com ele, eu o faria ver que estava perdidamente apaixonado por ele, e que tinha todas as condições para ser seu companheiro pelo resto de nossas vidas.

Nossa conversa começou nada amistosa. Despejei tudo o que estava entalado na minha garganta havia algum tempo. Ele me ouvia com aquela tranquilidade que lhe era peculiar e que, muitas vezes, me deixava ainda mais furioso. De vez em quando, eu podia jurar que por trás daquele olhar plácido havia uma gargalhada em curso, como se ele se divertisse às custas da minha revolta infantil. Mas, Athos sabia ser ponderado, compreendendo perfeitamente os destemperos de um jovem que ainda estava a desvendar os segredos da vida.

- Tenho uma garrafa de um Blanquette de Languedoc que o vendedor me garantiu ser um dos melhores da região e, uma taça dele não lhe faria mal algum nesse momento. – disse ele, pouco antes de pedir a Grimaud que o servisse. Sobre o que eu havia lhe exposto como protesto contra sua postura, nenhuma palavra.

- Você ouviu o que eu falei? Vai parar de me tratar como um imbecil ou uma criança que precisa de uma babá lhe ditando os passos? – questionei, ainda irado.

- Ouvi tudo, inclusive as vírgulas e pontos! – devolveu ele, depois que Grimaud desapareceu pela porta.

- E então, é só o que tem a me dizer?

- Não! Tenho muito a dizer. Está preparado para a resposta? – finalmente consegui convencer esse metido a dono da verdade, pensei, ao sorver apressado o último gole do saboroso espumante que borbulhava na minha taça.

Mais uma vez caí no joguinho perverso dele. Ao me dar conta de que aquele sorriso nada tinha a ver com meu protesto que, nem ao menos foi levado em consideração, já era tarde. Ele me puxou da poltrona em que estava sentado diretamente para seus braços. Ainda espalmei minhas mãos sobre aquele peito largo e vigoroso antes de sentir seus lábios úmidos cobrindo os meus, mas minha reação foi tímida e frágil demais. Em segundos, a mão dele estava dentro da minha calça acariciando minha nádega, enquanto sua língua saboreava a textura e docilidade da minha. Com a mente obnubilada pelo tesão, só me conscientizei da resposta que ele estava me dando quando senti a verga colossal e rija como o tronco de um carvalho trespassando minhas preguinhas anais e penetrando incólume no meu cuzinho.

- Ai Athos! – gani, num misto de dor e prazer. Foi quando compreendi que aquele homem podia fazer de mim o que bem lhe aprouvesse; pois, meu coração lhe pertencia por inteiro, assim como minha própria existência.

Com o esperma cremoso e formigante do Athos empapando minha mucosa anal, eu lhe devotava beijos carinhosos após o coito ardente, enquanto ele me segurava em seus braços e dava apoio à minha cabeça sob seu peito peludo.

- Amo você D’Artagnan! – sussurrou ele, antes do silêncio tomar conta do quarto enquanto a noite corria aparentemente calma tanto lá fora quanto dentro do aposento. Eu quase deixei escapar as mesmas palavras, mas me contive. Tudo o que eu havia planejado jogar na cara dele, de repente, perdeu o sentido. Confessar que o amava só o tornaria ainda mais petulante e, confirmaria que ele sempre estivera certo quanto ao nosso relacionamento tumultuado.

A alvorada já dava os primeiros sinais de que aquele seria um dia ensolarado sobre a quase sempre nebulosa Paris, quando senti que o Athos estava novamente dentro do meu cuzinho com aquele cacetão pulsando selvagem entre os meus esfíncteres. Envolvi seu braço musculoso com as minhas mãos e o acariciei quando ele começou a falar.

- Como é essa Milady que a todo custo quer seu pescoço numa guilhotina? – começou ele.

- É uma criatura tenebrosa! É uma mulher bonita, porém pérfida. Usa a beleza para seduzir e abrir caminho para seus planos escusos. Por quê?

- Pode descrevê-la?

- Sim, claro! É como eu disse, bonita, rosto angelical que contrasta com o olhar demoníaco, pele muito alva, cabelos loiros levemente cacheados e sempre muito bem penteados, roupas suntuosas, joias nem tanto, quase sempre que a vi trazia uma capa de veludo bordada sobre as vestes. Ah, e não me pergunte como sei disso, mas ela traz no ombro esquerdo a flor de lis, essa marca indelével que a mão infamante do carrasco imprime aos criminosos. É assim que ela é. – respondi

- Flor de lis! Sabe o nome completo dela?

- Bem, creio que seja Milady Winter, pois, o irmão dela, do qual lhe falei, se diz chamar Lorde Winter, barão de Sheffield. Por quê?

- Começo a desconfiar que esses dois me são conhecidos. – respondeu ele, enigmático, enquanto me dava uma leve estocada fazendo o caralhão deslizar todo para dentro de mim.

E então, para meu espanto, Athos começou a falar, enquanto a história se desenrolava eu ficava cada vez mais estarrecido. À medida em que falava, eu ia compreendendo mais e mais daquele homem cuja nobreza não estava apenas na alma, daquela tristeza que carregava no olhar e que parecia nunca se desvanecer, daquela indiferença que sentia em relação ao futuro, do presente que aceitava sem desgosto como algo inevitável. O colorido misterioso que o envolvia e que, para mim, o tornava tão interessante e que, nem os olhos nem a boca, mesmo na mais total embriaguez, revelavam, foi se descortinando.

- Um amigo meu, um amigo meu, ouve bem, e não eu, começou ele com aquele seu sorriso triste, um conde da minha província, nobre e herdeiro de muitas terras, nas quais sua família tinha direito sobre a alta e baixa justiças, portanto as governavam e aos que nela viviam com soberania absoluta, apaixonou-se aos 20 anos por uma moça de 16, bela como os amores. Pela singeleza da idade transparecia um espírito ardente que embriagava. Ela vivia numa vila com um irmão que era sacerdote. Ninguém sabia ao certo de onde vieram. Tão bela e vivendo com um santo, ninguém se lembrou de perguntar-lhes pelo passado, e tinham por certo que eram de boa família. Meu amigo, um homem de bem, levou-a ao palácio da família e fez dela a primeira dama da província. Tolo, parvo, imbecil.

- Por que, se a amava? – questionei

- Vai me deixar contar a história? – questionou

- Continuando. Um dia em que a levou em sua companhia para uma caçada nos bosques da propriedade, ela caiu do cavalo e perdeu os sentidos. Apavorado com a sorte da amada, correu a acudi-la e em dado momento, precisou cortar parte do vestido que a sufocava. Ao se deparar com o ombro exposto, adivinha o que viu tatuado nele? Uma flor de lis. Ela era marcada. Na verdade, meu caro, o anjo era um demônio, uma ladra. Sentindo-se ludibriado, meu amigo a enforcou numa árvore, exercendo seu direito e fazendo prevalecer a justiça.

- Seu amigo se tornou um assassino! – exclamei

- Sim, um assassino. – confirmou Athos, pálido como a morte, antes de deixar a cabeça se inclinar para trás e cair sobre as mãos. – Isso o curou das mulheres. Nunca mais confiou noutra ou se interessou por uma.

- E o irmão sacerdote, que foi feito dele? – indaguei curioso.

- O miserável era o primeiro amante e cúmplice dela, meu amigo mandou que o enforcassem também, mas o desgraçado nunca mais foi encontrado. – revelou Athos.

- Que história escabrosa viveu esse seu amigo, não é? – afirmei

- Nem me diga! Nem me diga!

Por meses essa história, por algum motivo que desconheço, ficou martelando na minha cabeça, até o dia em os relatos ouvidos aqui e acolá começaram a se juntar como as peças de um quebra-cabeças. Aconteceu na estalagem do Comloubier-Rouge quando o Sr. De Tréville descobriu que havia um encontro entre o cardeal Richelieur e Milady para articularem mais um plano para desestabilizar a rainha e a coroa. Ele designou Athos, Porthos e Aramis, seus mais confiáveis e astutos mosqueteiros, para descobrir do que se tratava e, na véspera da partida deles, me chamou ao seu palácio pedindo que eu acompanhasse os três, o mais discretamente possível.

Foi Porthos quem ouviu tudo o que diziam através de um encanamento desativado embutido na parede entre os aposentos do cardeal e o dos mosqueteiros. O cardeal e Milady estavam articulando a morte do duque de Buckingham e, planejando um meio de fazer com que uma ordem real não chegasse aos ouvidos do general que estava à frente da batalha de La Rochelle com o mesmo conteúdo determinado pelo rei, mas sim com instruções do cardeal, o que faria com que o resultado dela fosse desfavorável ao monarca, dando a entender que era inapto para conduzir a questão dos huguenotes e do bastião que La Rochelle significava para os protestantes apoiados financeiramente pela Inglaterra.

Sabendo que Milady estava na estalagem, Athos resolveu confirmar umas suspeitas que o atormentavam desde que comecei a mencionar o nome de Milady e encaixá-la em uma série de situações envolvendo tramoias, espionagem e traições. Na noite em que o cardeal partiu, deixando a misteriosa dama num dos aposentos da estalagem, Athos foi ter com ela. Ele estava embrulhado numa capa quando a aia que a servia abriu ligeiramente a porta pensando tratar-se de um funcionário da estalagem. Ao ver o vulto, mudo e imóvel, Milady quase teve uma síncope. Era ele, em carne e osso, o conde de La Fère.

- Vejo que me reconhece? – disse Athos, quando ela recuou empalidecendo como se tivesse visto uma serpente.

- O conde de La Fère! – balbuciou ela, prestes a desmaiar de tão assustada

- Sim, Milady! Ou devo dizer, Anne de Breuil? Não era assim que se chamava quando seu honrado irmão nos casou? – questionou irônico. – O inferno a ressuscitou, tornou-a rica, mudou-lhe o nome, quase lhe mudou o rosto, mas não lhe apagou as máculas da perversidade, nem a marca infamante do corpo. – emendou. – Julgava-a morta, mas vejo que me enganei. – concluiu.

Meu amigo Athos era ninguém mais, ninguém menos do que o conde de La Fère. Quando o quebra-cabeças se fechou na minha mente, comecei a entender mais sobre aquele homem tão reservado e taciturno por quem estava completamente apaixonado.

Os mosqueteiros participaram ativamente em La Rochelle, assim como eu, até que a vitória francesa prevaleceu. Ao retornarmos à Paris, o rei condecorou os vencedores e concedeu honrarias especiais aos que se destacaram, entre eles Athos, Porthos e Aramis. A mim coube o reconhecimento do Sr. De Tréville e, a aceitação como seu mais novo mosqueteiro. Realizava-se assim o meu sonho. Meus esforços desde que deixei a casa paterna haviam provado a minha capacidade de me tornar um soldado de elite da coroa. De agora em diante, era aproveitar e usufruir dessa posição e, dos meus amigos com os quais estava em condições de igualdade.

Eu achava que aquilo nunca ia mudar, faríamos parte de uma elite admirada pelo rei, seríamos ovacionados pelo povo a cada feito que mantivesse a estabilidade da França, meus três melhores amigos estariam sempre ao meu lado e, como não dizer no mesmo leito pecaminoso. O que mais eu podia desejar? Tudo ao que eu havia me proposto quando deixei a casa paterna eu havia conquistado. É bem verdade que, se o Athos me assumisse como seu amante, as coisas estariam ainda mais perfeitas. A França e sua corte, talvez mesmo o próprio povo, não eram, naquela época, o que se poderia considerar um bastião da moralidade e da castidade. Fornicava-se com uma liberdade quase explícita. O sexo entre amantes compromissados, entre pessoas do mesmo sexo, e a prostituição escancarada nas vielas parisienses fazia parte de uma sociedade desigual, onde cada indivíduo procurava obter para si o melhor que conseguisse. Portanto, se o Athos e eu viéssemos a nos tornar um casal nos subterfúgios da legalidade, não estaríamos sendo mais pecadores do que os demais.

Minha felicidade, que eu então achava que seria eterna com aquela situação, não durou nem dois anos. Eu havia sido enviado pelo próprio Luiz XIII como comandante de um pequeno destacamento, para uma missão na Alsácia, a fim de informa-lo sobre um levante que boatos haviam feito chegar aos seus ouvidos. Como vim a descobrir, me infiltrando em algumas das reuniões que aconteciam no sótão de uma hospedaria, como um fervoroso inimigo da monarquia, orquestrava-se ali uma revolta comandada pelo cardeal à distância. Informações e ordens do ministro chegavam ao grupo por meio de mensageiros. Qual não foi minha surpresa quando descobri que esses mensageiros eram ninguém mais, ninguém menos, do que Milady e seu cúmplice Rochefort. Seria essa minha chance de liquidá-los? Planchet se animou quando lhe revelei meu desejo de aniquilá-los, afirmando que me ajudaria nessa tarefa com o maior prazer. Eu nunca soubesse exatamente por que Planchet continuava comigo e por que todas as minhas lutas pareciam ser as dele também. Que ele me era fiel era notório, mas ser destemido a ponto de colocar sua própria vida em jogo, era o que me intrigava naquele homem. A bem da verdade, ele pouco lucrava permanecendo comigo. Nesse período em que me serviu, ensinei-lhe boas maneiras e detalhes de como servir a um fidalgo. Há muito, ele já podia estar empregado numa residência da nobreza usufruindo de um salário bem melhor do que aquele que eu conseguia pagar e, a salvo dos perigos que corria estando ao meu lado. Quando o questionava sobre isso, ele simplesmente dizia que tinha nascido para correr riscos, que uma vida sem aventuras não era vida.

Com Rochefort eu tinha contas pessoais a acertar, portanto, dar cabo de sua vida não constituía nenhuma ilegalidade. Mas, e Milady? É bem verdade que ela queria a minha cabeça, nunca escondeu isso de ninguém. Seria certo eu tomar as dores do Athos e eliminar aquela mulher que tanto mal lhe fez? Planchet dizia que sim. Eu tinha dúvidas. Por mais que amasse o Athos, essa era a vingança dele, não minha.

Embosquei Rochefort na estreita Rue Joseph Marssol, atrás da catedral, quase junto à ponte no limite da Grande-Île de Estrasburgo. Ele deu um salto para trás quando me reconheceu e, ao ver o brilho da lâmina da minha espada refletido pela lua cheia, soube que sua hora havia chegado. Ordenei que desembainhasse a espada e se defendesse, não ia matar um homem sem lhe dar oportunidade de defesa. Ele foi rápido julgando que aquela tinha sido a maior besteira que eu poderia ter feito, pois considerava-se um excelente espadachim que já havia colocado mais de uma dezena de oponentes num caixão. Ele sorriu com indisfarçável deboche, dando por certa a minha derrota. Nossos floretes se tocaram três vezes emitindo um tinido seco que ecoou entre as construções da rua estreita. Sua quarta arremetida contra mim perfurou a manga da minha camisa, pouco acima do cotovelo, como ele se desequilibrou com a manobra, ao esticar meu braço em sua direção, a espada cravou-se entre as costelas dele. Houve um único ganido, eu girei a espada dentro do ferimento e a extraí lentamente. Levou uns minutos até seus olhos perderem o brilho e a proximidade da morte os tornar baços. Ele soltou a espada e levou as mãos até o ferimento, tentando impedir a retirada da espada, era tarde demais. A cada expiração ele fazia brotar um jato de sangue o buraco aberto entre suas costelas. Foi deixando o peso do corpo pender para o lado ferido e, antes de sucumbir de vez, soltou uma espuma rosada pela boca. Ele não me devia mais nada.

A notícia chegou aos ouvidos do cardeal antes mesmo de eu prestar contas da minha missão ao rei. Milady havia se encarregado disso, com um inenarrável prazer. Ver brotar a ira contra mim nos olhos do cardeal a cada insucesso que eu lhe infligia fazia-a delirar.

- Precisamos matá-lo! – exclamou ela, verbalizando o que ia na mente do cardeal. Ela mesma o faria, como jurou ao ministro. – De nada adianta enviar homens armados atrás desse rapaz, ele sabe se defender e, se por ventura não estiver em condições de fazê-lo por si só, sempre haverá ao lado dele alguém disposto a impedir que o matemos. Será através da sutileza e da astúcia que vou dar cabo dele. Nada me fará tão feliz quanto vê-lo agonizando bem diante dos meus olhos, morrendo aos poucos, se contorcendo numa agonia sem fim. – afirmou ela.

Foi Lorde Winter, barão de Sheffield ou, seja lá qual for o verdadeiro nome do irmão daquela miserável, quem me convidou para um jantar. Até então, ele não desconfiava de que eu já conhecia toda a história dele a da irmã, do que fizeram com o Athos. Instigado pela irmã, de quem partiu efetivamente a sugestão do convite, ele apenas o executou, vendo ali mais uma oportunidade de talvez conseguir enfiar sua verga no meu rabo. Ela sabia que eu jamais aceitaria outro convite para ir à casa deles, por isso, sugeriu a casa de uma amiga que lhe devia inúmeros favores.

Na hora aprazada eu estava diante da mansão, o próprio Lorde Winter veio me receber à porta, deixando o criado sem saber como agir. Ele foi gentil, até pegajoso demais, mas queria me impressionar, como forma de conseguir o que queria, subir aos quartos tão logo o jantar tivesse findado. O inocente achava que a irmã está de pleno acordo com sua devassidão, apoiando seus planos de enrabar meu cuzinho, atrás do qual ele vinha correndo sem sucesso, há alguns meses. No salão amplo, castiçais espalhados pelos cantos iluminavam a soberba decoração. Lorde Winter me apresentou o casal de anfitriões, que sem saberem o verdadeiro motivo daquele jantar, só devolvendo favores à Milady. Os serviçais estavam servindo o último prato quando Milady apareceu, querendo que se afigurasse uma casualidade. Lorde Winter parecia mais surpreso do que eu, cujo coração quase veio à boca quando a vi sorrir belicosamente na minha direção. Ela se fez de enfastiada, recusou qualquer oferta de comida ou bebida e apenas sentou-se ao meu lado com um dos mais inocentes e fingidos ares cordialidade. Aceitaria o café ou um licor quando fossemos para a biblioteca ao fim do jantar, afirmou ela. Nunca estive tão em guarda quanto naqueles instantes após sua chegada. Aquela mulher era uma víbora, tinha arruinado a vida do homem que eu amava e estava no topo da lista dos meus desafetos. Todo cuidado para com ela era pouco.

Lorde Winter e o anfitrião acenderam cada um charuto, eu não fumava. A anfitriã se dirigiu à mesa onde o criado havia disposto os apetrechos para o café e estava a encher as xícaras, antes de trazê-las a nós. Num ato que à primeira vista parecia inocente, Milady juntou-se a ela e começou a verter o licor nos copos. Ela vai me envenenar, concluí, ao ver aquela manobra. Por uns segundos, enquanto me oferecia a xícara de café, o corpo do criado tampou a minha visão da mesa onde a anfitriã e Milady estavam. Quando o obstáculo à minha frente se deslocou para onde estava Lord Winter, a bandeja com os copos de licor já estava disposta, só aguardando para que o criado viesse servi-la. Os copos estavam dispostos de tal maneira que coincidiam com as posições que cada um de nós ocupava diante da lareira. Peguei o copo que estava destinado a mim e esperei todos se servirem. Milady mal disfarçava o riso por detrás do olhar assassino. De repente, um estrondo se fez ouvir vindo de uma das enormes janelas laterais à lareira, distribuindo cacos de vidro sobre o tapete de desenho rebuscado. Como que lançados por uma catapulta, Athos e Aramis atravessaram a abertura e quase caíram no colo da anfitriã, que soltou um grito de desespero.

- Não coloque isso na boca! – gritou Athos, arrancando o copo da minha mão. – Essa desgraçada está querendo te envenenar! – emendou, atirando o conteúdo do copo contra Milady.

- Não seja ridículo! Sou apenas uma pobre mulher numa visita casual a velhos amigos. – esbravejou ela, ao mesmo tempo em que evitava tocar nas manchas de o líquido deixou em seu vestido.

- Um boticário da Ville d’Avray veio nos avisar que você comprou uma poção de estricnina em seu estabelecimento esta manhã, e que suspeitava que seria para matar um desafeto segundo um comentário sarcástico que deu para justificar a aquisição. – sentenciou Aramis.

Enquanto Aramis falava, Lorde Winter foi atacado por fortes espasmos musculares, sua espinha dorsal se arqueava de forma bizarra devido ao opistótono, ele levava as mãos ao pescoço como se estivesse sendo estrangulado, uma espuma branca escorria pela lateral da boca e em segundos, ele caiu da cadeira e começou a convulsionar. Seus olhos vidrados estavam virados na direção da irmã, que fitava a cena sem demonstrar nenhuma emoção. Parecia uma estátua, fria e insensível. Quando o médico chegou, já não havia mais nada a fazer por Lorde Winter. Os anfitriões estavam pasmos, conheciam o caráter de Milady, mas jamais imaginaram que ela tramaria um assassinato dentro da casa deles, usando-os como cúmplices. Vociferaram contra ela, insultaram-na, execraram-na diante de um bando de criados que se juntou para ver a catástrofe que se desenrolava na biblioteca. Milady esboçou um sorriso irônico, meteu a mão enluvada na pequena bolsa que trazia e tirou de lá uma pistola que mais se parecia com uma joia, apontou-a na minha direção e disparou. A explosão da pólvora criou uma nuvem acinzentada ao redor da arma, pedaços de chumbo foram se alojar no teto para onde o cano estava apontado quando a ponta da espada do Athos aflorou entre os dois seios de Milady, fazendo crescer uma mancha vermelha na renda do vestido. Ela deu dois passos trôpegos para a frente, jogou a cabeça para trás e esgarçou a boca.

- Miserável! – gritou ela com o que lhe restava de energia. O corpo caiu para frente produzindo um baque surdo.

Athos correu ao meu encontro e me abraçou. Eu tremia nos braços dele. Aramis verificava se o corpo de Milady estava mesmo morto.

- Santo Deus! Por pouco não te perco! – exclamou o Athos, enquanto sua mão deslizava pelo meu rosto.

Eu tinha por certo de que dali em diante Athos e eu engataríamos um relacionamento por toda a vida. Atravessando o peito daquela assassina ao ver que minha vida estava sob sua mira, ele me deu a maior prova de amor que eu podia querer. Ele me amava, disso eu tinha certeza.

Não se falava noutra coisa na corte durante mais de um mês sobre o fim trágico de uma das cúmplices e concubina do cardeal Richelieu, colocando-o sob os holofotes de toda a França. Ele ruminou sua ira contra aquela mulher devassa numa espécie de retiro no qual se enclausurou para fugir dos olhares recriminatórios dos nobres. Mesmo morta, ela continuava a lhe causar problemas. Até Vossa Majestade começou a duvidar da integridade de seu ministro, embora já soubesse que não se tratava de nenhum santo.

Também eu caí nas graças da corte. Enquanto vítima de uma notória conspiradora, que queria me ver morto antes que suas falcatruas chegassem aos ouvidos do rei, acabei vendo meu prestígio como mosqueteiro crescer. A rainha me convidou para um chá, demonstrando que eu era uma pessoa benvinda no Louvre. Foi uma tarde constrangedora, devo admitir, com aquele séquito de mulheres que a cercavam querendo se fazer notar num assanhamento descarado. O belo rapaz de corpo escultural, modos refinados, sim, pois agora eu os tinha graças aos ensinamentos na Academia, e ainda por cima membro dos mosqueteiros, fazia-as sentir os calores por debaixo das saias se transformando num tormento a ser saciado. A rainha me sorria com gentileza e uma bondade surpreendentes, os favores que lhe prestei alguns mesmo sem eu saber, faziam-na me dedicar uma atenção especial. Tanto estava grata pelos meus serviços, que pouco antes de se despedir de mim, retirou de um dos dedos um anel com uma enorme e reluzente esmeralda e me presenteou com a joia.

Em outra ocasião, não muito distante do chá com a rainha, fui chamado ao palácio pelo próprio rei. Pensei tratar-se de mais uma missão, e acorri ligeiro ao seu chamado. Ele estava em plena audiência quando fui introduzido por um ajudante de ordens no salão do trono. Interrompeu-a para me levar a um canto e me perguntar se eu sabia de mais alguma coisa a respeito dos boatos que cercavam o cardeal. Contei o que sabia, pouco é verdade, mas ele deu-se por satisfeito, sabendo que se eu tivesse mais informações certamente não as omitiria. Nisso, entrou o cardeal acompanhado do comandante de seus soldados. Caminhou com soberba até Vossa Majestade, de cabeça erguida, um sorriso de quem estava possuído de glória, e ignorando todos que encontrava pelo caminho, que lhe abriam espaço para a passagem.

- Mais uma vitória contra os insurgentes, Vossa Majestade! – começou ele. – Meus homens, seguindo as próprias recomendações de Vossa Majestade para aniquilar qualquer revoltoso, executaram quatro deles na noite de ontem. – continuou ele, querendo dar ao feito a importância de sua ação rápida e certeira. – O risco que Vossa Majestade estava correndo era imenso, pois dentre os insurgentes faziam parte nobres que muitas vezes circulavam por entre estes salões palacianos. – ele estava prestes a citar os nomes quando o rei o interrompeu, ansioso por saber quem o estava traindo debaixo das próprias barbas. Foi quando o sorriso do cardeal ganhou ares de uma malignidade infernal.

- Diga logo quem são e que fim levaram afinal. – exigiu o rei.

- Foram todos sumariamente executados conforme ordens de Vossa Majestade. São eles o Duque de Sauvignon e a esposa, o Marquês de Puisieux e, o Marquês de Cinq-Mars. – ele havia dado um tempo, fingindo ter que fazer uma inspiração mais profunda, antes de mencionar o nome do último suposto insurgente. Mas, tratava-se apenas de uma encenação para causar um impacto quase fulminante em Vossa Majestade, uma vez que era conhecedor do apresso e de algo mais profundo que havia entre ambos.

- Saiam! Saiam todos daqui! Fora! Fora! – Vossa Majestade parecia tomado pelo demônio ao ouvir o nome do amante no rol dos executados. Seu olhar injetado, vermelho de raiva, mirou o cardeal como se quisesse executá-lo. Um pesado candelabro e um vaso que devia valer uma pequena fortuna foram lançados longe enquanto ele gritava e caminhava a esmo dando voltas sem saber para onde ir. O salão que estava apinhado de gente, ficou vazio em poucos segundos, parecia uma debandada de aves surpreendidas por um predador.

- Saia! Não me ouviu? Saia da minha frente! – gritou novamente, desta vez em direção ao rosto debochado do cardeal, que se deleitava com o prazer daquele destempero. Seu objetivo havia sido alcançado, acertar o rei onde lhe doía mais.

- Você não, minha criança! Volte imediatamente para cá! – eu já estava a uma distância segura da fúria daquele homem quando, sem poder acreditar, vi que ele se dirigia a mim.

- Sim ... sim, Vossa Majestade! – balbuciei, interrompendo minha fuga ali mesmo.

- Você sabia algo a respeito disso? Você conhecia o Marquês de Cinq-Mars, acredita que ele tenha me traído com tamanha vileza? – perguntou, absolutamente perdido em seus pensamentos e passando as mãos pela cabeça como se quisesse arrancar as respostas ali de dentro. Nunca senti tanta pena de uma pessoa como naquele momento.

- Não, não sabia, Vossa Majestade! Sinceramente, não acredito que o Marquês de Cinq-Mars o tenha traído. – afirmei convicto

- E o que ele estava tramando então com aqueles rebeldes revoltosos? Que explicação pode haver para isso? Eu confiava cegamente nele, eu o a.... – ele interrompeu a frase para que seu segredo não caísse em outros ouvidos, pois o Louvre estava cheio deles em cada canto, e eu sabia a palavra que ele estava para pronunciar, portanto, era desnecessário continuar.

- Partindo de quem partiu a notícia que acabaram de lhe trazer, eu suspeito que jamais houve qualquer plano de insurgência por parte dos nomes citados. – ousei falar, mesmo sabendo que minha cabeça podia rolar depois disso.

- E do que se trata então! – questionou ele, ainda perambulando em círculos.

- De uma queima de arquivos, de uma eliminação de desafetos, de uma vingança pessoal! – enumerei, sem medir as palavras.

- Você é corajoso, meu rapaz! Muito corajoso! – exclamou ele. Eu me achava um louco, mas isso pouco importava agora.

O rei nunca mais foi o mesmo, seu declínio físico era algo visível, o emocional ele tentava esconder, mas não se saiu bem com isso também. Encontrei-o mais uma meia dúzia de vezes depois daquele dia, ele definhava a olhos vistos. Havia me encarregado de mais uma missão e, quando retornei para lhe prestar contas, não demonstrou nenhuma alegria, apesar do sucesso da empreitada. Era um homem derrotado pela perda do amante, embora ninguém, exceto eu, soubesse disso. Diagnosticaram-lhe uma tuberculose, depois, intestinos ulcerados e inflamados que o impediam de se alimentar. Nada parecia lhe incomodar, havia aceitado seu destino. Porém, eu ainda tive a chance de vê-lo animado mais uma única vez, foi no gelado dia 4 de dezembro de 1642, quando vieram lhe informar da morte do Cardeal Richelieu. Ele sorriu ao receber a notícia. No fundo, ele sempre soube que aquele homem havia sido o responsável pela morte da pessoa que mais amou na vida e, sentiu-se vingado e grato pelo destino ter lhe permitido saber que aquele homem que o ajudou a criar o absolutismo francês na Europa, partia antes dele mesmo. Paris estava de luto no dia 14 de maio de 1643, Luiz XIII estava morto.

Minha última missão havia me afastado novamente alguns meses de Paris e do palácio do Sr. De Treville. Curiosamente não encontrei nenhum dos meus amigos mosqueteiros durante a primeira semana do meu retorno. Fui à casa do Athos e, uma mulher, que se identificou como esposa do proprietário, estava promovendo uma faxina e afixando uma placa de aluga-se. Fui procurar Porthos. Nem ele nem Mousqueton abriram a porta, apesar de ser uma manhã de sol tímido, porém, alto. Um vizinho estava à espreita atrás das cortinas ao me ouvir chamar pelo Porthos, tentou disfarçar fechando a cortina quando o interpelei. Constrangido pela bisbilhotice, ele me informou que o morador havia se mudado havia algumas semanas, para onde, não sabia. Fiquei imaginando o poderia estar acontecendo, Athos e Porthos sumidos. Talvez o Sr. De Treville os tivesse mandado numa missão. Voltei ao palácio dos mosqueteiros e, antes mesmo de me encontrar com o Sr. De Treville, fui informado que Athos, Porthos e Aramis não faziam mais parte do grupamento de mosqueteiros.

- Como assim, pediram o desligamento? – perguntei incrédulo ao Sr. De Treville quando me recebeu com sua costumeira alegria.

- Não sei exatamente qual o motivo particular de cada um, mas foi o que aconteceu pouco depois de sua partida para a cidade de Angers em sua missão para o rei. Eu só pude lamentar a perda desses homens valorosos, uma vez que nenhum dos argumentos que usei para segurá-los foi aceito. – revelou ele. Eu estava sem chão.

Como puderam me trair dessa forma? Nenhum deles mencionou nada antes da minha partida. Que tipo de amigos são esses que omitem algo tão importante? Como Athos pode fazer isso comigo sabendo o quanto eu o amo? Eu tentava encontrar justificativas para os atos deles, mas não atinava com nada.

Planchet me trouxe a notícia de que havia visto Mousqueton no mercado quando foi fazer compras, e que ele e o patrão haviam se mudado para a casa do ministro das finanças de Luiz XIII. Antes do anoitecer eu estava diante da porta da casa do ministro, ou melhor, do ex-ministro, uma vez que o velho estava tão gagá que havia deixado o cargo havia alguns meses. Uma doença o estava debilitando a ponto de ele mal conseguir distinguir o que era real e o que eram fantasias de sua cabeça. A quase viúva aproveitou-se disso e trouxe Porthos para dentro de sua alcova, alegando tratar-se de um primo que deixara suas terras no sul da França para residir na corte. O velho ministro nunca soube da existência de um primo da esposa, muito menos de um tão garboso e jovem, mas também já não se lembrava direito se aquela mulher que o visitava regularmente nos últimos tempos e que se intitulava sua irmã, era de fato quem dizia ser. O fato é que o primo da esposa fazia gastos extravagantes, segundo apontavam os números de sua conta bancária.

- Ora, ora se não é meu querido D’Artagnan em carne e osso! Entre meu amigo, entre! Bom saber que está de volta. – era o mesmo espalhafatoso Porthos de sempre, só trajado de modo bem mais luxuoso.

- Ora, ora digo eu! Não fui informado de que você, Athos e Aramis iam deixar o palácio do Sr. De Treville, belos amigos vocês são. – retruquei

- Aquilo não é vida, minha criança! – ele logo se arrependeu de usar aquele adjetivo comigo. – Não se vive, só se arrisca a vida por quem não nos dá valor. – afirmou

- Não era assim que você via as coisas há pouco tempo atrás. O que o fez mudar tão rapidamente de opinião? – perguntei

- Olhe a sua volta, não é uma beleza? Jamais conseguiria tudo isso sendo mosqueteiro. – disse ele

- Não vou perguntar como conseguiu tudo isso, porque sei a resposta. Acha digno o que está fazendo? Onde ficou a honra de mosqueteiro? – perguntei.

- Honra não põe a mesa, minha cri....., meu amigo! Não vivo mais de migalhas! – respondeu ele. Não o reconhecia mais, estava mesquinho, sujeitara-se a ser amante de uma mulher casada sob o mesmo teto do homem que corneava.

- Sabe do Athos e do Aramis? – perguntei, pois aquela conversa estava começando a me dar nojo.

- Athos voltou para a terra natal quando recebeu a notícia de que o pai estava muito doente e incapacitado de tocar as terras. Você sabe que Athos é na verdade o Conde de La Fère, não sabe, apesar de ele ter escondido isso de todos por todos esses anos? Ele resolveu assumir o controle das terras e deve estar lá, provavelmente se arranjando para conseguir uma condessa de La Fère. – a ironia na voz dele me deixou furioso. Ao menos ele e o Aramis sabiam da minha paixão enrustida pelo Athos, e achei que tripudiar sobre o meu desapontamento era muita crueldade.

- Ele jamais faria isso comigo! – exclamei deixando transparecer toda a minha raiva.

- Ah, me esqueci que você é apaixonado por ele. – retrucou o Porthos. – Podemos continuar nos encontrando como antigamente. Não é porque estou envolvido com essa dama que deixei de gostar dessa sua bundinha e do que você é capaz de oferecer a um homem em termos carnais. – a desfaçatez dele não encontrava limites.

- Adeus Porthos! Espero que consiga manter sua mina de ouro jorrando, pois pobre de você se ela secar. Dentro de alguns anos o vigor que há entre as tuas pernas não vai mais atrair as mulheres como agora, será a sua perdição. – afirmei.

- Você tornou-se um chato depois que virou mosqueteiro! Eu gostava mais quando me deixava colocar o cacete na sua bundinha suculenta. Pense a respeito! Ainda posso te fazer muito feliz! – nem me despedi quando deixei apressado aquela casa para nunca mais voltar.

Uma garoa fina me pegou no meio do caminho de volta para casa, só então me lembrei que ele não havia dito nada a respeito do destino do Aramis. Assim, que entrei em casa, mandei Planchet procurar novamente por ele. Esperei por duas horas até ele regressar.

- Senhor, fui informado pelo próprio Bazin, o criado do Sr. Aramis, que ele foi seguir seu destino, engajando-se num mosteiro em Lyon para se tornar clérigo. Bazin agora trabalha para outro mosqueteiro a quem o Sr. Aramis cedeu a moradia. – revelou ele.

- Macacos me mordam! Que reviravolta! Ninguém me disse nada, como se eu nunca tivesse representado absolutamente nada na vida deles! – murmurei com meus botões.

- Como, senhor?

- Nada, nada não Planchet, obrigado! – respondi

- Precisa de mais alguma coisa, senhor?

- Não, não, obrigado, é só isso! – devolvi. – Ah, só mais uma coisa, Planchet! Diga-me por que continua comigo? Aliás, por que sempre esteve ao meu lado, mesmo recebendo tão pouco? – subitamente, eu queria pôr tudo em pratos limpos, uma vez que minha vida parecia estar dando uma guinada à minha revelia.

- Bem, senhor! Talvez o senhor me odeie depois do que vou dizer, mas já que me perguntou, sou um homem que gosta de ninfetos. – a resposta dele quase me fez cair da poltrona.

- Como é, Planchet? Você o quê?

- Gosto de ninfetos! – ele repetiu alto e em bom som, parecendo não temer nenhuma represália. Dei uma gargalhada que o deixou desconcertado, era uma reação que ele não esperava.

- Mas, eu nunca te dei abertura para isso! E, nem pretendo dar, esteja certo! – asseverei.

- Sei disso, senhor! Perdi as esperanças há muito tempo, quando Grimaud me contou o que acontecia entre o senhor e o Sr. Athos. Sei que o ama! – se me permite a ousadia.

- Espere! Como é que é? Grimaud foi quem lhe contou que eu e Athos, isto é, que Athos e eu ..., bem você sabe! – eu começava a acreditar que não fora Athos a espalhar que eu ia para a cama com ele, e sim, aquele traidor do Grimaud que nunca se conformou de eu ter-lhe roubado o macho.

- Grimaud fez essa revelação primeiro a Mousqueton, o criado do Sr. Porthos, e depois, a mim pessoalmente. – esclareceu ele

- Então foi assim que aquele desgraçado me difamou, fazendo com que repentinamente uma legião de homens quisesse meus favores sexuais. – afirmei

- Não sei do que o senhor está falando, mas se está afirmando é porque deve ser assim mesmo. – retorquiu Planchet. – Lamento se o ofendi, juro que não foi minha intenção! – desculpou-se apressado.

- Não se incomode, Planchet! Está tudo bem! E, trate de encontrar outros ninfetos, comigo não vai rolar! – exclamei rindo. Ele retribuiu o sorriso.

- Já encontrei, senhor! – devolveu ele. Caí novamente na gargalhada.

Tudo pelo que eu havia lutado começou a não fazer mais sentido. Eu tinha me tornado um mosqueteiro, mas já não sentia nem mais orgulho por isso, nem satisfação com o que estava fazendo. Paris se tornara uma cidade árida para mim, com a perda dos meus amigos, com o sumiço do homem que amava. Porthos, de certa forma, estava certo. Qual o sentido de ficar dando a própria vida em troca de um bando de nobres que nem sabiam da nossa existência? Desperdiçar a minha juventude para satisfazer os caprichos dessa gente certamente não valia a pena. E pensar que eu abandonei a casa dos meus pais em busca de um futuro mais glamoroso. Onde estava esse glamour? Senti-me tremendamente só, sem amigos, sem minha paixão. Só havia uma coisa a fazer, correr atrás do Athos e intimá-lo a me dizer o que realmente sentia por mim. Era essa a missão que eu tinha pela frente agora.

O Sr. De Treville não atinava com o meu pedido de desligamento dos mosqueteiros.

- Lutou tanto por isso, por que está abandonando tudo agora que está usufruindo das suas conquistas? – quis saber

- Continuo a sentir um vazio aqui dentro e ter me tornado mosqueteiro não resolveu o problema. – afirmei

- Isso é natural na juventude. Você é muito novo para saber o que quer. A imaturidade faz com que busquemos aquilo que nem mesmo nós sabemos o que é. Daí nunca encontrarmos o que procuramos. – era uma afirmação sensata, de quem já viveu muitas experiências, mas não me consolava.

Deixei Paris numa carruagem com as minhas coisas, acompanhado do Planchet e de um garoto de dezoito anos que tinha o mesmo brilho nos olhos que um dia iluminavam os meus, era o ninfeto do qual Planchet não teve coragem de abrir mão. Estava deixando a cidade numa condição muito diversa daquela em que cheguei, tinha cavalos e aquela carruagem, ao invés de um único animal de treze anos e poucos escudos no bolso, tinha uma valise de couro bem abastecida deles, tinha o anel da rainha e mais algumas joias numa pequena bolsa de veludo, fruto dos presentes que recebi, e tinha a esperança de que Athos ia gostar de me ver de novo.

Os últimos três dias de nossa viagem à Pays de La Loire foram abençoados por um sol de verão e um céu de um azul profundo. Embora cansado, o que me movia era o rosto viril do Athos que já começava a me inspirar os mais libidinosos e devassos pensamentos. Chegamos às terras de sua família nos arredores de Bretignolles-sur-Mer, junto à costa do Atlântico, no meio de uma tarde abafada. Eu estava tão ansioso que achei que meu coração ia sair pela boca a qualquer instante. O pai do Conde de La Fère estava sentado com a esposa ao redor de uma mesa coberta de queijos, pães e suco de framboesa, sob a sombra de um olmo gigantesco, cujos galhos se esparramavam até próximo da casa principal. Um camponês que conduzia algumas ovelhas pela estrada de terra próximo à entrada da casa foi quem me levou até os patrões.

- É uma visita para Sr. Athos! – disse o camponês, ao me colocar diante deles.

- Boa tarde! Me chamo D’Artagnan e servi Vossa Majestade juntamente com seu filho no grupamento de mosqueteiros. – afirmei, assim que desci da carruagem. Os velhos La Fère se entreolharam antes de me medir da cabeça aos pés, e esboçarem um risinho cúmplice.

- Então veio mesmo! Athos estava coberto de razão. – disse o velho para a esposa, sem que eu atinasse com o significado daquelas frases.

- É bem mais bonito do que eu imaginava! – exclamou a mãe, mas não falava para mim, e sim, para o marido que sorriu mais uma vez.

- Tem bom-gosto o safado! É um La Fère, evidentemente! – retrucou o velho para a esposa.

Já estava me sentindo desconfortável com aquela conversa, pois não sabia sobre o que estavam falando e, me pareceu que estavam me ignorando por completo.

- Sente-se meu menino, sente-se! – exclamou a mulher. Não seria nada polido de minha parte se eu lhe lançasse na cara que já não era mais um menino, que eu completaria vinte e um anos nos próximos meses, e que odiava que me tratassem como se eu fosse um garoto recém-saído dos cueiros. Afinal, eu não tinha feito toda aquela longa viagem para acabar arrumando confusão com os pais do homem com quem queria passar o resto dos meus dias.

- Obrigado! É muita gentileza! – devolvi, tomando assento numa das cadeiras de vime que cercava a mesa.

- Então fez parte do grupamento de mosqueteiros! Meu filho nos contou que foi você quem o salvou de um ferimento quase mortal. – retomou o velho. Corei no instante em que ele fez referência a palavra ‘salvou’, uma vez que tudo o que eu fiz foi aplicar o bálsamo que minha mãe me dera e trepar com o filho deles toda vez que ia fazer os curativos.

- Há um bocado de exagero nessa afirmação! Quem na verdade me salvou a vida foi seu filho, ao trespassar a espada na assassina que queria minha cabeça. – esclareci, caso eles não tivessem sido informados dessa particularidade.

- Sim, sim, Athos nos contou o lamentável episódio. Aquela mulher deixou um rastro de infelicidade por onde passou, devastou pessoas e vilarejos com sua maldade intrínseca. – sentenciou a mulher.

- Foi o que também me disseram! – afirmei, dando a entender que conhecia a história do filho deles com aquela mulher. Houve uns minutos de silêncio depois disso, parecia que as antigas recordações sobre aquele assunto haviam voltado à mente deles. – Seu filho não está? – perguntei, para quebrar aquele clima nostálgico, e porque não estava me aguentando mais de saudades. Ambos voltaram a sorrir um na direção do outro. Minha ansiedade devia estar estampada na minha cara.

- Ele está supervisionando a colheita de trigo nos campos além daquela colina. – esclareceu o velho, fazendo força para conter uma risadinha.

- É muito distante? – pelos céus, eu não ia conseguir esperar nem mais um segundo.

- Não chega a um quilômetro seguindo naquela direção. – respondeu ele. – Vá atrás dele, o que está esperando desperdiçando seu tempo com um casal de velhos? – emendou apressado.

- Obrigado! Obrigado! Nem sei como lhes agradecer! Obrigado! – respondi, pondo-me em pé e pronto para disparar colina acima.

- Faça-o feliz! – escutei a mulher berrar quando já havia me distanciado uns sessenta metros deles.

Eu o farei, juro que farei, não foi exatamente para isso que eu vim até aqui, pensei com meus botões. Inicialmente caminhei a passos largos, parecia que não conseguia vencer o terreno na velocidade na qual meu coração ansiava. Comecei a correr, o que me levou a tropeçar duas vezes e quase me estatelar na relva pisando em buracos que serviam de tocas para as toupeiras. Já o avistei do topo da colina. Ele orientava o empilhamento dos feixes de trigo ceifados por parte dos camponeses sobre longas carroças à beira da plantação. Sua figura era inconfundível mesmo àquela distância, alto, ombros espadaúdos, braços vigorosos que orientavam o sentido no qual os feixes deviam ser dispostos na carroça. Aquela visão bastou para que meu cuzinho começasse a piscar alucinadamente. Nem eu mesmo sabia que meu corpo desejava tanto aquele macho. Ele demorou a perceber a minha presença, só o fez quando viu que alguns camponeses olhavam na minha direção. Imediatamente, começou a correr ao meu encontro. Faltavam não mais do que uns 200 metros, e aquela corrida parecia nunca acabar. Atirei-me em seus braços distendidos quando nos encontramos num ponto no meio do caminho. Ele rodopiou comigo pendurado ao seu pescoço e nossas bocas se juntaram lascivas e cheias de saudades. Não era um desfrute ao qual pudéssemos nos entregar diante daquela gente simples, cujos preceitos morais ainda estavam na idade das trevas. Contudo, nenhum dos dois se importou com isso, havia algo mais profundo e verdadeiro em nós do que a moral da Idade Média.

- Você demorou! – afirmou ele, quando depois de quase um quarto de hora saboreando minha boca e tateando minha bunda me colocou no chão.

- Por que fugiu sem me dizer nada? Odeio você por isso. – devolvi. Ele riu

- Sabia que viria atrás de mim, por isso não me preocupei com detalhes! – asseverou, seguro de si.

- Nunca mais devia ter procurado por você!

- E fez toda essa longa jornada para que? – questionou, tão safado e tão gostoso como sempre foi.

- Duvido que me ame! Se me amasse como eu o amo, jamais faria isso e tantas outras coisas comigo. – retruquei, querendo fazer com que minhas palavras parecessem zangadas.

- Diga-me o que de tão maligno fiz para você.

- Me abandonou, deixou que outros homens me usassem como objeto de suas taras sem se opor a eles, fugiu sem me dar explicações de seu paradeiro, o que mais, bem, acho que é isso, já é bastante. – redargui

- Ah, meu garoto, como eu senti saudades dessa sua rebeldia! – foi tudo que ele me disse.

- Não sou garoto! Sou o homem que está apaixonado por você, seu crápula! – revidei, extraindo mais uma gostosa risada dele.

- Te amo tanto, meu moleque indomado e birrento! – exclamou, voltando a me puxar contra o peito e metendo a língua libertina na minha boca para que eu a chupasse.

Eu não conseguia me aborrecer com aquele macho, especialmente enquanto sentia sua ereção roçando na minha coxa e, enquanto sua boca me devorava voluptuosamente. Não adiantava eu me impor, ele sempre ia conseguir me dominar, de um jeito ou de outro.

Ele havia falado de mim para os pais, como pude comprovar no encontro com eles na minha chegada. Interpelado porque não me trouxera com ele, afiançou que eu não tardaria a vir atrás dele, o que garantiu ele, seria a comprovação definitiva do que eu sentia por ele. Também revelou que eu podia ir de um extremo a outro, uma hora me parecia com um galinho de briga birrento, na outra era a mais dócil e carinhosa criatura que já conhecera. Evidentemente eles logo compreenderam que esse último extremo se dava quando ele me levava para a cama e exercia o poder de sua virilidade. Eles conheciam muito bem o filho que tinham. Agora eu pode entender aquela troca de olhares e sorrisos entre os pais dele sob a sombra do olmo. O pilantra tinha uma segurança e autoconfiança em si mesmo que era de se invejar.

Não sei porque não fiquei surpreso quando ele me mostrou o quarto no andar superior da casa ampla de grosas paredes de pedra e telhado de duas águas. Era espaçoso, a claridade da manhã o invadia através de três janelas que se estendiam quase do chão ao teto, uma cama larga com dossel ocupava boa parte da parede oposta, duas poltronas, um armário com portas de carvalho e duas cômodas constituíam o restante da mobília. Anexo havia um banheiro também amplo e claro em cujo centro ficava a banheira de louça que acomodava confortavelmente duas pessoas. Logo vi que não se trata de uma simples coincidência, mas que era resultado de um pedido que ele havia feito aos pais quando ainda estava em Paris. Ele não confirmou nem desmentiu quando lhe apresentei minhas suspeitas, apenas sorriu e me abraçou.

- O que importa é que você está aqui, comigo. Aqui é onde você vai me mostrar o quanto me ama. – disse ele

Eu estava com tantas saudades daquele corpo que resolvi não protelar mais o desejo que ardia em ambos. Desabotoei a camisa dele, timidamente enfiei minha mão lá dentro, sobre o peito dele. Torci delicadamente os pelos sedosos e lambi meus lábios acentuando sua umidade e seu poder de sedução. Ele rapidamente me beijou, meteu a língua na minha boca e eu comecei a chupá-la numa sensualidade quase vulgar. Ele agarrou minhas nádegas e se aproveitou de sua consistência e maciez. Ao tirar a camisa dele, deslizei minhas mãos pelos ombros largos dele, afaguei os bíceps volumosos e fortes, explorando suavemente sua masculinidade. Ele se deixava acariciar enquanto a pica crescia indômita debaixo da calça. Toquei a cicatriz que o ferimento quase fatal havia deixado em seu tórax, ao dirigir meu olhar para os olhos que me fitavam com doçura, ele viu como estavam marejados, e entendeu logo o que se passava dentro de mim, o medo de perde-lo.

- Sempre vou estar aqui para você! – exclamou, tocando delicadamente meu rosto com sua mão vigorosa.

Me desconcentrei quando notei a ereção dele se movendo debaixo da calça. Toquei-a com uma pegada firme que me fez sentir o caralhão latejando. Abri a cintura da calça e fui escorregando lascivamente a mão para captura-lo. Junto com um esboço de sorriso ele soltou o ar com força dos pulmões, o tesão já o consumia. Ele se livrou por completo da calça e da ceroula, a verga enrijecia sob meu olhar ávido. Segurei-a com uma das mãos, levantei-a para ter acesso ao sacão peludo com seus testículos cavalares e coloquei um deles na boca, passando a massageá-lo com movimentos indecorosos da língua. Ele grunhia contidamente, tentando manter o controle que sabia estava por um fio para descambar para uma investida concupiscente sobre meu corpo tentador. Da chupada carinhosa do testículo abarrotado, conduzi meus lábios para a cabeçorra babando. Suguei seu sumo e enfiei o quanto pude dela na boca que passeia a movimentar num boquete luxurioso e devasso. Pouco depois, senti a primeira golfada de porra cremosa instigando minhas papilas gustativas. Mamei até a última gota do derradeiro jato de esperma que ele ejaculou na minha boca, ao som de seus gemidos guturais de prazer. A jeba taurina perdeu pouco de sua rigidez após o boquete, mantendo-se alerta à meia-bomba e balangando pesada entre suas coxas peludas, um afrodisíaco para o meu cuzinho sequioso. Provoquei-o me desnudando progressivamente com movimentos eróticos sugestivos do que acontecia com a minha rosquinha anal. Tão logo teve acesso aos meus mamilos enrijecidos pelo tesão, apertou-os com força entre os dedos até me ouvir gemer, depois lambeu-os, chupou-os e mordiscou-os até estarem eritematosos e ligeiramente inchados de sua ganância predadora. Ordenou que eu me deitasse de bruços sobre a cama, o que fiz rebolando libidinosamente as nádegas roliças, enquanto lançava um olhar cobiçoso para o cacetão dele, novamente soerguido como um mastro. Aquele macho atrás de mim com aquela verga em riste além de sempre me causar um frisson, me deixava apreensivo, pois eu sabia o que me aguardava nos segundos seguintes. Ele desviou o objeto de sua tara para a própria boca, mordiscando a pele dos meus glúteos em direção ao rego estreito e profundo que suas mãos haviam apertado, deixando à mostra o cuzinho rosado que piscava assanhado. A ponta úmida de sua língua me tocou voraz na entrada do diminuto orifício anal, soltei um vagido cristalino, o que o levou ao delírio. Ambos o comungavam, pois eu comecei a implorar para que me penetrasse tamanho era o tesão que estava sentindo. Precisei longos e torturantes minutos, contraindo os esfíncteres enquanto aquela língua devassa tirava proveito da minha submissão. Ao perceber que o Athos ajeitava a caceta na entrada da minha fendinha, dei uma última olhada para trás, para ver aquele macho imenso e tarado se deixando conduzir pelo tesão que meu rabo lhe provocava. Ciente do que me esperava, rebolei mais uma vez, fazendo-o esfregar a cabeçorra sobre as preguinhas. Com um impulso abrupto e potente ele meteu a pica no meu cu me obrigando a ganir. Segurando-me pelas ancas continuou arremetendo contra a minha bunda numa selvageria desatada até ter enfiado todo o cacetão no meu rabo. Eu gemia, sentia o quanto estava subjugado pela força viril dele, sentia a dor irradiando pela pelve, o pulsar vigoroso do caralhão envolvido pela minha mucosa quente, o frêmito do corpo dele montado sobre o meu. Não havia prazer e felicidade maiores do que aquilo. Deixei-o me foder o casulo receptivo, ouvindo seus gemidos de prazer dando ritmo às estocadas. Se houvesse um paraíso, ele certamente estaria entre braços daquele homem. A cada impulso que metia profundamente o caralhão no meu cuzinho, nosso amor ganhava força e irreversibilidade. Ninguém mais duvidava da intensidade daquela paixão. Exaurido, por algumas vezes tentei me deixar cair sobre o colchão, mas ele voltava a me puxar contra sua virilha pelas ancas e a estocar a fendinha que o agasalhava. Enquanto isso, minha pica esporrava numa manifestação inconteste do prazer e do gozo que me dominavam. Um urro rouco saído de seus pulmões que, não tenho dúvida, foi ouvido ecoando por toda a casa no meio do silêncio noturno que a envolvia, precedeu o gozo do Athos. Eram, mais uma vez, jatos e jatos espirrando daquele cacete diretamente nas minhas entranhas, inundando-as com sua virilidade.

- Ah D’Artagnan, saber que de agora em diante vou te ter para todo sempre em meus braços é a realização de um sonho. – ronronou ele, com aquela voz grave e pausada. – Te amo, meu menino enfezadinho! – quem, em sã consciência, seria capaz de fazer qualquer tipo de protesto quanto a ser chamado de menino quando a verga daquele macho latejava quase lá dentro de sua alma?

- Amo você, Athos! – murmurei.

Dois meses após a minha chegada às terras dos La Fère e à confirmação de que Athos e eu estavam unidos para sempre, ele resolveu fazer uma longa viagem pelas províncias da França, a começar pela Gasgone, para conhecer a minha família. Estremeci só de imaginar meu pai recebendo a notícia de seu filho estar arriando as calças e entregando sua bunda a um macho. Athos me garantiu que tudo ia ficar bem, no que não depositei fé alguma. Um gascão é um gascão até o cerne de seus ossos onde residiam orgulho, honra, intrepidez e uma vontade ferrenha de se bater contra o que ia contra seus princípios. Eu preferia enfrentar cem soldados do cardeal Richelieu, até uma Milady iracunda disposta a extremos, do que a fúria do meu pai. Parti com a certeza de que aquela seria a missão mais difícil da minha vida e, só não fugi acovardado dela porque o Athos estava comigo.

Minha mãe nos recebeu com seu espírito maternal aflorado e o contentamento de saber que eu já não fazia mais parte do grupamento de mosqueteiros e, portanto, não sujeito a perder a vida em qualquer esquina. Acho que ela até se sentia grata pelo Athos ter me conduzido a isso. Já meu pai, demorou a atinar com o papel que o Athos tinha naquela história toda. Cerca de uma semana depois é que ele se deu conta de que aquele tal de ‘amigo’ era, na verdade, o sujeito que se deleitava no rabo mimoseado por seu filho.

- No que você se transformou, seu ingrato pervertido? – esbravejou quando chegou a constatar que o que me unia ao Athos era uma paixão pecaminosa e repudiável.

- Sei que decepcionei suas expectativas, pai. Mas, o que nos une é maior e mais forte do que nossas vontades. Somos felizes dessa maneira, creia-me. – retruquei

- Pensei que havia criado um homem de fibra, um homem que lutaria pela glória de Vossa Majestade e da França, mas o que me reservou o destino, um pederasta que arria as calças para a verga de outro homem. Tê-lo sob o meu teto é uma desonra para essa casa, preferiria nunca ter concebido uma criatura vil como você! – a ira com a qual se expressava fazia suas veias jugulares saltarem no pescoço.

O Athos o peitou junto comigo o que, num primeiro momento, só fez aumentar sua raiva, mas eu guardava um trunfo nas mangas, e me vali dele quando me certifiquei de que não seriam as minhas palavras nem as do Athos que o demoveriam de sua postura.

- O que é isso? – perguntou meu pai quando coloquei em suas mãos um envelope com seu nome sobrescrito.

- Foi escrita para o senhor! – exclamei

Ele abriu o envelope e começou a ler a longa carta que começava por chamá-lo de velho e querido amigo. Era um texto escrito pelo Sr. De Treville que me foi entregue em mãos quando me despedi dele. No texto, o Sr. De Treville contava dos meus progressos desde que me encaminhou para a Academia do Sr. Des Essarts, dos favores que prestei em sigilo para a rainha e para o rei em missões perigosas e bem-sucedidas, da luta na qual tive um papel de destaque contra os huguenotes em La Rochelle, dos perigos que corri nas mãos de Milady e, por fim, da honra com que Vossa majestade me incluiu entre os mosqueteiros.

Ao concluir a leitura e dobrar as folhas de papel que tinha nas mãos, o semblante do meu estava desanuviado. Arrisco-me a dizer que havia até uma ponta de orgulho disfarçado nele. Se eu era turrão, tive a quem puxar. Dava para ver o dilema no qual meu pai se encontrava diante do que acabara de ler. Se por um lado seu desejo era o de me abraçar de tanta felicidade, por outro teria que aceitar que aquele macho que me acompanhava era como se fosse seu genro.

- Bem! Creio que cumpri mais essa missão de fazê-los conhecer o homem que amo e em que condições vamos conduzir as nossas vidas. Como não me deseja sob seu teto, o melhor que faço é partir. – sentenciei, tendo a anuência do Athos demonstrada através de um abraço apaixonado.

Minha mãe imediatamente começou a se debulhar em lágrimas, mal tinha conseguido segurar seu filho amado nos braços já o via sendo escorraçado de casa. Como uma leoa defendendo sua cria, ela enfrentou meu pai afirmando que eu só deixaria aquela casa se fosse da minha vontade e quando ela me desse sua benção.

- Pois muito que bem! Fique! Não vou deixar o sangue do meu sangue ao relento. – meu pai estava conquistado. Seria apenas uma questão de tempo, para que nada mais daquilo tivesse importância no amor que sentia por mim, acrescido agora de um orgulho que não tardaria a alardear para a vizinhança.

O Athos e ele pareciam velhos amigos antes mesmo do final daquele mês, nem mesmo meu caminhar dificultoso quando descia para o desjejum matinal, por ter levado aquela pica enorme no cuzinho a noite toda, influenciava a consolidação daquela amizade.

Recebemos notícias de Porthos dando conta de que Aramis havia ingressado numa abadia beneditina em Saint-Nicolas-lès-Cîteaux na Borgonha; finalmente ele assumira o que julgava ser sua inclinação eclesiástica, embora todos duvidassem disso. Athos disse que faríamos uma visita ao nosso amigo quando de nossa passagem pela Borgonha, e assim o fizemos.

A abadia era um edifício imponente com seus arcos góticos implantada em meio a um vasto terreno cercado de jardins e outras construções secundárias. Tanto eu quanto o Athos pouco sabíamos da secular Ordem fundada pelo abade de Molesme ao se rebelar contra as regras beneditinas da congregação de Cluny, que abandonou juntamente com outros companheiros para retomar as antigas regras que regiam a Ordem. Chegamos à Abadia pouco antes do anoitecer de um dia nebuloso, cujo céu baixo e cinzento envolvia praticamente todo o telhado. Um canto coral quebrava o silêncio com vozes graves e afinadas que envolviam toda a construção, era a missa vespertina. Não inclinados à religião e não querendo nos intrometer em momento tão sagrado, Athos e eu percorremos os corredores admirando a beleza austera do edifício. O canto chegava a reverberar no peito e, por uns instantes, achei que um pecador como eu não deveria estar naquele templo santo. Não me pareceu que o Athos tivesse outro tipo de pensamento. Ao chegarmos num dos extremos da longa construção, onde ficavam as celas dos monges, o silêncio interrompido pelos nossos passos sobre os ladrilhos, ganhou a companhia de gemidos que escapavam por detrás de uma porta não bem fechada e, através da qual, só se via uma nesga de penumbra. A sinfonia de gemidos logo nos soou familiar, tinha as mesmas notas e entonações da que acontecia em nosso quarto quando fazíamos amor. A curiosidade levou o Athos a dar um leve toque na porta com a ponta do pé fazendo-a abrir o suficiente para que reconhecêssemos nosso amigo com o hábito branco erguido até a altura da cintura, bombando sua pica gigantesca no cuzinho de um noviço inteiramente nu debruçado sobre um oratório de madeira. O rapaz rebolava e deixava os gemidos escaparem em meio a um sorriso de extrema felicidade, enquanto o mastro grosso, cujo potencial eu bem conhecia, deslizava num vaivém vigoroso que as arremetidas da pelve do Aramis socavam contra aquela bunda arrebitada. Esse era nosso velho e conhecido Aramis, com seu costumeiro fogo ardendo em sua pródiga genitália, deixando-se conduzir pela luxúria. Foi inevitável nos entreolharmos e segurar uma risada que resumia nossa opinião sobre a santidade de nosso companheiro. Acabamos sendo notados. Apesar de estar em pleno gozo, o Aramis arrancou a pica da bunda do noviço fazendo-o soltar um último gemido, enquanto os jatos de porra ainda voavam para cima da pele muito alva do rapaz. Ao nos reconhecer, aliviado por não ser nenhum dos monges superiores, Aramis nos dirigiu uma bronca, o que só nos fez externar, sem constrangimento, a risada que estávamos camuflando. O noviço, tímido e encabulado, cobriu-se apressadamente com o hábito, dirigiu um sorriso doce e servil ao Aramis e saiu correndo numa alegria contagiante.

- É assim que você segue os ensinamentos dos membros da Ordem de São Bento, cujas regras são dar assistência aos pobres, acolher os peregrinos e viajantes, observar a obediência e a castidade, se dedicar à oração e ao trabalho como essenciais a uma vida eclesiástica? – perguntei, quando ele já vinha de braços abertos nos cumprimentar.

- Faço tudo isso, meu querido, mas dedico um tempo para as minhas necessidades primais de macho. Você é testemunha do pouco que consigo me conter ante uma bunda perfeita e carnuda. – respondeu ele.

- Depravado! – exclamei. Ele precisava me fazer lembrar do quanto gemi sob a tara insaciável daquela caceta enorme que lhe pendia entre as pernas. Ele riu.

- E você meu amigo, finalmente resolveu assumir seus sentimentos por esse menino gostoso? – questionou dirigindo-se ao Athos enquanto o abraçava.

- Antes que eu deixe passar, vá se foder Aramis! Menino é você que se hoje sabe comer uma bunda deve cada ensinamento a mim. – afirmei zangado. Não gostei quando ele e o Athos riram.

- Ele estava predestinado a mim, você bem sabe! – afiançou o Athos, me deixando sem entender o que queria dizer com aquilo.

Ficamos hospedados na abadia por uma semana e, ao partirmos nos despedindo de nosso amigo, estávamos convictos de que a devassidão do Aramis seria descoberta mais cedo ou mais tarde e, de que as missas que rezava entalado no cuzinho daquele noviço seriam o seu futuro.

Quase meio ano viajando pela França nos fez ter saudades de casa, do nosso quarto, do aconchego da nossa cama, onde podíamos nos amar em total liberdade. O retorno foi um festejo comemorado por todos.

- Sabe, ainda estou intrigado com uma coisa que você falou para o Aramis lá na abadia. Que história foi aquela de eu estar predestinado a você? – perguntei, pouco depois do Athos ter tirado o caralhão do meu cu esfolado.

- Quando o Grimaud espalhou aos quatro ventos sob que condições você fazia os curativos da minha ferida, tive que derrotar o Porthos e o Aramis numa disputa de espadas. Venci-os, mas eles fizeram uma exigência, que eu os deixasse provar dos teus afagos e do seu cuzinho. Recusei-me veementemente num primeiro momento; mas meditando sobre o assunto, e como sua virgindade já estava na minha estante de troféus, resolvi deixá-los te ensinar tudo o que sabiam para que, ao voltar para mim como um mestre no assunto, você dedicasse exclusivamente a mim tudo o que havia aprendido. – a cara lavada com a qual me revelou isso era de total desfaçatez.

- Seu pulha, cafajeste! Como pode, sabendo o quanto eu te amava? E, só para que não restem dúvidas, quem tirou a virgindade do Aramis fui eu, e ninguém mais. Se ele aprendeu a ser um safado como você e o Porthos, isso se deve a mim. – retorqui zangado, enquanto ele começava a esboçar aquele risinho cínico que muitas vezes me deixava furioso.

- Ah, D’Artagnan, meu tesouro briguento e turrão! Se fosse tivesse noção do quanto eu te amo, não estaria aí questionando minhas atitudes, mas deixando eu me aconchegar no seu rabinho tesudo onde me sinto o mais realizado dos homens. – devolveu ele, voltando a me exibir o falo em franco crescimento. Beijei-o carinhosamente e me encaixei em seus braços, afinal aquele era o único lugar onde eu sempre quis estar.

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 51 estrelas.
Incentive kherr a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Este comentário não está disponível
Foto de perfil genérica

Excelente reconstrução de personagens literárias aliada a um conhecimento histórico notável. Quem viu na década de 60 os inúmeros filmes sobre este tema, até julga que esta homossexualidade das personagens em questão estivera sempre lá subentendida. Nós é que não déramos por ela na altura!!!!!!

0 0
Foto de perfil genérica

Kherr vou te confessar uma coisa: meu livro favorito da vida é "O Conde de Monte Cristo" do Dumas, mas nunca li "Os Três Mosqueteiros", é uma vergonha confessar isso, pois amo a literatura francesa clássica, mas a sua versão foi simplesmente maravilhosa, aliás não sei se já te disse isso, mas eu adoro seus contos de época. Vc já pensou em escrever alguma coisa sobre piratas?! Fica aí uma singela dica.

1 0
Foto de perfil genérica

conto maravilhoso, adoro contos assim dividido entre ação e romance. Deveria fazer mais como esse, quem sabe um passivo espião mandado para matar que acaba se apaixonando pelo alvo.

0 0